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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

© 2003 Harlequin Enterprises, II B.V.

Her Secret Valentine

© 2002 Helen Brooks

The Boss’s Valentine

© 2003 Lynne Graham

© 2015 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Amor no escritório, n.º 813 - Agosto 2015

Título original: Business Affairs

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2005

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

I.S.B.N.: 978-84-687-7147-2

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

Página de título

Créditos

Sumário

Apaixonada Pelo Patrão, Helen Brooks

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Amor Cor-de-rosa, Lynne Graham

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

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Apaixonada Pelo Patrão,
Helen Brooks

Capítulo 1

– Quem foi o génio que decidiu que o anúncio da reforma de Jim devia ser seguido de um almoço e de bebidas durante toda a tarde?

Jeanie ergueu os olhos da mesa e sorriu para o homem alto e moreno que olhava para ela da soleira da porta do seu escritório.

– Será que devo supor que não te estás a divertir com a festa? – perguntou, centrando os seus olhos cor de mel no rosto de Ward Ryan, tão atraente como zangado, naquele momento.

Fez uma careta de desagrado, entrou no escritório e fechou a porta. Como de costume, o ritmo cardíaco de Jeanie disparou uns segundos, até estabilizar numa pulsação mais serena e apropriada para uma sócia respeitada de uma próspera firma de advogados situada no centro de Londres.

– Não entendo que poderes estranhos têm as palavras «festa do escritório» para que as pessoas, normalmente sensatas e reservadas, fiquem loucas – Ward aproximou-se da mesa de Jeanie apoiou-se sobre o bordo com o sobrolho franzido. – No Natal aconteceu a mesma coisa… Jenny e Stephanie acabaram completamente embriagadas e as outras duas secretárias quase ficaram no mesmo estado. Sabias que Bob está há vinte minutos fechado com Catherine na casa de banho? E John e Michael estão a fazer apostas para descobrir quem leva Kim a casa.

Jeanie encolheu os ombros. Estava há cinco anos na firma Eddleston, Breedon e Associados e os dois sócios fundadores, Joseph Eddleston e Dan Breedon, eram os primeiros a fazer olhares descarados e impertinentes, por vezes, às funcionárias.

– Talvez queiras limpar o batom da cara – avisou-o com um sorriso nos lábios. – Mas não penso que possas fazer muito pelo colarinho da camisa.

– Malditas mulheres! – resmungou Ward enquanto tirava do bolso um lenço de tecido e esfregava a sua maçã do rosto.

Todas as mulheres da firma, da jovem Kim, de dezanove anos, com o seu cabelo loiro e os seus olhos de «vamos para a cama», até a Mildred Robinson, a ajudante dos dois sócios fundadores, estavam mais ou menos interessadas por Ward Ryan. E o ar distante e indiferente deste, a lei não escrita de separar o trabalho do prazer por completo, parecia desesperar as mulheres mais predadoras. Em dias como aqueles, em que o protocolo da rotina trabalhista atenuava um pouco, estavam sempre mais ansiosas por se fazer notar.

– Esse cor-de-rosa é de Jenny, não é? – perguntou Jeanie, também apaixonada por Ward, há vários anos. Mas, embora tivesse dado tudo para ser ela a dar-lhe aquele beijo, fazê-lo teria arruinado a proximidade que tinha com ele, graças ao seu autocontrolo.

Sabia que a considerava sua amiga, provavelmente a única amiga que tinha, pois nunca mantinha contacto com as mulheres com quem saía, depois de acabar com elas. O homem de gelo. Assim o tinham apelidado as mulheres da firma, o que não impedia que todas fantasiassem com ele.

Mas Ward não era de gelo. Bastava ver a sua filha de seis anos para perceber. Claro que, salvo Jeanie, nenhuma das companheiras tinha tido o privilégio de conhecer a menina.

– Jenny! – bramou Ward. – Pensava que conseguiria terminar o despacho de Bakerson antes de fechar, esta noite, mas parecia que pensava que a tinha chamado ao meu escritório para outra coisa muito diferente.

– Não sejas resmungão – respondeu Jeanie. – Jenny gosta de seduzir um pouco, nada mais.

