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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2013 Dolce Vita Trust

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Noite secreta, n.º 1207 - Agosto 2014

Título original: One Secret Night

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5349-2

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Volta

Capítulo Um

 

A sua mãe estava viva.

Ethan Masters caminhava atordoado pelas ruas de Adelaide com aquelas palavras a ecoarem-lhe na cabeça. Ainda estava a tentar digerir a recente e inesperada morte do pai, convicto de que era o mais difícil que iria ter que enfrentar na vida e, naquele mesmo dia, acabava de descobrir que o homem que idolatrara e adorara mais do que tudo lhes mentira, a ele e à irmã, durante vinte e cinco anos.

Sentia uma mistura de dor e traição que lhe oprimia o peito. Não sabia o que fazer. Uma parte dele desejava nunca ter descoberto. Aliás, se não tivesse descoberto um erro nas contas do pai, talvez continuasse sem saber de nada. Quando o advogado da família hesitou em dar-lhe explicações, a curiosidade dele em saber o que era aquele pagamento mensal aumentou.

Por isso, agora sabia tudo. A mãe abandonara-os e aceitara o dinheiro do pai dele para não voltar a aproximar-se deles, permitindo que os filhos acreditassem que morrera num acidente de carro.

E o que era ainda pior, os irmãos do pai, o tio Edward e a tia Cynthia, foram cúmplices da mentira.

Aquilo contradizia todos os princípios familiares com os quais crescera. Descobrir que aquelas pessoas, em quem tanto confiava, o enganaram durante anos era demasiado para ele.

Tinha que voltar para casa, falar com os tios e contar a verdade à irmã. Mas se ele ainda não fora capaz de digerir a informação que lhe tinham dado, como iria contar a Tamsyn?

Ao imaginá-lo, sentiu um arrepio pelas costas. Tamsyn era boa por natureza. Gostava de ser feliz, queria que todos o fossem e esforçava-se muito por ajudar toda a gente a sê-lo. Aquela notícia podia devastá-la e Ethan não seria capaz de o aguentar. Não queria ser responsável por tamanha dor. Não, tinha que lidar sozinho com aquele problema e decidir o que fazer sem incomodar os mais próximos.

Algo lhe chamou a atenção. Tratava-se de uma jovem que se destacava no meio dos empregados de escritório que estavam a sair do trabalho. Era uma mulher pequena, esguia, loira que trazia um vestido multicolor que lhe marcava a silhueta das nádegas e das coxas. O condutor do carro que passava naquele momento por ela deve ter gostado do que via porque lhe dirigiu um assobio de aprovação.

A jovem trazia uma mochila muito grande às costas, uma mochila que não condizia de todo com a indumentária. Aquilo intrigou Ethan, que ficou a observá-la até perdê-la de vista, quando a rapariga entrou num bar próximo.

Sem pensar no que fazia, Ethan seguiu-a. Ao entrar, deu por si num lugar ruidoso e cheio de turistas, estudantes e empregados de escritório. Considerou a possibilidade de se ir embora, mas decidiu que lhe faria bem beber qualquer coisa e, por isso, dirigiu-se ao balcão.

Enquanto o fazia, olhou à sua volta em busca da borboleta multicolor que o levara até ali, mas não a viu.

Alguns minutos depois, começou a tocar uma música que atraiu muita gente à pista de dança. Ethan pensou que aquelas pessoas tinham uma existência bem mais fácil do que a dele e observou-os a dançar enquanto bebia um copo de vinho tinto. Chegou à conclusão que, desde o acidente de carro, a sua vida fora baseada em mentiras e mais mentiras.

Recordou que o pai mudara muito depois do acidente. Tornara-se um homem mais exigente e mais desconfiado. Na altura, Ethan tinha seis anos e, depois de ter recuperado, concluiu que o pai devia estar tão triste e só como ele e a irmã.

