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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

© 2000 Susan W. Macias. Todos os direitos reservados.
A NOIVA SECRETA DO XEQUE, N.º 1265 - Março 2011
Título original: The Sheik’s Secret Bride
Publicado originalmente por Silhouette® Books.
Publicado em portugués em 2011

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.
Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.
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I.S.B.N.: 978-84-671-9716-7
Editor responsável: Luis Pugni

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A noiva secreta do xeque

Susan Mallery

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Capítulo 1

– Olha, mãe!

Liana Archer deixou o livro que estava a ler e olhou pela janela do avião. Viu um céu limpo, um sol implacável e cerca de uma dúzia de homens a cavalo que se aproximavam.

– Não te preocupes, Bethany – disse à sua filha. – São apenas...

Liana parou ao perceber o que acabara de ver. Homens a cavalo.

Há alguns minutos, quando o piloto anunciara que demorariam um pouco a desembarcar porque tinha surgido um problema no terminal do aeroporto, Liana presumira que seria uma dificuldade técnica ou que a aterragem de algum avião se adiantara. Não imaginava que estavam prestes a sofrer um assalto por parte de uma tropa de nativos.

Sem saber o que fazer, abraçou a sua filha de nove anos e falou com uma tranquilidade que não sentia.

– Não acontecerá nada.

Vários dos passageiros perceberam a presença dos cavaleiros. O tom das vozes subiu e algumas mulheres começaram a gritar. Liana ficou tão nervosa que teve medo de desmaiar. Tinham-lhe assegurado que El Bahar era o país mais pacífico do Oriente e que o seu rei era um homem justo e honrado que gozava do favor do povo, mas já não tinha assim tanta certeza. Se tivesse pensado que podiam correr perigo, nunca teria exposto a sua filha nem se teria exposto a semelhante situação.

Nesse instante, os cavaleiros formaram um círculo à volta do avião. Alguns desmontaram e abordaram o avião pela parte da frente.

Bethany e a sua mãe encolheram-se nos seus lugares. Liana pensou que, pelo menos, tinham a sorte de se encontrarem na parte de trás. Virou a cabeça para localizar a saída da fila e perguntou-se se conseguiria abri-la e escapar dissimuladamente.

– Mamã? – perguntou a menina, num tom trémulo. – Vamos morrer?

Liana deu-lhe um beijo na face e afastou-lhe uma madeixa de cabelo loiro.

– É claro que não. De certeza que há uma explicação perfeitamente razoável para tudo isto. Vais ver que...

Vários homens altos e morenos, vestidos com túnicas, entraram na sua zona do avião. Pareciam estar à procura de alguém.

– O que querem? – perguntou um homem que se levantou do seu lugar. – Há mulheres e crianças... Se procuram reféns, deixem-nas sair primeiro.

Os nativos ignoraram-no. Um deles aproximou-se de uma jovem e obrigou-a a levantar-se. Trocaram algumas palavras que Liana não conseguiu entender e, depois, levaram a jovem.

Os passageiros perderam a calma. Ouviram-se gritos e até a própria Liana começou a tremer. Não entendia o que se passava. Em parte, aceitara o emprego em El Bahar porque adorava os romances onde as protagonistas se apaixonavam por um xeque, mas o perigo não lhe pareceu tão apaixonante na vida real como na ficção.

– Silêncio, por favor!

A voz bastou para acalmar a histeria colectiva. Liana levantou a cabeça e viu um homem mais alto do que os outros e bastante atraente ao seu modo. Puxou a capa para trás, portanto pôde ver a pistola que tinha no cinto. Paradoxalmente, a visão da arma tranquilizou-a. Se iam disparar, pelo menos teriam uma morte rápida.

– Lamento que vos tenhamos assustado – continuou o desconhecido. – Alguns dos meus homens mais jovens realizaram a sua missão com excesso de entusiasmo e não cumpriram as minhas ordens, que consistiam em informar os passageiros antes de agir.

O homem inclinou a cabeça por um momento. Depois, voltou a endireitar-se e sorriu de tal forma que Liana achou que era o ser mais belo à face da Terra.

