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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2006 Mary Lynn Baxter

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Um autêntico texano, n.º 704 - Outubro 2014

Título original: Totally Texan

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2006

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5877-0

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo Um

 

Grant Wilcox acabava de descer da sua carrinha quando Harvey Tipton, o chefe dos correios, saiu do café Sip’n’Snack.

– Ah, a dar uma vista de olhos, hã? – Harvey lançou a Grant um sorriso meio escondido pela sua barba e bigode. – Ou talvez devesse dizer dar outra vista de olhos...

– De que estás a falar? – perguntou Grant, perplexo.

– Do novo monumento da terra.

– Presumo que te refiras à recém-chegada, não? – Grant fez um esgar.

– Correcto – respondeu Harvey, movendo a cabeça para cima e para baixo sem parar de sorrir. Obviamente, não via razão para se envergonhar ou pedir desculpas pela sua forma de expressar-se. – Está a gerir o café da Ruth.

Grant gemeu para si próprio; Harvey era o maior coscuvilheiro da terra. E o facto de ser um homem ainda o tornava pior.

– Não sabia – Grant encolheu os ombros, – há algum tempo que não vou lá beber café.

– Quando a vires, vais arrepender-te de não teres ido.

– Duvido – ironizou Grant.

– Não te dava por morto, Wilcox.

– Deixa-me em paz, por favor – Grant estava irritado e não se dava ao trabalho de escondê-lo.

–Pois é deslumbrante – declarou Harvey. – Está a anos-luz de qualquer uma daqui.

– E porque me contas isso? – perguntou Grant, aborrecido, esperando que Harvey percebesse a indirecta.

– Pensei que poderia interessar-te, dado que és o único daqui que não tem mulher nem compromissos – esboçou um sorriso cúmplice e deu-lhe uma palmada num ombro. – Sei que estás a perceber-me.

Durante um segundo, Grant desejou esmurrar o carteiro, mas, claro, não o fez. Harvey não era o único que tinha tentado ser o seu casamenteiro.

Era inquestionável que lhe agradaria ter uma mulher lutadora, de sangue quente, na sua cama, uma vez por outra, mas a ideia de algo permanente provocava-lhe arrepios. Pela primeira vez, a vida corria-lhe bem, sobretudo em Lane, essa pequena povoação do Texas. Como guarda-florestal, Grant estava a fazer o que adorava: andar pelo bosque e cortar árvores com as quais ganharia montes de dinheiro.

Além disso, não estava preparado para assentar. Com o seu passado de nómada, nunca sabia quando voltaria a sentir a vontade de partir. E se não pudesse fazê-lo, sentir-se-ia preso. Isso não era para ele, pelo menos ainda não.

– Queres que volte a entrar e vos apresente um ao outro? – perguntou Harvey, soltando uma gargalhada.

– Obrigado, Harv – Grant cerrou os dentes, – mas no que concerne às mulheres, consigo safar-me sozinho – olhou para o relógio. – Tenho a certeza que já terás clientes à tua espera.

– Percebido – Harvey piscou-lhe o olho.

Mas, assim que o chefe dos correios desapareceu da sua vista, Grant acelerou o passo na direcção da porta do Sip’n Snack.

 

 

Kelly Baker lavou as mãos com sabonete em água quente, mordendo o lábio inferior. Tinha estado a dispor os bolos na vitrine e sentia-se pegajosa até aos cotovelos.

Desde que estava naquela terra campestre, Lane, há já três semanas, que se questionava continuamente se teria perdido a cabeça. Mas conhecia a resposta e era «não». A sua prima, Ruth Perry, precisava de ajuda e Kelly tinha acorrido em seu auxílio, tal como Ruth a ajudara depois daquele trágico acontecimento que mudara a sua vida para sempre.

– Ai – gemeu Kelly, sentindo as mãos a queimar. Tirou-as da água, puxou uma toalha e franziu a testa ao olhar para os dedos. As longas e perfeitas unhas pintadas e a suave pele de que tanto se orgulhava tinham desaparecido. As suas mãos tinham um aspecto seco e enrugado, como se as tivesse tido de molho todo o dia. E assim era, apesar de ter dois ajudantes, Albert e Doris.

Deu uma vista de olhos à cafetaria vazia e suspirou, imaginando como estaria a abarrotar de gente dentro de minutos. Sorriu para si própria por causa da palavra «abarrotar». O termo não condizia com aquela pequena terreola.

No entanto, não tinha motivos para rir. O investimento de Ruth naquela povoação madeireira de dois mil habitantes tinha sido um êxito. Com pouco dinheiro investido, a prima já tinha lucros, embora reduzidos, a vender café, bolos, sopas e sanduíches de qualidade.

Segundo os locais, Sip’n Snack era o sítio da moda e isso era muito bom. Se Kelly tinha de estar ali, pelo menos estava onde havia acção...de manhã e à noite.