Por isso, esforçou-se o máximo que conseguiu para satisfazer as exigências do progenitor. E para quê? Para descobrir que John Masters estivera a viver uma grande mentira nos últimos vinte e cinco anos e, o que era ainda pior, que forçara os que o rodeavam a fazer o mesmo.

Ethan levou o copo de vinho à boca e deixou que o aroma a frutos vermelhos lhe explodisse na língua e lhe deslizasse pela garganta. Não era mau, mas não se comparava ao seu último vinho, reconhecido internacionalmente com vários prémios. Quando o álcool lhe chegou ao estômago, lembrou-se de que não comera nada desde manhã.

– A pensar muito?

Ao ouvir a voz feminina, virou-se e encontrou a borboleta sentada no banco do lado. Apercebeu-se de que era mais velha do que os estudantes que estavam por ali, mas que também não encaixava no grupo dos empregados de escritório. Tinha os olhos azuis-claros e a pele ligeiramente bronzeada.

– Sim, um pouco – respondeu.

– Não dizem que um problema partilhado é um problema resolvido? – comentou ela, com um sorriso. – Queres falar sobre isso?

Os lábios brilhavam-lhe de forma natural e o cabelo chegava-lhe aos ombros. O vestido ficava-lhe muitíssimo bem, o que fez com que Ethan sentisse uma descarga de energia sexual por todo o corpo, mas, apesar de tê-la seguido até ao interior do bar, namoriscar em bares não era o seu estilo.

Seduzir uma desconhecida não era a resposta para os seus problemas. Não estava no seu melhor momento.

– Não, obrigado.

Disse-o mais bruscamente do que tencionava. A rapariga sorriu como se a rejeição dele não a tivesse afetado e virou-se para o empregado para pedir algo, mas Ethan sentiu-se mal pela forma como a tratou. Sentia-a muito presente ao lado dele, via a mão e as unhas dela, surpreendentemente curtas, sobre o balcão de madeira, sentia o perfume dela e sentia o ritmo do corpo dela movendo-se com a música.

Deveria pedir-lhe desculpa e, quando se virou para ela para o fazer, descobriu que bebera de um gole o shot que pedira e que se afastava por entre as pessoas.

Sentiu-se imediatamente aliviado, mas sentiu também uma forte sensação de perda. Virou de novo o banco para a pista de dança e ficou a observá-la. Movia-se com uma graça natural e Ethan teve vontade de dançar. Há muito tempo que não se descontraía e se deixava levar. Deveria ter aceitado a tentativa de aproximação dela. Precipitara-se ao recusá-la e agora não conseguia parar de olhar para ela.

Um fulano, com ar de executivo, levantou-se de uma mesa e dirigiu-se à pista de dança. Colocou-se atrás da loura, pôs-lhe as mãos nas pernas e começou a dançar sugestivamente com ela. Ethan ficou com raiva, mas disse rapidamente a si mesmo que não tinha razões para se preocupar com aquela mulher. Não lhe cabia a ele cuidar dela.

A rapariga agarrou com delicadeza nas mãos do recém-chegado e afastou-as do seu corpo. Ethan levantou-se. Se quisesse que lhe tocassem, não haveria nenhum problema, mas pelos vistos não era o caso...

O fulano tropeçou, mas endireitou-se, agarrou-se à mão da mulher e virou-a para ele para dizer-lhe algo ao ouvido. O rosto dela contraiu-se num esgar e abanou a cabeça enquanto tentava livrar-se do desconhecido. Ethan sentiu o sangue a ferver-lhe.

Não, era não.

Num abrir e fechar de olhos, abriu caminho por entre as pessoas, sabendo muito bem o que ia fazer.

– Desculpa o atraso – disse, beijando a rapariga no rosto e deixando-a totalmente surpreendida. – Ela está comigo, pá – acrescentou, olhando para o outro homem.

