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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2012 Barbara Hannay

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

O segredo de Jude, n.º 1437 - Julho 2014

Título original: Falling for Mr. Mysterious

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Bianca e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5360-7

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Epílogo

Volta

Capítulo 1

 

Quando o comboio entrou na estação de Roma Street, Emily verificou mais uma vez se tinha mensagens no telefone. Continuava sem notícias de Alex e começava a preocupar-se, não só porque estava há vinte e quatro horas sem saber dele, mas também pela sua própria situação, já que não tinha ideia do que ia fazer se ele não se encontrasse em Brisbane.

Desesperada, dirigira-se a toda a pressa para a cidade. Precisava de ver Alex, de estar com ele e de desabafar. De todos os membros da família, Alex era o que ia entendê-la melhor e Emily necessitava tanto de sair de Wandabilla que se metera no comboio esperando em vão que respondesse à sua chamada antes de chegar ao seu destino.

Os passageiros já estavam a levantar-se dos seus lugares e a recolher os seus pertences.

Tinham, claro está, um lugar para onde se dirigir.

Emily não.

Se Alex estivesse de viagem, teria de procurar um hotel. Não pensava dar meia-volta e regressar a Wandabilla tendo em conta que todas as pessoas sabiam o que lhe tinha acontecido. Embora começasse a duvidar do acertado da sua fuga para Brisbane, enrolou a revista que tentara ler sem sucesso durante o trajeto, meteu-a na mala e pegou na mala de viagem.

Era uma tarde de agosto inusitadamente fria e o vento cortante de oeste percorria a plataforma sem piedade. Tiritando, Emily fechou o casaco, levantou a gola e dirigiu-se com a mala para o refúgio da passagem subterrânea.

E quis a sorte que, uma vez lá, enquanto abria caminho entre os passageiros, ouvisse o toque suave que escolhera para as mensagens.

Tirou o telefone da mala e leu a mensagem:

 

Eh, lamento não poder ver-te e mais ainda saber do @#$%$# do teu namorado. Oxalá pudesse estar ao teu lado neste momento, mas estou em Frankfurt numa feira do livro. Por favor, fica em minha casa todo o tempo que quiseres e usa o meu quarto. Falei com Jude e parece-lhe bem, portanto, estará à tua espera. Um abraço, Alex.

 

Emily teve de ler duas vezes a mensagem, petrificada no túnel enquanto as pessoas a contornavam com irritação. Precisava de o assimilar e de equilibrar o desajuste entre o alívio por saber que Alex estava bem e a deceção por saber que se encontrava tão longe.

Superada a reação inicial, chegou a maré de perguntas. Quem era Jude? Desde quando vivia com Alex? E parecer-lhe-ia realmente bem, como o seu primo tinha sugerido, que ela aparecesse de repente à porta da casa dele?

Parecia-lhe incómodo impor a sua presença a um estranho e, por um instante, perguntou-se se devia continuar costa acima até à casa da sua avó. A avó Silver era tão atenciosa e cordial como Alex, mas era daquelas pessoas que preferem ver o mundo cor-de-rosa, de modo que Emily não costumava preocupá-la com os seus problemas.

Além disso, o tal Jude estava à espera dela e, se fosse como Alex, que certamente seria tendo em conta os seus anteriores companheiros de casa, estaria a preparar a receção.

Jude devia estar a cozinhar algo suculento para o jantar, portanto, seria muito grosseiro da sua parte não aparecer. Emily dirigiu-se para a garrafeira mais próxima e comprou uma boa garrafa de vinho tinto e outra de branco, dado que desconhecia os gostos de Jude, e foi até à paragem de táxis. Mas, conforme se dirigia para o West End, a sua fuga para a cidade começou a parecer-lhe mais estúpida do que nunca.

Estivera tão concentrada em si mesma, tão desesperada por fugir dos olhares indiscretos, que só pensara em Alex como um refúgio seguro. Imaginara-se a chorar no ombro dele, sentada com ele no terraço, a beber vinho, enquanto lhe relatava o lamentável desastre com Michael.

