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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

© 2005 Harlequin Books S.A.

© 2015 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Um verão ardente, n.º 723 - Agosto 2015

Título original: Entangled

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2007

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

I.S.B.N.: 978-84-687-7130-4

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

Página de título

Créditos

Sumário

Crónica Rosa

Prólogo

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Epílogo

Se gostou deste livro…

Crónica Rosa

Ashton contra Ashton… e contra Ashton?

A rivalidade entre duas facções de uma mesma família de vinicultores do vale de Napa é cada vez maior. Enquanto Spencer Ashton constrói um império do vinho com a conhecida marca de Adegas Ashton, da qual é proprietário, os filhos do seu anterior casamento com Caroline Lattimer estão a ganhar-lhe terreno com os seus galardoados caldos Vinhedos de Louret, elaborados na herdade de As Vinhas.

É bem sabido que Spencer Ashton se nega a manter relação com alguns deles e cheira-nos que há algo mais que uvas fermentadas por trás do êxito de Vinhedos de Louret: um desejo de vingança.

Caso isso não bastasse para transformar o vale de Napa no cenário de uma novela de Hollywood, os rumores dizem que tem outros filhos de um casamento ainda mais anterior. De facto, ultimamente tem sido visto a entrar e sair de As Vinhas um charmoso rancheiro, que além de conviver com os seus meios-irmãos, poderia talvez estar a tramar com eles o modo de provocar a queda do império do seu pai.

No entanto, como o bom vinho, esta história necessita de tempo para amadurecer e alcançar todo o seu potencial, por isso… não deixem de nos ler!

Prólogo

Às onze e meia de uma chuvosa manhã de quarta-feira em Crawley. Nebraska, quando todos deviam estar a trabalhar, ninguém esperava que a igreja se enchesse. Mas ali estavam a chefe dos correios, o farmacêutico e sua esposa, o banqueiro também com a mulher…, todos sentados nos bancos que costumavam ocupar. Além disso, muitas das famílias de agricultores do condado estavam ali representadas, já que as famílias dos noivos eram agricultores.

Claro que as gémeas Mortimer também estavam no seu lugar de sempre; o sexto banco da fila central. Flora e Dora não perderam nenhum dos casamentos celebrados naquela igreja em cinquenta e cinco anos, e um pouco de chuva não ia detê-las.

– O jovem Spencer é muito bonito, não é? – cochichou Flora a Dora.

A irmã soprou.

– A beleza não é importante; o importante é o interior. Esse velhaco não estaria agora aí no altar à espera da noiva se…

A chefe dos correios voltou-se e lançou-lhes um olhar de reprovação.

– Não olhes assim, Emmeline Bradley – disse Dora. – O Francis ainda está a tocar o órgão. Não sei por que não podemos falar quando a cerimónia ainda não começou.

Flora puxou-lhe pela manga.

– Olha, o pai do Spencer está a sentar-se – murmurou. – Não parece muito contente com o casamento, pois não?

– E quando se viu Frederick Ashton sorrir? Quando não está de mau humor está com um humor ainda pior. Não entendo como pôde ocorrer ao padre Brown nomeá-lo diácono…

Lucy Johnson, sentada ao outro lado de Flora, inclinou-se para a frente e disse-lhes:

– Pelo menos o Frederick garantiu que o filho faça o correcto com a pobre Sally.

Flora assentiu com a cabeça.

– Pobre Sally… É compreensível que caísse na tentação. Esse rapaz Ashton é tão… tão…

– Bonito – terminou Dora com aspereza. – Pois eu não tenho tanta certeza de que Frederick Ashton tenha feito um favor a Sally.

– Oh, o Spencer ainda é muito jovem – interveio Lucy. – Talvez seja um pouco irresponsável, também o meu Charlie era antes de casarmos. E há já quarenta e dois anos que estamos juntos.

Emmeline Bradley virou-se de novo.

– Chiu!

Flora corou e Lucy apertou os lábios, mas Dora nem se apercebeu, pois estava a olhar para Frederick Ashton, com a testa franzida, três bancos mais à frente.

Diz-se que ele foi muito severo com os filhos. Era grande, forte, dominante, o tipo de homem que gosta de dizer que é preciso mão de ferro com as crianças e não lhes consentir tudo. Dora tinha a certeza que nem Spencer nem o seu irmão David foram umas crianças nada mimadas.

