cover.jpg
portadilla.jpg

 

 

Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2006 Christine Rimmer

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Aprender a Confiar, n.º 1046 - Fevereiro 2014

Título original: The Bravo Family Way.

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2007

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Julia e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em queaparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5038-5

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo 1

 

Fletcher Bravo abandonou a confortável poltrona de pele onde estivera sentado e endireitou-se, apoiando-se na sua elegante secretária enquanto olhava para Cleo Bliss.

– Desejo-a – disse-lhe. – Diga-me quanto vale.

Cleo não conseguiu evitar arrepiar-se e fez o impossível para que os seus nervos não a denunciassem.

«Fica calma. Ele não pode ver-te fraca», pensou enquanto observava os seus olhos cinzentos sem que o seu olhar tremesse. Recordou as palavras que acabara de pronunciar. «Desejo-a». Sabia que era só uma forma de falar, não se referia a Cleo, mas aos serviços de grande qualidade que ela e os seus empregados podiam fazer para a empresa dele. Se houvesse outro sentido nas suas palavras, um sentido sexual, Cleo decidiu que seria melhor ignorá-lo, da mesma forma que decidira ignorar a atracção que sentira pelo presidente da empresa desde que entrara no seu escritório minutos antes.

Cleo já tinha um homem na sua vida e não se parecia nada com o que estava em frente dela naquele momento. Os homens poderosos, dinâmicos, atraentes e vestidos com fatos caros não eram o seu estilo. Passou grande parte da sua infância a ver o que tipos como aquele podiam fazer com as mulheres se quisessem.

Aprendera a lição.

Arrependera-se de estar ali. Não queria estar lá, mas aquele homem insistira. Os seus empregados tinham contactado com ela numerosas vezes. Ela rejeitara o convite várias vezes.

Mas não lhe servira de nada. Ele telefonara-lhe depois e dissera-lhe que queria conhecê-la em pessoa. Não soube o que lhe dizer. Durante os dois últimos anos, Fletcher Bravo e o seu irmão Aaron transformaram-se em dois dos mais importantes investidores imobiliários de Las Vegas. Como empresária, sabia que não teria sido uma jogada muito inteligente ofender um dos poderosos irmãos Bravo.

Por isso acedera e agora estava em frente dele a tentar que aceitasse um «não» como resposta. Mas não estava a ter sorte. Pigarreou e tentou novamente.

– Lamento muito, mas não estou preparada para empreender neste momento um projecto desta magnitude – respondeu.

– Então, prepare-se – declarou ele, semicerrando os seus olhos de lobo.

Cleo ficou a olhar para ele em silêncio antes de falar outra vez.

– Acho que não me entendeu...

– Entendi. Foi muito clara, mas não quero ouvi-la. E chegará o dia em que me agradecerá por não o ter feito. Porque esta é uma oportunidade que não pode deixar passar. Isto significa crescimento para a sua empresa. Crescimento que o Grupo Bravo vai financiar. O seu centro aqui no casino Impresario seria duas vezes maior do que o que tem agora. Teria todo o espaço de que precisa e o melhor equipamento. O que quiser. Diga-me e será seu.

– Não é assim tão simples.

– É sim

– A Minha Primeira Escola não é só uma creche – explicou ela, com paciência. – Somos muito mais do que isso. Apoiamos o nosso trabalho com técnicas para o desenvolvimento intelectual da criança. Para que o programa seja eficaz tem de haver uma continuidade. Não pode ser um sítio onde os clientes do casino deixem os seus filhos enquanto jogam.

– Eu percebo isso – concedeu ele, baixando um pouco a cabeça. – Não será assim. Vamos ter um serviço por horas para os nossos clientes. Os nossos empregados com crianças ou os trabalhadores que precisem de alguém para cuidar dos seus filhos depois da escola podem usar o nosso programa original. Quero que A Minha Primeira Escola seja exclusiva para os empregados do Grupo Bravo nos casinos e complexos hoteleiros do High Serra e neste, no Impresario.

O High Serra e o Impresario eram dois complexos hoteleiros e casinos situados um em frente do outro, de ambos os lados da avenida principal de Las Vegas. Estavam ligados por uma impressionante galeria de vidro no quinto andar. Ambos eram geridos e eram propriedade dos irmãos Fletcher e Aaron Bravo. Fletcher era o presidente do Impresario, o mais novo dos dois, que estava decorado com motivos que recordavam o lendário casino parisiense Moulin Rouge. O seu meio-irmão geria o High Serra.

