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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2002 Catherine George

© 2015 Harlequin Ibérica, S.A.

O segredo de Sarah, n.º 701 - Janeiro 2015

Título original: Sarah’s Secret

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2003

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-6446-7

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Volta

Capítulo 1

 

 

O céu apresentava-se carregado, com a ameaça de um temporal iminente, mas Sarah, por fim, abandonou a ideia de encontrar um táxi à hora de ponta de uma sexta-feira e começou a caminhar a toda a velocidade pela rua, naquela tarde escura e borrascosa. Cheia de calor e sem fôlego, tinha já a sua casa à vista, quando uma cortina de chuva caiu do céu como se alguém tivesse aberto uma torneira. Encharcada até aos ossos, decidiu correr a distância que lhe faltava para chegar a casa e saiu disparada como a rolha de uma garrafa de champanhe. Ao atravessar a rua a correr, situou-se directamente na trajectória de um carro. Com os travões a rangerem, o condutor virou para o lado para não bater nela, mas, mesmo assim, ela bateu de raspão contra o pára-choques dianteiro do carro e caiu de mãos e joelhos no chão.

Atordoada e furiosa, levantou-se e soltou-se das mãos que tentavam ajudá-la a erguer-se.

– Está bem? De onde diabo é que saiu? – gritou o desconhecido, por cima do ribombar dos trovões.

– Claro que estou bem, estúpido! – Fitou com olhos cintilantes um rosto masculino desfigurado pela comoção. – Não pode olhar por onde vai?

– Eu estava a olhar. – Soltou-a. – E pode agradecer por ter parado tão de repente. Se a minha reacção tivesse sido mais lenta, as coisas não tinham acabado desta maneira. Saiu do nada!

– Não é verdade. Estava só a atravessar a rua.

– Quer dizer que atravessou sem olhar, para ver se vinha algum carro.

– Oiça, fui eu que me magoei – replicou, com fúria, e depois conteve um grito quando um relâmpago faiscou perto deles, seguido de um trovão.

– Está assustada e encharcada até aos ossos. Entre no carro, que eu levo-a para o hospital…

– Da maneira como guia? Nem pense nisso! – Soltou-se com tanta força, que se sentiu tonta e com a cabeça a andar à roda, quando se inclinou para apanhar as suas coisas do chão.

O homem agarrou-a pelos ombros para a estabilizar, antes de se agachar para a ajudar. As suas cabeças bateram uma na outra e ela retrocedeu com um grito de dor e ele, pedindo desculpa, entregou-lhe o porta-chaves que tinha deixado cair.

– Está magoada. – Agarrou-lhe nas mãos, onde a chuva limpava o sangue de alguns arranhões.

Mas Sarah retirou a mão, terrivelmente consciente de que naquele instante tinha o cabelo colado ao rosto e de que a sua blusa se tornara transparente com a água e era evidente que o homem reparara naquilo. Ela ruborizou-se.

– Não é mais do que um arranhão, vou sobreviver – declarou. – E não graças a si.

– Se não quiser ir ao hospital, pelo menos deixe-me levá-la a casa.

– Não, já estou em casa. Moro ali – gritou, quando o trovão retumbou à sua volta.

– Então, vou ajudá-la. – E sem fazer caso dos seus protestos, apanhou a pasta dela do chão e agarrou-a pelo cotovelo, para a ajudar a atravessar a rua sob a chuva torrencial. – Deveria levá-la ao hospital – insistiu ele.

Mas Sarah negou com a cabeça e não quis olhar para os olhos dele, quando ele lhe entregou a pasta.

– Não é preciso.

– Tem alguém em casa que possa tomar conta de si?

– Sim, pode ir-se embora. – Abriu a porta dianteira de uma das altas casas vitorianas que se alinhavam na rua, murmurou uma palavra de agradecimento e entrou, batendo com a porta atrás de si. Deixou as suas coisas no vestíbulo que estava às escuras, com os joelhos a tremer pela reacção.

– Deus do céu! Olha como tu estás – comentou a sua avó, enquanto descia as escadas. – Estás encharcada. – Franziu a testa, ao ver os joelhos de Sarah. – O que foi que te aconteceu, caíste?

