Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.
Núñez de Balboa, 56
28001 Madrid
© 2003 Teresa Ann Southwick
© 2015 Harlequin Ibérica, S.A.
Beijar um xeque, n.º 1469 - Abril 2015
Título original: To Kiss a Sheik
Publicado originalmente por Silhouette® Books.
Publicado originalmente em português em 2004
Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.
® Harlequin, Bianca e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.
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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.
I.S.B.N.: 978-84-687-6591-4
Editor responsável: Luis Pugni
Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.
Página de título
Créditos
Sumário
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Se gostou deste livro…
Crystal Rawlins ajustou os óculos grandes e feios, certificando-se de que escondiam o seu rosto, o máximo possível. Não se sentia nada bem com aquilo, mas era necessário, para manter o disfarce. Chegara a hora do espetáculo.
– Sou Crystal Rawlins – declarou, diante da mesa de mogno do gabinete de Sua Alteza, o xeque Fariq Hassan.
– Sim, a nova ama. Seja bem-vinda a El Zafir, menina Rawlins. Prazer em conhecê-la.
Moreno, alto e bonito, o homem era a personificação do pecado. O protótipo do príncipe de um lindo contos de fadas.
Sorrindo, Fariq estendeu-lhe a mão.
«Apertar a mão do pecado…», esse estranho pensamento cruzou a mente de Crystal, quando aceitou o cumprimento. E estremeceu perante a firmeza dos dedos quentes, firmes. Por alguma razão, não se sentia preparada para sentir o toque dele. O contacto, embora breve, perturbou todos os seus sentidos.
De uma maneira geral, quando se apresentava no primeiro dia, num emprego, maquilhava-se com esmero e usava roupa que a fazia sentir profissional e confiante. Mas aquele não era como os outros empregos que tivera, em termos de circunstâncias, valor monetário e importância. E os riscos nunca tinham sido tão grandes.
Por ironia do destino, uma melhor aparência podia dar origem à sua demissão. Se isso acontecesse, quem pagaria as despesas médicas da mãe? Os credores ameaçavam tirar tudo o que ela possuía, inclusivamente, a casa onde Crystal crescera. Mas, independentemente do preço a pagar, não deixaria que isso acontecesse.
– Muito prazer em conhecê-lo, finalmente, Alteza. Fiz algumas pesquisas e descobri coisas fabulosas sobre o seu país. Estou grata pela oportunidade de poder trabalhar aqui.
Fariq avaliava-a.
– Mesmo que o contrato seja de três anos? Terá férias, como é lógico, mas é muito tempo para ficar longe do seu lar.
– A estabilidade profissional é uma coisa boa.
Ele assentiu.
– É verdade. E também representa estabilidade para os meus filhos.
– A sua tia disse-me que manter o cargo ocupado tem sido um problema.
– Sim, tivemos cinco amas, num ano.
– Asseguro-lhe de que tenho intenção de cumprir o meu contrato.
– Ótimo. Já percebo por que razão a minha tia a tem em tão alta consideração, depois de a ter conhecido em Nova Iorque.
– A princesa Farrah tem um gosto excelente – parou para pensar. Aquilo parecia ser uma terrível falta de modéstia. – Isto é, Sua Alteza parece ser uma mulher exigente, com grande sensibilidade e excelente bom gosto em matéria de moda.
– E para escolher amas, espero.
– E para os sobrinhos.
– Como?
Crystal desviou o olhar e respirou fundo, para recuperar o fôlego antes que os nervos a denunciassem. Até esse lapso, pensara que conseguira transmitir tranquilidade.
– Estava a falar do seu gabinete. Também é incrível.
– Obrigado.
Fariq era pai dos gémeos de cinco anos, o motivo para ela ter sido contratada. Era importante começar com o pé direito. Esperara sentir-se nervosa no primeiro dia de trabalho, mas não daquela maneira. Porém, o xeque era tão bonito que a perturbava.
Crystal sempre acreditara que a beleza era um atributo superficial. O caráter, esse sim, era importante. E aquela era a sua oportunidade para ganhar dinheiro.
Estava diante do patrão, o homem mais bonito que já vira na vida, e tudo o que tinha para mostrar era a cara lavada. Dava tudo para poder estar maquilhada e usar roupa bonita.