Kelly odiava o turno da noite. Era demasiado longo e tinha demasiado tempo para pensar. No entanto, chegava à pequena e acolhedora casa de Ruth tão esgotada que mal conseguia chegar à banheira, e mais dificilmente à cama, e porém, não conseguia dormir.

As noites já eram um problema muito antes de chegar a Lane. E tendo as tardes livres, o passado tinha muitas oportunidades de erguer a sua traumática cabeça. Mas depressa cumpriria com a sua obrigação para com a prima e regressaria a Houston, onde pertencia.

Lembrou-se, com ironia, que a sua vida pessoal não fora melhor ali. Se fosse, não estaria em Lane. Por dentro, no seu íntimo, tinha o coração coberto por uma camada de cimento que nada conseguiria quebrar.

– Telefone para ti, Kelly.

– Olá querida, como vai tudo? – cantarolou a voz alegre de Ruth do outro lado do auscultado.

– Vai bem.

– Não quero estar em cima de ti, mas não suporto não saber o que se passa. Estar longe do café, provoca-me a síndroma de abstinência.

– Imagino.

– Já o conheceste?

– Quem? – Kelly fez um esgar.

– O bonzão da terra – riu Ruth, tentando ocultar a sua ansiedade. – Oh, acredita, se o tivesses visto já saberias.

– Estás a perder o teu tempo, Ruth, tentando fazer de casamenteira.

– Já deverias estar a olhar para outros homens há muito tempo – a prima suspirou. – Há muito tempo.

– Quem diz que não olho?

– Ora, sabes o que quero dizer.

– Ei, não te preocupes comigo. Se está escrito que vou encontrar outro, encontrá-lo-ei – disse Kelly, embora não acreditasse que tal fosse acontecer nesta vida.

– Certo – a voz de Ruth tingiu-se de cinismo. – Só dizes isso porque sabes que é o que quero ouvir.

– Tenho de ir – riu Kelly. – Tocou a campainha. Antes que Ruth pudesse responder, desligou.

Esboçou um sorriso e saiu de detrás do balcão. Ficou imóvel e com o olhar parado. Depois não sabia por que tinha reagido assim, talvez porque fosse alto e bonito.

Ou melhor ainda, pelo modo como ele olhava para ela.

Perguntou-se se aquele seria o «bonzão» que Ruth acabava de mencionar.

Desagradou-lhe que os olhos azuis escuros do desconhecido a olhassem desde a ponta dos pés e fossem subindo lentamente, sem perder um detalhe da sua esbelta figura. Olhou intencionalmente para o seu peito e para o seu cabelo, e alegrou-se por ter, recentemente, posto reflexos nas curtas madeixas.

Quando os incríveis olhos dele se cravaram nos seus, o ar carregou-se de electricidade. Atónita, Kelly deu-se conta de que estava a prender a respiração.

– Gosta do que vê? – perguntou sem pensar. Era uma consequência natural da sua profissão. Ser atrevida e directa tinham-na conduzido ao êxito.

– A verdade é que sim – o tipo esboçou um lento e sensual sorriso.

Pela primeira vez desde a morte do seu esposo, á quatro anos, Kelly sentiu-se desconcertada com o olhar de um homem. E pela sua voz. No entanto, compreendia que aquele desconhecido não era um homem qualquer. Tinha algo de especial que chamava a atenção. A palavra que lhe passou pela cabeça foi «rude».

Não estava acostumada a ver homens com jeans velhos, que mal tinham cor de tanto serem lavados, camisa de flanela, botas com ponteira de aço e um capacete na mão. Até em Lane, escasseavam homens daquele calibre.

Ele continuava a olhá-la. Kelly moveu os pés e tentou desviar o olhar, mas sem êxito. Aquela sua rudeza parecia encaixar com o seu metro e oitenta e cinco de altura, corpo musculoso e cabelo castanho desgrenhado, dourado pelo sol.

Surpreendeu-se por estar a pensar nisso. Mas, por mais atraente e encantador que fosse, não estava interessada. Senão, já teria aceite o afecto de outros homens, em Houston. Além disso, até em Lane, ele devia estar rodeado de mulheres.

Nenhum homem poderia estar nunca à altura do seu falecido esposo, Eddie. Depois de ter chegado a essa conclusão, Kelly concentrara-se na sua carreira e tornara-a a sua razão de viver.

– Que posso oferecer-lhe? – perguntou com sinceridade.

– Qual é a especialidade do dia? – ripostou ele, com uma voz profunda e brusca que condizia com o seu aspecto. Kelly aclarou a garganta, contente por voltar à normalidade.

– Café?

– Para começar – respondeu ele, entrando mais para dentro, puxando uma cadeira e sentando-se.

– Os pratos do dia estão no quadro – embora contrariada, Kelly não conseguia sair do mesmo sítio. Corou e conseguiu olhar para o quadro que estava atrás do balcão, onde estavam listados os cafés e as especialidades.

