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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2013 Soraya Lane

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

De soldado a papá, n.º 1448 - Outubro 2014

Título original: Mission: Soldier to Daddy

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Bianca e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5496-3

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo 1

 

Olivia sentiu que tremia. Passara muito tempo e tinha medo de voltar a ver o marido. Tinha medo de enfrentar a realidade e o homem que a abandonara. Tinha medo da reação do filho. Teria acertado ao não ir ao aeroporto recebê-lo?

– Já está aqui, mamã?

Olivia olhou para o filho. As madeixas douradas e os seus dedos manchados de tinta enterneceram-na e sentiu que a preocupação lhe fechava o estômago.

– Não, mas não falta muito, querido. Deve estar prestes a chegar – indicou, aproximando-se dele e apertando-lhe a mãozinha.

– Vou gostar dele?

– Do teu pai? Claro que sim! Vais adorá-lo, Charlie.

O menino assentiu e tentou sorrir.

– E vai gostar de mim?

Olivia riu-se.

– Há alguém no mundo que não te adore?

Charlie esbugalhou os olhos.

– Ouviste isto?

Olivia fechou os olhos por um momento. Sim, ouvira e, se não fosse pelo filho, certamente, teria fugido. Quando voltou a abrir os olhos, estava sentada à mesa. Sozinha. O cartaz de boas-vindas estava estendido à frente dela e via as letras imprecisas.

Bem-vindo, papá.

Chegara o momento.

Em menos de trinta segundos, o marido teria voltado à sua vida e estaria a ver o seu filho pela primeira vez.

– Já está aqui!

O grito de emoção de Charlie afastou-a dos seus pensamentos. Olivia deitou os ombros para trás, decidida a permanecer forte. Bateram à porta e aproximou-se do vestíbulo no momento em que Charlie corria para lá para abrir.

O tenente-coronel Luke Brown voltara oficialmente a casa.

Olivia ficou a olhar para o filho, que ficara agarrado à maçaneta da porta, e secou o suor das palmas das mãos nas calças de ganga. Embora não tivesse vontade de passar por aquilo, era evidente que Charlie estava entusiasmado.

O menino ficara paralisado, olhando para o desconhecido que estava na ombreira. Tratava-se do mesmo homem que passara dois anos a sorrir de uma fotografia, a mesma fotografia que beijava todas as noites antes de se deitar. Sim, o mesmo homem, em pessoa, estava à porta da sua casa, tão moreno, forte e bonito como na fotografia. A única diferença era que, daquela vez, estava de uniforme.

Sim, definitivamente, era ele. Tinha o cabelo loiro muito curto e a pele dourada, como se tivesse passado uma semana de férias numa ilha, e olhava para ela com os olhos castanhos, aqueles olhos que Olivia não conseguia esquecer, mesmo que quisesse.

– Papá!

Aquele grito fez com que Luke parasse de olhar para ela e se concentrasse no filho. Olivia observou atentamente como Charlie reagia à primeira vez que via o pai. Observou como se agarrava às calças de camuflagem como se não quisesse voltar a soltá-lo.

 

 

– Charlie?

Não gostou de o dizer num tom interrogativo. Luke contou até cinco para não abraçar o filho e apertá-lo como a um limão. Passara tanto tempo à espera daquele momento... e, agora, o filho, que tinha o mesmo cabelo que ele, estava ali, à espera que o pai soubesse o que tinha de fazer quando, na verdade, não sabia sequer como cumprimentá-lo.

Contudo, voltara e isso era o que contava.

Antes de ter tempo de deixar a mochila no chão, Charlie precipitou-se sobre ele e abraçou-se com força às suas pernas. Luke mal teve tempo de voltar a estabelecer contacto visual com Ollie para ver a sua reação.

Bem-vindo à paternidade.

– Não és tímido, eh? – perguntou ao menino, pondo-lhe a mão na cabeça. – Pensava que já ias ser suficientemente crescido para te cumprimentar com um aperto de mãos.