Tentara conseguir uma aparência modesta, respeitando a exigência para desempenhar a função. O que constituía um desafio, visto que recebera o título de rainha da beleza em Pullman, Washington, a sua cidade natal. Nessa época, a aparência era o principal degrau para obter o sucesso. Agora, experimentava o reverso da moeda. O príncipe ia ver os óculos horríveis, a saia azul-marinho, comprida e sem formas, e uns sapatos grosseiros. Sem contar com o cabelo, que estava tão puxado para trás que chegava a alterar as suas feições delicadas.
Se Fariq não a visse assim, seria demitida de imediato e perderia a oportunidade de ganhar o generoso salário, que era a principal razão para estar ali. Os outros motivos eram a oportunidade de viajar e a experiência impar.
– Sente-se, por favor, menina Rawlins – Fariq indicou a cadeira, à frente da secretária.
Esboçando um sorriso gentil, aceitou a oferta.
– Como foi a sua viagem, vinda de Washington? A origem das deliciosas maçãs. Certo?
– Isso não acontece em Pullman. Lá só há trigo, o ano todo. E a minha viagem foi muito longa, Alteza. Nem sei quantos países atravessei.
– É compreensível.
Fariq Hassan era o filho do meio do rei Gamil e, pelos vistos, não desperdiçava as palavras. A pesquisa de Crystal, sobre a fantástica família real daquele pequeno país do Médio Oriente, revelara que não mantinham uma vida social discreta. O irmão mais novo, Rafiq, era do tipo playboy. O mais velho, herdeiro do trono, Kamal, era considerado pela imprensa como sendo o solteiro mais cobiçado do reino. Fariq estava separado da esposa e era perseguido por algumas das mulheres mais bonitas do mundo.
Nada disso seria de admirar. Já vira a fotografia dos três irmãos e eram, sem dúvida, dignos de arrebatar corações.
Além do físico poderoso e do cabelo negro, o xeque número dois tinha uma aparência tão magnética que ameaçava hipnotizá-la. Crystal orgulhava-se da sua habilidade, recentemente adquirida, em ignorar um rosto bonito. Aprendera a ser insensível ao encanto dos seres humanos comuns. Mas Fariq Hassan não tinha nada de comum.
– Já recuperou da longa viagem, menina?
– Quase. Aliás, gostaria de agradecer a sua gentileza, por me ter dado a oportunidade de me adaptar ao fuso horário. Foi ótimo ter tido algum tempo para descansar. Assim, poderei causar uma impressão mais favorável, a si e aos seus filhos.
– Fale-me da sua experiência com crianças – Fariq estudava-a com cuidado, mas os olhos não davam qualquer pista, para além da curiosidade normal.
Se alguém tinha aprendido a captar o menor interesse masculino, usando o radar feminino, esse alguém era Crystal. Tivera muitas experiências indesejáveis e decidira que nunca mais seria objeto de desejo. A reação neutra do xeque era sinal de que o disfarce estava a resultar. Então, porque é que se sentia um pouco desapontada com o facto de não a ter achado nada interessante?
– Paguei a minha faculdade com o que ganhei a tomar conta de crianças.
«E com o prémio que conquistei num concurso de beleza», pensou.
– Sou formada em pedagogia. Depois de acabar a faculdade, trabalhei durante um ano em casa de uma família abastada, em Seattle. Sua Alteza deve ter lido as minhas cartas de recomendação.
– As suas referências são impecáveis. Pedagoga?
Aqueles olhos negros pareciam ver através dela. Estaria a desvendar o seu disfarce?
– Um dia, gostaria de exercer a minha profissão – Crystal acomodou-se na cadeira, endireitou os ombros e encarou-o, na sua melhor atitude que dizia «não tenho nada a esconder».
– Não deseja constituir família? – e arqueou uma sobrancelha.
– Um dia. Mas há coisas que quero fazer, antes de me dedicar ao amor, ao casamento e aos filhos.
– Por essa ordem?
– Que ordem poderia ser?
Fariq sorriu.
– Filhos antes do casamento.
As faces de Crystal coraram, perante a sugestão de ir para a cama com alguém antes de casar. Algo natural, nos tempos modernos, mas havia algo de estranho ao falar de uma forma tão íntima com aquele homem.
– Alteza, não sou assim tão ingénua, para não saber que isso acontece. Mas não comigo.
