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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2017 Andrea Laurence

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Pequenos favores, n.º 1790 - junho 2019

Título original: The Baby Favor

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-011-0

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Epílogo

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Capítulo 1

 

 

 

 

 

Em geral, os telefonemas que chegavam depois da meia-noite traziam sempre más notícias.

Uma hora antes, quando Scarlet Spencer vira o nome do ex-marido no ecrã do telemóvel, sentira uma estranha sensação. Algumas chamadas tardias costumavam conter desabafos emocionais, fruto das noites de farra e álcool. Esperara que fosse isso, que ele talvez tivesse desistido do divórcio, mas desiludira-se. E, sem sequer saber porquê, eram duas da manhã e ela estava a chegar ao Centro Médico Sinai, em Los Angeles.

Tudo o que ela sabia era que Mason ligara e lhe pedira para ir lá ter com ele. Apesar do que se estava a passar entre os dois, Scarlet não negaria aquele pedido. Ficara impressionada com o tom de voz de Mason. Ao longo de nove anos, ele fora a sua rocha e, durante os altos e baixos do casamento, sempre lhe dera a mão. Scarlet pressentia que, naquela noite, ela iria retribuir-lhe o favor.

Enquanto entrava no hospital, preparava-se para revê-lo. Não o via desde que ele a deixara, há dois meses, e não sabia como iria reagir. Depois de nove anos juntos, ele já não lhe pertencia. E, a ela, já não lhe cabia cuidar dele ou mimá-lo. Ela precisava de lembrar-se disso ao confortá-lo.

Antes de chegar aos elevadores, viu Mason sentado num banco, no átrio de entrada. Na primeira vez que o encontrara, ficara imediatamente encantada com a beleza do jovem surfista de pele dourada, olhos azuis como o mar e cabelos castanhos revoltos. Quando ele sorrira, ela derretera-se com as suas covinhas no rosto. Mesmo após tanto tempo, ela sentia o coração acelerar só de vê-lo.

Mas, naquela noite, ele não sorria. Estava no banco, a segurar a cabeça.

Parecia abatido. Durante todos aqueles anos, Scarlet vira-o poucas vezes assim. Ele era, quase sempre, o confiante presidente da «Spencer Surf Shops», o homem que nunca fracassava. Que tomava sempre a melhor decisão. Sexy, ousado e seguro de si mesmo. Raramente deixava cair a máscara. Houve uma vez, quando ele soubera que não poderia dar-lhe um filho. E outra, quando ele não pudera evitar que o juiz devolvesse o filho que tinham adotado à mãe biológica. A terceira vez fora quando ele saíra de casa, abandonando Scarlet e desistindo do casamento.

Scarlet não imaginava o que teria acontecido naquela noite para que ele parecesse tão desesperado.

– Mason? – chamou ela, aproximando-se.

Ele sobressaltou-se e olhou para ela com os olhos mais vermelhos do que azuis. Levantou-se rapidamente, tentando disfarçar a tensão. Demorou algum tempo até conseguir falar, como se temesse abrir a boca e despejar uma torrente incontrolável de emoções.

– O que aconteceu? Foi o Jay?

Scarlet sabia que há meses que o irmão mais novo de Mason, Jay, estava a lutar contra um melanoma em estágio avançado. A última notícia que tinham tido dele fora devastadora: o cancro alastrara-se a órgãos vitais e os médicos tinham decidido suspender o tratamento. Não seria surpresa saber que Jay, por fim, perdera a batalha. Mas algo no rosto de Mason levou-a a pensar que a situação era ainda pior.

– Não – disse Mason por fim. – É a Rachel.

– A mulher do Jay? – Scarlet sentiu o peito apertado. A cunhada fora uma verdadeira irmã para ela. Como filha única, Scarlet adorava poder conversar com Rachel e partilhar com ela as pequenas batalhas dos seus respetivos casamentos. Ela preocupara-se ao pensar que, depois da morte de Jay, Rachel teria de criar a filha sozinha. Luna tinha apenas 1 ano e não iria lembrar-se do pai. – O que aconteceu?

