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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 1999 Barbara Hannay

© 2015 Harlequin Ibérica, S.A.

Uma mulher decidida, n.º 1465 - Março 2015

Título original: Outback Wife and Mother

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2002

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Bianca e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-6012-4

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Epílogo

Se gostou deste livro…

Prólogo

 

No seu quarto, o menino ouvia o choro aflitivo da mãe. Não era a primeira vez. O pai implorava que ficasse.

– Vivianne, não te podes ir embora! Não podes abandonar-nos!

Com enorme tristeza, o menino olhava para o seu ursinho de peluche, mas nem sequer o seu brinquedo preferido conseguia alegrá-lo naquele momento. A voz da mãe era desesperada e ofegante.

– Não aguento mais esta vida do campo – reclamava ela. – Vou acabar por enlouquecer!

O menino tapou a cabeça com a almofada, para abafar o som das vozes.

Passado algum tempo, quando os primeiros raios de sol começavam a entrar pela janela, a mãe entrou no quarto em bicos de pés. Cheirava a flores. Sentou-se na beira da cama e inclinou a cabeça para ele.

– Meu amor, vou sentir muitas saudades tuas.

Ele sentiu um aperto no coração.

– Não há razão para sentires saudades minhas. Vou ficar contigo e com o papá aqui, em Wallaroo, para toda a vida.

A mãe deixou escapar um gemido de dor e abraçou-o com todas as suas forças.

– Meu filho! Amo-te com toda a minha alma. Porém, tu pertences a esta terra.

Subitamente, ouviu-se a travagem brusca de um carro e o bater de uma porta, seguida de passos. Alguém subia as escadas do alpendre. Era Ned, o comerciante, que permaneceu à porta.

– Vou já, Ned – comunicou a mãe.

Durante alguns segundos, o menino desfrutou do calor reconfortante dos lábios da mãe. Depois, ela levantou-se e saiu do quarto, como a névoa matinal que se evapora suavemente.

Levantou-se rapidamente e correu atrás dela.

A luz da manhã coloria o céu de cor-de-rosa e as árvores pareciam ainda maiores sob aquele fundo de cores de fogo. O menino encostou o nariz ao vidro da janela.

Ned abriu a porta do passageiro e ela entrou. Correu na direção da mãe, mas uma mão grande e firme deteve-o.

– Temos de deixá-la ir, Fletcher – disse uma figura masculina. – Não pertence a esta terra. Precisa das luzes da cidade.

O que é que o pai queria dizer com aquilo?

Ned pôs o carro a trabalhar e os cães das bombas de gasolina começaram a ladrar.

– Ficamos tu e eu, filho. Pelo menos, não se importou com o facto de eu ficar contigo.

O carro afastou-se.

Magoado e enraivecido, o menino tentou desprender-se dos braços do pai.

– Mamã! Não te vás embora!

O carro afastava-se a toda a velocidade. A mãe virou-se uma última vez e mandou-lhe um beijo carinhoso.

Capítulo 1

 

Fletcher Hardy compôs o colarinho da camisa, que o incomodava de um modo aflitivo. Observou a imensa sala cheia de espelhos daquele hotel de luxo.

Tinha de ir a uma conferência de imprensa sobre o problema da seca no norte de Queensland, mas adiara um jantar com o Ministro da Agricultura só para ver umas mortas de fome a exibirem-se em fatos inimagináveis.

A prima Lucette, que não via há muitos anos, convencera-o a assistir ao espetáculo.

Procurou um lugar na vasta fila de cadeiras disposta ao longo da passarela e enfrentou os olhares femininos que o seguiam.

Moda! Que absurda obsessão feminina!

Assim que Lucette tomou conhecimento de que Fletcher iria ao sul de Melbourne, implorara para que assistisse à passagem de modelos, para a qual criara uma extraordinária coreografia.

Era obrigado a admitir que o convite o lisonjeara e fora precisamente isso que o impelira a aceitar.

Mas, onde estava a sua anfitriã?

As luzes apagaram-se e os músicos começaram a tocar o tema de abertura. Nem sombra de Lucette. Não a via em lado nenhum.

Deixara-o sozinho naquele estúpido lugar! Tenso e furioso, Fletcher recusou-se a aplaudir a entrada do apresentador que, envergando um smoking dourado, dava início à sessão com uma piada incompreensível sobre o mundo da moda. O público riu-se e Fletcher esforçou-se por conter a raiva que o invadia.