Alex tinha uma capacidade maravilhosa de ouvir, muito melhor do que a sua mãe. Nunca lhe saía um «Eu avisei-te», mas indicava-lhe no que errara. E o melhor de tudo era que, depois de lhe secar as lágrimas, fazia-a sempre rir.

E naquele momento necessitava de gargalhadas, mas não podia esperar compaixão, vinho e ânimo do novo companheiro de casa de Alex. Disse a si mesma que a única coisa com que podia contar era com a tolerância amistosa de um desconhecido e um pouco de privacidade para acalmar os seus sentimentos.

De qualquer forma, tranquilizava-a pensar que não teria de enfrentar a típica tolice de «rapaz conhece rapariga». Já tivera problemas suficientes com homens para o resto da sua vida e estava certa de que qualquer um que vivesse com Alex seria homossexual e inofensivo durante a convivência.

 

 

Jude Marlowe encontrava-se a escrever ao computador quando tocou a campainha da porta. Estava a meio de uma ideia, uma das poucas decentes que tivera naquele dia, e tentava traduzi-la em palavras, portanto, continuou a escrever para que a interrupção não o fizesse perder as frases valiosas que noutro caso perderia para sempre.

A campainha voltou a tocar, daquela vez com um ligeiro tom de desespero. Felizmente, Jude acabou de escrever, guardou o ficheiro e levantou-se da mesa.

Certamente, tratava-se da prima de Alex. Jude tinha recebido uma mensagem muito confusa que dizia que ela necessitava de alojamento por algumas noites, portanto, escondera corajosamente a sua relutância a socializar e tinha assegurado a Alex que a ajudaria. Pelos vistos, tivera problemas com o namorado e estava com o coração partido.

Pensou que se tratava de outro caso perdido de Alex, consciente de que ele também pertencia àquele grupo.

No corredor, pestanejou na escuridão e perguntou-se se já era realmente tão tarde antes de se preocupar com o seu aspeto. Usava umas calças de ganga gastas e uma camisola velha de futebol com a gola manchada e os cotovelos gastos. Não era precisamente o mais adequado para receber a convidada de Alex, mas já era tarde para o remediar porque estaria impaciente.

Jude acendeu a luz ao mesmo tempo que abria a porta e um halo quente e dourado envolveu a figura que estava a congelar à porta. Ao vê-la, ficou sem ar.

Tinha diante de si uma rapariga espampanante de casaco branco e botas altas. O cabelo castanho-avermelhado caía-lhe suavemente sobre as lapelas, o que evocou a Jude uma imagem de fogo sobre a neve. Tinha o rosto delicado, mas cheio de personalidade.

– Deves ser Jude, suponho... – indagou ela, inclinando a cabeça para um lado e sorrindo cautelosa.

– Sim – de algum modo, conseguiu recompor-se. – E tu deves ser Emily.

– Sim. Emily Silver, a prima de Alex – estendeu-lhe a mão. – Como estás, Jude? Alex disse-me que te tinha avisado da minha chegada.

– Sim, avisou-me – mas Jude apercebeu-se de que não o tinha avisado como era devido. Pensava limitar-se a ser amável como anfitrião e a deixá-la sarar o coração do modo que achasse conveniente. De facto, essa continuava a ser a sua intenção, mas estava a dar-se conta de que ia custar-lhe ignorá-la.

– Foste muito amável ao receber-me tendo-te avisado com tão pouca antecedência – apertou-lhe a mão e a experiência foi ridiculamente eletrizante.

– És bem-vinda – respondeu Jude rapidamente para disfarçar o seu atordoamento. Em seguida, reparou na mala. – Eu ajudo-te com isso.

– Ah, obrigada... Também trouxe vinho – com um sorriso deslumbrante, levantou um saco de papel. – Uma garrafa de cada.

Houve uma pequena confusão à porta quando ele avançou para agarrar na mala enquanto ela entrava. Os seus corpos roçaram-se fugazmente. Bolas! Jude não podia acreditar no modo como estava a reagir. Tivera muitas namoradas, mas o seu corpo comportava-se como se tivesse vivido isolado numa ilha deserta e Emily fosse a primeira mulher que via em duas décadas.

– É linda e está muito quentinho aqui – disse ela.

