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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2012 Teresa Carpenter

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Nos braços do xerife, n.º 1422 - Avril 2014

Título original: The Sheriff’s Doorstep Baby

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Bianca e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5121-4

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Prólogo

 

– Papá, papá!

– Mamã, estou aqui!

Michelle Ross, de dez anos de idade, fez uma pirueta, com as madeixas loiras e a saia cor-de-rosa a esvoaçar à sua volta, enquanto as amigas iam cumprimentar os pais que tinham acabado de chegar ao acampamento.

Pela primeira vez na sua vida, sentia-se bonita. Adorava o acampamento, embora o pai não tivesse ido visitá-la. Dissera-lhe que iria no dia dos pais, mas prometia sempre muitas coisas e não as cumpria. Para ele, o dever era o mais importante.

Tivera de se portar bem durante junho e julho, o que fora um aborrecimento, mas em agosto fora para o acampamento e partilhava uma cabana com Elle e Amanda. Faziam tudo juntas e adorava todas as atividades, até mesmo as aulas de etiqueta. Uma princesa tinha de saber como se comportar.

– Michelle, apresento-te os meus pais – dando a mão a um homem de cabelo escuro, Elle apresentou o pai, orgulhosamente. – Papá, mamã, Michelle é a minha companheira na cabana. Ela é a Bela, do filme A Bela e o Monstro, e Amanda é Rapunzel. Vamos dançar no concurso e Michelle vai cantar.

– Olá, Michelle! – cumprimentou o pai de Elle, apertando-lhe a mão. – És uma menina muito bonita. Entendo que tenhas escolhido essa personagem, Bela.

Rindo-se, timidamente, Michelle fez uma pequena reverência.

– É um prazer conhecer-vos.

– Que boas maneiras – elogiou a mãe da amiga, esboçando um sorriso amável.

– O prazer é nosso – o pai de Elle acariciou-lhe a trança ruiva. – Estamos desejosos de vos ver a dançar. E de ouvir Michelle a cantar.

– O concurso será depois do jantar. Vamos, quero mostrar-vos a cabana, a piscina e o caramanchão.

– E a tua amiga?

– Michelle está à espera do pai. Não estás?

– Sim... – assentiu, tentando pôr uma nota de esperança na voz. – Pode chegar a qualquer momento.

A mãe de Elle franziu o sobrolho.

– Não gosto de te deixar aqui sozinha.

– Não acontecerá nada.

– Penso que devias vir connosco.

– Sim, claro – Elle deu-lhe a mão. – Vem connosco. O teu pai pode procurar-nos, quando chegar.

– Não sei – Michelle mordeu o lábio inferior. Devia esperar ali. Estava desejosa de o ver para lhe mostrar o acampamento e contar-lhe tudo o que aprendera, e como gostava de estar ali. Mais do que qualquer outra coisa, queria que a ouvisse a cantar, para o impressionar e convencer de que devia voltar no ano seguinte. Mas a verdade era que, certamente, não apareceria, pois o dever era sempre o mais importante para ele.

No entanto, o pai da amiga dissera que era bonita e era tão amável...

– Bom, posso ir com vocês, até ele chegar.

– Fantástico! – gritou Elle.

Mostraram-lhes a cabana e a piscina, e quando chegaram ao salão de eventos, a que chamavam «castelo», Michelle olhou à sua volta, com esperança de que o pai estivesse lá. Mas não havia rasto dele, de modo que se preparou para o espetáculo, fingindo não estar nervosa enquanto o procurava entre o público.

– Vamos – Amanda deu-lhe a mão, para a conduzir por entre as caixas. – É a nossa vez.

Michelle procurou entre as pessoas, pela última vez, mas não havia maneira de negar a verdade. Outra promessa quebrada. O pai não estaria presente para a ouvir a cantar.

Suspirando de desilusão, seguiu as amigas para o palco.

Capítulo 1

 

Com as mãos na cintura, o xerife Nate Connor olhava para a beleza que dormia no seu sofá. Umas meias às riscas, vermelhas e cor-de-rosa, apareciam por baixo da manta, e um cabelo loiro caía em cascata por cima dela.