Ward analisou-a com aqueles olhos azuis penetrantes. Depois relaxou-se esboçou um daqueles sorrisos que enfraqueciam os joelhos de Jeanie.

– Jenny é atraente, mas não deixa de ser a minha secretária, Por amor de Deus!

O que, vindo de Ward, dizia tudo.

– Estás preparado para o aniversário de Bobbie? É este fim-de-semana, não é?

– A vinte de Janeiro – disse ele, assentindo com a cabeça.

Adorava a sua voz. Fazia parte daquele atractivo que lhe tornava as hormonas explosivas. Jeanie olhou para os ombros largos musculados de Ward, e descobriu que estava a conter a respiração. Expulsou o ar devagar, até ter a certeza de conseguir falar.

– Deve estar emocionada – comentou com tanta naturalidade quanto pôde, tendo em conta que o que queria era dar um salto e cobri-lo de beijos. Não deveria ter bebido aqueles dois copos de vinho ao almoço, pensou. Com Ward perto de si, precisava de estar cem por cento alerta, a todo o momento.

– Está a subir pelas paredes – disse ele, esboçando outro daqueles sorrisos demolidores. – Aparentemente, passar dos seis para os sete anos é um acontecimento de máxima importância. Penso que convidou todas as crianças do bairro. E para mais, não pára de pedir um hámster como prenda de aniversário.

– E o seu papá vai oferecer-lhe o hámster? – perguntou Jeanie. Embora fosse uma pergunta de retórica, pois se Bobbie tivesse pedido a Lua, Ward teria arranjado uma forma de a embrulhar e pô-la junto ao resto dos presentes no domingo de manhã.

A sua mulher tinha morrido há seis anos e meio, enquanto conduzia no meio de uma tempestade que derrubou uma árvore. O tronco tinha caído sobre o carro e, embora Bobbie estivesse no interior, o cinto de segurança do carrinho para bebés tinha-lhe salvado a vida. A menina ficou presa entre os ferros, e teve que enfrentar uma operação de nove horas, que a tinha deixado ligeiramente coxa.

– O animal está a viver há dois dias na casa de banho de Monica – reconheceu Ward, consciente de que fazia tudo o que a sua filha queria, com apenas um mover de dedo. – O que é um acto de heroísmo da sua parte, tendo em conta que tem fobia a todo o tipo de roedores.

Jeanie assentiu com a cabeça. Não estranhava. A ama adorava o chão que Bobbie pisava, dado que ainda não se tinha casado. Com sessenta anos, considerava Ward e a menina como a sua família e cumpria na perfeição a função de avó indulgente.

– E tu? – perguntou Ward depois de se inclinar sobre a mesa para servir um copo de vinho da garrafa que Stephanie, a secretária de Jeanie, lhe tinha levado após compreender que não poderia convencer a sua chefe a unir-se à festa. – O que vais fazer este fim-de-semana?

Esteve alguns segundos sem reagir. A presença de Ward deixava-a sempre hipnotizada, e intuir o contorno musculado das suas coxas debaixo das calças derretia-a. Embora tivessem passado mais de quatro anos desde que tinha compreendido que estava louca, irrevogável e inutilmente apaixonada por Ward Ryan, no fundo não o tinha assimilado ainda.

Na verdade, deveria ter-se ido embora da firma na altura, ou durante os quatro anos seguintes. Teria sido a coisa mais sensata a fazer. Qualquer outra pessoa na mesma situação tê-lo-ia aconselhado.

Ward nunca falava da sua falecida esposa, mas todos sabiam que, durante meses e meses após aquela morte imprevista, tinha vivido como um robô, limitando-se a respirar. Inclusive, ao voltar a reencontrar-se com a raça humana, tinha-se mantido distante do sexo oposto.

Alguns anos depois do falecimento de Patricia, a sua esposa, tinha começado a sair com uma ou outra mulher, mas não tinha chegado a estabelecer nenhuma relação estável. A única pessoa que tinha um lugar no seu coração era a sua filha e não parecia ter intenção de mudar tal situação.