– Esta noite, teremos ocasião de ver nesta passarela o desfile da coleção Quinta-essência, uma antecipação do que nos irão apresentar para a próxima estação os jovens talentos do mundo da moda australiana. Começaremos com a estilista Alexandra Fraser, que nos apresenta um estilo minimalista, com cores claras, usando fundamentalmente a caxemira e a seda.

As modelos começaram a desfilar, exibindo os seus corpos esguios, cobertos de tecidos delicados, peças de corte simples.

Fletcher passou a mão pelo cabelo. Tinha de admitir que o trabalho da prima era bom, expressivo e harmonioso, sem excessos ou extravagâncias absurdas.

Ainda assim, procurou desesperadamente ver as horas no relógio, embora sem êxito. Que horas seriam e onde se teria metido Lucette?

Fletcher mexeu-se nervosamente na cadeira e deu uma cotovelada à mulher que estava ao seu lado. Ela protestou e, impaciente, compôs o enorme chapéu que lhe cobria o rosto quase por completo.

Quando estava prestes a reagir agressivamente, devido à reação dela, algo despertou a sua atenção. Na passarela, apareceu uma mulher que usava um vestido comprido, lilás, que contrastava com os tons pálidos das restantes modelos.

– Senhoras e senhores, Alexandra Fraser.

Era a estilista da primeira coleção. Os aplausos e os «bravo» invadiram a sala. Não havia dúvida de que a coleção fora bem acolhida.

Alexandra sorriu e, nesse preciso instante, Fletcher ficou fascinado. Aquela era uma mulher de verdade, como nunca vira outra igual.

Estava rodeada de altas e esbeltas manequins, no entanto, sobressaía entre todas elas pela sua sensualidade e beleza. O cabelo preto e comprido realçava a alvura de uma pele imaculada. O vestido deixava a descoberto um ombro perfeito e bem torneado, e ajustava-se deliciosamente a umas curvas deslumbrantes. Era a mulher mais bonita que já vira.

Exibindo um último sorriso, virou-se e foi-se embora, atravessando os arcos que Lucette desenhara.

Um novo grupo de modelos entrou na passarela ao som de uma música heavy metal. Parecia ser um caleidoscópio de preto, rendas e azuis elétricos, uma coleção que misturava roupa interior com roupa de noite.

Rapidamente, o estilista, um homem calvo com uma grande tatuagem que lhe cobria a cabeça, apareceu para receber os aplausos.

Chegara o momento de sair dali. Poderia conseguir um catálogo que lhe dissesse algo mais a respeito de Alexandra Fraser.

Encontrou uma montanha deles à entrada e, entusiasmado, tirou o primeiro que lhe veio à mão. Nele, havia uma breve descrição da coleção de Fraser e uma lista com todos os prémios que ganhara. Além disso, pôde ler as seguintes declarações:

 

Gosto de linhas direitas e simples, silhuetas ao natural, sem adornos. Contudo, também gosto que a roupa marque o corpo, por isso, nos meus desenhos saliento sempre as curvas femininas. Para mim, o desenho é uma experiência vital, preenche-me por completo.

 

Como é que uma pessoa se podia sentir preenchida com algo tão banal como a moda e, sobretudo, uma mulher como aquela? Uma estranha sensação de tristeza apoderou-se dele.

Apesar de tudo, sabia o que iria acontecer nos próximos minutos. Dispensaria a limusina que o aguardava, por cortesia do sindicato dos ganadeiros, e iria direto para os camarins.

 

 

Ally Fraser entrou nos camarins, mal contendo a excitação que a invadia. À sua volta, as modelos trocavam de roupa a toda a velocidade, para entrarem de novo no palco. Ainda assim, quase toda a gente parou uns segundos para lhe dar os parabéns. Tentava não demonstrar o entusiasmo que sentia, porém, era difícil. Sentia-se bem, muito bem. Para além de o público ter recebido com agrado a sua coleção, vira dois críticos de moda a sorrir abertamente. De repente, interrompeu os seus pensamentos para verificar se estavam a tratar bem a suas peças de roupa.

Estava feliz, embora cansada. Na verdade, o que mais lhe apetecia fazer era ir para casa, para desfrutar do seu êxito. Não obstante, estava decidida a ficar para o coquetel e fazer um pouco de relações públicas.

