Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.
Núñez de Balboa, 56
28001 Madrid
© 2003 Christine Rimmer
© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.
O regresso da princesa, n.º 1126 - Fevereiro 2014
Título original: The Reluctant Princess
Publicado originalmente por Silhouette® Books.
Publicado em português em 2008
Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.
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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.
I.S.B.N.: 978-84-687-5040-8
Editor responsável: Luis Pugni
Conversão ebook: MT Color & Diseño
A última coisa que Elli Thorson esperava encontrar, ao entrar na sua sala, naquela tarde ensolarada do mês de Maio, era um viking.
Pouco depois das cinco horas da tarde, Elli estacionara o pequeno BMW metalizado atrás do seu edifício e tirara dois sacos cheios de comida do porta-bagagem. Pedira ao empregado da loja que pusesse tudo em sacos de papel, porque não tinha nenhum. O mais provável era que tudo tivesse sido diferente se tivesse escolhido os de plástico.
Se fossem de plástico, tê-los-ia agarrado pelas asas e nada teria toldado a sua visão. Teria visto o viking antes de fechar a porta e talvez tivesse podido sair a correr.
Mas subira as escadas que levavam ao seu apartamento com os sacos nos braços, a mala pendurada no antebraço esquerdo e a chave preparada na mão direita. Talvez, se não tivesse tido a chave preparada, se tivesse deixado os sacos no chão para a procurar e tivesse aberto a porta antes de agarrar nos sacos...
Mas não fora assim e o curso de uma vida podia ver-se alterado por coisas pequenas.
Elli apoiara o saco que trazia na mão direita na porta. Assim, enfiara a chave na fechadura de cima. Depois, dobrara os joelhos e virara-se um pouco para enfiar a chave na fechadura de baixo e abri-la. Depois, empurrara a porta para dentro, agarrando com força nos sacos.
O hall do seu apartamento, que separava a cozinha da sala, era muito pequeno. Elli tropeçara no tapete. Dera um pontapé à porta e fechara-a. A pequena mesa da cozinha ficava logo ali e pousara os sacos.
– Já está! – fizera um floreado, deixara as chaves e a mala ao lado dos sacos e fora para a sala.
Fora então que o vira.
Ali estava. Um homem vestido com calças pretas, botas pretas e uma t-shirt preta que lhe marcava os peitorais. Era loiro e tinha cicatrizes e o rosto duro. E era grande. Muito, muito grande!
Elli não era pequena, mas aquele homem era muito mais alto do que ela. E tinha o corpo forte e musculado. Só o seu tamanho já a teria assustado, mesmo que não estivesse no meio da sua sala, sem que ninguém o tivesse convidado, de um modo inesperado e pouco agradável.
Elli ficou tão surpreendida ao vê-lo, que recuou e gritou.
O homem, que olhava fixamente para ela, com os seus olhos azuis acinzentados penetrantes, levou o punho direito ao coração e disse, com gravidade:
– Princesa Elli, o seu pai, o rei Osrik da Gullandria, manda-lhe saudações.
Foi então, quando lhe chamou princesa, que Elli se deu conta de que era um viking e não um vulgar ladrão que tivesse apanhado em flagrante. Era um viking, porque era o que eram, basicamente, os habitantes da Gullandria.
Gullandria. Apesar de Elli ter nascido lá, o lugar sempre lhe parecera saído de um conto de fadas, um conto que recordava com muita dificuldade do que lhe contara a sua mãe.
Mas Gullandria era real. Uma ilha em forma de coração, situada entre as ilhas Shetland e a Noruega, no Mar da Noruega, onde continuavam a dominar os lendários escandinavos.
A sua mãe, Ingrid Freyasdahl, casara-se aos dezoito anos com Osrik Thorson, que, pouco depois, se tornara rei daquele país. Cinco anos mais tarde, Ingrid abandonara o rei para sempre, levando as suas três filhas de volta para a Califórnia, de onde ela própria procedia. Naquela época, fora um escândalo e a história continuava a aparecer de vez em quando nalguma revista. Nessas revistas, a sua mãe aparecia sempre como a Rainha Fugida dos Gullandrianos.
O coração de Elli pulsava com força. O que lhe interessava que o seu pai tivesse enviado aquele homem? Não recordava o seu pai. Só sabia o que a sua mãe lhe contara e os escândalos absurdos que lera em certas ocasiões. Osrik Thorson parecia-lhe tão pouco real como o país onde reinava.
– Como entrou aqui? – perguntou Elli.
O intruso abriu a mão para a cumprimentar. Na palma, tinha tatuado um raio dourado e azul.
– Hauk FitzWyborn, guerreiro do rei, fiel ao seu pai, Sua Majestade, o rei Osrik, da Casa de Thor. E estou ao seu serviço, princesa.