Praguejando, Nate guardou a arma regulamentar, que tirara da capa assim que vira a porta aberta. Não esperava vir a precisar dela, mas um soldado estava sempre alerta. Mesmo na vila tranquila de River Run, onde havia apenas cinco mil habitantes.

Só a sorte e a habilidade tinham evitado que desse um tiro no pé, quando tropeçara na capa de uma guitarra que alguém deixara no corredor.

Ia tirar as algemas, quando descobriu que a mulher que dormia no sofá não era uma completa desconhecida. Vira fotografias suficientes na secretária do seu predecessor, para reconhecer aquele cabelo. Estava bem claro que era a sua nova senhoria.

E tinham-se visto brevemente no funeral do pai dela, há alguns meses.

Sim, sabia quem era a «bela adormecida». A questão era saber porque estava ali.

Porque estaria ali e porque pensava que podia deitar-se tranquilamente no sofá?

Ele tinha os seus próprios planos para aquele sofá. Aquele devia ser o seu primeiro dia de folga, em mais de um mês, mas a tempestade mudara tudo. Um camião tivera um acidente na estrada, bloqueando o trânsito em ambos os sentidos. Quando tinham conseguido desviá-lo, estavam no meio de uma tempestade de neve e ele abandonara a esperança de desfrutar de um dia de folga.

Uma rajada de vento fez com que os ramos de uma árvore batessem contra as janelas.

Depois de doze horas de trabalho, planeara voltar para casa, aquecer uma refeição congelada no micro-ondas e ver o jogo de futebol que gravara.

Contudo, esses planos teriam de esperar, por causa da nova «convidada».

Ao ouvir um ronco suave vindo do sofá, Nate franziu o sobrolho. Aquilo era irritante. Não porque o som o incomodava, mas porque não o incomodava. Parecia-lhe ser algo muito... Simpático.

Contudo, não havia espaço na sua vida para coisas «simpáticas», nem tinha paciência para loiras que entravam em sua casa e estragavam o seu dia de folga.

Nos últimos sete meses, não soubera nada de Michelle Ross e, de repente, aparecia no seu sofá. A casa era dela, sim, mas tinha um contrato de arrendamento e ainda restavam quatro meses. E isso era algo que deviam esclarecer de imediato.

– Menina Ross – chamou, mas não obteve resposta. – Menina Ross... – Nate aproximou-se do sofá e voltou a chamá-la, elevando o tom de voz.

Ela mexeu-se um pouco, suspirando, enquanto se embrulhava ainda mais na manta. Finalmente, Nate inclinou-se para lhe tocar no ombro.

– Vá lá, acorda.

Michelle Ross murmurou algo ininteligível e, por instinto, Nate inclinou-se um pouco mais. Contudo, de repente, ela virou-se e os seus lábios encontraram-se...

E, então, ela abriu os olhos. Uns olhos lindos, que traziam o verde da primavera para aquele longo inverno. E aquele pensamento distraiu-o durante o tempo suficiente para Michelle Ross o abraçar pelo pescoço.

As perguntas sobre quem e porquê, desapareceram com uma onda repentina de sensações. Os lábios dela eram quentes, suaves e sabiam muito bem. Aquilo era como devia ser um lar. Um beijo de boas-vindas devia ter aquele sabor.

Nate passou os dedos pelo cabelo dela. Depois do dia que tivera, deixou que o calor do beijo o reconfortasse...

Michelle sonhava com um homem montado num cavalo branco, a atravessar o bosque. Alto e forte, tinha uma espada e procurava uma bela princesa, disposto a salvá-la do dragão.

Gostava da segurança que o cavaleiro representava, mas sabia que teria de pagar um preço. Só os tontos e os otimistas acreditavam no amor, de modo que isso a deixava de fora. Ela não era tola e desistira do otimismo há muitos anos. Preferia controlar o seu próprio destino e esperar que tudo corresse bem.