– Hoje não há nada – disse ele, – a não ser que me tenha escapado um dia – fez uma pausa. – Hoje é quarta-feira, não terça. Correcto.

Convencida de que estava vermelha que nem um tomate, Kelly assentiu. Não tinha mudado o quadro. Em circunstâncias normais, ter-lhe-ia sido indiferente, mas por alguma razão o comentário do homem fez com que se sentisse inadequada; uma sensação que desprezava.

– O café é com leite e aroma de baunilha fresca – disse-lhe, esboçando um sorriso forçado.

– É uma pena que um tipo não possa beber um café normal sem acrescentos – comentou ele, coçando o queixo.

– Lamento, não é esse o género deste café – desculpou-se, consciente de que ele estava a tentar irritá-la. – Mas isso já você sabe. Se quer café do supermercado, terá de prepará-lo você mesmo.

– Bem sei – riu ele. – Beberei o café que mais normal pareça, o café de sempre.

Quando regressou com a chávena e lha pôs à frente, Kelly não olhou para ele, para evitar mais conversas. Apesar de ser atraente, aquele homem fazia com que se sentisse incómoda, e não queria saber de mais. Entregou-lhe o menu.

Ele deu uma vista de olhos e deixou-o de lado sobre a mesa.

– Portanto, é a nova Ruth?

– Completamente.

– E onde está ela?

– Fora do estado, cuidando da mãe, que está doente. Estou a substituí-la durante um tempo.

– Já agora, chamo-me Grant Wilcox – apresentou-se ele.

– Kelly Baker.

– Prazer em conhecê-la – disse ele, estendendo-lhe a mão.

Cada vez que ele falava, ela sentia uma reacção física. Era como sentir o golpe de algo que podia magoar e que ressoava dentro de si. No entanto, até era agradável.

– É de cá? – perguntou ele, depois de beber um pouco de café.

– Não – respondeu Kelly. – Sou de Houston. E você?

– Não nasci cá, mas agora é como se fosse de cá. Vivo a quinze quilómetros a Oeste desta terra. Sou madeireiro e comprei a lenha de um terreno enorme. Por isso, estou preso em Lane, ao menos por agora – sorriu e a pele em redor dos seus olhos formou pequenas rugas. – Acabamos de começar o corte e estou tão satisfeito quanto um leitão ao sol.

Ela perguntou-se se tentava parecer um rústico ou se pretendia dizer-lhe algo com aquela comparação tão tosca.

– Fico contente – disse, só para dizer algo. Apesar da sua reacção a Grant, interessava-lhe pouco quem fosse ou o que fazia. Perguntou-lhe se queria comer alguma coisa.

– Uma sopa e mais café – disse ele com um trejeito irónico nos lábios.

Só lhe faltou acrescentar «menina». Kelly perguntou-se se seria tão óbvio assim que se sentia incomodada ou se ele o intuía. Mas era-lhe indiferente. O importante era que a condescendência dele a irritava tanto que exacerbava o seu empenho em servi-lo na perfeição.

Kelly foi buscar a cafeteira e regressou com um sorriso nos lábios. Ergueu a taça e escorregou. O café que restava caiu no colo de Grant Wilcox, que gritou.

Muda de espanto, Kelly observou-o a puxar a cadeira para trás e a pôr-se em pé.

– Eu diria que esse foi um tiro certeiro, minha senhora.

Embora tenha levado a mão à boca, os olhos de Kelly apontaram para baixo e ficaram pregados à mancha de humidade.

Ambos levantaram os olhos ao mesmo tempo e os seus olhos encontraram-se.

– Por sorte, não causou danos graves – resmungou ele. Os seus lábios curvaram-se lentamente.

– Oh, meu Deus, lamento – balbuciou ela, com espanto e vergonha. – Espere, vou buscar uma toalha.

Voltou-se e correu para o balcão. Quando regressou, os seus olhos e os de Grant voltaram a encontrar-se.

– Vamos a ver, deixe-me ajudar – disse, esticando o braço. Parou bruscamente ao ver o sorriso descarado dele. O sangue subiu-lhe ao rosto e afastou a mão num repente.

– É indiferente. Acho que vou mudar de calças.

– Pois... acho bem – murmurou ela.

– Quanto lhe devo?

– Dadas as circunstâncias, nada de nada.

Ele voltou-se e dirigiu-se para a saída. Kelly deixou-se ficar a olhá-lo, paralisada.

– Vemo-nos por aí – Grant piscou-lhe o olho quando já estava à porta.

Ela desejou que tal não sucedesse, embora admitindo para si própria que ele tinha um dos andares e um dos rabos mais sensuais que já tinha visto na vida, mesmo que escaldado pelo café.

Infelizmente, menear-se para ela era desperdício.