– Este fim-de-semana? – respondeu Jeanie, por fim. – Combinei jantar amanhã e depois vou a York ver a minha família. Não os vejo desde o Natal. Foi exaustivo, com todos os sobrinhos e sobrinhas reunidos.

Teria preferido que Ward se afastasse um pouco. O facto de ele não estar consciente da atracção que possuía não lhe facilitava as coisas.

– Às vezes penso que Bobbie não tem primos nem mais parentes que os meus pais, em Oxford – comentou ele, antes de beber um gole do copo de vinho.

Mas o que Jeanie pensava era que a loção de barbear de Ward devia ser proibida por constituir um perigo para a paz mental das mulheres. E também, pensava na sensação de apreciar aquela pele bronzeada e o pêlo incipiente do queixo sobre os seus lábios.

– Não sei, parece-me uma criança muito feliz – respondeu quando se deu conta de que Ward estava à espera de algum tipo de resposta ao seu comentário. Depois, atreveu-se a quebrar o código de silêncio que selava a amizade entre ambos. – A tua mulher não tinha irmãos?

Era a primeira vez que ela fazia referência a Patricia. Ninguém, absolutamente ninguém, o fazia sem receber um olhar gelado. Mas, além de ficar um pouco rígido, não pareceu incomodar-se.

– Não, nasceu de uma mãe solteira e foi criada em diversos orfanatos – respondeu, encolhendo os ombros. Depois levantou-se, foi para a janela e terminou o vinho de um gole. – Parece que vai nevar – acrescentou, virando-se de costas, com os olhos perdidos no tráfego de Londres.

Estava prestes a responder quando uma gargalhada estridente a interrompeu, procedente do exterior, misturada com um bulício de vozes e o som de garrafas a serem abertas.

– Penso que vou refugiar-me no meu escritório, para ver se avanço um pouco com este despacho – continuou Ward. – Já brindei com Jim quando Joseph e Dan lhe ofereceram o relógio de ouro. A sua secretária emocionou-se tanto que Jim teve que se zangar com ela. Não me apetece continuar a ouvir falar sobre como pensa passar a reforma com a sua mulher. Até logo, Jeanie.

Esta assentiu com a cabeça enquanto Ward saía do seu escritório. Era evidente que não tinha gostado da menção à sua mulher. Durante o resto da tarde, enquanto trabalhava e outros companheiros iam saindo do escritório, ficou com a sensação de que tinha dito o que não devia. Era evidente que Ward ainda não tinha superado a sua morte. Como seria sentir-se querida até tal ponto?

Não era a primeira vez que a pergunta lhe rondava pela cabeça. E, às vezes, permitia-se dar rédea solta à imaginação, para reprovar-se com severidade minutos depois. Sabia que aquelas divagações acabavam sempre por a entristecer. Há muito tempo que tinha deixado de acreditar no sonho de que, um dia, Ward olharia para ela nos olhos e a flecha do Cupido lhe atravessaria o peito. Estava na altura de voltar a recordar-se de como era sortuda com o que tinha.

Tinha trinta e dois anos, muito prestígio na sua parcela de direito familiar dentro da firma e a segurança de um bom cheque ao fim do mês.

Tinha a sua casa, um carro, liberdade para certos caprichos e muitos amigos. A sua vida social não merecia a atenção dos jornais sensacionalistas, mas tinha a agenda cheia de todo o tipo de actividades. Apenas passava uma tarde sozinha quando assim o desejava. Era uma mulher com sorte. Com muita sorte. A mais sortuda, pensou com uma mistura de ironia e irritação, enquanto se levantava, frustrada, a olhar para a janela.

Tinha anoitecido, as luzes dos escritórios e das lojas competiam com os faróis dos carros que serpenteavam pela rua à hora de ponta. Tinha chegado o fim-de-semana, um momento esperado com muito anseio por muitas pessoas. Para ela, no entanto, não eram mais que dois dias nos quais não teria ocasião de ver Ward.