– Ela morreu.

Scarlet tapou a boca para conter um soluço de dor. Não podia ser verdade. O mundo não podia ser tão cruel. A pequena Luna já iria perder o pai. Perder também a mãe…

– Como…? – Ela mal conseguia falar. Como podia aquilo ter acontecido?

– Foi um estúpido acidente. Ela estava a descer as escadas, a carregar uma cesta de roupa para lavar. Imagino que estivesse distraída, preocupada com a doença do Jay. Tropeçou, rebolou escadas abaixo e caiu de tal modo que partiu o pescoço instantaneamente. Foi encontrada pela empregada.

Scarlet não sabia o que dizer. De tudo o que lhe passara pela cabeça, desde que recebera o telefonema, a última coisa que lhe ocorreria seria a morte de Rachel. Era uma tremenda tragédia, que se somava à doença de Jay.

– O Jay já sabe? – murmurou ela.

– Sim. Foi ele quem me ligou a dar a notícia – disse Mason.

Scarlet fechou os olhos e abanou a cabeça. As coisas não deveriam acontecer assim. Ela estava a tentar reorganizar o caos em que a sua vida se transformara, mas Jay e Rachel… Ela ficou muito triste e os seus olhos encheram-se de lágrimas. No mesmo instante, sentiu Mason a abraçá-la. Ela não resistiu. Pelo contrário: aninhou-se no seu peito e deixou que as lágrimas lhe molhassem a camisa. Tentou não pensar em como era bom estar novamente nos seus braços. No quanto sentira a falta do seu cheiro, do seu calor. Ele estava apenas a confortá-la e, talvez, a confortar-se a si mesmo. Nada mais.

Este pensamento atingiu Scarlet profundamente, amenizando a sua tristeza e lembrando-a de que deveria manter-se emocionalmente distante. Ela fungou discretamente e afastou-se de Mason. Quando os dois se encararam, havia nos olhos dele uma dor não relacionada ao acidente. Era como se ele se tivesse magoado por ela o ter soltado tão bruscamente. Mas, por mais que ela quisesse ficar nos seus braços a noite inteira, isso não a ajudaria a esquecê-lo. Já era difícil estarem no mesmo lugar, sabendo que ele já não gostava dela.

Apesar de tudo, Scarlet não podia deixar de se perguntar por que ele a chamara. Estavam a divorciar-se e mal se tinham falado durante os últimos dois meses, depois de ele ter-se mudado da casa onde moravam, na praia de Malibu. Mason tinha família na cidade. Amigos. Deveria ter alguém que ele preferisse que estivesse com ele, em vez dela. Afinal, fora ele que a deixara. Que se afastara dela, da vida que tinham juntos…

Mason pigarreou e secou os olhos.

– Desculpa-me por te ter arrastado até aqui a meio da noite, mas o Jay pediu para falar connosco.

Scarlet franziu a testa.

– Connosco?

– Ele está à nossa espera na ala de oncologia.

Como sempre, Mason nem lhe deu tempo para argumentar, dirigindo-se de imediato para os elevadores. Scarlet foi atrás dele, mas ficaram os dois em silêncio até chegarem ao terceiro andar. A meio do corredor, eles entraram num quarto em cuja porta havia uma placa com o nome «J. Spencer».

Scarlet susteve a respiração. Não via Jay há algum tempo e não sabia como iria reagir ao vê-lo em tal estado de fragilidade. De início, uma cortina só deixava ver as pernas cobertas, mas Mason afastou-a.

O homem deitado na cama era a sombra do cunhado forte que ela conhecera. Perdera mais de 20 kg, que faziam muita falta em alguém do seu tamanho. Os seus espessos cabelos castanhos tinham-se tornado ralos. A sua pele tinha um tom esverdeado. Mas ele ainda tinha algo do Jay que ela conhecera: estava ativo, bem-humorado, descontraído, fazendo contraponto ao perfecionismo de Mason.

