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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2004 Merline Lovelace

© 2015 Harlequin Ibérica, S.A.

Inimigo e amante, n.º 675 - Março 2015

Título original: Full Throttle

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2006

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-6479-5

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

Kate Hargrave já tinha percorrido mais de sete quilómetros do seu trajecto matinal quando avistou uma coluna de pó que se erguia no deserto. Limpou o suor, apesar de ser Setembro e a temperatura no deserto já ter arrefecido, e olhou para o veículo que ia rasgando, com essa barreira fumo, o amanhecer do Novo México.

Kate, uma prestigiada investigadora do Instituto Nacional de Oceanografia e Meteorologia (INOM), tinha feito centenas de horas de voo enquanto membro da famosa equipa de Caçadores de Furações. Tinha voado com pilotos de mão firme, com nervos de aço e uma confiança plena na sua capacidade para desafiar a morte e sair ileso. Calculou a velocidade da carrinha que se aproximava dela e teve a certeza de quem ia ao volante.

O capitão da Força Aérea, Dave Scott, um experiente piloto de testes, com centenas de horas de voo tanto em aviões como em helicópteros. Scott tinha sido integrado no grupo de Operações Especiais, no âmbito de um projecto ultra-secreto localizado num canto perdido do sudoeste do Novo México.

Deveria ter chegado na noite anterior, mas ligara ao coronel Westfall, de um qualquer ponto da estrada, para lhe comunicar que só se apresentaria ao início da manhã. Não deu qualquer explicação pelo atraso, ou, se a deu, o coronel no comando da Operação Pégaso não a comunicou aos seus subordinados.

Isso era um motivo suficiente para anular o característico bom humor de Kate. Ela e o resto da equipa estavam ali há semanas. Trabalharam dia e noite para concluir os testes definitivos do veículo de assalto, adaptado a todos os tipos de terrenos e condições meteorológicas, chamado Pégaso. Desde o primeiro dia, que lhes tinham deixado claro que se tratava de uma missão com carácter urgente. Ela não achou muita graça que o capitão Scott atrasasse a sua chegada, ainda que isso correspondesse a oito horas de descanso.

Além disso, a Força Aérea tinha escolhido o capitão Scott para substituir o tenente-coronel Bill Thompson, o representante inicial da Força Aérea na operação. Toda a gente da equipa gostava do experiente, respeitado e simpático piloto de testes. Infelizmente, uns dias antes, Bill sofrera um ataque de coração provocado por um vírus que o afectou a ele e a mais alguns membros do grupo. Bill fora afastado da Operação Pégaso e, certamente, deixaria de voltar a poder voar até ao fim da vida. A sua partida repentina tinha deixado um vazio na coesa equipa de militares e civis, de diferentes especialidades, que trabalhava na operação. Dave Scott teria de fazer um esforço para se integrar no grupo e provar que era merecedor do lugar de Bill Thompson.

«Espero que estejas à altura, amigo.»

Kate acelerou o passo. Não fazia intenção de se encontrar com o seu novo colega no meio do deserto. Estava despenteada e a sua camisola de jogging, turquesa, tinha algumas manchas de suor. Com um pouco de sorte e velocidade, chegaria ao acampamento antes de ele passar a primeira barreira de controlo.

Deveria ter calculado que não conseguiria derrotar um piloto de guerra. A carrinha parou no controlo quando Kate ainda estava a alguma distância.

A deslumbrante luz que surgia por detrás dos montes Guadalupe iluminou o veículo. A carrinha tinha mossas. Era de uma cor indeterminada, entre o cinza e o azul, e estava coberta de pó. Mas não se conseguia ver quem a conduzia. Estava muito longe e o reflexo da luz no pára-brisas formava o escudo impenetrável.

Iria poder vê-lo em breve, disse Kate para si mesma. Segundo os rumores, Scott era, com as mulheres, do tipo usar e deitar fora. Dizia-se que tinha uma legião de satisfeitas amantes de uma ponta à outra do país.

Kate conhecia esse tipo de homem. Demasiado bem.

Por isso, não se surpreendeu quando meteu a primeira e saiu disparado da barreira de controlo no meio de uma nuvem de pó. Voltou a parar, com uma forte travagem, a poucos metros de Kate.