Por fim, Francis começou a tocar as primeiras notas da marcha nupcial de Wagner, e ao fundo da igreja Sally Barnett apertou o estômago com uma mão.

– Nervos, querida? – perguntou-lhe o seu pai.

«Eu diria enjoo», pensou ela. O seu pai parecia preocupado, mas queria crer que a sua mãe tinha razão, que uma vez chegados os filhos, Spencer assentaria a cabeça.

– Sim, um pouco nervosa – sussurrou ao pai forçando um sorriso.

– É o normal – disse ele dando-lhe umas palmadinhas na mão. – Bem, chegou o momento.

Entraram juntos na igreja, avançando ao ritmo lento da marcha nupcial para o altar onde Spencer os esperava. Ao vê-lo, o coração de Sally bateu forte.

Spencer estava muito bonito com o fraque, mesmo que fosse alugado. Repetira-lhe uma e outra vez que não tinha importância, mas para ele tinha. Era ambicioso, e desejava o sucesso e viver com todos os luxos a qualquer preço. Sally sabia porquê: tinha crescido a ouvir a sua mãe queixar-se do pouco que tinham e de como teriam uma existência mais folgada se o seu pai não tivesse vendido a fazenda. Não estranhava que acreditasse que a felicidade dependia dos bens materiais.

Ela demonstrar-lhe-ia que estava errado, prometeu quando o seu pai a deixou junto a Spencer. Seria tão boa esposa que nunca se arrependeria de se ter casado com ela.

Spencer deu-lhe a mão e o coração de Sally bateu forte como tantas vezes lhe ocorria com ele. Sabia que não a amava, pelo menos não como ela o amava, mas ensiná-lo-ia a amar. Esquecidas as náuseas, o rosto de Sally iluminou-se e concentrou-se nas palavras do padre.

Spencer olhou para a que ia converter-se em sua esposa. «Olha como sorri…», pensou. «Acha que me caçou, não é?». Ao descobrir que estava grávida, aquela menina estúpida e egoísta foi a chorar ao seu papá, e este, furioso, foi ver o seu velho. Porém, essa ira não tinha comparação com a reacção do seu pai. Um calafrio percorreu-lhe as costas só de se lembrar.

– E tu, Spencer Winston Ashton? Aceitas esta mulher como tua legítima esposa…? – dizia o sacerdote – …para cuidá-la e protegê-la…?

O seu pai, Frederick Ashton, era a única pessoa no mundo que temia. Defendia as doutrinas da Bíblia, mas a única coisa que lhe importava era a imagem que a comunidade tinha dele, e deixara muito claro que não estava disposto a permitir que manchasse o seu bom-nome.

– …na pobreza e na riqueza…?

Talvez Sally tivesse ganho aquela batalha, mas não a guerra, pensou Spencer. Estava destinado a grandes coisas; sempre o soubera; e nenhuma mulher ia retê-lo contra a sua vontade.

– …na saúde e na doença até que a morte os separe? – concluiu o sacerdote.

– Sim, quero – respondeu ele solenemente.

Algum dia, de algum modo, encontraria maneira de abandonar para sempre aquele buraco de encontro ao grande mundo que estava ali fora, à sua espera.

Capítulo Um

Vale de Napa, Califórnia. Quarenta e três anos depois.

Como tinha tido saudades aquela luz, pensou Dixie. Em Nova Iorque, as mudanças de estações eram sempre muito bruscas, mas na Califórnia as estações alternavam-se de um modo mais educado, diluindo-se cada uma na seguinte como numa aguarela.

Ah, mas o melhor era a luz… essa luz do sol de Janeiro que, mesmo não tendo a intensidade dos meses de Verão, se enroscava nos troncos das árvores, nos edifícios, e pousava calmamente sobre a terra e as estradas.

Estava desejosa de plasmar nos seus quadros essa luz. Para isso tinha ido ali, lembrou-se, diminuindo a velocidade ao aproximar-se da entrada da propriedade, porque tinha um trabalho a fazer; e se de passagem pudesse desfazer-se de alguns dos seus fantasmas, tanto melhor.

Dixie inspirou profundamente, pisou suavemente o acelerador e irrompeu em As Vinhas. À casa chegava-se indo em frente, mas ela tomou a curva à esquerda para se dirigir ao enorme edifício das adegas, os escritórios e a sala de provas. Parou o veículo, desligou o motor, e ficou ali sentada um momento, assimilando as mudanças e reparando nas coisas que continuavam iguais.