– Sou Malik Khan, príncipe herdeiro de El Bahar. Permitam-me dar-vos as boas-vindas ao meu país... O que acabaram de ver não era uma tentativa de sequestro e as vossas vidas não correm perigo. Uma jovem americana que trabalha no palácio pediu que o seu noivo a tirasse do avião. Pelos vistos, pensou que sair com um homem a cavalo seria muito romântico...

O príncipe Malik encostou-se na parte esquerda do avião e acrescentou:

– Como podem ver, satisfizemos os desejos da jovem.

– Tu vês alguma coisa? – sussurrou Bethany à sua mãe.

Liana forçou o pescoço para ver pelas janelas do lado contrário. A jovem em questão estava nos braços de um dos cavaleiros e, a julgar pelo beijo apaixonado que partilhavam, parecia muito feliz.

– Estão a beijar-se – informou à sua filha. – Suponho que é o que aquele homem disse... Uma simples brincadeira que correu mal.

Bethany sorriu.

– Estava tão assustada que pensei que o coração me sairia pela boca – disse a menina.

Liana retribuiu o sorriso.

– Eu também, querida. Pensa no que aconteceria se cuspíssemos os nossos corações e começassem a saltar pelo chão do avião...

Bethany desatou a rir-se.

– Vejo que já estás melhor, jovenzinha. Espero que não tenhas medo de El Bahar.

Liliana e Bethany viraram-se ao mesmo tempo. O príncipe aproximou-se dos seus lugares.

– Oh, não, não tenho medo – afirmou Bethany. – Eu gostaria de ver o seu país, mas não vão cortar-me a cabeça...

O príncipe sorriu.

– Não, a tua cabeça está bem onde está. Não te preocupes, prometo-te que em El Bahar estarás a salvo... Na verdade, se alguém te incomodar, podes dizer-lhe que conheces pessoalmente o príncipe herdeiro – declarou.

A pequena fixou os seus olhos azuis nele.

– És um príncipe a sério? Como na Cinderela?

– Exactamente igual.

Malik virou-se então para Liana. Ela tinha intenção de sorrir e afirmar que também estava mais tranquila, mas ficou sem fala quando os seus olhares se encontraram.

Os olhos do príncipe eram da cor da meia-noite. Apesar de ser uma das mulheres com mais aprumo que conhecia, Liana sentiu-se imediatamente atraída por ele. Teve o desejo inexplicável de se levantar e de lhe rogar que a acariciasse e a beijasse ali mesmo, à frente de todos os passageiros. Foi como se lhe tivessem feito um feitiço de amor.

No entanto, o príncipe limitou-se a sorrir e voltou para a parte dianteira do avião sem dizer mais nada.

– Ena, é muito bonito... – disse Bethany. – Nunca tinha conhecido um príncipe a sério. E também é muito alto... Parece-te bonito, mãe?

– Sim, claro que sim – admitiu.

O príncipe e os seus homens desembarcaram e o avião começou a dirigir-se para o terminal do aeroporto. Minutos depois, os passageiros começaram a sair. Enquanto Liana pegava nos seus pertences, deu uma olhadela à capa do romance que tinha estado a ler e pensou que o mal de amor da sua protagonista feminina devia ser contagioso. Durante alguns segundos, sentira-se atraída por um desconhecido alto, moreno e completamente fora do seu alcance.

Desembarcaram e ficaram na fila para irem buscar as malas. Enquanto esperavam, disse-se que a duração da viagem, o medo ou o excesso de café deviam tê-la afectado mais do que deviam. Era a única explicação que lhe ocorria.

Quarenta minutos mais tarde, Liana e Bethany estavam prestes a passar pelo controlo de passaportes. Liana já se convencera de que dera demasiada importância à sua reacção com o príncipe. Afinal de contas, aparecera quando ela ainda estava sob os efeitos do medo de sofrer um sequestro ou alguma coisa pior. Além disso, as suas emoções não podiam ser mais absurdas, os homens como ele não se sentiam atraídos por mulheres como ela.

– Se fizer o favor de me seguir, senhora...

Liana assustou-se ao ouvir a voz do homem baixo que naquele momento se inclinava para alcançar uma das suas malas.

– Pode saber-se o que está a fazer? – perguntou-lhe, desanimada. – Não toque nisso.