Charlie chegou-se atrás e cumprimentou o pai ao estilo militar, com um grande sorriso. O rosto de Luke tornou-se sério.

– Vejo que cuidaste bem do soldadinho – comentou, olhando para a esposa.

Olivia estava no vestíbulo, apoiada na parede. Luke olhou para ela de cima a baixo, deleitando-se com o cabelo comprido da cor do mel, que lhe caía sobre os ombros, e com os braços magros cruzados sobre o peito. Também viu a tristeza nos olhos azuis. Não gostava nada de a ver assim porque sabia que aquela tristeza fora causada por ele.

– Ah! O cartaz! – gritou Charlie, correndo pelo corredor e desaparecendo da vista.

Luke aproveitou para entrar e fechar a porta atrás dele.

– Como estás, Ollie?

Estava de pé à frente dela, com as mãos nos bolsos, a observar aqueles olhos azuis lindos e enormes.

– Fico feliz por teres voltado, Luke.

Estava muito séria. Luke tentou ignorar o tom cansado e forçado, mas chocou-o. Passara muito tempo a imaginar aquele dia, pensando no que diria e em como pediria perdão, mas, agora que estava ali, não estava a ser tão fácil expressar-se como pensara.

– Fico feliz por estar de volta a casa – comentou, questionando-se se devia abraçá-la e beijá-la, aproximar-se e dizer-lhe que lamentava.

Quase se riu às gargalhadas com a possibilidade, pois, por qual de todas as mentiras ia pedir perdão? Por se ter ido embora quando lhe prometera que não o faria? Por ter sido o pior marido do mundo ou por se ter tornado um pai ausente?

– Está muito contente por te ver – comentou Olivia, enquanto se ouviam passos no corredor. – Mal dormiu toda a noite.

Luke compreendeu que o filho estava contente por o pai voltar a casa, mas a mulher não sentia o mesmo. Sabia que o merecia, mas magoou-o.

– Certamente, transformou-se num rapaz muito especial.

– Bem-vindo a casa! – exclamou o menino, ficando junto da mãe e estendendo um cartaz à frente dele.

Luke olhou para Olivia e para Charlie e desejou que as coisas fossem diferentes. Oxalá tivesse estado fora alguns meses, seis no máximo, oxalá a família que o esperava em casa fosse uma família real, oxalá a mulher continuasse a amá-lo, oxalá tivesse a família que sempre quisera, desde criança.

– Adoro – comentou, baixando-se para observar o cartaz. – Está fenomenal.

Charlie sorriu com felicidade e agarrou-o pela mão.

– Vem, papá – pediu, puxando-o para o salão.

Luke olhou para Ollie e quase desejou não ter voltado. Aquilo estava a ser mais difícil do que pensara. Voltara a casa para conhecer o filho, mas ver a esposa assim, fê-lo compreender que devia ter agido de outra maneira com ela. Desejou tê-lo feito melhor.

 

 

Quando Luke olhou para ela e sorriu daquele modo tão particular, Olivia quase perdeu as forças, mas estava decidida a não chorar. Tinha de ser forte pelo filho, que era o único que importava naquele instante.

Depois de ter passado por momentos em que a única coisa que desejava era que Luke voltasse para casa e por momentos em que preferia não voltar a vê-lo, agora estava ali, voltara e tinha de lidar com isso.

Os primeiros meses tinham sido os piores, mas, depois, habituara-se a não ter o marido por perto, conhecera outras mães, fizera novas amigas, encaixara como nunca teria achado possível e desenvolvera uma vida nova, como uma viúva. E arrependera-se por ter elevado o tom de voz ao marido em muitas ocasiões quando devia ter tentado ouvi-lo.

Preparara-se para a possibilidade de nunca voltar. Até àquele momento, Luke era um homem completamente dedicado ao exército, algo de que devia sentir-se orgulhosa, mas magoara-a muito.