Ela resistiu ao impulso de se afastar daquela mão enorme, mas limitou-se a gozar com ele.
– Qual foi a minha pergunta? Porque não acho que lhe tenha perguntado isso.
O homem parecia um tanto aflito.
– Pareceu-me mais sensato, Alteza, esperá-la cá dentro.
– Mais sensato do que bater à porta, como qualquer ser humano normal e civilizado?
Como resposta, ele assentiu levemente com aquela cabeça loira.
– Aqui, nos Estados Unidos, o que fez chama-se invasão de propriedade privada. Parece-lhe sensato o seu comportamento?
Daquela vez, o homem encolheu os ombros.
Elli tentou pensar com rapidez. Sentia-se ameaçada, apesar de saber que aquele intruso enorme não representava nenhum perigo.
Olhou para ele de esguelha.
– Disse que estava ao meu serviço.
– Sou um fiel servidor do seu pai, o que significa que também a sirvo.
– Óptimo! Pois comece por sair da minha casa.
Ele cruzou aqueles braços musculados, não parecia disposto a ir a lado nenhum.
– O seu pai deseja a sua presença na corte. Deseja vê-la, falar consigo. Tem... assuntos importantes para falar consigo.
Aquilo parecia tão insultuoso a Elli que corou.
– O meu pai não fez nenhum esforço ao longo dos anos para entrar em contacto comigo. O que pode ser tão importante para que queira ver-me agora?
– Permita-me que a leve até ele. Sua Majestade explicar-lhe-á tudo.
– Ouça! Ouça com atenção! – pediu-lhe Elli, utilizando o mesmo tom que empregava com os seus alunos obstinados de cinco anos. – Quero que volte para Gullandria e que diga ao meu pai que, se quiser falar comigo, ele que me telefone. Quando souber o que está a acontecer, decidirei se quero vê-lo ou não.
O viking franziu o sobrolho. Estava confuso, mas não o suficiente para desistir e partir.
– Faça a mala, princesa – disse. – Leve só o necessário, o resto ser-lhe-á proporcionado em Isenhalla.
Isenhalla. A parede de gelo. O palácio dos reis de Gullandria...
Que estranho! Um viking na sua sala. Um viking que pensava que ia levá-la ao palácio do seu pai.
– Acho que não me ouviu bem. Disse-lhe que não irei a lado nenhum consigo e que está na minha casa sem o meu consentimento. Quero que parta.
– Faça as malas, por favor.
– Disse-lhe que quero que se vá embora – repetiu ela, com mais firmeza do que da primeira vez.
– Fá-lo-ei quando tiver feito as malas. Iremos juntos.
Fez-se silêncio. Elli olhou para o viking e devolveu-lhe o olhar sem pestanejar. Do exterior, ouviam-se os sons de todos os dias: os pássaros a cantar, uma buzina, uma sirena ao longe.
Aqueles sons fizeram com que Elli sentisse vontade de chorar. Embora fossem na rua, eram sons que, de repente, lhe davam a sensação de ter perdido.
Aquilo fê-la pensar nos irmãos que nunca conhecera. Tivera dois, Kylan e Valbrand. Kylan morrera quando ainda era um menino, mas Valbrand crescera na Gullandria com o seu pai, o rei. Ao longo dos anos, as suas irmãs e ela tinham falado de como seria conhecer o seu irmão um dia.
Algo que já não seria possível.
Valbrand também morrera. Como Kylan.
Seria aquela a razão do que estava a acontecer naquele momento? O seu pai já não tinha mais filhos e talvez, por isso, de repente as suas filhas fossem valiosas, quisessem-no ou não.
Sim. Elli supunha que aquilo fazia sentido ou que faria, se aquele viking tivesse sido realmente enviado pelo seu pai.
Talvez fosse uma armadilha. Talvez aquele homem tivesse sido enviado por um inimigo do seu pai. Ou talvez fosse um simples criminoso, como Elli pensara de início, que queria raptá-la...
Como poderia saber? Parecia-lhe tudo tão confuso...
O que era evidente era que o tal Hauk FitzWyborn não aceitaria um não como resposta e tinha a intenção de a levar a algum sítio.
A única coisa que podia fazer era fugir. Virou-se para a porta e agarrou na maçaneta.
Mas não conseguiu abri-la.
O homem mexeu-se com uma velocidade surpreendente para alguém tão grande e agarrou-a. Ela gritou... uma vez. E depois uma mão enorme tapou-lhe a boca e o nariz.
Naquela mão havia um lenço, um lenço que tinha um cheiro forte e amargo.
– Perdoe-me, Alteza – murmurou o viking.
E tudo se tornou escuro para Elli.