Jude assentiu e acrescentou, resmungando:

– O quarto de Alex é no corredor, como deves lembrar-te. É o primeiro à esquerda.

À porta do quarto principal, Emily parou e sorriu-lhe por cima do ombro.

– Ena, nunca tinha ficado neste quarto! Vou ter uma vista incrível do rio da cama de Alex.

– Sem dúvida – Jude deixou a mala à entrada, zangado pelas fantasias que lhe provocava a simples menção da palavra «cama». – Instala-te. Eu... Eu estarei na cozinha.

Na cozinha, contemplou desconsolado o conteúdo do frigorífico, enquanto se qualificava com diferentes aceções de «imbecil».

Era muito bonita, sem dúvida. Mas a sua beleza não contava, dada a situação. Emily tinha ido para a cidade para fugir do namorado estúpido e ele tinha os seus próprios problemas. Estava ali porque tinha de fazer exames médicos que o tinham aterrorizado.

Ao ver Emily à porta, esquecera tudo. Mas acabava de cair a pique na realidade e tinha recuperado o bom senso.

Emily ia hospedar-se na casa e tinha prometido a Alex que cuidaria dela. Mas limitar-se-ia a pequenos detalhes e a palavras amáveis de vez em quando. Nada mais do que o que requeresse a mais superficial das hospitalidades.

Agradeceu aquela determinação. Devia mostrar um interesse estritamente superficial pela sua convidada, o que era o mais conveniente tendo em conta tudo o que tinha por diante.

Sentada na beira da cama de Alex, Emily perguntou-se se não teria cometido um tremendo erro.

Estava a impor a sua presença ao companheiro de Alex e apercebera-se de que não estava precisamente encantado. Tinha de tranquilizar Jude e dizer-lhe que não pensava ficar. O problema era que também não estava preparada para voltar para Wandabilla, portanto, teria de procurar outro alojamento na manhã seguinte.

Enquanto isso... Tentaria incomodar Jude o mínimo possível.

Era muito diferente de Alex, tinha-o notado logo. Fisicamente, eram opostos. O seu primo também tinha o cabelo castanho-avermelhado, era magro e possuía um certo ar intelectual, enquanto Jude era alto e moreno, de costas largas e com a constituição de um atleta. Mas não demasiado musculado ou definido, num agradável meio-termo.

Óbvio, Alex sempre tivera bom gosto com os homens. Depois de tirar o casaco e sem se incomodar em desfazer a mala, Emily encaminhou-se para a cozinha e descobriu outra diferença entre os homens: Jude não sabia cozinhar.

Não havia ali o mínimo indício de atividade. De facto, Jude estava no meio da cozinha, a olhar para a despensa e a coçar a cabeça. Ao vê-la, encolheu os ombros.

– Receio que nunca pense em comida quando estou perdido no trabalho.

– Por favor, não te preocupes comigo, eu gosto de me cuidar sozinha – a última coisa que queria era incomodar, mas a curiosidade induziu-a a perguntar: – O que fazes?

Jude franziu o sobrolho e disse-lhe com relutância:

– Sou escritor, portanto, trabalho em casa, mas, no que respeita à comida, sou um desastre. Às vezes, aqueço uma lata de sopa para o jantar, mas, desde que estou aqui no West End, peço quase sempre comida.

Emily apercebeu-se de que ia sentir a falta dos pratos deliciosos que Alex lhe preparava.

– Parece-me bem comida já pronta, a sério. Sei que há bons restaurantes por aqui. Se quiseres, vou comprar alguma coisa para os dois.

Sorriu para demonstrar ao companheiro de Alex que queria integrar-se sem causar problemas. Mas os sorrisos não pareciam ter efeito sobre aquele homem, que desviou rapidamente o olhar.

– Vou contigo – disse-lhe. – Prometi a Alex que cuidaria de ti.

Emily esteve prestes a dizer-lhe que não se incomodasse, mas não quis começar mal.

– Está bem, vou buscar o casaco e o cachecol.

Quando voltaram a encontrar-se no corredor, Emily viu que Jude mudara de roupa à velocidade de um raio e que usava umas calças de ganga menos gastas, umas botas e um pulôver preto.