Contudo, o cavaleiro estava em cima dela, a abraçá-la, a acariciar-lhe o cabelo, com os ombros largos a bloquear o resto do mundo. Cheirava a homem, a couro e a bosque. Estava a beijá-la e era-lhe indiferente qual era o preço. Sentir-se segura nunca fora mais agradável.

De modo que se arqueou para o beijar, abrindo os lábios, recebendo-o e desfrutando do calor do homem que lhe oferecia tanta segurança.

Porém, ele deslizou a mão até à cintura dela e o toque de uns dedos frios na pele nua fez com que Michelle saísse da sua letargia.

Abriu os olhos por completo e apercebeu-se de que aquilo não era um sonho. Não havia príncipe, nem o cavaleiro dos sonhos infantis. Era um homem de carne e osso que estava a beijá-la.

Assustada, pôs as duas mãos no peito masculino.

– Afaste-se de mim agora mesmo!

Ele soltou-a, surpreendido.

– Devo estar mais cansado do que pensava – Nate passou as mãos pelo rosto.

Michelle viu olheiras escuras naqueles olhos cinzentos, o cabelo cortado ao estilo militar, castanho e com reflexos acobreados e loiros. A paixão corara as faces dele, mas o uniforme caqui, tão parecido com o do pai, fez com que se levantasse com um salto, contendo um gemido de dor quando apoiou o peso do corpo no tornozelo que torcera há algumas horas.

– Quem é o senhor e o que está a fazer em minha casa? – perguntou. – Para além de me assediar, claro.

– Não quererá dizer, minha casa? – Nate voltou a pôr as mãos na cintura. – E foi a menina que me beijou.

Michelle arqueou uma sobrancelha.

– Que bonito truque, para beijar alguém que estava a dormir. Herdei esta casa do meu pai, para o caso de não saber.

– E eu arrendei-a.

Aquilo surpreendeu-a.

– O meu pai nunca me disse que a tinha arrendado.

– Ben arrendou-me um quarto quando cheguei à vila e fiquei aqui quando ele foi viver com a amiga, há quase um ano.

– O meu pai tinha uma amiga? – perguntou Michelle. Que ela soubesse, o pai nunca tivera namorada. – Ah, já me lembro de ti – afirmou, tratando-o por tu pela primeira vez. – Vi-te no funeral do meu pai.

Normalmente, lembrava-se dos nomes, contudo, naquele momento, não era capaz. Talvez porque o funeral fora um momento muito complicado para ela.

– Gabe?

– Nate – corrigiu ele. – Nate Connor.

– Bom, Nate, parece que ficaste com o trabalho do meu pai e com a casa dele.

Ele ficou muito sério.

– O que queres dizer com isso?

– Nada de mal. Apenas estou a dizer que esta é a minha casa.

Voltara para River Run para vender a propriedade, antes de se mudar para Los Angeles e continuar a sua carreira de compositora.

Escapara daquela vila quando acabara o liceu. Estava desejosa de o fazer e nada mudara desde essa altura. Depois da morte do pai, a vila tornara-se ainda menos interessante do que quando era criança.

E não estava ali para ser expulsa da sua própria casa.

– É a tua casa, mas o teu pai arrendou-ma e tenho um contrato que continua vigente – Nate cruzou os braços. – Não falavas muito com o teu pai, pois não?

Não gostava do tom de censura do novo xerife de River Run.

– Não sabes nada sobre a relação que tinha com o meu pai – replicou Michelle, dando um passo em frente.

Magoara-se num tornozelo enquanto percorria o caminho coberto de neve, desde o carro até à porta, e a dor fez com que perdesse o equilíbrio...

– Estás bem? – perguntou Nate, segurando-a pela cintura.

– Sim, estou bem – Michelle tentou afastar-se, mas ele ajudou-a a sentar-se no sofá. – Torci um tornozelo.

– Queres que ponha gelo?

– Não, estou bem. Há quanto tempo conhecias o meu pai?

– Há três anos – respondeu, enquanto tirava o casaco e o pendurava no cabide.

Michelle esperou, mas ele não disse mais nada. Fantástico! O pai também era assim. Era um homem sério e severo, eternamente preocupado com o trabalho e decidido a roubar toda a alegria à vida. Embora, aparentemente, tivesse uma vida que ela não conhecia.