Olhou à sua volta, para se certificar de que estava tudo em ordem.

De repente, ouviu uns risinhos nervosos. Rapidamente se apercebeu de que o motivo era um homem que acabava de entrar. Curiosamente, as modelos estavam habituadas a ter gente a entrar e a sair, e isso não alterava de forma alguma o seu comportamento. No entanto, a presença daquele estranho estava a provocar sérios estragos.

Ao contrário dos outros, ignorou por completo as modelos que exibiam os corpos nus e dirigiu-se para ela com um passo tão firme e decidido que o seu coração disparou.

– Procuro uma senhora chamada Lucette Hardy – declarou.

A sua voz era grave e rouca, e ressoava com densidade. Olhava tão fixamente para ela que, por um momento, Alexandra teve a estranha sensação de que lhe estava a ler o pensamento. A verdade era que se sentia hipnotizada com a sua estatura, os ombros largos, o rosto comprido e uns olhos tão azuis como o céu.

Ally balbuciou.

– Lucette… A pobre Lucette está de cama, com uma gripe muito forte. Infelizmente, não pôde assistir ao desfile.

– Afinal, foi isso que aconteceu! – por breves instantes, desviou o olhar. Depois, voltou a encará-la. – A senhora é… Os seus modelos são inquestionavelmente maravilhosos… Linhas direitas…

– Silhuetas simples? – prosseguiu ela.

Ele sorriu.

– Admito, apanhou-me. Sim, li a sua entrevista. Contudo, para ser franco, o vestido que mais me agrada é o que está a usar neste momento.

– Obrigada.

Obviamente, não era a primeira vez que recebia elogios, embora tivesse consciência de que, na maioria das vezes, estavam carregados de cinismo e inveja. No entanto, as palavras daquele estranho pareciam ser sinceras. O coração de Ally começou a bater como louco, perante a admiração que sentiu por aquele desconhecido. Observou-o durante alguns segundos. O rosto atraente, com traços bem marcados, bronzeado e rude, contrastava com o dos homens que habitualmente via naquele mundo de rostos prefabricados, no qual vivia.

Ele franziu o sobrolho e baixou a cabeça, revelando uma certa timidez. Ally ficou surpreendida com aquela atitude. Sem saber porquê, sentiu-se dececionada ao prever que, em seguida, se despediria e sairia por onde entrara.

Instalou-se um silêncio tenso e estranho. Porém, ela não estava disposta a perder aquela oportunidade.

– Na verdade, nem sequer nos apresentámos – declarou Ally, com excessiva veemência. – Não me disse o seu nome.

Imediatamente, ele descontraiu e sorriu, e o sorriso iluminou o ambiente com tanta intensidade que Ally julgou que os técnicos de luz tinham acendido todos os focos em simultâneo.

– Chamo-me Fletcher Hardy e sou primo de Lucette. Convidou-me para vir ver o seu trabalho.

Não fez mais nenhum comentário. De qualquer maneira, Ally estava satisfeita porque, afinal, fora o trabalho como estilista que mais o impressionara.

– O que vai fazer quando isto acabar?

– Receio que tenha de marcar a minha presença – respondeu, apontando para o salão, onde estava a decorrer o coquetel. – Terei de dar atenção à imprensa e esse género de coisas.

– Tenho pena de si. Acabo de me ver na mesma situação.

– A sério? – e olhou para ele da cabeça aos pés. – Deixe-me adivinhar a sua profissão. Tem de ser algo ao ar livre. Dá aulas de esqui? Não, a imprensa não se interessaria por um instrutor de esqui. Alpinista? Acaba de conquistar algo?

Fletcher riu alegremente e houve pessoas que se viraram para o observar. Entretanto, foi a vez de ele olhar para ela da cabeça aos pés.

– Ainda não. Porém, é possível que estejam prestes a dar-me uma oportunidade – retorquiu, num tom sedutor e insinuante.

Ela sentiu um formigueiro no estômago. Aquele homem perdia a timidez com a maior das facilidades.

– Sinceramente, nunca fui boa a adivinhar – confessou, tratando de disfarçar o seu rubor. Embora, no fundo, não se importasse com isso. Experimentava uma ligação que jamais sentira, fosse por quem fosse. – Por enquanto, o senhor terá de continuar a ser um mistério para mim, porque agora não tenho outra opção senão ir para a festa. Gostaria de me acompanhar?

