Editado por Harlequin Ibérica.
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28001 Madrid
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© 2015 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.
Paixão a nu, n.º 1633 - Setembro 2015
Título original: The Magnate’s Manifesto
Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.
Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.
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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.
I.S.B.N.: 978-84-687-7088-8
Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.
Página de título
Créditos
Sumário
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
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O dia em que o manifesto de Jared Stone provocou um incidente internacional foi, para sua desgraça, um dia de poucas notícias. Às cinco da manhã de quinta-feira, enquanto o multimilionário sensual de Silicon Valley corria, como todas as manhãs, pelo parque Golden Gate de São Francisco, o manifesto era o tema de conversa dos jantares de Moscovo. Em Londres, enquanto os empregados de escritório saíam dos locais de trabalho para ir almoçar, o artigo desatinado sobre a condição feminina no século XXI andava na boca do mundo.
E, nos Estados Unidos da América, as mulheres que lavravam uma carreira, apenas para se depararem com um teto de vidro que as impedia de superar um certo nível, contemplavam estupefactas os ecrãs dos seus smartphones. Algumas pensavam que se tratava de uma brincadeira, outras, que tinham pirateado o correio eletrónico de Stone. E, por último, um punhado de ex-namoradas do magnata assegurou que não o achava minimamente estranho. «É um canalha!»
Sentada à sua secretária no edifício da Stone Industries, Bailey St. John mantinha-se ignorante da tempestade provocada pelo seu chefe. Armada de um café fumegante, sentara-se com toda a elegância que lhe permitia a saia travada e tentou encher-se de ânimos para o novo dia.
Bebeu um gole de café enquanto abria o correio eletrónico. O assunto da mensagem da sua amiga Arial chamou-lhe a atenção. E, ao abri-la, engasgou-se.
Playboy multimilionário provoca incidente internacional com o seu manifesto sobre as mulheres.
Olhou perplexa para o título da notícia que circulava pela Internet.
Um manifesto desavergonhado dirigido às suas colegas deixa claras as opiniões de Stone a respeito das mulheres, tanto na sala de reuniões, como no quarto.
Bailey deixou a chávena de café na mesa e abriu o manifesto que já tinha recebido dois milhões de visitas. A verdade sobre as mulheres, intitulava-se.
Já tendo saído e trabalhado com um grupo alargado de mulheres de todo o mundo, e depois de atingir uma idade em que me sinto qualificado para opinar sobre a matéria, cheguei a uma conclusão. As mulheres mentem.
Na sala de reuniões, dizem que querem igualdade, mas a verdade é que não mudaram nada nos últimos cinquenta anos. Apesar de todas as suas súplicas em sentido contrário, apesar dos seus ataques de nervos perante os limites estabelecidos pelo suposto teto de vidro, a verdade é que não querem fechar um negócio ou dirigir uma fusão. O que querem é ficar em casa e ser sustentadas por nós para viverem conforme o estilo de vida a que estão habituadas. Querem um homem que cuide delas, que lhes proporcione periodicamente uma noite de paixão e uma joia de diamantes. Alguém que impeça que vaguem pelo mundo sem rumo fixo...
Vagar pelo mundo sem rumo fixo? As faces de Bailey incendiaram-se. Começara o seu percurso profissional numa pequena empresa de Silicon Valley e há três anos que trabalhava na companhia de Jared Stone.
E aí parara a sua progressão. Chefe de vendas para a América do Norte da Stone Industries, andava há dezoito meses a tentar conseguir o cargo de vice-diretor, cargo que Stone parecia empenhado em não lhe conceder. Trabalhara mais e melhor do que qualquer um dos seus colegas masculinos e todos estavam de acordo em que o cargo devia ser dela. Todos salvo o génio de Silicon Valley, pois dera-o a outra pessoa. E isso doía-lhe muito.
Porque é que não a respeitava?
Começou a ferver-lhe o sangue. Sabia porquê. Porque Jared Stone era um porco machista.