A alfândega de El Bahar era uma sala grande com muitas ventoinhas de tecto e aparelhos de ar condicionado. Embora tudo estivesse cheio de passageiros, as filas avançavam depressa e os empregados pareciam eficazes. Liana distinguiu a presença de vários polícias e já estava prestes a chamar algum quando o homem baixo fez uma reverência em modo de desculpa.

– Só tenciono levar-vos para uma fila com menos gente – explicou, cruzando as mãos sobre o peito. – Como vem na companhia de uma menina, disseram-me para fazer o possível para vos facilitar o processo. Por favor, acompanhem-me.

O homem apontou para um polícia solitário que se encontrava no extremo oposto da sala. Liana olhou para ele e perguntou-se porque não havia passageiros no posto daquele polícia, mas então viu o letreiro que estava sobre a sua cabeça. Era a entrada reservada aos residentes de El Bahar e aos dignitários estrangeiros.

– Eu adoraria encontrar-me nesse caso, mas receio que não sou residente nem dignitária de nenhum país – declarou. – No entanto, obrigada pela oferta.

O homem, de barba curta, cerrou os dentes. Vestia um fato muito elegante.

– Por favor, senhora – insistiu. – Garanto-lhe que não haverá nenhum problema.

Um polícia aproximou-se de Liana, puxou-a pelo cotovelo e afirmou:

– Não se preocupe, senhora. Só queremos agilizar os trâmites.

– Bom, se insistem...

Liana deixou que os dois homens se encarregassem da sua bagagem e as acompanhassem ao controlo de passaportes.

– Não queres que nos levem para uma fila mais rápida? – perguntou Bethany, que carregava uma mochila pequena. – Preferes esperar com os outros?

– Está bem, está bem... Só queria ser precavida – justificou-se.

Pararam no controlo e esperaram que verificassem os seus documentos. Liana deu uma olhadela à sua volta e surpreendeu-se ao observar que ninguém se aproximava daquela janela, apesar de ser a única sem fila.

– Não entendo – disse, olhando para o homem baixo.– Porque se incomodada connosco e não com o resto dos viajantes?

– Porque eu lhes pedi – respondeu alguém, num tom de voz profundo.

Liana virou-se para olhar para o homem que se aproximara, mas já conhecia a sua identidade. Sentira um arrepio na nuca e um calor intenso e repentino. Não podia ser outro senão Malik Khan, príncipe herdeiro de El Bahar.

– Penso que no avião não tive oportunidade de me apresentar adequadamente – continuou ele. – Sou o príncipe Malik. E a senhora...?

– Liana Archer. Esta é Bethany, a minha filha.

– Olá! – disse a menina, sorrindo de orelha a orelha. – Vive num palácio a sério?

– Claro que sim. Com os meus dois irmãos e as suas esposas... Temos uma colecção de príncipes e princesas. Para além do meu pai, o rei de El Bahar.

Bethany olhou para ele com espanto.

– E tem ouro, cavalos e imensas pessoas que fazem reverências?

Malik sorriu.

– Bom, não tenho tanto ouro como gostaria – brincou. – E quanto às pessoas, já não fazem tantas reverências como antes. Se estivessem sempre com reverências, não trabalhariam muito bem.

Malik fez um gesto para o polícia da alfândega, que lhes selou os passaportes e as deixou passar sem olhar para a sua bagagem.

– Bem-vindas a El Bahar – disse o príncipe.

Liana ficara sem fala ao olhar para ele. Nem sequer entendia porque é que o seu corpo reagia de um modo tão estranho face à sua presença. Malik era muito alto. Devia medir um metro e oitenta e seis ou oitenta e sete, portanto tinha mais dez centímetros do que ela. Mas não era tão imponente por isso, nem por causa da elegância da sua roupa. Era mais alguma coisa, embora decidisse não lhe dar importância. Afinal de contas era a primeira vez que estava com um príncipe.

– Porque nos ajuda? – perguntou-lhe.

Malik encolheu os ombros.

– É uma forma de me desculpar por vos ter assustado há um momento. Garanto-vos que não era a minha intenção.