Felizmente, o outro fulano, um pouco bêbado, desculpou-se e voltou para a mesa dele. Ethan virou-se para a loira.

– Estás bem? – perguntou-lhe.

– Não era preciso correres em meu auxílio. Sei cuidar de mim mesma – respondeu ela.

– Vê-se – comentou Ethan, com ironia.

Ficou surpreendido por ela se rir.

– Imagino que deva agradecer-te – disse com um sorriso.

– De nada – respondeu Ethan. – Não parecias muito feliz com a companhia dele.

– Não, claro que não – admitiu a mulher, estendendo-lhe a mão ele. – Isobel Fyfe.

– Ethan Masters – correspondeu Ethan, aceitando a mão e apercebendo-se imediatamente de como era pequena comparada com a dele.

O instinto protetor que Ethan sentia por aquela rapariga aumentou.

A música estava muito alta e Isobel não percebeu o apelido do seu salvador, mas pensou que também não tinha muita importância.

– Posso convidar-te para um copo ou para jantar noutro lugar? – sugeriu-lhe Ethan.

A rapariga pensou um pouco e Ethan temeu que fosse dizer-lhe que não.

– Vamos jantar – respondeu finalmente. – Vou buscar a mochila – acrescentou, dirigindo-se ao balcão.

Ethan deixou-a partir e, quando voltou para perto dele, ofereceu-se automaticamente para carregar-lhe a mochila.

– Não, não é preciso, eu levo-a. Estou habituada – respondeu Isobel.

– Não estou a dizer isto por não poderes com ela mas para que me permitas sentir-me um cavalheiro. Prometo-te que não a vou perder.

– Bom, se fazes assim tanta questão – sorriu Isobel, entregando-lhe a mochila, que tinha autocolantes do aeroporto. – A verdade é que não vai nada bem com os meus sapatos.

Ethan reparou então que calçava umas sandálias de salto alto.

– Apanhamos um táxi ou vamos a pé?

– Onde é que tinhas pensado ir?

Ethan disse-lhe o nome de um restaurante grego que não ficava muito longe.

– Então, podemos ir a pé – respondeu ela, segurando-lhe no braço. – Está uma noite maravilhosa.

Ethan pendurou a mochila num ombro, sem se importar que lhe amarrotasse o maravilhoso fato Ralph Lauren.

– Não gostas destes lugares, pois não? – perguntou-lhe Isobel.

– Nota-se assim tanto? – sorriu Ethan.

– Sim – respondeu ela.

Aquilo intrigou Ethan e perguntou-lhe porquê.

– Por várias razões. Para começar, pelo teu comportamento. És diferente. Alguns poderiam pensar que é o ar que o dinheiro e os privilégios dão, mas eu acho que há algo mais. Parece que não tens medo de nada – respondeu Isobel, pegando-lhe nas mãos e voltando-as uma e outra vez. – Definitivamente, estão cuidadas, mas sem exageros. Sim, estás habituado a mandar e a que as tuas ordens sejam cumpridas imediatamente, mas também estás disposto a trabalhar arduamente.

Aquilo fez Ethan rir.

– Sabes tudo isso sobre mim só de olhar?

Isobel encolheu os ombros.

– Atravessamos?

Quando fora a última vez que se permitira agir assim, por impulso? Nunca.

 

 

Isobel sentia um antebraço forte sob os dedos, o que lhe provocou um arrepio de antecipação. Estava tão emocionada como quando tinha consciência de que tinha feito uma fotografia particularmente boa.

Sentia o mesmo nervosismo como quando estava prestes a viver algo importante e ela queria viver o momento, o presente, por isso aceitara o convite de Ethan para jantar, porque para ela era natural fazê-lo.

Não era uma mulher fácil, mas também não era daquelas que deixava passar a oportunidade de apreciar uma noite agradável com um homem atraente.