Obrigou-se a beber mais um pouco de café antes de devolver a sua atenção ao computador, concretamente às regras sobre as mulheres que Jared tinha escrito:
1.ª Regra: Todas as mulheres são loucas, pois a sua maneira de pensar difere tanto da nossa que bem poderiam vir de outro planeta. Há que escolher a que seja menos louca para se viver com ela. Isso caso decidas assentar a cabeça, coisa que não recomendo.
2.ª Regra: Todas as mulheres querem uma aliança e uma casa com jardim. O que não é mau se quiseres formar uma família, mas, pelo amor de Deus, pensa bem no que estás a meter-te!
3.ª Regra: Todas as mulheres pretendem um leão na cama. Ela quer que a domines. Quer que tu tenhas o controlo. Não quer que a ouças. Não te enganes, sê um homem.
4.ª Regra: Todas as mulheres começam o dia com um propósito. Uma causa, um objetivo. Pode ser um anel de diamantes, mais do teu tempo, que aceites conhecer a sua mãe. Seja o que for, confia em mim, ou aceitas ou dizes-lhe «adeus». A longo prazo, dizer «adeus» sai mais barato.
Pelo bem da sua pressão arterial, Bailey interrompeu a leitura. E ela que estivera preocupada com o lendário conflito de personalidades entre Stone e ela... Cada vez que se encontravam na sala de reuniões, despertava neles o desejo de se destruírem um ao outro. Mas, afinal, não era esse o motivo. Aquele homem desprezava o sexo feminino.
Três anos. Olhou com o sobrolho franzido para o ecrã do computador. Trabalhava há três anos para aquele imbecil egocêntrico, aumentando as vendas dos seus famosos computadores e telemóveis. E para quê? Não passara de uma total perda de tempo. Jurara tornar-se diretora-geral aos trinta e cinco anos, mas a meta parecia cada vez mais inalcançável.
Apertou os lábios com força e começou a digitar:
A quem possa interessar,
Já não posso continuar a trabalhar numa empresa liderada por um porco. Vai contra todos os meus princípios.
Bailey continuou a escrever sem reprimir nada, até que sentiu que a sua raiva acalmava. De seguida, redigiu uma segunda versão que pudesse entregar nos Recursos Humanos.
Não ia trabalhar nem mais um minuto para Jared Stone por muito brilhante e bonito que fosse.
Jared Stone estava de muito bom humor quando estacionou no seu lugar da Stone Industries, pegou na pasta e entrou pela porta. Correr oito quilómetros pelo parque, um duche quente e um batido energético faziam maravilhas a um homem.
Cantarolou uma canção que acabava de ouvir na rádio e dirigiu-se para os elevadores do edifício elegante e arquitetonicamente brilhante. A vida era maravilhosa, encontrava-se no topo do ramo de negócio, prestes a assinar um contrato que sossegaria todas as críticas e cimentaria o seu controlo sobre a empresa, e sentia-se impermeável, impenetrável, invencível, capaz de resolver todos os problemas do mundo, inclusive de obter a paz mundial.
Entrou no elevador e cumprimentou a meia dúzia de funcionários com o famoso sorriso de que a imprensa tanto gostava. Aproveitou também para anotar mentalmente quem chegava cedo ao trabalho. Gerald, do departamento financeiro, devolveu-lhe um sorriso de cumplicidade, como se partilhassem algum segredo. Jennifer Thomas, a assistente de um dos vice-presidentes, que habitualmente o comia com os olhos, murmurou algo ininteligível. A mulher do departamento jurídico virou-lhe as costas.
As vibrações estranhas que começara a notar intensificaram-se ao abrir caminho pelo andar da direção até ao seu escritório. Outra assistente olhou para ele de forma muito estranha. Teria sujado a camisa com o batido energético? Teria pasta de dentes na cara?
– O que se passa hoje com toda a gente? – franziu o sobrolho quando a sua secretária de cinquenta e muitos anos, Mary, se aproximou para lhe entregar as suas mensagens. – Faz sol, as vendas estão a subir...