Fletcher ainda não dissera nada, mas Cleo sabia qual era a verdadeira razão pela qual queria ter um dos melhores centros infantis no seu complexo hoteleiro. Antes de ir à reunião, preparara-se procurando informação sobre Fletcher Bravo na Internet e descobrira que tinha uma filha. A sua fotografia estava sobre a secretária, numa moldura de prata. Tinha cabelo castanho e uns enormes olhos castanhos.

Fletcher viu para onde olhava.

– É Ashlyn, a minha filha. Fará cinco anos dentro de duas semanas.

– Está quase na idade de começar a primária. Antes de perceber já não precisará de um centro de educação infantil – indicou ela, com amabilidade.

– Sei que em A Minha Primeira Escola aceitam crianças até à primeira classe. Portanto, se abrir um centro aqui, Ashlyn estaria nele pelo menos ano e meio. Até mais se conseguirmos convencê-la a ampliar o programa até à terceira classe.

Cleo ficou sem palavras.

– Olivia, a ama de Ashlyn, esteve com ela desde que a sua mãe morreu e ela ficou a viver comigo. Mas, infelizmente, Olivia vai deixar-nos para voltar para Londres.

Cleo já tomara uma decisão e nada do que lhe dissesse ia mudá-la.

– Temos dois anos de lista de espera em A Minha Primeira Escola, mas verei o que posso fazer...

– Dois anos? Está claro que precisam de um centro maior. Está a perder negócio, está a perder possíveis clientes.

Tinha razão. Tinha aberto a sua escola há quatro anos e a procura já crescera muito mais do que antecipara, não conseguia manter o ritmo e lamentava-o. Mas não queria trabalhar mais nem fazer com que os seus empregados se enervassem.

– Abrir outro centro aqui para os seus empregados não ajudaria a melhorar a longa lista de espera que temos.

– Não, mas dará um novo modelo de crescimento à sua escola e escolherá o caminho que quiser.

«Como se atreve a pensar no tipo de empresa que queremos ser?», pensou Cleo.

– Não entende – repetiu, com cuidado.

– Acho que entendo.

– O que nos importa mais do que qualquer outra coisa é a qualidade do serviço que proporcionamos. A última coisa em que pensamos é em crescer por crescer. Aqui tem milhares de empregados. Estamos a falar de imensas crianças. Não sei como poderíamos ter capacidade...

– Tem razão. Entre este hotel e o High Serra temos mais de cinco mil empregados. E essas pessoas têm centenas de crianças de menos de cinco anos. Mas muitos já estão em centros com os que os pais estão contentes. Ao princípio, não poderíamos aceitar todos. Este seria um programa piloto, para ver como funciona. Se correr bem, ampliamo-lo.

– É uma experiência arriscada e muito cara.

Ele assentiu.

– Os empregados que usem o serviço terão de pagar uma quantia por isso. Será abaixo do custo real, o que o tornará muito atraente para eles. Estudei-o e acho que o investimento inicial do Grupo Bravo será recuperado em produtividade profissional a médio prazo.

Mas ela estava convencida de que o seu interesse pelo programa desapareceria assim que a sua filha fosse suficientemente crescida para ir para a escola.

– Fletcher, não sei como dizê-lo de outra forma para que entenda, mas é que já estou muito ocupada com...

– Espere – pediu.

Falou com suavidade, mas o seu tom era o de uma ordem. Estava farta de ser interrompida. Cada vez estava mais tensa. Sentia os músculos das suas costas cada vez mais tensos.

Mas fez o que lhe pedia.

Fletcher virou-se para o seu computador e começou a procurar algo no seu ecrã de último modelo com a ajuda do rato sem fios.

Cleo esperou e distraiu-se a observá-lo. Fixou-se nos seus ombros largos, no seu forte pescoço e bronzeado, o seu queixo quadrado, a sua boca tentadora e carnuda... Parou antes de perder a cabeça. Não sabia o que se passava.