Olivia avançou para o salão e olhou para o filho, que estava a mostrar todos os seus brinquedos ao pai. Luke tirara o casaco e deitara-se no chão. Olivia queria aproximar-se dele e tocar-lhe, mesmo que se odiasse por isso, mas estava tão bonito... e as lembranças que tinha dele eram tão boas... Era como se precisasse de tocar nele para se convencer de que voltara, de que estava ali, vivo e em casa.

No entanto, voltar a ser a sua esposa não entrava nas possibilidades. A dor ainda a acompanhava de maneira constante e o facto de ter voltado só a tornava mais real. Não podia voltar a sê-lo, não agora que reconstruíra a sua vida e que sabia que, se voltasse a perdê-lo, nunca recuperaria.

Tinha os papéis do divórcio na mala, a única coisa que tinha de decidir era quando lhos daria. Tinha a certeza de que ele dera o casamento por terminado muito antes dela e só restava torná-lo oficial.

– Bom, gostaria que me deixasses falar com a tua mãe, está bem? – pediu Luke a Charlie, levantando-se.

– Queres um café? – perguntou Olivia, dirigindo-se para a cozinha para o fazer.

Luke assentiu e foi atrás dela. Olivia sabia que a observava enquanto punha café instantâneo em duas chávenas, acrescentava açúcar na dela e punha a água a ferver. Era uma pena que não tivesse mais nada para fazer, para poder continuar a evitar o olhar dele.

– Este lugar está muito bonito.

Olivia parou e olhou para ele.

– Tive de mudar de casa. Não tinha sentido ficar na outra – comentou, com uma brutalidade que não pretendia.

Luke levantou as mãos.

– Não queria ofender-te, não tens de me dar explicações.

Olivia corou e virou-se para servir a água a ferver nas chávenas. Sabia que Luke não o dissera com má intenção e que a sua reação fora desproporcionada porque estava nervosa.

– Luke, eu... – começou a dizer, pousando uma chávena à frente dele enquanto tentava encontrar as palavras.

Luke agarrou-a pelo pulso e Olivia apressou-se a retirar a mão, mas apercebeu-se de que aquele breve contacto a fizera voltar a desejá-lo. A verdade era que nunca deixara de o fazer, por muito que tentasse convencer-se do contrário.

– Não tens de dizer nada. Para mim, isto também é muito difícil, Ollie.

Olivia teria gostado de gritar que não, que não tinha ideia do que ela sofria, que não sabia como se sentira sozinha e que, algumas noites, desejara que estivesse morto para poder seguir em frente com a sua vida. Sim, depois, sentia-se culpada por pensar assim, mas não conseguia evitá-lo. A maneira como as coisas tinham acabado entres eles, as coisas que sentia devido ao que dissera e ao que fizera, a dor que sentira com a forma de agir de Luke... Tudo isso a deixara à beira do precipício.

Olivia provou o café. Tremia-lhe a mão. Luke também começou a beber o dele, mas não voltou a olhar para ela. Baixou o olhar para o líquido negro e manteve-o lá. Olivia rezou para que não lhe tivesse lido o pensamento.

– Mamã?

A voz de Charlie devolveu-a à realidade e quebrou a tensão que se instalara entre Luke e ela.

– Saímos?

Olivia olhou para Luke, que assentiu, bebeu o café rapidamente e levantou-se.

– Vamos dar uns pontapés à bola? – propôs ao filho.

Olivia observou que agarrava Charlie pela mão e observou-os enquanto saíam, pai e filho. Luke era todo músculo, magro e tonificado, bonito e forte, e o seu corpo continuava a desejá-lo, assim como o coração, mas as coisas tinham mudado. Luke quebrara a sua promessa e abandonara-a. Nunca o perdoaria. Agora, tinha de proteger o filho e tinha de se proteger.

Olivia era uma mulher patriota, mas, para ela, a família era mais importante. Um soldado não podia abandonar a família como se nada fosse, como fizera Luke. Podia confiar que nunca abandonaria Charlie?

 

 

– Está frio...

Luke serviu-se de outro copo de vinho. Raramente bebia mais do que uma cerveja de vez em quando, mas o vinho estava a ajudá-lo a aguentar a situação.