O olhar do príncipe era directo e intenso. Liana achou-o tão atraente que decidiu observá-lo com mais calma, pensando que não gostaria tanto dele se encontrasse algum defeito grave.

Infelizmente para ela, o príncipe carecia de defeitos. Tinha olhos grandes, maçãs do rosto altas, pele morena e um nariz recto. A expressão da sua boca era um pouco severa, mas com um indício de sorriso nos lábios. Era do tipo de homens cujo perfil ficaria bem num selo de correios ou esculpido na encosta de uma montanha.

– Porque veio para o meu país, Liana Archer?

– Sou a nova professora da American School – respondeu.

Liana reparou que os polícias e o homem baixo que as tinham acompanhado se mantinham à distância, aparentemente alheios à sua conversa, mas soube que não estavam a perder nem uma palavra.

– Professora? – repetiu ele, franzindo o sobrolho. – Duvido.

– Como?

Malik cruzou os braços.

– Não pode ser professora. As professoras costumam ser velhas ou pouco atraentes – declarou. – Diga-me a verdade... O que está a fazer aqui? E onde está o seu marido?

A declaração de príncipe foi irritante. Tinham-lhe dito que as pessoas de El Bahar continuavam a ser de ideias bastante tradicionais e conservadoras e era evidente que Malik partilhava essa característica com os seus súbditos.

– Alteza, não penso que seja assunto seu, mas, já que o pergunta, estou divorciada. Quanto a ser professora, receio que não possa fazer nada a respeito disso... Mas começarei a usar verrugas falsas para ser menos atraente.

Os dois polícias e o homem baixo olharam para ela com espanto e horror, como se tivesse cometido um delito ao responder ao príncipe com sarcasmo. Liana arrependeu-se imediatamente e recuou. Já se via fechada numa prisão no deserto e submetida a todo o tipo de torturas. Mas em vez de se zangar, Malik sorriu.

– Também porá verrugas no nariz?

– Se quiser...

– Não tenho a certeza. Terei de pensar nisso com calma.

O príncipe estalou os dedos e apareceu imediatamente um rapaz que se encarregou das suas malas. Minutos depois, Liana e Bethany afastavam-se a toda velocidade num táxi. Malik ficara no terminal depois de se despedir delas.

– Recorda-me de que não devo ser sarcástica à frente de um membro de uma família real – murmurou para a sua filha.

– Não importa, não se zangou contigo – declarou Bethany. – Gostou muito de ti. Eu percebi.

– Que sorte – ironizou.

Liana tentou convencer-se de que não sentia nenhum interesse por Malik Khan. Ela tinha os seus planos e objectivos, não tinha tempo para uma relação romântica com um príncipe. Além disso, a sua vida já era bastante complicada.

Quando o táxi chegou à auto-estrada, Liana apercebeu-se de que não dera nenhuma morada ao condutor.

– Leve-nos para a American School, por favor. Sabe onde é?

O homem olhou para ela pelo retrovisor e assentiu.

– É claro – respondeu.

– Excelente! Mas se não recordar bem o caminho, diga-me. Deram-me todo o tipo de indicações.

– Não será necessário. Vou lá várias vezes por semana, porque a maioria dos professores não tem carro próprio – explicou o taxista.

Liana já sabia. Quase todos os professores estavam em circunstâncias parecidas com a dela. Contrata-vam-nos por dois ou três anos e normalmente não se incomodavam em comprar ou alugar um carro. Além disso, os transportes públicos de El Bahar eram baratos e funcionavam muito bem, conforme lhe tinham dito.

– Bom, o que achas do nosso novo país? – perguntou Liana à sua filha.

A menina olhou pela janela. A cidade prolongava-se à frente delas e o mar abria-se à sua esquerda, num tom azul-cobalto bastante mais escuro do que o do céu. Embora a auto-estrada avançasse entre vegetação frondosa, o deserto via-se ao longe.

– Eu gosto muito... O ar cheira bem, como flores ou perfume. O que será?

– Não sei. Suponho que algum tipo de flor... Quando chegarmos, vemos na Internet – respondeu.

Para além de uma casa com dois quartos, o seu contrato com a American School também incluía um computador portátil com ligação à Internet e o resto dos serviços que pudesse precisar. A única coisa que ficava à margem era a conta do telefone, que seria ela a pagar. A American School tinha sido bastante generosa com ela.