Céus! Que pena! O seu caso era perdido. Viu o reflexo que lhe devolvia o vidro, uma cara ovalada de olhos escuros e feições delicadas. Alisou o cabelo com um gesto distraído e, de repente, deu-se conta de que lhe doía a cabeça. Provavelmente, devia-se à quantidade de vinho que tinha bebido, aos poucos, durante a tarde, e não aos ganchos com que segurava o cabelo. No entanto, de repente, rebelou-se contra o penteado formal que usava sempre no trabalho e deixou que lhe caísse com liberdade até às omoplatas.

Assim estava melhor. Baixou o queixo, fechou os olhos, virou a cabeça de um lado para o outro, devagar, mudando de sentido, enquanto massajava os músculos situados na base do pescoço.

Tinha sido um dia muito longo e, apesar de ter estado colada à mesa, não tinha feito nem metade do que tinha planeado. E, como de costume, era a última a sair.

Então tomou consciência de que estava com pena de si mesma e odiou-se por isso. Também odiava a situação com Ward em geral, por não evoluir como gostaria. Exalou um ligeiro suspiro, mordendo o lábio inferior… No momento em que uma voz inesperada esteve prestes a provocar-lhe um enfarte:

– Jeanie? Sentes-te mal? O que se passa?

Logo a seguir, duas mãos grandes e firmes viraram-na e Jeanie encontrou-se a poucos centímetros do peito de Ward, perdendo-se na imensidão dos seus olhos azuis.

Não soube se a sua reacção se deveu ao rumo dos seus anteriores pensamentos, ou ao vinho. Talvez tivesse sido o facto de ter dado como aceite que não veria Ward durante dois dias inteiros, ou provavelmente ao amor que tinha arrasado o seu coração, ao vê-lo. Fosse o que fosse, Jeanie desatou a chorar. E não foi num pranto feminino, delicado, sob controlo, mas sim a jorros, soluçando desconsolada e com o nariz a escorrer.

Nem sequer conseguiu serenar-se quando se viu abraçada com ternura entre os seus braços, com o rosto húmido sobre aquele torso com que tantas vezes tinha sonhado, enquanto Ward lhe sussurrava palavras para a acalmar.

Era uma tortura. Uma tortura deliciosa, pela qual valia a pena morrer, mas tortura no fundo.

Jeanie chorou até que as lágrimas se esgotaram. Era a primeira pessoa a estar surpreendida. Mas, embora não se tivesse dado conta de como estava abatida, cinco anos sem um abraço ou uma carícia do homem que amava era muito tempo.

Em qualquer caso, estava a fazer uma figura ridícula diante de Ward. O que lhe diria?, perguntou-se, enquanto os últimos soluços surgiam e ele continuava a abraçá-la

Não lhe podia dizer a verdade e tinha a certeza de que não conseguiria enganar Ward se tentasse mentir-lhe. O que tinha feito? Céus! O que tinha feito?

Capítulo 2

Teria ficado nos seus braços toda a vida. Colada contra o seu peito, podia ouvir os batimentos do seu coração, sentir o calor do seu corpo e cheirar uma fragrância de loção de barbear cara e a própria essência de Ward. Embora estivesse a abraçá-la como a uma amiga, se aquilo não era o paraíso, pelo menos parecia.

Respirou fundo e, quando reparou que a afastava para lhe secar os olhos com um lenço, teve vontade de desatar a chorar decepcionada.

Abriu os olhos, inundados de lágrimas, e viu que Ward olhava para ela com sincera preocupação. Por mais que o tentasse, Jeanie não sabia o que dizer para pôr fim àquela situação incómoda.

Embora Ward não parecesse tenso, os seus lábios desenhavam um sorriso compreensivo e atraente, ao mesmo tempo, e os seus olhos azuis analisavam-na com uma intensidade que a fazia sentir-se nua.

– Queres contar-me o que se passa?

Não, não queria. Levantou a cabeça para olhar para ele enquanto tentava reunir forças para as perguntas seguintes. Porque haveria mais perguntas. É claro que sim. Ward era um advogado fantástico, com mente de cientista, racional e observadora. Era famoso pela sua tenacidade e força de vontade. Jeanie sabia que muitos colegas o consideravam um génio. E, naquele momento, cada neurónio daquele cérebro privilegiado estava centrado nela.

– Por que não me disseste que não te sentias bem? – perguntou Ward com suavidade. – Somos amigos, não somos?