Depois pegou na mala e no chapéu, viu como estava Hulk e abriu a porta do carro.

– Dixie! – exclamou uma mulher jovem e esbelta. – Chegaste muito tarde – disse descendo os degraus da entrada, – havia trânsito ou esqueceste-te de algo e tiveste de voltar? E o teu gato?

Rindo, Dixie deu um abraço à amiga.

– O trânsito estava horrível, só saberei se me esqueci de algo quando der pela sua falta, e Hulk está a dormir na jaula. Santo Deus, estás fantástica! – exclamou olhando bem para Mercedes. – Tão magra como sempre… em Nova Iorque causarias sensação… adoro estas madeixas rebeldes – disse puxando suavemente uns caracóis. – Mas esse vestido é muito enfadonho.

– Nem todos temos o teu gosto de artista – replicou Mercedes, divertida e abanando a cabeça.

– Hum… – murmurou Dixie olhando para o edifício. Há onze anos era menor e menos elegante. – Alguém fez um bom trabalho aqui. A ampliação mal se nota; parece que foi sempre assim. Bem, mostra-me os teus domínios.

– Calculo que fales da sala de provas – disse Mercedes. – Estamos a pensar em remodelá-la. Ideia de Jillian.

Dixie inclinou a cabeça antes de segui-la. Mercedes parecia tensa e não entendia porquê quando ela era a única que tinha motivos para estar nervosa.

– Eh, que bem pensado está isto… – comentou olhando em volta.

Revestimento de madeira nas paredes, luzes suaves, uma grande janela com uma linda vista…

– Que mudanças pensaste para a remodelação?

– Ainda não há nada decidido, mas queremos unificar o estilo da decoração, que reflicta o tema da campanha promocional – explicou Mercedes, ainda visivelmente tensa. – Os escritórios ficam em cima. Eli está fora, nos vinhedos, portanto levo-te até Cole – acrescentou.

Porém, Dixie não se mexeu. Mercedes deteve-se no umbral da porta e olhou-a com a testa franzida.

– Dixie? Não vens?

– Só se me disseres por que estás tão tensa. Não faças essa cara de inocente – disse.

– Não sei do que falas.

– Vamos, Merry, o que tens? O Cole zangou-se por me teres contratado para fazer as ilustrações? – quis saber. Mercedes olhou-a com uma expressão culpada. – Não lhe disseste?!

– Bom… não exactamente.

Dixie fechou os olhos e sentiu o estômago às voltas. Começavam bem as coisas…

– E então? Vai despedir-me antes de começar?

– Não pode fazer isso – assegurou Mercedes. – Assinámos um contrato e tinha autorização dele e de Eli para te contratar. Bem, não sabiam que eras tu, claro, mas disse-lhes que conhecia uma ilustradora muito boa e falei-lhes de algumas das revistas mais importantes nas quais o teu trabalho apareceu, e estavam ansiosos para que trabalhasses connosco.

– E eu que sempre achei que não gostavas de correr riscos… – murmurou Dixie abrindo os olhos. – Pode-se saber em que estavas a pensar?

– Que os Vinhedos de Louret necessitam de ti para a campanha. És uma grande ilustradora, Dixie.

– Não digo que não seja – respondeu Dixie, que se de algo não pecava era de falsa modéstia, – mas isso não explica por que não lhes disseste.

– Fazes ideia do que é teres por chefes os teus dois irmãos mais velhos? – questionou Mercedes. – Simplesmente não quis perder o tempo a discutir com Cole. Vamos, Dixie, sei que isto é um pouco embaraçoso para ti, mas não irás dizer-me que tens medo dele, pois não? – disse com um sorriso malicioso. – Conheço-te e sei que nem um tornado te poderia assustar.

Se tinha medo dele? Medo não era a palavra, pelo contrário, era «terror».

– Não quero imaginar a cara que porá Cole quando me vir aparecer.

Mercedes riu-se, aliviada.

– Estou desejosa de ver. Mas antes que comece a rugir sairei a correr e tu arranjas-te com ele.

– Ena, obrigada; agora sinto-me muito melhor.

Passada a sala de provas, havia um curto corredor com portas que levava às adegas, e umas escadas que conduziam aos escritórios, por onde subiram.