Sarah não deu importância aos arranhões. Dirigiu-se para a casa de banho para trocar de roupa, limpou os arranhões e voltou para a cozinha envolta num roupão. Sentou-se à mesa, agradecida por encontrar o chá servido. Enquanto secava o cabelo com uma manga do roupão turco, contou a sua aventura.

– Deverias ir à polícia! – Declarou Margaret Parker, com severidade. – Deve ter sido um desses jovens com pressa de ir a qualquer lado.

– Desta vez, não. Era um adulto muito irritado, que insistiu que era eu a culpada.

– E tinha razão?

– Claro que não! – Encontrou-se com os olhos da sua avó e depois encolheu os ombros. – Bom, sim, suponho que sim. Ia com o meu pânico habitual e não olhei, antes de atravessar a rua.

– Sabes? Deverias tentar controlar o teu medo irracional das trovoadas.

– Não é irracional – murmurou Sarah.

– Que idade tinha? – Quis saber a sua avó.

– Não faço ideia. Os dois estávamos encharcados e como eu não trazia as lentes de contacto postas, não o vi bem. – Olhou para a chuva que escorria pela janela. – Graças a Deus que não tenho que guiar sob este dilúvio para ir buscar Davy.

– Mas vais ao teatro esta noite – lembrou-lhe Margaret.

– Céus! É verdade. – Gemeu, e abanou a cabeça com um gesto cansado. – Esta noite não posso, mesmo que Brian se zangue comigo. Se lhe telefonar agora sou capaz de o apanhar antes que saia do escritório.

– Não vais sentir-te melhor, mais à noite? – inquiriu a sua avó, com um tom de reprovação na voz. – Brian não vai gostar nada que o deixes plantado à última hora.

– Tenho a certeza de que se lhe explicar, ele compreenderá. – Levantou-se para olhar pela janela. – O temporal está a afastar-se um bocado, por isso acho que vou tomar um banho quente, ainda estou a tremer.

– É da reacção. Vais ver que isso passa. A propósito, o homem ficou magoado?

– Acho que não, mas bem merecia!

– Não foste tu a culpada? – Margaret arqueou uma sobrancelha.

– Sim. – Sarah sorriu. – É isso que me irrita, quero culpar outra pessoa. Preferivelmente, ele.

Quando telefonou para Brian Collins, a sua reacção foi previsível.

– Sarah, percebes que me custou muito conseguir os bilhetes? – inquiriu, irritado, embora imediatamente se tivesse descontraído um bocado. – Lamento que não te sintas bem, claro.

– Desculpa por ter cancelado à última da hora. Não tens alguém que possa ir contigo, Brian?

– Já que Davina não está em casa, – comentou, depois de um momento de silêncio – poderia devolver os bilhetes e passar o serão em casa, contigo.

– Não… não, não faças isso. Detestaria que perdesses a peça por culpa minha. Sei que tinhas vontade de a ver.

– Está bem – declarou, resignado. – Telefono-te para a semana que vem.

Sarah desligou, pensativa. A sua relação com Brian Collins, apesar de ser pouco exigente em quase todos os sentidos, acabara. Ele era um homem agradável, convencional e idóneo para alguns serões, mas tinha dois inconvenientes importantes. Um era a discussão permanente devido à recusa de Sarah em se envolver fisicamente com ele e a outra era a teoria de Brian de que lidava bem com crianças, o que na prática não era verdade, dado que Davy não gostava nada dele.

«Também não posso permitir que Davy governe a minha vida para sempre», pensou, já imersa na água quente do banho. «Quando crescer, vai-se embora e eu ficarei livre para fazer o que me apetecer».

Gelada pela ideia de uma Davy livre e independente, tirou a tampa da banheira e concentrou-se no episódio do temporal. Apesar dos seus esforços para fixar o rosto do homem que a tinha resgatado, continuava a ser uma mancha apagada. Era muito mais alto do que ela e forte, pela maneira como a ajudara. Mas, quanto ao resto, só tinha uma impressão geral de ter visto ombros largos, uma camisa branca encharcada, olhos e cabelo escuro e um rosto tão desfigurado pela comoção, que se voltasse a encontrar-se com ele na rua, provavelmente, não o reconheceria.

Quando se vestiu, o céu já não tinha nuvens e, por fim, começou a descontrair-se. E, embora se sentisse estranha por Davy não estar em casa numa sexta-feira à tarde, não lamentava ter tempo só para ela depois da sua pequena aventura.