– Olha quem ela é! – disse Jay com a voz rouca, ao vê-la a entrar no quarto. Scarlet aproximou-se e segurou a mão que ele lhe estendia. – Estás linda como sempre, miúda.

Scarlet mordeu o lábio para não chorar.

– Não por muito tempo, se continuares a interromper o meu sono da beleza – respondeu ela. Jay preferia manter a leveza mesmo nos momentos mais difíceis, e ela faria o possível para acompanhá-lo.

– Eu sei. – Por um instante, o olhar dele pareceu distante. – Mas não havia outra maneira. Mason contou-te o que aconteceu?

Scarlet assentiu e sentou-se na cadeira ao lado da cama.

– Lamento tanto, Jay.

Ele abanou a cabeça.

– Não sintas por mim. Não vou consumir-me sem ela. Felizmente, em breve iremos reunir-nos. Eu chamei-vos aqui porque estou preocupado com o que acontecerá com a Luna.

Scarlet ficou envergonhada. Concentrara-se no trauma da perda e não pensara no facto de que Luna iria ficar órfã em breve. Não admirava que Jay estivesse acordado a meio da noite, preocupado com o futuro da filha.

– Nós queríamos que vocês a criassem. Por algum motivo que os advogados explicaram, mas que eu nunca entendi, a documentação oficial menciona apenas o nome de Mason como tutor legal da Luna. Mas é claro que queríamos que ela ficasse com os dois. Eu sei o quanto vocês queriam um filho. Nunca me ocorreu que aconteceria desta maneira, mas espero que estejam abertos à possibilidade de adotarem a Luna e de criá-la como se fosse vossa.

– Ela será sempre a vossa filha, Jay – disse Mason.

Jay abanou a cabeça.

– Ela não se vai lembrar de nós, Mason. Tu e a Scarlet serão os pais que ela vai conhecer, e eu aceito isso. Quando ela for mais velha, vocês poderão falar-lhe sobre nós e sobre o quanto a adorávamos. Espero que aceitem esta oportunidade e criem a Luna com o mesmo amor e zelo com que eu e a Rachel o faríamos.

Ao entender as implicações do que Jay dizia, Scarlet sentiu o coração a latejar na garganta. Não conseguia emitir um único som. Só conseguia ficar sentada, a ouvir os dois irmãos a discutirem sobre a sua vida como se nada tivesse mudado entre ela e Mason. Mason ainda não contara a Jay que eles estavam a divorciar-se. Jay falava sobre o futuro como se esperasse que eles fossem criar a filha dele juntos. O que iriam fazer?

Mason segurou-lhe a mão e apertou-a, como se quisesse silenciar as suas preocupações. Scarlet olhou para ele e viu que ele percebera o seu pânico.

– Claro que aceitamos – disse Mason.

– Promete – disse Jay.

Mason engoliu em seco e fechou os olhos.

– Eu juro, Jay. Nada faltará a Luna. Ela terá todo o amor que nós pudermos dar-lhe.

Por fim, Jay pareceu satisfeito. Recostou-se na cama, relaxou e respirou com dificuldade.

– Obrigado. Sabem, quando uma pessoa faz um testamento, nunca imagina que realmente vai precisar dele. Aliás, pensa que não vai. Amanhã pedirei aos meus advogados que preparem a documentação para te nomear tutor legal e guardião de Luna, Mason. Eu não posso cuidar dela, enquanto estou numa cama de hospital. Portanto, vocês serão tudo o que ela tem. Quando eu me for, espero que queiram adotá-la.

– Claro – disse Mason, apertando a mão de Scarlet com mais força. – Não precisas de te preocupar com nada.

 

 

– Não contaste ao teu irmão que estamos a divorciar-nos?

Mason parou abruptamente e voltou-se para encarar a sua futura ex-esposa. Tinham saído do hospital e dirigiam-se para o parque de estacionamento, quando ela, por fim, decidiu confrontá-lo. Ele sentia-se aliviado por ela ter esperado até não haver ninguém por perto para ouvir a verdade que ele tanto quisera esconder do irmão.