Céus, não podia humilhar-se mais. Tinha que conservar um pouco de dignidade, rezou desesperada. Embora fosse a última coisa que lhe pedisse em toda a sua vida.

Jeanie agarrou no lenço de Ward, incapaz de olhar para ele nos olhos, virou-se e regressou à mesa de trabalho, onde caiu sobre a cadeira.

– Lamento…lamento muito – conseguiu responder. Depois, observou horrorizada enquanto Ward se aproximava dela e lhe agarrava ambas as mãos com carinho.

– Não o lamentes – disse este. – Nem tenhas vergonha de chorar diante de mim. Somos amigos há muito tempo. E todos os outros já saíram, portanto não te preocupes com eles.

Outros? Nem sequer tinha pensado neles!

– Não pode ser o trabalho – continuou Ward com voz de veludo. – Dan Breedon está encantado contigo e diz que não deixa de se admirar com a quantidade de trabalho que fazes. E disseste que correu tudo bem no Natal com os teus pais, as tuas irmãs e todas as crianças em casa. Portanto, chama-me intrometido ou presunçoso, mas, é possível que este desânimo, tão estranho em ti, esteja relacionado com um homem?

– Sim, é por um homem – reconheceu Jeanie e arrependeu-se no instante a seguir a ter falado. Mas, já era demasiado tarde. Tinha-o dito e não podia voltar atrás.

Obrigou-se a levantar a cabeça e viu que Ward olhava para ela com simpatia. Nada mais. Só então compreendeu que tinha esperado algo diferente: uma faísca de inquietação, um leve indício de ciúmes, uma certa tensão naquele congelador que tinha por cérebro, onde parecia ter tudo perfeitamente compartimentado.

E então sentiu-se mal, miseravelmente culpada enquanto Ward estendia uma mão para lhe acariciar o rosto.

– É evidente que não sei nada sobre o tema – murmurou ele com afecto e sinceridade. – No entanto, tenho a certeza de que esse homem não te merece, nem vale a pena que chores por ele.

Podia ser, mas também não era o que mais a ajudava naquele momento. Além disso, não tinha o menor direito de esperar nada de Ward, recordou-se para seu pesar. Não podia zangar-se pelo facto de ele a ver como uma amiga, da mesma maneira que não podia evitar amá-lo. Olhou para ele e, de repente, pareceu-lhe ver uma expressão de surpresa no seu rosto.

– Sabes? Acabo de me dar conta de que não sei nada sobre as tuas relações com o sexo oposto – comentou, pensativo. – Nunca me falaste sobre essa parte da tua vida privada, pois não?

Jeanie encolheu os ombros com cautela. Intuía um certo tom acusador no comentário, mas não era o momento de lhe dizer que ele também não se tinha preocupado em lhe perguntar. De certeza que aquele cérebro sagaz e afiado estava a recolher dados e Jeanie já tinha falado mais do que devia. Morreria ali mesmo se Ward chegasse sequer a suspeitar do que sentia por ele.

– Tu também não – deu a sua respondeu com calma.

– Tens razão – Ward assentiu com a cabeça, permaneceu uns segundos calado, como digerindo a resposta, antes de acrescentar. – Conhece-lo há muito tempo?

– Um tempo – Jeanie revolveu-se na cadeira.

– E discutiram?

– Não exactamente. A questão é que ele não quer ter uma relação estável e eu sim – respondeu ela, satisfeita. Pelo menos dizia a verdade, consolou-se, surpreendida pela dificuldade que tinha em mentir a Ward. Embora, se se prendesse às palavras que tinha dito, na verdade não estava a mentir, mas sim a… despistá-lo?

– Vai mudar de opinião, Jeanie. Dá-lhe tempo. Os homens têm dificuldade em comprometer-se, às vezes.

– Não, não vai mudar – respondeu com firmeza. – Não sente por mim o que eu sinto por ele.

– Ele disse-te isso? – perguntou, tão assombrado que Jeanie esteve quase a rir.

– Sim – respondeu.

– Terás que te chatear!

Exacto, era um bom resumo da situação. Não tinha outro remédio que chatear-se. E o pior de tudo era que Ward olhava para ela como se tivesse vontade de agarrar no outro tipo e estrangulá-lo.