Decidiu que era melhor olhar para a paisagem. Das janelas viam-se os edifícios de Las Vegas e, mais à frente, as montanhas desoladas e o deserto. Sobre a cidade, o céu de Janeiro estava coberto de nuvens cinzentas. Tentou pensar em algo agradável: Um arco-íris sobre uma catarata, a gargalhada das crianças, a sala de jogos do seu centro de A Minha Primeira Escola...

– Venha cá – chamou Fletcher.

A sua voz tirou-a dos seus pensamentos e fez com que desviasse o olhar novamente para os seus olhos cinzentos. Era um olhar que conseguia impressioná-la e não conseguiu evitar pensar no seu pai, Blake Bravo, que fora um assassino e sequestrador famoso. Costumavam dizer que tinha olhos de lobo.

– Desculpe?

– Pedi-lhe para se aproximar, quero mostrar-lhe algo – repetiu ele, com um meio sorriso sexy.

Não entendia porque queria mostrar-lhe alguma coisa, não fazia sentido. Fosse o que fosse que estivesse naquele grande ecrã não ia mudar a sua decisão. Parecia não perceber isso. Fletcher Bravo parecia não entender que só aceitara reunir-se com ele por cortesia.

Tentou pensar em como lhe dizer de outra forma que não estava interessada, mas ele interveio novamente e teve de aceder para não parecer impaciente ou mal-educada.

– Por favor – insistiu ele.

Estava claro que era bom. Demasiado bom. Sabia como convencer alguém.

Cleo levantou-se e deu a volta à mesa até chegar ao seu lado, com cuidado para não se aproximar demasiado.

– Muito bem. De que se trata? – perguntou. – Espantoso! – exclamou, ao ver ao ecrã.

– Esperava que dissesse isso.

Ficou cativada pela imagem. Aproximou-se mais. A imagem tridimensional podia ter sido uma representação quase perfeita dos seus sonhos. Era o seu centro ideal para A Minha Primeira Escola.

– Como o fez?

– Contratei um arquitecto. Dei-lhe algumas fontes sobre o desenvolvimento infantil e técnicas para a aprendizagem das crianças. Pedi-lhe que visitasse algum dos melhores centros do país, incluindo o seu e acho que fez o que devia.

Cleo estudou o plano. Havia salas grandes e espaçosas e áreas para jogos didácticos, psicomotricidade, zonas de descanso, jogos da linguagem, matemática e geometria...

– É excelente!

– Esperava que dissesse isso.

Esqueceu-se de que queria manter a distância e aproximou-se do ecrã, apoiando uma mão na secretária.

– Pergunto-me se...

– O que quiser.

Conseguia cheirar a sua loção de barbear. Era muito subtil, mas cara e elegante.

– Aquela zona aberta no centro.

– Quer que seja maior?

– Poderia ser?

– Veja.

Fletcher realçou a zona com ajuda do rato e dois toques depois a área tinha o dobro do tamanho.

– E aqui devia haver uma casa de banho – indicou ela, apontando para outra zona do ecrã.

Ele não conseguiu reprimir uma gargalhada.

– Não sou um perito com este programa, mas posso anotar as mudanças. E veja.

Com outro toque de rato ofereceu-lhe uma vista exterior do centro.

– Tem uma entrada independente, ao lado do hotel. Não comunica com o casino. E tem um jardim protegido e completamente fechado.

– Parece um parque privado – indicou ela, contente.

– A ideia é essa. E, além disso, é ecológico. A maior parte das plantas resistem à seca – explicou ele, enquanto continuava a mexer no rato para lhe mostrar outros aspectos. – A piscina...

– Teria piscina? – perguntou, sem conseguir esconder o seu entusiasmo.

Quisera ter uma desde o começo, mas era demasiado cara e agora não tinha espaço no centro onde estava.

– Pensei em organizar aulas de natação por grupos. Se calhar com os pais. Assim podia transmitir-lhes umas noções de segurança...

– Uma piscina seria óptima para o programa – acrescentou ela. – Oferecer-lhes-ia imensas possibilidades novas, sobretudo no seu desenvolvimento locomotor.

Ele não conseguiu evitar rir-se.

– Isso sem contar com todas as crianças de Las Vegas que precisam de uma piscina no Verão.

– Tem muita razão! – ela também se riu.

Olhou para ele e encontrou os seus olhos, que a esperavam. Os seus olhos cinzentos.

E houve um momento especial entre eles. O tempo parou. Ficou suspenso no escritório. Ela olhou para ele e ele para ela...