A intuição dizia-lhe que aquele homem era de confiança, que não havia nada a temer nele e a intuição dela nunca a tinha enganado. Além do mais, também não tinha motivos para acreditar que fosse acontecer algo mais para além do jantar. Aquele homem não era o tipo dela. Demasiado seguro de si mesmo, demasiado dominante e demasiado bonito.

Ainda assim, o serão prometia ser interessante.

Chegaram ao restaurante e Isobel apercebeu-se rapidamente da deferência com a qual os empregados tratavam Ethan. Uma vez sentados à mesa, não pode evitar sorrir.

– Qual é a graça? – perguntou-lhe ele, servindo-se de água.

Isobel concentrou-se nos movimentos dos seus músculos da garganta ao engolir o refrescante líquido e não teve outro remédio senão beber ela também.

– É incrível. Partes do princípio que tudo te está garantido, não é?

Ethan olhou para ela, surpreendido, e arqueou as sobrancelhas.

– Não te estou a compreender.

– Tratam-te como se fosses um príncipe e tu nem sequer te dás conta – respondeu Isobel, rindo-se e compreendendo que era verdade, que Ethan assumia tudo como garantido.

– Bom, isso é porque venho aqui com frequência e deixo boas gorjetas – respondeu ele, ligeiramente incomodado.

– Não o disse como uma crítica – assegurou-lhe Isobel. – Tenho a certeza de que te adoram.

– Dizes tudo o que pensas, hã? – brincou Ethan.

– Não, claro que não – respondeu Isobel, encolhendo os ombros. – Nunca ando com rodeios – acrescentou, consultando a ementa para não ter que continuar a olhar para o acompanhante.

Pensou no último trabalho que fizera e no qual se vira forçada a usar alguns rodeios. Graças ao seu trabalho como fotógrafa, conseguia captar o melhor e o pior das pessoas.

No último trabalho, as coisas ficaram feias quando o governo do país onde se encontrava a convidou, educada mas veementemente, a abandonar o território. Isobel decidira partir, mas com o firme objetivo de regressar assim que tivesse dinheiro. Aceitava trabalhos bem pagos mas sem história que lhe permitiam financiar os que realmente queria fazer. Naquela altura, aceitara fazer as fotografias de um catálogo.

– E corre-te bem assim? – perguntou-lhe Ethan, com uma voz que fez com que Isobel sentisse um arrepio na nuca.

– Bastante bem – reconheceu. – O que é que me recomendas? – perguntou-lhe olhando para a ementa.

– Aqui é tudo bom, mas o cordeiro é incrível – respondeu Ethan.

– Muito bem, pedirei cordeiro então.

Ethan fechou a ementa e colocou-a sobre a mesa.

– Assim, sem mais? – surpreendeu-se. – Não precisas de passar meia hora a analisar a ementa e a mudar de opinião dez ou doze vezes?

– Porquê? Tu costumas fazer isso? – troçou Isobel, sabendo que não era assim.

– Não, eu prefiro não perder tempo. Se achares bem, vou pedir para os dois.

– Ótimo, obrigada.

Então Isobel ficou a observá-lo enquanto Ethan chamava o empregado e pedia a comida e uma garrafa de vinho. Não se enganara, os empregados tratavam-no com extremo respeito.

– Definitivamente, deves deixar muito boas gorjetas – brincou, rindo-se.

– Queres picar-me, é? Eu também sei jogar esse jogo e vou mostrar-te... uma vez que não gastas o dinheiro a deixar boas gorjetas, o que é que fazes com ele?

– Gasto-o a viajar e o que me sobra dou a instituições de caridade.

– A sério? Então és uma filantropa.

– Bom, não me parece que o que eu lhes dou sirva para muito, mas posso fazê-lo porque aprendi a viver com muito pouco – assegurou-lhe Isobel.

– E quando envelheceres? Como é que viverás quando fores velha?

– Preocupar-me-ei com isso quando chegar a altura – respondeu Isobel, vendo que Ethan franzia a testa. – Não te parece bem?