– Não interessa – respondeu Jeanie por fim.

– Deixa-o, Jeanie. Se ainda não o deixaste, deixa esse tipo. Se a relação não tiver futuro e te está a fazer mal, é melhor resolver de uma vez a situação e seguir em frente.

– Não posso – respondeu ela com intensidade. – Pode ser que não queira casar-se comigo e que não me ame como eu a ele, mas é o meu mundo até que ele escolha abandoná-lo.

Ward olhava para ela como se nunca a tivesse visto antes, com os olhos bem abertos, com uma emoção que o tornava mais atraente do que nunca. Abanou a cabeça e mexeu no cabelo, gesto habitual nele quando se zangava. Jeanie sabia muitos pormenores sobre aquele homem. Tinha tido cinco anos inteiros para aprender a conhecê-los.

– Ele é idiota, mas tu és muito mais por perderes tempo com um porco ingrato – afirmou Ward, furioso. – Já não és uma criança, Jeanie.

– Muito obrigada, Ward – assinalou ela com sarcasmo. – Era exactamente o que precisava de ouvir. Agora sinto-me muito melhor.

– Não queria dizer…Raios, sabes que és uma mulher bonita, estás na flor da idade. Mas não… – Ward interrompeu-se, consciente de que estava a piorar as coisas. – Eu não gosto que te usem assim, só isso – finalizou com suavidade.

Se não era o cúmulo da ironia, não sabia o que era. Jeanie compôs um gesto de indiferença e respondeu com frieza, dando a entender que dava a conversa por terminada:

– Não me estão a utilizar, Ward. Ele nunca me prometeu nada e eu sabia onde me estava a meter. Mas são precisos dois para dançar um tango, nada mais. Normalmente sinto-me bem, mas esta noite apanhaste-me num momento de fragilidade. Talvez se deva à semana exaustiva que tive e ao facto de estar cansada. Ou então, bebi vinho com o estômago vazio. Não sei. Mas estou bem, a sério.

Ward ficou a olhar para ela nos olhos. Não parecia nada convencido. E Jeanie reconhecia aquele olhar. Ward oferecia-lhe uma solução evidente para um problema e ela não a via. Era o olhar que utilizava quando um cliente lhe punha dificuldades ou se mostrava obtuso. Naquele momento, o prodigioso cérebro de Ward devia estar a desenhar alguma nova estratégia.

– Está bem – disse de repente. Estava claro que tinha chegado a uma conclusão, pensou Jeanie. O tom de voz e a expressão enigmática do seu sorriso assim o indicavam. – Acabas de dizer que tens o estômago vazio e eu quase não petisquei no bufete. Portanto, vem a minha casa e podemos comer uma das lasanhas tão deliciosas de Monica. E depois, quando tiver deitado Bobbie e a sala estiver livre, tu e eu vamos ter uma boa conversa – acrescentou com um tom que não deixava lugar a discussão.

Sabia que tinha boas intenções, mas, por uma vez, por mais irracional que fosse, teve vontade de estrangulá-lo. Porque não, não gostava de continuar a expor o seu coração maltratado e perder a pouca dignidade que lhe restava.

– Lamento muito, Ward, obrigada pelo convite, mas não posso – respondeu com educação.

– Porquê? Combinaste alguma coisa com ele?

– Não – Jeanie obrigou-se a manter a calma. – Mas tenho muitas coisas para fazer antes de ir amanhã para York – acrescentou, desviando os olhos para a mesa.

O casaco cinzento de Ward estava desabotoado, de modo que deixava a descoberto uma camisa azul, também desabotoada no primeiro botão. Tinha afrouxado a gravata e estava mais sexy do que nunca.

– Lamento muito, mas não aceito o teu não – insistiu ele. – Ficaria preocupado todo o fim-de-semana se ficássemos assim. Pelo menos vem jantar e relaxar-te durante umas horas. Não tocaremos no assunto se não quiseres. Bobbie vai adorar ver-te. Ainda fala da mulher do meu trabalho que esteve a brincar com ela, e já passaram algumas semanas.