– Entendo. Mas, as raparigas americanas não se orgulham da habilidade de ter uma carreira e uma família, ao mesmo tempo? Para quê esperar, menina Rawlins?
– Não é assim que quero fazer as coisas. Adoro crianças, motivo pelo qual escolhi uma carreira na área da educação. No entanto, quando tiver os meus filhos, pretendo ficar em casa, para os criar. E, quando chegar a altura certa, voltarei ao trabalho. O facto de trabalhar em escolas, irá permitir que passe os feriados e as férias com as minhas crianças.
– Ah! Uma planeadora. Muito organizada – e franziu o sobrolho.
– Não aprova a minha atitude?
– Muito pelo contrário. Gosto do seu raciocínio.
Porém, pela expressão, parecia não acreditar nela. Crystal juntou as mãos no colo.
– Posso fazer uma pergunta?
– Sim.
– Perdoe se parecer impertinente mas, como educadora, aprendi que é importante criar uma atmosfera onde nenhuma questão seja vista como tola.
Ele sorriu.
– Compreendo. Agora que se qualificou para o lugar, por favor, faça a sua pergunta tola.
– Pois bem. Trata-se de algo que preciso de esclarecer. Esta… A conversa que estamos a ter, parece ser uma entrevista.
– Perdão?
– Não sei se me enganei, mas tive a impressão de que já estava contratada para desempenhar o cargo.
– Sim. A tia Farrah ficou muito impressionada consigo e respeito muito a opinião dela. Mas trata-se dos meus filhos, menina Rawlins. A decisão final é minha.
– Quer dizer que, se discordar da princesa Farrah…
– Voltará para os Estados Unidos no próximo avião.
– O que me faz levantar uma outra questão.
– Tola? – e sorriu com malícia.
– Espero que não – e pigarreou. – Por que razão pediu uma ama americana? Porque não uma mulher do seu próprio país, familiarizada com os costumes de El Zafir?
– Os meus filhos aprenderão coisas sobre o nosso país, comigo e com a minha família. Mas muitos dos nossos negócios estão no ocidente e Hana e Nuri, no futuro, terão de interagir com representantes da América do Norte. Será capaz de os preparar para isso, coisa que alguém daqui não poderia fazer. É um requisito que considero ser muito importante.
Engoliu em seco.
– Sobre as qualificações para o cargo, Alteza…
– Não estão suficientemente claras?
– Sim, mas… Posso saber por que motivo exigiu que fosse uma mulher simples, comum?
– Acredito que a frase tenha sido: «Uma americana comum e discreta, com alguma inteligência e que seja boa com crianças».
Crystal pensou que conseguia ser tão discreta quanto quisesse. Considerava-se suficientemente inteligente para se ter formado com louvor e quanto a gostar de crianças… Era a mais nova de cinco filhos e os irmãos mais velhos já lhe tinham dado sobrinhos, que adorava. Contudo, era a parte da «mulher comum» que a intrigava.
Ao referir «comum e discreta», Crystal tinha a certeza de que Fariq queria dizer «feia, sem atrativos». Aquilo não a ofendia, mas estava curiosa.
– Percebo o significado do resto. Mas a sua tia não explicou a razão para esse requisito ser tão importante.
– Porque as mulheres bonitas são… – hesitou, exibindo um olhar sério. – Geladas e quentes, ao mesmo tempo. Um motivo de distração nada conveniente.
Crystal esperara ver arrogância. Preparara-se para isso e não ficara desapontada. Até ao momento em que tocara no assunto, Fariq tinha sido educado, amigável. A súbita frieza revelou que o xeque tinha uma história e não se surpreenderia se uma mulher bonita estivesse envolvida na história. Queria muito saber o que acontecera. E ficaria ali tempo suficiente para descobrir. Ou seja, se ele não descobrisse o seu disfarce e a despedisse.
Quer dizer que as mulheres bonitas não eram uma distração conveniente? Ficou um pouco perturbada. Um xeque podia livrar-se das responsabilidades sobre os próprios atos, culpando os outros pelas suas falhas?
– Alteza, deixe-me ver se entendi. Se o senhor não for capaz de controlar os seus impulsos, a culpa será da mulher, por ter nascido bonita?