– Ainda não te ligaste à Internet, pois não? – a mulher pestanejou perplexa.
– Sabes qual é a minha regra – respondeu ele com impaciência. – Dedico as primeiras duas horas do dia a concentrar-me, a encontrar-me a mim mesmo.
– Pois... – murmurou Mary. – Bom, talvez te interesse abandonar essa atitude budista e ligar-te antes que chegue Sam Walters. Estará aqui às onze.
– Não tenho nenhuma reunião marcada com ele – Jared franziu o sobrolho perante a menção do nome do presidente do conselho de administração da Stone Industries.
– Agora, tens – insistiu a sua secretária. – Jared, eu... – olhou-o nos olhos. – O teu manifesto espalhou-se ontem à noite pela Internet.
Jared sentiu que todo o sangue abandonava o seu rosto. Só tinha escrito dois manifestos na sua vida. O primeiro, pouco depois de criar a Stone Industries, com o objetivo de definir as bases da empresa. E o segundo, uma brincadeira privada que tinha partilhado na noite anterior com os seus amigos mais íntimos depois de uma noite especialmente divertida com eles.
Mas em nenhum caso estava prevista a sua divulgação pública.
Pela expressão de Mary, era evidente que não se referia ao primeiro manifesto.
– Ao que te referes com «espalhou-se»? – perguntou com toda a calma de que foi capaz.
– O manifesto – a mulher pigarreou, – todo o documento, está na Internet. A minha mãe mandou-mo por e-mail esta manhã. Perguntou-me como podia trabalhar para ti.
O primeiro pensamento que passou pela cabeça de Jared foi que era impossível porque os seus amigos jamais lhe fariam algo parecido. Teria alguém acedido ilegalmente ao seu correio eletrónico?
– É muito mau?
– Está em todo o lado – Mary franziu os lábios.
A suspeita de que tinha ido demasiado longe no seu gosto por agitar as águas viu-se confirmada quando o seu mentor e conselheiro, Sam Walters, entrou no seu escritório três horas mais tarde, seguido da equipa jurídica e da de relações públicas. O génio financeiro de setenta e cinco anos não parecia divertido.
– Sam, isto é um mal-entendido lamentável – Jared fez sinal para que se sentassem. – Emitiremos um comunicado a esclarecer que se tratou de uma brincadeira. Amanhã já estará esquecido.
A vice-diretora do departamento de Relações Públicas, Julie Walcott, arqueou um sobrolho.
– Já teve dois milhões de visitas e continua a aumentar, Jared. As mulheres ameaçam boicotar os nossos produtos. Isso não vai ser esquecido sem mais nem menos.
Jared recostou-se na cadeira. Os músculos abdominais que tanto trabalhara naquela manhã estavam contraídos pela enorme falta de juízo ao escrever aquelas palavras. Mas se havia coisa que nunca fazia era mostrar fraqueza, sobretudo quando o mundo inteiro queria a sua cabeça numa bandeja.
– O que sugeres que faça? – murmurou com a sua habitual arrogância. – Suplicar pelo perdão das mulheres? Pôr-me de joelhos e jurar que não o dizia a sério?
– Sim.
– Tratava-se de uma brincadeira entre amigos – Jared olhou para Julie com expressão de incredulidade. – Falar disso dar-lhe-á mais credibilidade.
– Agora, trata-se de uma brincadeira entre ti e o resto do planeta – acrescentou Julie com tranquilidade. – Falar disso é a única coisa que poderá salvar-te.
– Haverá implicações legais, Jared – Sam tomou a palavra. – E não é preciso que te recorde que a filha de Davide Gagnon é sócia-fundadora de uma organização feminista. Não vai gostar.