O motor da carrinha continuou a rugir com um tom baixo e gutural. O vidro da janela do condutor desceu e ela pode ver um antebraço musculado seguido de um perfil bastante rude. Scott trazia um chapéu de cowboy em palha e tinha a pele curtida pelo sol; podia ser um dos aldeões que se tinha adaptado à vida no deserto. O chapéu deixava uma sombra na parte superior do rosto. A parte inferior era composta pela ponta do nariz, uma boca emoldurada por duas rugas e contornada uma barbicha quadrada. No antebraço nu era visível uma pelugem dourada pelo sol. Tinha os olhos tapados por uns óculos espelhados, típico dos pilotos, mas o sorriso que lhe dirigiu era puro sexo.

– Olha, olha – disse, com um tom grave e profundo perfeitamente audível. – Este destino está cada vez mais apetecível.

Ao longo da sua carreira profissional, Kate já tinha ouvido centenas de variações daquela frasezinha. O seu sorriso, o seu cabelo castanho, com reflexos dourados, e as suas generosas curvas tinham chamado a atenção de todos os homens com quem tinha trabalhado. Há muito tempo que tinha aprendido a distinguir entre os que não faziam mais que olhar para ela exageradamente e os que eram verdadeiramente incomodativos, tratando ambos com habilidade e despreocupação. Virou-se para ele.

– Feche a boca e carregue no acelerador que o coronel Westfall está à sua espera – aconselhou-o, com uma certa ironia burlesca.

Ele baixou o queixo e espreitou com os seus olhos azuis por cima da haste dos óculos.

– O capitão pode esperar – replicou ele. – Você, no entanto…

Ou não terminou a frase ou Kate não ouviu o final.

Tinha-o olhado nos olhos meio segundo a mais do que seria conveniente e desatou a correr pela estrada. Os ténis abandonaram a terra firme e ficaram no ar. Ela praguejou e caiu na vala que havia junto à estrada. Bateu com a perna direita, numa dor que se estendeu ao corpo todo, e caiu sentada sobre um monte de ervas secas e cardos. Isso sim, era habilidade e despreocupação.

Scott desceu da carrinha quase antes de ela tocar o chão. As suas botas com cunha deslizaram sobre a terra e as pedras e chegaram ao fundo da vala.

Quando se inclinou sobre ela, Kate não estava à espera nem de uma mínima expressão de interesse. No entanto, deparou-se com um olhar fugaz que lhe percorreu o corpo de ponta a ponta e uma sobrancelha arqueada.

– E eu que, esta manhã, quando acordei, pensei que a diversão tinha acabado e que me esperavam umas semanas de trabalho duro…

Kate franziu a testa. O melhor era deixar as coisas claras a partir daquele momento.

– E pensou bem, capitão.

– Não tenho muita certeza disso – ele voltou a olhá-la nos olhos. – Para começo, as coisas afiguram-se-me muito boas, muito boas mesmo…

Kate soprou. Tinha os olhos de um azul eléctrico contornados por umas pestanas queimadas pelo sol. As leves rugas brancas que tinha nos cantos dos olhos desapareciam quando sorria, o que tinha consequências devastadoras.

Graças a Deus, ela estava vacinada contra o encantamento indolente e a segurança arrogante de Scott. A vacinação tinha sido dolorosa, mas uma vez administrada, era suposto durar a vida inteira.

Infelizmente, não estava vacinada contra os espinhos que se lhe tinham cravado no traseiro e, uma vez recuperada do susto da queda, podia senti-los com intensidade.

– Não seria possível parar de olhar para mim e dar-me uma ajuda? – propôs-lhe ela, com ironia.

– É para já.

Scott colocou-se de pé com a facilidade natural de um atleta e estendeu-lhe a mão. Tinha a pele áspera e quente.

Naturalmente, o tornozelo de Kate cedeu assim que ela colocou o pé no chão e, com um gemido, caiu nos braços expectantes dele. Dessa vez, ele nem teve o pudor de mostrar alguma preocupação. Pelo menos, foi essa a desculpa para lhe pegar ao colo.

– Deve ter magoado o tornozelo seriamente.

Apertou-a contra o seu peito sem parecer fazer qualquer esforço pelo peso dela. Kate não pode deixar de reparar que era um peito sólido e musculado.

– É melhor que a leve para o acampamento.

Ele tinha saído da vala e estava a contornar a carrinha sem lhe dar tempo a ela para explicar que tinha um problema mais urgente que o seu tornozelo. Tentou pensar numa forma subtil de lhe explicar o seu problema. Mas não lhe ocorreu nada. Suspirou e deteve-o antes de ele abrir a porta da carrinha para a colocar no assento.