E ergueu o queixo, encarando-o, deixando que Fariq a visse bem. Se o seu disfarce não conseguisse ser convincente, seria melhor saber já. E também não concordava que a sua beleza física, ou a falta dela, devesse ser a maior qualificação para tomar conta dos filhos dele.
Fariq observou-a durante vários segundos, mas Crystal não desviou o olhar. Talvez tivesse sido demasiado ousada mas, se ele não a quisesse, com a sua ousadia, seria melhor que tudo acabasse já. Sobretudo, pelo bem das crianças.
– Deixe-me ver se percebi. Está a perguntar-me de quem é a culpa, se sou incapaz de me concentrar na presença de uma mulher bonita?
– Isso mesmo.
– É dela, claro!
– Então, há algo que tem de saber, antes de prosseguirmos.
Ele pôs as mãos no tampo da mesa e inclinou-se para a frente.
– O quê?
– A minha filosofia, na forma de lidar com as crianças, começa por ensinar que uma pessoa deve assumir sempre as responsabilidades pelos seus atos.
– E há algo que você tem de saber sobre mim.
– Diga.
– Não sou uma criança. E nunca me engano.
Fariq era absurdamente másculo, de uma forma tão primitiva que a primeira frase dele parecia ser quase ridícula. E isso quase a distraiu da segunda afirmação. Nunca se enganava?
– É sempre bom saber o que pensa o meu patrão sobre este assunto. Isto é, presumindo que ainda é o meu patrão – e susteve a respiração.
– Acho que a minha tia escolheu bem. A menina é adequada para o cargo.
Crystal devia estar muito contente, por ter passado na entrevista. Estava contratada. Vencera o obstáculo! Mas, por estranho que parecesse, sentia-se vazia com o seu sucesso. Fariq acreditava que ela era tão feia quanto fingia ser.
Suspirou. Mesmo assim, tinha de o respeitar. Apesar do apoio da tia e do facto de as pessoas na posição de Fariq pagarem para se livrarem da responsabilidade que tinham com os filhos, ele amava tanto as crianças que insistira em conhecê-la. Era óbvia a importância que atribuía a aprovar a pessoa que iria tomar conta deles.
– Estou ansiosa por conhecer os seus filhos, Alteza.
– Vou levá-la, para que os possa ver – havia um tom de orgulho na voz e um brilho carinhoso no olhar.
Fariq levantou-se, contornou a mesa e gesticulou, para que ela o precedesse. Ao chegarem à pesada porta de madeira do gabinete, ambos alcançaram a maçaneta e as suas mãos tocaram-se.
– Permita-me, menina.
– Obrigada.
No corredor, Crystal olhou à sua volta. Os sapatos de salto raso afundaram-se na carpete felpuda. Painéis de madeira, perfeitamente alinhados, exibiam fotografias encantadoras de El Zafir, em várias fases de desenvolvimento.
Crystal jamais vira tanto luxo. Chão de mármore, grandes escadarias, uma fonte à entrada e lindos jardins. Havia móveis caríssimos, peças em ouro por todo o lado, quadros de valor incalculável, jarrões e tapeçarias. E o número de quartos dava para albergar um pelotão inteiro do exército americano.
Quando chegara à ala de negócios, para a sua primeira reunião com o príncipe, o nervosismo obscurecera a sua visão. Agora que o emprego estava garantido, conseguia reparar em muito mais pormenores.
Havia quatro escritórios. O do rei era o primeiro, seguido daquele que pertencia ao príncipe herdeiro e depois pelo de Fariq. À direita, ao fundo do corredor, estava o último, que supôs pertencer a Rafiq, o irmão mais novo. De repente, ouviu o riso estridente de crianças.
Olhando para cima, muito para cima, para o seu patrão e guia, Crystal apontou na direção do barulho.
– Eles foram por ali.
O xeque guiou-a até ao último escritório e, num enorme sofá de couro, estavam duas crianças e um homem que só podia ser o irmão de Fariq. Uma menina sentara-se num joelho dele e estava a despenteá-lo. E, ao mesmo tempo, o príncipe Rafiq fazia cócegas ao menino, que ocupava o outro joelho. A criança dava gargalhadas, implorando que ele parasse. Sem dúvida que aqueles eram os gémeos de cinco anos, de quem ia tomar conta.
– E ainda dizem que os homens são incapazes de fazer várias tarefas ao mesmo tempo – Crystal não conseguiu resistir a fazer o comentário.