Meu Deus, não era nada mau... Alex tinha sorte. Noutras circunstâncias, em que não estivesse farta dos homens e Jude Marlowe não fosse homossexual, nem tão distante, poderia ter reparado nele. Na verdade, naquele momento ter-se-ia sentido mais feliz se ele fosse menos atraente e tão simpático e amável como Alex.

Mas não era o caso e teria de secar as suas lágrimas sozinha. E aliviava-a estar na companhia de um homem que não ia tentar seduzi-la.

Uma vez na rua, o vento ruborizou-lhes as faces, mas Emily estava quente com o seu casaco e o ar frio era tonificante. Fazia uma noite clara e fria de inverno.

Emily começou a sentir-se um pouco melhor. Como é óbvio, ainda sentia um aperto no peito quando pensava no seu ex-namorado, Michael, e um sentimento de culpa revolvia-lhe o estômago ao pensar na esposa e nos filhos que ele se tinha esquecido de mencionar. Mas tinha-a ajudado sair de Wandabilla. Pelo menos, em Brisbane ninguém a conhecia e não tinha de enfrentar os rumores e olhares curiosos.

Os restaurantes estavam cheios de gente que falava, comia, se ria e se divertia, e, cada vez que Emily passava pela porta de algum deles, ouvia a música e sentia um aroma esplêndido e apetitoso.

Parou diante de um restaurante indiano.

– Gostas? – perguntou Jude.

– Eu adoraria pedir caril. Em Wandabilla, só há um restaurante chinês e eu gosto muito de comida indiana.

– Então, que seja indiana – disse ele, enquanto entrava. – Muito fácil.

– Vais alterar os teus hábitos para me fazeres um favor ou és sempre tão fácil com a comida?

– Quando se trata de comida, sou facílimo.

Pediram dois tipos de caril, um de carne e outro de vegetais, arroz e pão naan.

– E samosas – disse Jude. – De entrada.

De volta a casa, entrou de repente num minimercado e saiu instantes depois com um ramo enorme de narcisos amarelos.

– Oh... – Emily reprimiu a sua surpresa quando lhe ofereceu as flores. – E ao que se deve isto?

– Disseram-me que necessitas que te animem.

– Oh... – era o tipo de coisas que Alex costumava fazer. Talvez tivesse dado instruções ao seu companheiro de casa. – É muito atencioso da tua parte – disse ela, sentindo-se agradecida e um pouco emocionada. Impulsivamente, pôs-se nas pontas dos pés e beijou Jude na face. Para sua surpresa, o rubor tingiu-lhe o pescoço. Temendo envergonhá-lo, mudou rapidamente de assunto. – Compramos também alguma coisa para o pequeno-almoço?

– Claro. Desculpa, ultimamente ando um pouco despistado.

Por um instante, Emily detetou algo mais nos olhos cinzentos de Jude, um brilho de algo que podia ser angústia ou medo. Desapareceu rapidamente, mas fê-la perguntar-se se ele estivera distraído por algo mais do que o seu trabalho.

Não podia perguntar-lho, portanto, concentrou a atenção nas compras. Na caixa, Jude insistiu em pagar, rejeitando os seus protestos.

Conforme se apressavam a regressar a casa, um ligeiro desconforto instalou-se entre eles.

Na cozinha, Jude colocou as embalagens na mesa e tirou talheres e pratos.

– Onde costumas comer? – perguntou Emily, sem se surpreender ao ver que ele voltava a ser áspero. Tinha chegado à conclusão que o detalhe das flores fora um arrebatamento e que doravante só veria má cara.

Quase esperava que Jude lhe dissesse que preferia comer sozinho no seu quarto, mas respondeu:

– Aqui está bem, não te parece?

– É óbvio – Emily tentou não parecer demasiado surpreendida ou lisonjeada, mas não pôde negar que preferia a companhia dele a que a deixasse sozinha com os seus pensamentos tristes. Sorriu-lhe cautelosa. – Apetece-te vinho? Preferes tinto ou branco?

– Pois... Não bebo álcool. Deixei-o. Temporariamente.