Antes de sair para o seu serão de bridge, Margaret Parker desceu do seu apartamento, no andar de cima, para lhe entregar um saco com as compras do supermercado.

– Com tanta distracção, esqueci-me disto… foi o que comprei para ti esta manhã.

Sarah agradeceu-lhe, agarrou no saco e gemeu quando ouviu a campainha da porta.

– Espero que não seja Brian numa visita relâmpago antes de ir para o teatro. – Mas quando falou no intercomunicador, descobriu que era uma entrega de flores. – Tem a certeza de que são para mim? – inquiriu, surpreendida.

– Não traz nome, só a morada – anunciou a voz.

Sarah foi abrir e ficou desconcertada, quando lhe entregaram um ramo de flagrantes lírios.

– Que atencioso – aprovou a sua avó. – São de Brian, não são?

– Não. – Replicou Sarah, com uma certa satisfação e entregou-lhe o cartão que tinha escrito: Com as minhas sinceras desculpas, J. Hogan.

– Um pormenor cortês – concedeu Margaret, enquanto Sarah encolhia os ombros.

– Só quer mitigar a sua consciência – reflectiu, uns instantes. – Hogan. Conheço esse nome de algum lado. Pergunto-me se estará na base de dados da nossa empresa.

Mais tarde, contente por ter toda a casa para ela, preparou o jantar e sentou-se a comer no sofá da sala, com a porta de vidro que dava para o jardim traseiro, aberta. Durante o serão, uma Davina entusiasmada telefonou-lhe para lhe perguntar se iria fazer algo especial no dia seguinte.

– Não, querida, porquê?

– Porque a mãe da Polly convidou-me para ir jogar bowling com ela e passar outra vez a noite na sua casa, posso? Por favor! Vou passar-te a senhora Rogers – acrescentou, antes que a surpreendida Sarah pudesse dizer alguma coisa.

Alison Rogers assegurou-lhe que teriam muito prazer em ficar com Davy mais um dia. Sarah expressou o seu agradecimento e, depois de a instruir sobre o seu comportamento, ficou de ir buscá-la no domingo e não no dia seguinte. Ao voltar a atenção para o livro que estava a ler, fê-lo com sentimentos contraditórios. Era a primeira noite que Davy passava fora de casa e era evidente que estava a gostar de estar com Polly. Sentiu-se contente por Davy se estar a tornar um pouco mais independente. Com quase nove anos de idade, Davina Tracy era alta e exibia uma mistura de uma certa maturidade com a dependência infantil normal para a idade. Era a primeira vez que iria passar o fim-de-semana longe de Sarah.

Na manhã seguinte, não sentiu nenhum efeito secundário da sua aventura no temporal, para além de descobrir que o carro de J. Hogan lhe deixara na coxa uma nódoa negra espectacular. Com o desejo de que o pára-choques do carro dele tivesse sofrido igualmente, foi lavar a roupa e depois comeu o pequeno-almoço no jardim, ao sol. Enquanto comia, deu uma olhadela ao jornal de sábado e quando acabou de o folhear, a sua avó apareceu vestida para a jardinagem…

– Pareces recomposta esta manhã, Sarah – comentou Margaret.

– Estou bem. É estranho não ter Davy num sábado de manhã, mas aproveitei e fiquei mais uma hora na cama. E consegui ler o jornal todo sem interrupções. A propósito, – acrescentou, enquanto levantava ligeiramente a bainha dos calções – olha para isto. É a minha lembrança da aventura de ontem.

– Dói-te?

– Só quando lhe toco. – Espreguiçou-se com prazer. – Está um dia lindo. Assim que estender a roupa, vou às compras à cidade. Queres que te traga alguma coisa?

Os sábados de Sarah eram dedicados a Davy. E, apesar do muito que gostava de os passar com a sua filha, era uma mudança agradável estar sozinha para variar, com a liberdade de poder entrar em todas as livrarias da cidade.