As mãos de Jared fecharam-se sobre a beira da secretária. Era muito consciente das organizações a que Micheline Gagnon pertencia. A filha do diretor-geral da maior retalhista de aparelhos eletrónicos da Europa, a Maison Electronique, com quem a Stone Industries aspirava a assinar um contrato de cinco anos para expandir a sua presença no mundo, era uma presença habitual nas redes sociais. Certamente, não ia gostar, mas fora uma brincadeira.
– Digam-me o que devo fazer – pediu depois de lançar um suspiro.
– É preciso emitir um pedido de desculpas – respondeu Julie. – Explicar que se tratou de uma brincadeira privada de muito mau gosto. Esclarecer que não tem nada a ver com a tua verdadeira visão das mulheres, que sempre foi do maior respeito.
– E respeito as mulheres – interveio ele. – Mas não penso que sejam sinceras com os seus sentimentos.
– Quando foi a última vez que nomeaste uma mulher para membro da direção executiva? – Julie olhou fixamente para ele.
Nunca o fizera.
– Diz-me uma mulher que mereça o cargo e ponho-a lá.
– Que tal Bailey St. John? – Sam arqueou as suas sobrancelhas povoadas. – Pareces ser o único que não a considera capacitada para o cargo de vice-diretora.
– Bailey St. John é um caso especial – Jared franziu o sobrolho. – Não está preparada.
– Tens de fazer algum gesto – disse Sam com severidade. – Neste momento, estás na corda bamba, Jared – em todos os aspetos, parecia indicar a expressão do seu mentor. – Dá-lhe o cargo. Faz com que fique preparada.
– Não seria uma escolha acertada – refutou com veemência. – Tem vinte e nove anos, pelo amor de Deus! Nomeá-la vice-diretora seria como rebentar uma bomba.
Sam voltou a arquear os sobrolhos, como se quisesse recordar-lhe o pouco apoio de que gozava naquele momento do conselho de administração. Como se necessitasse que lhe recordasse que estava prestes a perder o controlo da empresa, líder no mundo, que tinha criado a partir do nada. A sua empresa.
– Dá-lhe o cargo, Jared – Sam olhou fixamente para ele. – Lima as arestas. Não destruas dez anos de trabalho árduo por causa do teu mau hábito de dizeres o que pensas.
No interior de Jared debatiam-se duas posturas antagónicas. Três anos antes, tinha arrancado Bailey das garras de um concorrente pela sua mente incrivelmente engenhosa. E não o tinha dececionado. Não tinha dúvida de que um dia chegaria a vice-diretora, mas era como um bombom com recheio. Nunca se sabia o que ia sair do seu interior quando entrava na sala de reuniões.
– Está bem – concedeu Jared perante o olhar insistente de Sam. Encarregar-se-ia de Bailey.
– Além disso, vais frequentar uma formação sobre sensibilidade cultural – interveio Julie. – O departamento de Recursos Humanos está a prepará-lo.
– Nunca! – recusou-se Jared. – Mais alguma coisa?
Julie esboçou o plano para recuperar a sua reputação. Era um plano sólido, reflexo do que pagava àquela mulher. Depois de aceder a tudo, salvo à formação sobre sensibilidade cultural, deu por terminada a reunião. Tinha preocupações mais graves, como recuperar o apoio do conselho de administração.
Quando todos se foram embora, Jared aproximou-se da janela e tentou perceber como é que aquela manhã perfeita se convertera num dia infernal. A origem estava no fim brusco da sua relação, ou o que quer que tivesse sido, com Kimberly MacKenna, uma contabilista que lhe tinha assegurado que não procurava uma relação permanente. E, assim, tinha baixado a guarda. Mas, no sábado à noite, aquela mulher deixara-se cair no seu sofá e declarara que estava a partir-lhe o coração. O olhar terno dela suplicava por um compromisso.
Às dez da manhã de segunda-feira, usava uma pulseira de diamantes no braço como despedida.