– Claro. Indique-me o caminho.

Ally notou que vários olhares se fixavam neles, quando entraram na sala. Foram para a mesa das bebidas e optaram por uma taça de champanhe.

Derek Squieres, o estilista da tatuagem, aproximou-se deles.

– Olá, queridos… – cumprimentou.

– Olá, Derek. Apresento-te Fletcher Hardy.

– Como estás? – e sorriu, entusiasmado.

– Como correu tudo? – perguntou Ally.

– Afasta aquela mulher horrorosa de mim! – exclamou Derek.

– De quem estás a falar?

– De Phoebe Hardcastle. Atreveu-se a criticar o azul dos lábios das minhas modelos. Afirmou que parecem múmias ressuscitadas. A imaginação dela é igual à de uma mosca.

– Sim, tens toda a razão. Essa mulher, por vezes, faz uns comentários bastante insidiosos.

– Não entende nada de moda, aquela «estúpida vaca».

– Por favor, deixemos as vacas fora disto – interveio Fletcher. – Dedico-me a elas.

Tanto Derek como Ally olharam para ele com curiosidade.

– Sou vaqueiro – esclareceu.

Derek fez uma cara de desdém.

– Sinto muito por ti, querido! – murmurou Derek. E afastou-se apressadamente.

Ally sorriu, enquanto via o colega a afastar-se como se tivesse visto o diabo. Depois, virou-se para Fletcher.

– Eu sabia que o teu trabalho era ao ar livre.

– Ally Fraser! – chamou alguém atrás dela. – Por favor, dá-me um minuto do teu tempo.

Uma ruiva com ar tresloucado e uns óculos pretos, em forma de concha, aproximou-se dela.

– Olá, Phoebe. Como estás?

– Poderia estar pior. Não te importas de responder a umas perguntas?

Ally olhou para Fletcher, com uma expressão semelhante à de quem pedia desculpa.

– Diz.

A ruiva ligou um pequeno gravador e colocou-o debaixo do nariz de Ally.

– Quero que me digas a quem é dirigida a tua roupa, quem esperas que compre os teus modelos.

– Já respondi a essa pergunta centenas de vezes, Phoebe – protestou.

– Lamento mas, nova coleção, novos comentários – retorquiu a jornalista, com uma certa agressividade.

– Tudo bem! – Ally pensou durante milésimas de segundo e respondeu, finalmente. – Os meus clientes são pessoas que procuram algo contemporâneo, mas com uma elegância clássica…

Inesperadamente, sentiu uma mão imponente no braço. Olhou para trás e viu que Fletcher lhe piscava o olho.

Ally respondeu a umas quantas perguntas, sempre consciente da mão que se encontrava no seu ombro nu. A sua pele respondia com agrado ao delicioso contacto.

– Planeias lançar uma linha de perfumes, como fazem muitos estilistas?

Sim, de facto já tinha pensado nisso. Porém, era demasiado cedo para revelar as suas intenções.

– Essa é uma boa pergunta e, assim que tivermos a resposta, será a primeira a saber. Prometo que lhe daremos uma entrevista exclusiva. Agora, temos pressa.

– Quem é o senhor? – inquiriu a jornalista.

– Sou o assessor de Relações Públicas da menina Fraser. Foi um prazer, agradecemos por nos ter dedicado o seu tempo, mas temos outros compromissos.

Estupefacta, Ally olhava para um e para outro. Sem poder dizer nada, viu-se aprisionada pela mão forte que a segurava com delicadeza.

Quando já estavam suficientemente longe da jornalista, parou bruscamente e libertou-se da mão masculina.

– O que julga que está a fazer?

– Chiu… Já lhe explico.

Seguiu-o para uma sala contígua.

– Bom, agora, quero uma explicação – ordenou ela.

– Estou a sequestrá-la.

Ela ia a protestar, porém, Fletcher antecipou-se.

– Vou levá-la comigo, porque é a mulher mais fascinante que encontrei em toda a minha vida. Como não vou ficar muitos dias em Melbourne… Não temos tempo para mesquinhices sociais.

Completamente espantada, encarou-o por breves segundos, sem saber o que dizer.