– Antes que me deposite no assento, acho que é melhor saber que tenho alguns espinhos cravados. Aterrei sobre uns cardos – acrescentou ao ver que ele olhava para ela surpreendido. – Tenho de os tirar do rabo.

– Caramba! – exclamou ele, com um sorriso zombador. – E eu que achava que melhor que isto era impossível…

O seu gesto lascivo foi tão exagerado que ela nem fez qualquer esforço para conter a gargalhada.

– Não compliquemos mais as coisas. Pouse-me no chão que eu tratarei desta… operação urgente.

Ele colocou-a no chão e olhou-a com esperança.

– Posso dar uma ajudinha…

– Eu consigo tratar do assunto.

Scott fez um esforço por dissimular a sua decepção e observou-a enquanto ela se apoiava no fecho da porta e se retorcia à medida que ia tirando os espinhos. Um a um, foi atirando-os para o chão.

– Deixou um – avisou-a ele, enquanto ela limpava o traseiro. – Um pouco mais abaixo.

Kate tirou-o e apoiou-se no tornozelo para ver o que acontecia. A dor voltava. Sorriu e voltou-se para o seu salvador.

– A propósito, sou a comandante Kate Hargrave e sou do Instituto Nacional de Oceanografia e Meteorologia.

Ela, enquanto comandante do INOM, tinha uma categoria superior à de capitão da Força Aérea. Para Scott era extremamente divertido ter tido a oportunidade de ver uma superior a tirar espinhos do traseiro. Os seus olhos brilharam atrás daquelas pestanas louras e extraordinariamente espessas.

– Dave Scott, piloto de aviões.

Perante o seu desespero, Kate comprovou que a sua vacina contra os demónios bonitos e atraentes não era tão eficiente como esperara. Nem tão duradoura. Deu conta de um arrepio que lhe percorreu a pele quando olhou para ele. Dave estava tão perto que ela podia ver a sua incipiente barba dourada; as rugas nas bochechas quando sorria; o reflexo do seu próprio rosto suado nos óculos dele…

Também sentiu o seu hálito. Dave, ao contrário de Kate, ainda cheirava a banho, a limpeza com um levíssimo toque de pó. Também se apercebeu que o capitão Dave Scott não cheirava a loção para depois da barba e questionou-se por que se teria dado ao trabalho de fazer uma análise dele tão detalhada.

Isso não era uma atitude inteligente, disse Kate para si mesma, enquanto sentia o coração a bater-lhe contra as costelas. Tinha aprendido pela experiência a não se deixar levar por sedutores muito bonitos como aquele. O seu casamento desastroso tinha-a ensinado a utilizar a cabeça e não as hormonas no que se referia aos homens.

Além disso, Scott e ela iam trabalhar juntos durante as próximas semanas e iam estar muito tempo juntos. Kate, à parte a sua beleza e figura sedutoras, era uma profissional dos pés à cabeça. Uma mulher não chegava onde ela tinha chegado, dentro do Instituto Nacional de Oceanografia e Meteorologia, se não tivesse em conta as regras, e a regra número dois era não se envolver com colegas. Talvez fosse a número três, mas estava, sem dúvida, entre as cinco primeiras.

E não tinha qualquer intenção de se envolver com o capitão Dave Scott. Muito pelo contrário! Ainda que notasse um formigueiro por toda a espinha dorsal quando ele lhe agarrou o pulso para a ajudar a subir para a carrinha. Uma vez sentada, ele deu a volta ao veículo e sentou-se ao volante.

– Há quanto tempo está aqui? – perguntou-lhe Dave, enquanto ligava o motor.

– Desde o primeiro dia.

Quando ele carregou no acelerador, Kate apercebeu-se de que ficara colada ao assento, como se a carrinha se tivesse transformado numa fera poderosa e ruidosa antes de se atirar à estrada silenciosa. Era evidente que Dave tinha colocado um motor potente naquele chassis tão pouco atraente. Ela achou isso interessante. O capitão tinha muitas daquelas características. Todo ele era músculo, uns intensos olhos azuis que espreitavam por debaixo daquele chapéu de cowboy de palha e uma camisa branca enrugada.