Depois de ter comprado um livro num dos grandes armazéns, subiu ao andar de cima onde havia um café. Quando acabou a sandes e o café, voltou a descer para o andar de baixo para ver os vestidos que estavam em saldo. Passado um bocado, depois de verificar os preços dos vestidos do seu tamanho, encontrou um vestido de um material que se colava ao seu corpo e que tinha uma cor rosada de avelã. Era suficientemente curto para mostrar as suas pernas longas e bronzeadas, de que tanto se orgulhava. Examinou-se com um olhar crítico no espelho e chegou à conclusão de que não iria encontrar nada melhor por aquele preço.

Ao chegar a casa, trocou de roupa e foi para o jardim para ler um bocado antes de se ocupar do trabalho que tanto a entusiasmava. Tinha uma jornada laboral das nove às três numa empresa onde a sua missão era servir de elo de ligação com os clientes, encarregar-se da base de dados e da correspondência diária mais urgente. Levava a maior parte do trabalho para casa, para trabalhar no computador portátil que a empresa lhe entregara para esse fim. Era um acordo que satisfazia tanto os seus patrões como Sarah e sabia que era o emprego ideal para as suas circunstâncias. O salário era bom e o horário em part-time era conveniente para alguém como ela que tinha uma filha. A sua avó partilhava com ela a responsabilidade de criar Davy, mas Margaret Parker era um membro activo da paróquia, jogava bridge com regularidade e fazia parte de vários comités de organizações de beneficência. Levava uma vida social tão activa que só lhe pedia que tomasse conta de Davy numa emergência.

Mais tarde, depois de Margaret ter ido ao teatro com uma amiga, Sarah ouviu a campainha da porta, no preciso momento em que desligava o computador.

– Menina Tracy? – Perguntou uma voz masculina, no intercomunicador. – Chamo-me Hogan, poderia dar-me uns minutos para falar consigo, por favor?

Ela arqueou as sobrancelhas. Que diabo quereria? Pediu-lhe que esperasse um momento, trocou os óculos pelas lentes de contacto, pôs batom, abriu a porta da rua e encontrou-se diante de um homem alto, que vestia uma simples camisa branca e umas calças de ganga. Seco, o cabelo dele não era preto, mas louro escuro com pontas douradas. E os seus olhos eram de um azul intenso. Gostou dos seu aspecto, assim que conseguiu vê-lo claramente. E, de repente, desejou ter vestido algo mais atraente.

– Peço desculpas por interrompê-la num sábado à noite – anunciou, depois de um silêncio, observando-a com grande intensidade, – mas queria ter a certeza de que não se magoara ontem.

Sarah hesitou e depois abriu mais a porta.

– Por favor, entre. – Conduziu-o para a sala, abriu as portas de vidro e levou-o para o jardim. Indicou-lhe uma das cadeiras à volta da mesa e sentou-se.

– Agradeço ter-me recebido – comentou, com um olhar muito directo. – Fiquei preocupado, depois de não ter querido ir ao hospital.

– A culpa foi mais minha do que sua, senhor Hogan – reconheceu, sem vontade. – E obrigada pelas flores. São lindas.

– Foi o meu ramo de oliveira. – Sorriu, um pouco. – Na realidade é a segunda vez que a venho ver, hoje. Vim esta manhã, mas não estava.

Sarah devolveu-lhe o sorriso. Depois, num impulso, ofereceu-lhe algo para beber.

Um laivo de surpresa percorreu os olhos azuis dele.

– Tem a certeza de que não a interrompi?

– Sim. – Teve vontade de poder dizer que tinha um encontro marcado para jantar e dançar naquela noite.

– Então, está bem. Gostaria muito, este clima faz-me sede.

– Receio só ter cerveja ou vinho.

– Adoraria uma cerveja.

Ela foi buscar uma das latas que guardava para o jardineiro, encheu uma caneca que tinha sido do seu pai, e depois serviu-se de meio copo de cerveja e encheu o resto do copo com um pouco da limonada de Davy, que guardava no frigorífico.

– Está na hora de me apresentar como deve ser – declarou o visitante, ao levantar-se quando ela voltou. – Chamo-me Jacob Hogan.

– Sarah Tracy – replicou, com um sorriso. Sentou-se e, com um gesto, indicou-lhe que se sentasse.

– Não deixei de pensar que deveria ter insistido em levá-la ao hospital – acrescentou ele, com pesar. – Não consegui deixar de pensar nisso toda a noite.

Sarah encolheu os ombros.