– Pensa nisso por um momento... Poderás dizer aos teus colegas de escola que conheces o príncipe herdeiro de El Bahar – continuou.

Bethany sorriu.

– Mas não acreditarão...

– Se não acreditarem, serei a tua testemunha.

O táxi passou junto de uma zona de edifícios muito altos que se encontravam entre a auto-estrada e o mar. Liana investigara um pouco e sabia que era o bairro financeiro. Pelos vistos, a economia de El Bahar estava numa situação tão invejável que atraía investido-res de todo o mundo.

Pouco depois, o taxista saiu pela estrada que levava à cidade. Numa questão de minutos, encontraram-se num mundo exótico onde se misturavam os edifícios modernos, os antigos e até os restos da muralha, por trás da qual se erguia um palácio branco.

– É o palácio real – disse Bethany. – Vi-o nas fotografias...

– É lindo. Pergunto-me se a nossa casa será perto... Lembro-me de ter lido em algum lado que os jardins podem visitar-se. Apetece-te ir?

– Claro. Talvez voltemos a ver o príncipe.

– É possível.

Liana calou-se, mas pareceu-lhe improvável que o príncipe se dedicasse a passear pelos jardins enquanto estavam cheios de turistas.

Nesse momento, o táxi passou por um portão impressionante e seguiu um caminho sinuoso que avançava entre árvores e arbustos que Liana nem sequer conseguiu identificar. Pareceu-lhe estranho, mas pensou que a American School ou os alojamentos dos professores se encontrariam do outro lado de um parque. No entanto, demorou pouco a perceber o seu erro. O táxi parou à frente do palácio branco que tinham acabado de ver ao longe.

De perto, era muito mais impressionante. Estava cheio de varandas e tinha vários andares. À frente da porta principal, havia uma dúzia de soldados.

– Onde estamos, mãe? – perguntou a menina.

Liana não soube o que dizer, de modo que se dirigiu ao taxista.

– Desculpe, penso que se enganou.

O taxista abanou a cabeça e sorriu.

– Não me enganei. Sua Alteza disse que devia trazer-vos para casa e foi o que fiz. Bem-vindas ao palácio real de El Bahar.

Liana não teve oportunidade de dizer nada. Então, um homem alto de fato cinzento aproximou-se do veículo e abriu a porta de trás.

Era o príncipe Malik.

– Vejo que já chegaram. Alegro-me – disse. – Venham comigo. Encarregar-me-ei de vos levar aos vos-sos aposentos.

Capítulo 2

Liana não soube se era um hall enorme ou uma sala pequena, mas chegou à conclusão de que devia ser um hall porque se encontrava num palácio e nos palácios não havia nada pequeno.

Tentou manter o aprumo e controlar o seu nervosismo. Sabia que começar a gritar como uma louca só serviria para assustar a sua filha.

Depois de sair do táxi, o príncipe conduzira-as para o hall onde estavam. Liana ouviu vozes atrás dela e teve a inquietante impressão de que alguém tirara a sua bagagem do táxi e a levara para algum lugar do palácio.

Não conseguia acreditar no que estava a acontecer. Parecia-lhe tão absurdo, tão deslocado, que pensou que seria um mal-entendido.

– Olha, mãe!

Liana seguiu o olhar da sua filha. Bethany admirava uma pintura do tecto que representava uma noite estrelada em que se viam os primeiros raios do sol. Era de forma oval e estava emoldurado com uma linha que ao princípio lhe pareceu de tinta dourada e, depois, de ouro. Mas se aquela imagem lhe pareceu incrivelmente bonita, o chão deixou-a com falta de ar: estavam sobre um mosaico onde se via um dragão que guardava o reino de El Bahar.

– O chão é ainda melhor, Bethany...

A sua filha baixou o olhar e observou o dragão.

– Estou a pisar-lhe a causa – disse a menina, em voz baixa. – Achas que se zangará?

– Duvido muito. As pessoas pisam em coisas piores do que a cauda – respondeu o príncipe Malik. – Bem-vindas ao palácio. Espero que a viagem de táxi tenha sido agradável...