– Não é muito tempo.

– Comparado com vinte e cinco anos, não é. Mas sempre falei muito com ele e trabalhava com ele. E tu deixaste que um estranho organizasse o funeral dele.

Michelle observou-o, perplexa. Fora o pior momento da sua vida. Sim, devia ter voltado para casa, para se encarregar de tudo, mas estava a tentar salvar o seu trabalho, a tentar ordenar a sua vida. E fora um fracasso.

No fim, só servira para adiar o inevitável.

– Agradeci-te pela tua ajuda – observou, tentando esboçar um sorriso.

Aprendera desde muito jovem que uma rapariga bonita tinha muito poder sobre os homens e usava a sua aparência como qualquer outro talento.

Contudo, estava demasiado cansada e irritada com ele para se incomodar. Ou talvez estivesse demasiado inquieta, depois de sentir o sabor dos lábios dele.

Porque a beijara?

Pensava que estava a beijar o cavaleiro dos seus sonhos. Fora uma coincidência.

– Onde te alojas? – perguntou ele.

Michelle franziu o sobrolho.

– O que queres dizer? Esta é a minha casa.

– Segundo o contrato de arrendamento, é minha.

– Não podes expulsar-me da minha própria casa – queixou-se Michelle, assustada. Não tinha dinheiro para pagar um hotel...

– Este distintivo diz que posso – contradisse Nate, apontando para o peito.

Ela apontou para o pé ferido.

– Não poderia ir-me embora, mesmo que quisesse. Não posso conduzir assim.

Nate tirou umas chaves do bolso das calças.

– Posso levar-te onde quiseres.

Os ramos da árvore bateram na janela, naquele momento, recordando-lhes que estavam no meio de uma tempestade.

– Não tenciono ir-me embora – afirmou ela, desafiante.

No silêncio que se seguiu a tal afirmação, pareceu-lhe ouvir os queixumes tristes de um gato.

– Vais, sim – declarou Nate.

– Antes de continuares com a discussão, podes dar de comer ao gato? O miar dele está a enlouquecer-me.

– Que gato? Não tenho nenhum gato.

Michelle pestanejou, surpreendida.

– Então, há um gato a tentar entrar em casa. Não ouves?

Aquilo podia ser interessante. O xerife ajudaria o gatinho perdido ou deixá-lo-ia no meio da tempestade, como tentava fazer com ela?

Nate inclinou a cabeça para apurar o ouvido, mas só lhe chegava o som do vento. Então, de repente, ouviu um barulho...

– Não é um gato – a sua expressão tornou-se dura e decidida, enquanto se dirigia para a porta. – É um...

O vento abafou as suas últimas palavras, mas parecia que tinha dito a palavra «bebé». Incrédula, Michelle foi a coxear para a porta e deu um grito quando Nate apareceu com uma cadeirinha de bebé.

O som que ouvira era o choro de um bebé!

– Meu Deus, apressa-te. E se não o tivesse ouvido a chorar? – Michelle seguiu Nate até ao sofá, onde depositou a cadeirinha. – Pobrezinho, está a tremer. Olha, tem a carinha vermelha.

– Hipotermia – afirmou Nate. – Tira-lhe a roupa e embrulha-o numa manta. Vou acender a lareira.

Ela pegou nele ao colo e tirou a mantinha azul que estava molhada. Como podiam tê-lo deixado na rua, numa noite como aquela?

Com os olhos fechados, o bebé não parava de tremer. Um gorro branco cobria-lhe a cabeça, mas não tinha meias e a roupa não oferecia proteção contra o frio.

Michelle despiu a camisa de flanela que usava, para o limpar com ela, antes de o tapar com a manta.

– Pobrezinho, tem as mãozinhas geladas – murmurou, contente por ver a lareira acesa. – Como é que alguém pode abandonar um bebé, numa noite como esta? É desumano.

– É, sim – Nate aproximou-se, olhando para ela com um ar sério. – Espero que tenhas um bom advogado.