Onze anos eram tanto tempo… Por que estava assustada? Que a odiasse, respondeu. Foi há muito tempo, mas Cole não era um homem de meios-termos. Ou te adorava ou te odiava.

– Ei, Merry… – chamou a amiga ao chegar ao patamar superior. – Quando me deixares só ante o perigo, poderias tirar o Hulk do jipe? – pediu, estendendo-lhe as chaves.

– Claro – respondeu Mercedes. Olhou-a com um sorriso e deu-lhe um abraço impulsivo. – Fico muito feliz por estares cá de novo. Lamento ter-te enganado, claro, mas alegro-me de te ver.

– Eu também – respondeu Dixie. Passou uma mão pelo cabelo, ergueu os ombros e disse: – Bem, vamos lá.

Mercedes voltou-se e bateu à porta.

– Cole, a nossa artista está aqui – disse abrindo. – Como a Shannon está doente tenho de supervisionar os trabalhos na sala de provas, será que poderias tu mostrar-lhe as instalações?

– Claro – respondeu essa aveludada voz de barítono que Dixie quase esquecera. – Mal…

Ao ver Dixie entrar atrás de Mercedes, Cole calou-se.

Continuava tão esbelto como fora quando Dixie o viu pela última vez, há onze anos atrás, e continuava a usar o cabelo muito curto numa tentativa de domar os caracóis castanhos. As orelhas permaneciam pequenas e bem feitas, o nariz grego, e as sobrancelhas rectas, mas o tempo sulcara o seu atractivo rosto com pequenas rugas nas quais se podia ler o seu génio.

Ao ver que a olhava boquiaberto, um sorriso desenhou-se lentamente nos lábios de Dixie, que mal se apercebeu que Mercedes saíra.

– Olá, Cole.

As feições de Cole relaxaram-se e um sorriso de profissional aflorou aos seus lábios.

– Bem-vinda a As Vinhas – cumprimentou sem se levantar. – Como estava a dizer, será um prazer mostrar-te a herdade… mal tenha matado a minha irmã mais nova.

Dixie desatou a rir.

– E eu que temia que te mostrasses frio e altivo comigo…

– Precisamente porque sei que não gostas de formalidades, tentarei evitá-las – respondeu ele, olhando-a de ponta a ponta de modo quase insultante. – Nunca foste muito pontual, mas onze anos parecem excessivos, inclusive para alguém como tu.

Dixie abanou a cabeça.

– Não conseguirás enervar-me.

– Bom, não perco nada em tentar.

Hora de mudar de assunto, decidiu ela. Observou o escritório, onde reinava a ordem em cada canto à excepção da enorme secretária de madeira escura. A cabeça de um cão assomou nesse instante atrás dele, e os seus olhos olharam para Dixie esperançados.

– Oh! – exclamou ela, agachando-se sorridente. – Quem temos aqui?

– Chama-se Tilly e não deixará que lhe toques.

– Ah, não? – respondeu Dixie em tom de desafio.

Estendeu uma mão para o animal a cheirar, mas retrocedeu logo e escondeu-se atrás da mesa.

– Que se passa; é tímida?

– Tímida, neurótica… e não muito esperta – respondeu ele inclinando-se e acariciando a cadela. – Assustam-na as tempestades, outros cães, os pássaros, os desconhecidos, os ruídos fortes… Dixie contornou a mesa para poder ver a cadela.

– É um cruzamento de dálmata com alguma outra raça, não é?

– O veterinário pensa que é dálmata e galgo. Encontrei-a há um ano na beira da auto-estrada.

– E como conseguiste que fosse contigo se tem medo de desconhecidos?

Cole fitou Tilly com um sorriso divertido.

– Não sei; foi curioso, como se estivesse àminha espera. Parei o carro, abri a porta e saltou.

Dixie abanou a cabeça.

– Deve ser por te achar irresistível; afinal é fêmea.

– Pois não é precisamente o meu tipo – respondeu ele com esse meio sorriso de que Dixie se lembrava tão bem. – Deita, Tilly – ordenou ao animal, que obedeceu imediatamente. Depois, virando-se para Dixie, disse: – Senta-te, por favor.

Dixie pareceu-lhe que a cadela tinha a qualidade necessária para ser exactamente o tipo de Cole: um carácter submisso, mas como estava decidida a ser educada com ele, mordeu a língua e sentou-se em frente da desarrumada secretária.