Mason tentara não reagir ao vê-la pela primeira vez, desde que saíra de casa, mas nem a tristeza conseguira conter a sua reação a Scarlet. E, mesmo depois de ter passado a última meia hora com ela, na pior das hipóteses, quando os seus olhos se encontravam, o seu coração falhava. O tempo e a distância não tinham enfraquecido o elo entre os dois, e ele duvidava que houvesse algo capaz de rompê-lo.

Scarlet era a mulher mais linda que ele já conhecera. Los Angeles estava cheia de gente bonita, mas, para ele, ninguém se comparava a ela. Scarlet tinha longos cachos castanhos a caírem pelas costas, e também doces olhos castanhos e um sorriso fascinante que lhe atraíra a atenção, desde o instante em que se tinham conhecido. Mas aquilo era só o começo. Como ele depressa descobrira, Scarlet também possuía outros atrativos. Ela era criativa, inteligente, sensível e uma mãe maravilhosa. Pelo menos, durante o curto período em que exercera esse papel.

– Não, eu não lhe disse. Não contei nada sobre o divórcio a ninguém da família.

– Porquê?

– Porquê? – repetiu ele, passando os dedos por entre os cabelos. – Porque o meu irmão passou os últimos meses a lutar contra um cancro terminal. Os meus pais estão arrasados e mal conseguem aguentar-se. Eu não queria sobrecarregá-los. Na verdade, em comparação, o fim do nosso casamento é quase irrelevante, não achas? Estão todos demasiado angustiados para se aperceberem de que não te veem há semanas.

– Claro que não há comparação, mas não é algo irrelevante. Pelo facto de não teres dito nada, o Jay está a pensar que vamos criar Luna numa família feliz. – Os olhos de Scarlet refletiam o mesmo pânico que Mason sentira ao compreender o que a morte de Rachel significaria para ele.

– Eu sei – admitiu Mason. – Mas como poderia ter dito «não» a um homem nas condições em que ele está? – Ele lembrava-se de ter concordado quando, logo após o nascimento de Luna, Jay lhe pedira para pôr o seu nome no testamento. Claro que cuidaria da sobrinha em caso de necessidade, mas não esperava que isso realmente acontecesse, nem que fosse no pior momento da sua vida.

O advogado enviara-lhe a minuta do acordo de divórcio. Assim que ele e Scarlet concordassem com os termos propostos, só precisariam de assinar e encaminhar a papelada para o juiz. Ele abandonara a casa que os dois tinham comprado em Malibu e mudara-se para uma casa em Hollywood Hills. O lugar era ideal para um homem sozinho, mas não para um pai solteiro. Em estilo moderno, a construção fora projetada em vidro, madeira e metais cromados, e nada tinha de adequado para uma criança que dava os primeiros passos.

Mas a casa em que ele morara com Scarlet era perfeita. E já tinha um quarto de criança decorado. Scarlet mantivera-o como estava no dia em que tinham levado Evan, o menino que tinham adotado, de volta para a mãe biológica. A residência também tinha um andar totalmente plano que, há mais de um ano, fora adaptado para não oferecer riscos às crianças.

E também tinha Scarlet, a mãe de quem Luna tanto iria precisar. Era ali que Luna deveria ficar. Mason teria ficado feliz em ter filhos com Scarlet, mas a ideia de ser pai solteiro da sobrinha apavorava-o. Não sabia nada sobre bebés e tinha a certeza de que Jay não deixaria a filha com ele, se soubesse que já não estava com Scarlet.

O problema era convencê-la a concordar com o seu plano. Depois do projeto de adoção dos dois ter fracassado, Scarlet jurara que nunca mais passaria por aquilo. Pedir-lhe que cuidasse de Luna, ainda que temporariamente, iria reabrir a ferida? Ele não sabia. Só sabia que fizera uma promessa ao irmão e que faria tudo para cumpri-la.