Ao escrever o manifesto, talvez se sentisse um pouco sozinho. Mas as regras eram as regras. Nada de compromissos. Os seus lábios franziram-se e apoiou as palmas das mãos contra o vidro. Talvez devesse ter contado ao departamento de Relações Públicas a verdade sobre o casamento dos seus pais. Como a sua mãe tinha esmifrado o seu pai, como o tinha convertido numa amostra de homem. Isto poderia ter granjeado mais simpatias.
Melhor ainda, Julie poderia dedicar-se a controlar os meios de comunicação que pretendiam linchá-lo antes que pudesse anunciar a trajetória da empresa durante a década seguinte. Quando transformara um computador inovador, criado no quarto do seu melhor amigo, na empresa de consumíveis eletrónicos de mais sucesso dos Estados Unidos da América, o que menos esperava era que os céticos começassem a pedir a cabeça do presidente ao mínimo incidente. O que esperava era que confiassem nele e assumissem que tinha um plano para revolucionar a indústria.
Um palavrão escapou dos seus lábios. Preferiam destruí-lo a apoiá-lo. Eram predadores. Bom, não iam conseguir a sua presa. Iria a França assinar a aliança com a Maison Electronique, deixaria os seus concorrentes para trás e apresentaria o contrato ao conselho de administração dentro de duas semanas.
A única coisa que tinha de fazer era explicar a sua visão do negócio a Davide Gagnon.
Saiu do escritório e gritou a Mary que chamasse Bailey St. John. Ia dar-lhe a promoção, mas não era estúpido. Quando lhe demonstrasse como era inexperiente, tudo voltaria ao normal.
A última chamada foi para o chefe do departamento informático. Quem tivesse acedido ilegalmente ao seu correio eletrónico ia lamentar o dia em que lhe tinha ocorrido a ideia.
Bailey estava há quinze minutos diante da porta do escritório de Jared Stone quando Mary a mandou entrar por fim. Recorrendo à sua capacidade de parecer humilde perante qualquer circunstância, empurrou a porta de madeira maciça e entrou na sala, de caráter marcadamente masculino, dominada por uma lareira de mármore e janelas grandes que iam do teto ao chão. A decoração era minimalista, própria de alguém que preferia passar o dia com os seus engenheiros a sentado à secretária.
Jared virou-se ao ouvi-la a entrar e, como acontecia cada vez que se aproximava daquele homem, ela sentiu que perdia parte da compostura. Embora não andasse atrás dos encantos dele, como faziam quase todas as mulheres de Silicon Valley, também não era imune a eles. O olhar azul penetrante do seu chefe era famoso por despir as mulheres num segundo. E, caso isso não bastasse, também havia o corpo atlético, a roupa feita à medida e o cérebro brilhante.
– Não vim para conversar, Jared – anunciou ela, recuperando parte da compostura. – Demito-me.
– Demites-te? – o tom habitualmente rouco adquiriu uma nota de incredulidade.
– Sim, demito-me – Bailey aproximou-se do seu chefe e levantou o queixo, absorvendo o impacto do olhar azul penetrante. – Estou farta de vagar sem rumo por esta empresa, suportando as tuas falsas promessas.
– Vá lá, Bailey... Eu pensava que tu, melhor do que ninguém, perceberias uma brincadeira.
– Não foi nenhuma brincadeira, Jared – apoiou as mãos nas ancas. – E eu que pensava que o problema era a nossa incompatibilidade de personalidade...
– Referes-te a como tentamos esquartejar-nos um ao outro cada vez que nos vemos numa sala de reuniões? – sorriu. – São essas coisas que me ajudam a levantar-me todas as manhãs.
– Penso que sempre fui consciente da tua opinião sobre as mulheres – continuou Bailey com tom exasperado, – mas, estúpida, pensei que me respeitavas.
– E respeito-te.
– Então, porque não te chamou a atenção nada do que consegui nos últimos três anos? Eu era a estrela da minha anterior empresa, Jared. Foi por isso que me contrataste. Porque deste a Tate Davidson o cargo que eu merecia?