– Eu não disse isso, mas penso de forma diferente. Tenho uma empresa familiar, trabalhamos juntos, estamos todo o dia juntos e trabalhamos por um objetivo comum. Estamos constantemente dependentes do futuro, por isso é-me muito difícil viver o dia a dia, sem planear o que vai acontecer no dia seguinte. Tenho que preocupar-me com muita gente que depende de mim.

– As decisões que eu tomo só me afetam a mim, o que tem muitas vantagens.

Ethan sorriu e Isobel apercebeu-se de que invejava a liberdade dela, como acontecia a muita gente que não se dava conta de que aquela liberdade também tinha um elevado custo pessoal. Era evidente que Ethan tinha uma rede de pessoas que o ajudava e o apoiava enquanto ela estava sozinha.

Aproveitou o silêncio que se fez entre eles para estudá-lo um pouco mais. Ethan tinha um nariz reto e aristocrático, o lábio superior fino e o inferior volumoso e atraente. Usava o cabelo curto e penteado e perguntou-se como lhe ficaria um pouco mais longo e despenteado.

Teria gostado de pegar na máquina fotográfica e tirar-lhe algumas fotografias.

A excitação que se apoderara do corpo dela pouco antes estava a aumentar. Na verdade, Isobel apertou as coxas quando o desejo se instalou entre as pernas dela e, naquele momento, soube que o mais provável era que dormisse com Ethan naquela noite e, sobretudo, que queria fazê-lo.

Capítulo Dois

 

A comida estava deliciosa e Isobel ficou contente por ter deixado Ethan escolher o prato. Passou o dedo pelo molho que ainda restava no prato e levou-o à boca para saborear um pouco mais aquele delicioso sabor. Ao fazê-lo, fechou os olhos. Quando voltou a abri-los, apercebeu-se de que Ethan olhava fixamente para ela. O desejo que sentira por ele voltou à carga com toda a força do momento e viu que o interesse era mútuo.

Enquanto bebia um gole de vinho, Isobel perguntou-se se aquele desconhecido seria um bom amante. Não era o tipo de homem por quem normalmente se sentia atraída, normalmente gostava de homens parecidos com ela, de espírito livre, informais e sem compromissos. Definitivamente, Ethan não era assim. Ethan transmitia estabilidade e força, para não falar de uma incrível dose de atração sexual, uma mistura que se revelava explosiva.

– Fala-me das tuas viagens – pediu-lhe Ethan, inclinando-se para a frente para lhe servir um pouco mais do delicioso vinho.

Não lhe foi difícil passar a hora seguinte a contar-lhe episódios divertidos das suas viagens. Ethan riu-se com vontade quando lhe contou que, na última viagem que fizera ao Nepal, lhe saíra uma centopeia do buraco no qual estava a fazer as necessidades. Ria-se como uma criança e dava gosto ouvir aquele riso. Isobel adorava homens que se permitiam rir assim. Era um bom indício de que se deixavam levar pelo momento e pelo que gostavam e esperava que, naquele momento, fosse dela que Ethan gostava.

– Receio não ter nada tão engraçado para contar – comentou Ethan, ainda a rir-se. – E depois de histórias assim não preferes viajar de uma forma mais convencional e segura?

– Não, quando viajas de uma forma convencional e segura não vês o mundo real, não conheces as situações que as outras pessoas se veem obrigadas a viver.

– É interessante que o digas assim.

– Porquê?

– Disseste que são obrigadas. A maioria das pessoas leva a vida que quer levar, não achas?

– Isso não é bem assim – respondeu Isobel, sorrindo com tristeza.

– Eu acho que cada pessoa pode escolher o seu caminho.

– Num mundo perfeito, talvez, mas nem toda a gente tem o privilégio de viver num mundo perfeito.

Ethan refletiu sobre aquelas palavras antes de responder.