Liana respondeu com tranquilidade. Embora estivesse no palácio de um príncipe fabulosamente atraente, não ia deixar-se impressionar.

– Foi, sim.

– Alegro-me – disse o príncipe. – Penso que o palácio será confortável para vocês.

– É um lugar lindo, certamente, mas não é onde queremos viver.

Bethany aproximou-se da sua mãe, que lhe passou um braço por cima dos ombros.

– Sou professora da American School e, supostamente, devo alojar-me no complexo do liceu – continuou. – Não entendo porque nos trouxeram para o palácio nem sei o que espera ganhar com isso, mas temos de nos ir embora.

Malik fez um gesto com a mão, desprezando o seu comentário.

– Aqui estarão muito melhor. Os aposentos são maiores e podem explorar tudo o que quiserem... Todas as manhãs um carro virá buscá-la, levá-la-á ao liceu e voltará a ir buscá-la mais tarde.

Liana não estava disposta a deixar-se convencer.

– Pode saber-se o que é tudo isto, príncipe Malik? Raptou-nos?

Malik olhou para ela com grande seriedade, como se se sentisse insultado com a pergunta.

– De maneira nenhuma. Sou o príncipe Malik Khan de El Bahar. Concedi-vos a honra de serem as minhas convidadas no palácio.

Liana cerrou os dentes sem saber o que dizer. Por sorte, Bethany interrompeu a conversa naquele momento ao ver um cão no exterior do edifício.

– Posso ir brincar com o cão, mamã? Liana olhou para Malik e perguntou:

– É amigável?

– Claro que sim. Sam é dos meus sobrinhos, que são bastante mais pequenos do que Bethany... Pode estar tranquila. Porta-se muito bem com as crianças.

Liana assentiu para a sua filha.

– Está bem, podes sair para brincar com ele. Mas fica perto, onde possa ver-te.

A sua filha saiu do palácio e acariciou o animal, que lhe cheirou a mão e começou a brincar com ela. Liana aproveitou a oportunidade para se aproximar do príncipe. No entanto, não o fez porque se sentia completamente enfeitiçada por ele, mas porque tinha de dizer alguma coisa e não queria que Bethany o ouvisse.

– Não vamos ficar aqui. Não sei o que está a fazer, mas a sua conduta é completamente inaceitável. Sou cidadã de um país estrangeiro e estou disposta a cumprir as leis de El Bahar durante a minha estadia, mas, em troca, espero que me tratem com respeito e cortesia... Com um respeito e uma cortesia que ignorou ao trazer-nos para aqui contra a minha vontade.

– Não entende. É melhor ficar no palácio.

Liana abriu a boca para insistir na sua negativa, mas então lembrou-se de uma coisa e riu-se com suavidade.

– Alteza, não jogue esse jogo comigo. Vi o filme.

Malik franziu o sobrolho.

– O filme? De que está a falar?

Ana e o Rei... Uma professora que vai ao reino de Sião e ganha a atenção do rei. Mas nem é o rei de Sião nem eu sou Ana. E permita-me recordar-lhe, para o caso de ter intenção de recrear o filme, que o rei não vai para a cama com ela e que, além disso, morre no fim.

Liana enganou-se ao pensar que Malik reagiria com espanto ou desaprovação. O príncipe inclinou-se sobre ela e pronunciou umas palavras ao seu ouvido.

– Todos morremos no fim, Liana, mas não duvide que, aconteça o que acontecer, acabará no meu leito.

– Se continuares a dizer essas coisas, vais matá-la de susto, Malik.

Malik e Liana viraram-se ao ouvirem a voz da mulher que os interrompera. Era uma jovem atraente, de cabelo castanho e óculos. Vestia um vestido verde, muito elegante, e tinha um colar de pérolas.

– Não consigo acreditar que digas essas coisas – continuou a recém-chegada. – Nunca aprenderás a ser subtil?

Malik olhou para a mulher, que tinha menos quinze ou vinte centímetros de altura, apesar dos seus sapatos de salto alto.

– Como te atreves a falar-me desse modo? Sou Malik Khan, o príncipe herdeiro do reino de El Bahar e...