– Eu sei que não tenho o direito de pedir-te nada e tu tens o direito de não aceitar. Mas tu estavas naquele quarto de hospital, Scarlet. Tu ouviste o Jay a pedir-me, a pedir-nos a nós, que cuidássemos da Luna. Ele já estava preocupado em deixar Rachel sozinha e, agora, só lhe resta deixar a filha sozinha. Eu sei que a nossa situação é complicada, mas eu não poderia ter dito «não». Preciso da tua ajuda.

Scarlet cruzou os braços, o que ele aprendera a interpretar, após alguns anos, como um gesto defensivo. Ela sentia-se desconfortável com a situação.

– O que estás a pedir-me, Mason? Queres que voltemos a ficar juntos só para não teres de fazer isto sozinho?

– Não, claro que não. – Mas o que queria ele? Não tivera tempo para avaliar o que tudo aquilo significava. Momentos cruciais nas primeiras horas da manhã, combinados com o stress e a falta de sono, eram difíceis de digerir. Naquele instante, ele não conseguia pensar a longo prazo, só no próximo passo. O mais importante era garantir a segurança de Luna e a tranquilidade de Jay. – Por enquanto, só te peço dois favores. Primeiro, vamos manter o divórcio em segredo até que… – Mason não conseguiu terminar a frase. Ainda não aceitara o facto de que o irmão tinha poucas semanas de vida. Um cancro de pele deveria pressupôr a remoção de um sinal maligno e um sermão sobre a necessidade de usar protetor solar. Não se espera que ele destrua um pai supostamente saudável, de trinta e poucos anos.

Scarlet observava-o silenciosamente, sem demonstrar o que pensava. Ela sempre fora difícil de ler. O que se passava na sua cabeça era sempre um mistério para Mason. Até hoje, ele não sabia se ela o culpava por não poderem ter filhos. A culpa era dele, mas ela olharia para ele e vislumbrara um futuro estéril por causa dele? Mason não sabia. Também não sabia se ela o julgava responsável por tudo o que acontecera com Evan. Esforçara-se ao máximo para mantê-lo? Contratara os melhores advogados que o dinheiro podia pagar, para manter o filho em casa? Mason achava que sim, mas não tinha sido suficiente.

Ele só sabia como se sentira. E, no que dizia respeito a Scarlet, ele considerara-se um fracasso. Mason não era o tipo de homem que costumava fracassar. Transformara a pequena loja de equipamentos de surf que abrira em Venice Beach, quando entrara para a faculdade, numa cadeia de lojas espalhadas nas praias mais badaladas da Califórnia, da Flórida e do Havai. A «Spencer Surf Shops» alcançara mais sucesso do que ele esperara. Mas nada disso importara, quando ele vira a expressão desesperada de Scarlet, no dia em que tinham levado Evan. Ele fracassara em relação ao sonho que ela mais desejara realizar na vida.

– Muito bem. Qual é o segundo favor? – perguntou Scarlet.

– Preciso de voltar para casa. – Mason ergueu a mão para calar o inevitável protesto. – Não para sempre. Não penses que estou a tentar convencer-te a aceitares-me de volta para ter uma ama permanente. Quero dar a impressão de que o futuro da Luna connosco está garantido, para dar tranquilidade ao Jay. Todos pensam que ainda estamos juntos.

Scarlet encolheu-se.

– Tu deixaste-me e, agora, esperas que eu te aceite de volta?

Mason tentou não se sentir magoado com a resposta. Fora ele quem saíra de casa, mas não gostava da ideia de que ela já se tivesse habituado a viver sem ele. Tinham ficado juntos durante 9 anos.

– Sim, mas tu sabes que eu não te pediria isto, se tivesse outra opção. Será apenas pelo tempo de vida que resta ao Jay. E dar-me-á algum tempo para preparar a casa para receber um bebé. A nossa casa já tem um quarto de criança pronto.

Scarlet ficou ainda mais pálida.