– Não estavas preparada – respondeu ele sem lhe dar importância.
– Em que sentido?
– Na tua maturidade – Jared olhou-a com altivez. – Reages impulsivamente. Acabas de me dar uma prova disso. Nem sequer pensaste nisso.
– Claro que pensei nisso – o fogo queimava-a por dentro. – Tive três anos para pensar nisso. E perdoa-me se não levo muito a sério as tuas críticas sobre a minha imaturidade depois do teu espetáculo infantil desta manhã. Querias que todos os homens da Califórnia se rissem e dessem palmadinhas nas costas uns dos outros? Pois, conseguiste-o. E, de passagem, a causa feminina perdeu pontos.
– Sempre pus mulheres em cargos de direção quando o mereceram, Bailey – Jared semicerrou os olhos. – Mas não o farei para manter as aparências. Penso que possuis um grande talento e que, com o tempo, chegarás longe.
– Destaquei-me de qualquer homem desta empresa nos últimos dois anos – olhou-o furiosa. – Estou farta de tentar impressionar-te, Jared. Pelos vistos, a única coisa que conseguiria seria um tamanho maior de sutiã.
– Não creio que haja um único homem em Silicon Valley que te achasse com falta de alguma coisa, Bailey – Jared dedicou-lhe aquele sorriso que enlouquecia as mulheres. – Tu é que não lhes ligas.
– Toma – Bailey entregou-lhe uma carta. – Considera-a a minha resposta ao teu manifesto.
– Não aceitarei a tua demissão – depois de ler a carta, Jared rasgou-a ao meio.
– Alegra-te por não te processar! – exclamou ela antes de dar meia-volta.
– Chamei-te para te oferecer o cargo de vice-diretora de Marketing, Bailey – as palavras de Jared fizeram com que a jovem parasse de repente. – O teu trabalho para aumentar as vendas nacionais foi espetacular. Mereces uma oportunidade.
Depois de três longos anos de trabalho intenso, o sucesso encheu-a de felicidade, mas compreendeu de imediato o que estava a acontecer realmente.
– Que membro da tua equipa te aconselhou a promover-me? – se tivesse pestanejado, ter-lhe-ia escapado a contração subtil daquele pequeno músculo do maxilar. Mas não o fez e a confirmação das suas suspeitas enfureceu-a. – O que queres é boa publicidade. Alguém para mostrar e acalmar as massas.
– O que quero é que sejas vice-diretora do meu departamento de Marketing – Jared apertou os dentes. – Não sejas estúpida e aceita-o. Depois de amanhã, esperam-nos em casa de Davide Gagnon, no sul de França, para apresentarmos o nosso projeto de marketing, e preciso de ti ao meu lado.
Bailey queria recusar-se e ir-se embora dali com dignidade. Mas não podia. Jared Stone acabava de lhe oferecer a meta que jurara alcançar. E, apesar de ser um idiota presunçoso, também era a mente mais brilhante do planeta. Ao seu lado, podia estar certa de fazer história e de não regressar à vida que jurara deixar para trás para sempre.
A sobrevivência era mais forte do que o orgulho. E, no seu mundo, não era inusual que os homens ostentassem o poder. Mas ela sabia como entrar no jogo, como vencer. E venceria Jared.
Seria o seu presente para o sexo feminino.
– Aceito, com duas condições.
Ele olhou-a com os olhos semicerrados.
– Vais dobrar-me o salário e dar-me o cargo de diretora-chefe de vendas.
– Não temos nenhum diretor-chefe de vendas.
– Agora, temos.
– Bailey...
– Então, não há acordo – Bailey deu meia-volta, disposta a ir-se embora.
– Está bem – acedeu Jared. – Concedo-te ambas as condições.
Naquele momento, Bailey compreendeu que Jared Stone estava com problemas graves. E ela é que mandava. No entanto, a euforia não lhe durou muito tempo. Acabava de assinar um pacto com o diabo. E essas coisas acabavam sempre por se pagar.