«Pelo menos, por enquanto tudo vai bem», pensou. Sentiu uma pontada de nervos no estômago, mas pensou que não tinha que dever-se ao homem sentado frente a ela, mas provavelmente só às lembranças que lhe trazia aquele reencontro.

– Soube que tens feito maravilhas com os Vinhedos de Louret – comentou.

– Na verdade o artífice de todas as melhorias foi Eli. Eu só ajudei – replicou ele. – Bom, como te tratou a vida nestes anos? Vejo-te muito bem.

– Obrigada. Tive altos e baixos, como qualquer um, mas não me posso queixar. E tu?

– Bem, bem; em todo este tempo não tenho parado. Falando de trabalho… tenho de felicitar-te: transformaste-te numa ilustradora famosa.

Dixie não pôde evitar rir-se.

– Isto ensinar-me-á a não voltar a fazer uma tempestade num copo de água. Nem imaginas como temia este reencontro. Pensava que seria um tanto… incómodo. Afinal quase não nos atacámos e aqui estamos de repente a tecer elogios um ao outro.

– E isso decepciona-te? – disse Cole arqueando uma sobrancelha.

– Oh, não. Talvez um pouco – admitiu ela. Revirou os olhos e acrescentou. – Enfim, não é que queira que me trates com a frieza que usas com quem não te agrada, mas…

Os olhos de Cole relampejaram, mas um sorriso fácil aflorou aos seus lábios.

– Os anos amoleceram-me; agora sou um tipo afectuoso e encantador.

– Quero ver para crer – retorquiu Dixie com malícia.

– Vais estar uns dias por cá, não vais? – inquiriu Cole.

– Sim, e meterei o nariz em todo o lado porque é assim que trabalho.

– Hum… – murmurou Cole. – Li críticas que te comparavam a Maxwell e Rockwell… não pelo estilo mas pelo reconhecimento que recebeu o teu trabalho – comentou, – e perguntava-me como vamos poder pagar os teus honorários, que devem ser consideráveis.

Dixie fitava-o, surpreendida. Não imaginou que Cole tivesse seguido a sua carreira tão de perto.

– Não leste o contrato?

– Não; por alguma razão Mercedes insistiu em ocupar-se pessoalmente disso – respondeu ele.

– Bom, o acordo a que chegámos é que comprarão os direitos de reprodução das minhas pinturas, não as pinturas em si. Isso custaria muito mais – respondeu. Pensei oferecer uma à Mercedes, mas por amizade, não por negócios.

– Portanto… vais fazer isto como um favor à minha irmã?

Dixie encolheu os ombros.

– Em parte.

– Que te parece se te mostro as instalações agora? – sugeriu Cole pondo-se de pé.

– Estupendo; vamos.

Saíram do escritório e desceram as escadas.

– Suponho que a Mercedes te terá dado uma ideia geral do que queremos – disse Cole quando chegaram ao patamar do piso inferior. – Pensámos publicar uma série de anúncios numas revistas de prestígio e queremos dar-lhes um toque artístico afim à personalidade e qualidade dos nossos vinhos. Queremos que essa propaganda reflicta que a nossa produção é artesanal, não em série. Enfim, o caso é que aqui estás… embora receie que o Inverno não seja a melhor época do ano para pintar os vinhedos.

– Bom, a minha ideia era centrar-me em vocês e nos que aqui trabalham, não nos vinhedos.

– A Mercedes comentou, mas creio que o Eli com um cacho de uvas na mão não venderá muito.

– A Mercedes avisou-me que não seria fácil convencer-te – murmurou Dixie. Abanou a cabeça e o seu longo cabelo louro balançou suavemente. – No mercado há muitos vinhos bons; é possível que os vossos sejam os melhores, mas para poder vendê-los como tais, têm de transmitir isso numa imagem, e tem de ser algo que se destaque.

– Pois não vejo por que não podes centrar-te nas vinhas, nas uvas, que são a matéria-prima. Se te consideras uma verdadeira artista, terias de ser capaz de transmitir isso mesmo que seja com umas simples videiras.

Dixie arqueou as sobrancelhas.

– Todos vimos quadros lindos com cachos de uvas, portanto mais um, por melhor que seja, não reflectiria o que têm de único os vossos vinhos. Não se trata simplesmente de vender vinhos; trata-se de vender vinhos da marca Vinhedos de Louret.

– Claro que a marca é importante – respondeu ele, – mas, porquê comercializá-lo usando fotos de gente?