– O quarto do Evan? Tu queres instalar a Luna no quarto do Evan?

Mason contraiu o queixo. Nunca comentara a maneira como Scarlet protegia o espaço de Evan. Não era saudável manter o quarto como se fosse o santuário de uma criança que nunca iria voltar, mas discutir o assunto com ela parecera-lhe uma crueldade.

– É um quarto sem uso – argumentou Mason. Evan não voltaria a usá-lo. Era apenas um quarto com um berço, um trocador, alguns objetos e brinquedos, que seriam úteis naquela situação. – Eu não estou a dizer que a Luna ficará lá para sempre.

Scarlet pareceu contrariada, mas não discutiu. Agiu como se estivesse a avaliar a proposta e, por fim, descruzou os braços.

– Está bem, podes ir para casa e levar a Luna. Mas… – sublinhou ela. – Eu não vou servir de ama, Mason. Dentro de duas semanas, tenho a inauguração de uma nova galeria em São Francisco, já para não falar da entrega de uma grande tela encomendada por um hotel em Maui. O que aconteceu entre nós atrasou o meu trabalho, mas tenho de terminá-lo.

– É justo – disse Mason, cautelosamente. – O que precisas para fazeres com que tudo dê certo?

– Aceito manter as aparências, pelo bem do Jay, mas tu tens de arranjar uma ama para cuidar da Luna. Eu não vou… não posso… entrar no quarto do Evan. E não gosto da ideia de Luna ocupá-lo, mas sei que isso não é razoável. Podes usá-lo, mas não esperes ver-me lá dentro, a cantar canções para a Luna ou a embalá-la. Não me peças isso, por favor.

Mason viu os olhos dela encherem-se de lágrimas. Há mais de um ano que o juiz devolvera Evan à mãe biológica, mas, para ela, parecia ter sido na véspera.

Ele esperava que Scarlet fosse gostar de passar algum tempo com a sobrinha, mas não era o caso. Ela parecia repelir a ideia. Mason ficou surpreendido, mas não insistiu. Se ela concordara com os dois favores mais importantes, ele faria com que aquilo desse certo, ainda que ela não participasse.

– Eu compreendo. Obrigado por fazeres isso. Amanhã, vou tratar de arranjar uma ama.

– Onde está a Luna?

– Com os meus pais. – A presença da menina tirava o foco da dor que sentiam. Luna continuava a ser o bebé alegre que sempre tinha sido. Para ela, nada mudara, e isso era uma distração para os avós. – Provavelmente, ficarão com ela até ao funeral da Rachel.

Scarlet assentiu e tirou uma chave da bolsa.

– Esta é a chave de casa. Depois que de te teres ido embora, troquei a fechadura. Avisa-me, quando estiveres a chegar. Lembra-te de que a casa já não é tua.

Ela virou-se e caminhou na direção do carro. Mason viu-a ir-se embora, sentindo uma pontada de deceção no peito. Não conseguira livrar-se daquela sensação durante os últimos anos de casamento, enquanto tentavam iniciar uma família. Pensara que ela iria desaparecer depois de se separarem, mas a dor só piorara.

Scarlet concordara com os seus pedidos, mas a contragosto. Ela amava a sobrinha, mas resistia à ideia de cuidar dela. Mason não tivera tempo para avaliar o que Luna poderia representar para a relação dos dois, mas ficara evidente que qualquer ideia que ele tivesse seria fantasiosa. Scarlet não queria ter nada a ver com Luna. Queria ter o seu próprio filho. Assim que se divorciassem, ela não teria motivos para fingir que formavam uma família. Raios, fora por isto que ele a deixara: para não impedir que ela realizasse o seu sonho.

Isso queria dizer que, quando Jay morresse, ele iria criar sozinho a sobrinha.

Mason sentiu-se dominar pelo pânico, como na primeira vez em que surfara uma enorme onda, deslizara dentro dela e fora derrubado pela força da enorme parede de água. Sabendo o que o esperava, só lhe restava preparar-se para o embate inevitável.