Olivia olhou para ele. Sentia vontade de a acariciar e recordar o que houvera uma vez entre eles. Sabia que era pedir muito, que já não estavam juntos, que se viviam sob o mesmo teto era para tornar as coisas mais fáceis para o menino.

– Porque não nos ligaste com mais frequência? Ligar uma vez em cada três ou quatro meses não é suficiente.

Luke baixou a cabeça. Fora um mau marido e um pai pior e sabia que não tinha desculpa. Aquela pergunta fê-lo sentir-se muito mal. Bebeu um pouco mais de vinho e olhou para ela nos olhos.

– Não era fácil – respondeu Luke, que era consciente de que podia ter tentado com mais afinco.

– Tolices! – exclamou Olivia, batendo na mesa e levantando-se. – Não me mintas, Luke. O teu filho chorava todas as noites. Devias ter feito o esforço de ligar com mais frequência. Teve de crescer sem saber quem és.

Luke ficou sentado, não tencionava discutir com ela na primeira noite. Não queria voltar a discutir como costumavam fazer todos os dias antes de se ir embora. A verdade era que, quando se sentia mal, o que desejava era que Charlie o esquecesse para que não sofresse a perda.

– Não grites, Ollie! Vais acordá-lo.

– Como te atreves? – gritou. – A única coisa que fiz neste tempo foi cuidar do nosso filho. É a minha vida. Enquanto tu lutavas pelo nosso país, eu lutava pelo nosso filho, por mim e pela nossa família – acrescentou, olhando para ele. – Enquanto tu te importavas muito pouco.

Tinha os olhos cheios de lágrimas e Luke não pôde suportá-lo e desviou o olhar. Não conseguia suportar a sua tristeza e o vazio dos olhos dela e, sobretudo, não conseguia suportar que tivesse razão.

– Sei que foi difícil para ti...

Ollie também não se comportara como se quisesse que ficasse e Luke não o esquecera.

– Não consegues imaginar como foi difícil, Luke. Não consegues imaginar. Fiquei sozinha com um menino pequeno que não tinha pai – recordou, com emoção. – Não me abandonaste, abandonaste o nosso filho – declarou, num tom emocionado.

Luke levantou-se e passeou pela cozinha. Não podia continuar a esconder-se por trás da desculpa de ser soldado. Olivia tinha razão. O filho não merecia crescer sem pai e ele sabia por experiência própria porque crescera assim. Fora precisamente por isso que voltara para casa, para que a história não se repetisse.

Agora, o filho conhecia-o.

– Olivia, lamento. A sério.

– Esqueces que muitas das minhas amigas também são casadas com militares – indicou Olivia, num tom triste. – Os seus maridos ligavam-lhes todos os meses e pediam licenças e vinham a casa, mesmo que fosse apenas por uns dias. Com a tua patente militar... Bom, já não importa, Luke, mas penso que podias ter feito mais.

Luke olhou para a esposa, envergonhado. Fugir fora o mais fácil, a maneira mais rápida de acabar com uma situação insuportável. Quando as coisas se tinham tornado difíceis, quando o bebé não queria dormir, quando a mulher pensava que não se teria casado com ela se não tivesse ficado grávida e sabendo que podia morrer em serviço, deixando o filho órfão, decidira ir-se embora...

– Era muito difícil falar contigo, Ollie. Era mais fácil não o fazer – confessou. – Não consegues imaginar quantas vezes peguei no telefone para ligar para casa e falar com vocês e não consegui fazê-lo.

– Devias tê-lo feito.

Quando Luke elevou o olhar, Olivia já se fora embora.

Luke deixou cair a cabeça entre as mãos e fechou os olhos. Se não tivesse ficado grávida tão cedo e se não se tivessem casado tão depressa, talvez as coisas tivessem sido diferentes. Talvez não devessem ter-se casado, mas a única coisa que importava era o filho e demonstrar que podia contar com ele e que queria ser pai.

Porque, daquela vez, não tinha nenhuma intenção de se ir embora.