– E que tal o miúdo? – perguntou-lhe ele. – O Pégaso está pronto para voar?

Nesse instante, Kate deixou de pensar no homem que estava sentado ao seu lado e lembrou-se do aparelho que estava guardado num hangar e que sido construído com materiais capazes de evitar até mesmo os satélites espiões da última geração.

– Quase – respondeu ela. – O Bill Thompson sofreu um ataque de coração quando estávamos a terminar os testes em terra.

– Eu não conheço o Thompson, mas ouvi falar dele. A Força Aérea perdeu um piloto extraordinariamente bom.

– Pois é. E o Pégaso também. Você vai ter de se esforçar para estar a par dos trabalhos e terá muito pouco tempo para o fazer – avisou-o ela.

– Não se preocupe.

A resposta despreocupada irritou Kate. Toda a equipa tinha trabalhado duramente nas últimas semanas. Se Scott pensava que as coisas iam ser fáceis, iria ter uma grande surpresa.

O capitão, que não se apercebera que lhe tinha tocado num ponto sensível, parecia mais interessado em Kate que na operação que o iria manter ocupado dia e noite.

– Vi o seu historial no relatório de orientação que o quartel-general me enviou. Mais de mil horas no P-3… É impressionante.

Efectivamente, Kate achava isso. Só os melhores entre os melhores entravam na esquadra especial do INOM, onde estava o P-3 Orion. Voar no centro de um furação exigia controlo, capacidade de decisão e um grande estômago. No entanto, a sinceridade obrigou Kate a explicar-se.

– Nem todas essas horas foram em furações. De vez em quanto também vimos o céu azul.

– Uma vez saí com os caçadores de furações da Força Aérea, com base em Keesler.

Kate ficou tensa. O seu ex-marido estava na reserva da Força Aérea da base de Keesler, no litoral do golfo do Mississipi. Foi ali que conheceu John, durante uma conferência em que participavam todos os organismos encarregados de seguir e predizer a fúria que a mãe natureza lançava sobre o golfo. Kate tinha muito poucas boas lembranças de Keesler.

– Que tal foi o voo? – perguntou-lhe ela, para se esquecer de um dos seus maiores erros de cálculo.

– Digamos que uma vez foi complicado.

– Enfiar-se num remoinho de vento e chuva não é coisa que esteja ao alcance dos fracos – disse ela, com seriedade.

Ele sorriu ao ouvi-la. Quando afastou o olhar da estrada, ela captou um brilho brincalhão nos seus olhos acinzentados.

– Sem dúvida. Não está.

Kate não replicou, mas sabia perfeitamente que Scott podia ser qualquer coisa menos fraco. Quando lhe disseram que o iriam enviar para substituir Bill Thompson, ela tinha contactado toda a sua rede de amigos e contactos para obter toda e qualquer informação sobre esse homem. As suas fontes tinham-lhe confirmado que tinha feito uma grande quantidade de horas de voo durante os dez anos em que tinha estado no exército.

Entre essas horas de voo, algumas centenas tinham sido em combate com helicópteros Blackhwak e com o caça-bombardeiro AC-130H. O caça-bombardeiro, uma versão modificada do quatro motores de propulsão turbo, que tão bons resultados tinha dado à Força Aérea, tinha uma potência de fogo de precisão milimétrica, servindo de apoio às forças convencionais, quer de dia quer de noite.

Kate tinha a certeza de que Scott tinha usado essa precisão milimétrica durante as suas últimas missões no Iraque e no Afeganistão. Depois do Iraque, foi integrado no Asa 919, o grupo de operações especiais de Hurlburt Field, na Florida, para que testasse a última aquisição da Força Aérea, o CV-122 Osprey de geometria variável.

Como o Osprey juntava as características de descolagem de um helicóptero com a capacidade de voo de longas distâncias de um avião convencional, a experiência de Scott fazia com que fosse o substituto natural de Bill Thompson. Quando o Pégaso terminasse a fase de testes, poderia substituir o CV-130 e o CV-122 como elemento de ataque no campo de batalha.

Kate, que estava a pensar nas tensas semanas que a esperavam, mordeu o lábio e não disse nada até passarem a segunda barreira de controlo e entrarem nas instalações do complexo.

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Para Dave, três dessas quatro qualidades eram suficientes para ele. Efectivamente, pensou, enquanto a via afastar-se pelo espelho, aquela missão estava a ficar cada vez mais interessante.