Em algum lugar da sua cabeça, Cleo ouviu o alarme que a avisava de um perigo iminente, mas era um som muito longínquo.

– Os seus olhos são da cor do âmbar – indicou ele, com suavidade. – Não, da cor do conhaque. Sim, da cor do conhaque...

«Levanta-te e chega-te para trás», disse para si. Mas não conseguiu mexer-se e sabia que estava demasiado perto dele.

– Isso é muito lisonjeador, mas...

– Não, só estou a expressar um facto – contradisse ele.

Mexeu-se apenas um milímetro. O suficiente para que o seu corpo ficasse ainda mais perto dela.

– Jante comigo – convidou-a.

Quase se derreteu. O seu convite apanhou-a de surpresa. O seu coração acelerou.

«Danny. Lembra-te de Danny», teve de se recordar.

– Não posso. Estou com alguém. Alguém muito especial.

– É só um jantar.

– Lamento muito, não posso.

– Olhos da cor do conhaque e cabelo castanho avermelhado... – replicou, enquanto lhe acariciava a face.

Ela não o parou e Fletcher traçou o seu queixo com o dedo. Conseguiu sentir em todo o seu corpo as respostas dos seus nervos a tremerem devido ao contacto. Era um gesto de intimidade inapropriada com alguém que acabava de conhecer. Reuniu a pouca vontade que lhe restava e, no fim, conseguiu falar.

– Afaste a mão, por favor.

Ele fê-lo, mas não desistiu.

– Um jantar. Só negócios.

– Não acredito.

«Levanta-te e afasta-te dele, tola», disse para si.

A pouco e pouco, o seu corpo obedeceu-lhe.

– Só negócios – insistiu ele. – Desfrutaremos de uma boa refeição e falaremos do novo centro de A Minha Primeira Escola que vai abrir no Impresario.

– Mas isso seria uma perda do seu tempo e do meu. Porque não vou abrir um novo centro de A Minha Primeira Escola aqui – declarou. – Fletcher, foi um prazer conhecê-lo – acrescentou, estendendo a sua mão.

– O prazer foi meu – respondeu ele, aceitando a mão estendida.

Cleo deu novamente a volta à secretária, pegou na sua mala e foi para a porta.

Fletcher ficou a observá-la, admirando o seu corpo curvilíneo de bailarina e o movimento suave do seu cabelo cor de canela. Assim que a porta se fechou, pegou no telefone para falar com a sua secretária.

– Marla, liga para Brian Klimas. E telefona para a joalharia Tiffany’s. Quero algo bonito. Um colar ou uma pulseira. E pede-lhes para o enviarem para a menina Cleopatra Bliss. O seu domicílio particular deve estar na nossa base de dados.

– Sim, tenho-o – respondeu Marla. – Quer que vá com um cartão?

Ficou a pensar um segundo.

– Sim. «Então, um almoço?».

– Assinado?

– Não. Ela saberá quem o envia. Passa-me a chamada de Klimas assim que conseguires falar com ele.

Desligou e esperou. Brian Klimas era um investigador privado. Um dos melhores. Muito discreto.

Pouco depois, o telefone tocou.

– Brian, quero mais informação sobre Cleo Bliss.

Esperou um segundo para dar tempo a Brian para abrir os seus arquivos.

– Muito bem. Cleopatra Bliss. Vinte e nove anos. Proprietária e directora do centro infantil A Minha Primeira Escola. Licenciada em Desenvolvimento Infantil na Universidade do Nevada em Las Vegas. Pagou os estudos a trabalhar de noite como bailarina de cabaré.

– É essa! Preciso de toda a informação que consigas descobrir sobre ela. Tem namorado. Descobre quem é, o que faz, há quanto tempo estão juntos e se é sério.

– Mais alguma coisa?

– Quando poderás dar-me os primeiros dados?

– Vou fazê-lo o mais depressa possível e telefono-te amanhã para te contar como está o assunto.

– Está bem.

Fletcher desligou e sentou-se novamente na poltrona.

O seu olhar ficou perdido na imagem do ecrã do computador.

Gostara do desenho. E muito. Na verdade, fora isso que lhe dera a sensação de que ia dizer que sim.

O desenho.

Estendeu a mão e pegou novamente no telefone.