– Não deveria ter-se preocupado. O meu principal problema era o medo. Não só pelo acidente com o seu carro, mas porque sofro de cobardia crónica com os temporais. E foi por isso que não prestei a atenção que devia ao atravessar a rua.

– É compreensível. – Apoiou-se na cadeira e bebeu a cerveja.

Parecia descontraído, como se pretendesse ficar um bocado, algo que, para surpresa de Sarah, não a incomodou.

– Parece-me que conheço o seu nome. – Fitou-o com curiosidade.

– Dedico-me aos azulejos – replicou, resignado.

– Claro! – Sarah sorriu. – Pentiles. Usámo-los na casa de banho nova. São importados e muito caros.

– Nem toda a nossa linha é cara. Abarcamos todos os gostos e bolsos.

– Eu sei. Li sobre a sua empresa no jornal local. É uma história de sucesso.

– Então, talvez saiba que o meu pai começou só com uma simples loja.

– É evidente que se expandiu no momento certo – afirmou. – É verdade que agora têm sucursais em todo o país?

– Quase. A empresa disparou com surpreendente velocidade, quando convenci o meu pai que o futuro eram os azulejos de cerâmica. – Encolheu os ombros. – Neste momento, as pessoas esperam mais de uma casa de banho… jacuzzis, cozinhas maiores, estufas… tudo é bom para o nosso negócio.

– É uma empresa familiar?

– Os únicos Hogan em Pentiles somos o meu pai e eu. O currículo do meu irmão é mais elegante. Liam é banqueiro e investidor e mora em Londres. – Sorriu. – Eu faço a distribuição dos azulejos e moro aqui, em Pennington. Ontem estava a tomar um atalho por Campden Road para ir para a minha casa, com a intenção de evitar o trânsito do centro da cidade… – Os seus olhos brilharam, – …quando apanhei o maior susto da minha vida.

– Eu assustei-o? – inquiriu, indignada. – Durante um momento, a minha vida passou diante dos meus olhos. E, para além disso, tenho cicatrizes que o comprovam. – Estendeu as palmas das mãos rosadas.

Ele adiantou-se para as examinar e, por um momento, Sarah pensou que iria beijá-las, mas voltou a inclinar-se para trás e fitou-a solenemente.

– Peço novamente desculpa, menina Tracy. A menina já sabe o que é que eu faço, poderei perguntar o que é que a menina faz?

Desejando que fosse interessante, descreveu-lhe brevemente o seu trabalho e ofereceu-lhe outra cerveja, mas desejou não o ter feito, quando ele o tomou como um sinal para se ir embora.

– Não era minha intenção ocupar tanto do seu tempo. – Levantou-se e sorriu para ela. – Obrigado por me ter recebido e pela cerveja.

No trajecto para a porta, ele parou diante de uma fotografia que estava numa mesinha lateral. Brian, que se orgulhava da sua habilidade de fotógrafo, tirara-lhe uma fotografia com Davy. As duas riam e a imagem era tão feliz, que Sarah decidira emoldurá-la. O sol brilhava nas suas cabeças de cabelo castanho e dourava os olhos delas, que eram idênticos.

– É sua filha, claro – comentou ele. – A parecença é notável. Quantos anos tem?

– Davina vai fazer nove anos.

– Nove? – Observou-a, com incredulidade. – Devia ser muito nova quando a teve!

– Tinha dezoito anos – afirmou, e adiantou-se para lhe abrir a porta. Estendeu a mão. – Foi muito amável por ter vindo, senhor Hogan. Asseguro-lhe que o pior dano que sofri foi na minha dignidade e peço muitas desculpas por ter gritado consigo quando estava aflita.

– Não me surpreende… sofreu uma grande comoção. Eu próprio fiquei atordoado. – Agarrou na mão dela, com cuidado e delicadeza por causa dos arranhões e fitou-a de uma maneira que ela não foi capaz de interpretar. – Espero que melhore rapidamente, senhora Tracy.

– De facto, é «menina» Tracy – corrigiu, casualmente, e sorriu. – Obrigada por ter vindo, senhor Hogan.

O sorriso dele tornou-se mais cálido e ela devolveu-lhe o sorriso, involuntariamente. – Foi um grande prazer… um grande prazer – assegurou. – E o meu nome é Jake.