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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2003 Susan Macias Redmond. Todos os direitos reservados.

SONHOS DE FUTURO, N.º 962 - maio 2013

Título original: Quinn’s Woman.

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2006

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

™ ®, Harlequin, logotipo Harlequin e Julia são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-2972-5

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo 1

 

– Tenta trazer este vivo – pediu o xerife Travis Haynes, apontando com a cabeça para um soldado que esperava sobre um pódio improvisado.

– Vivo, garanto-te – indicou D.J. Monroe, agarrando um revólver de cima da mesa. – No entanto, inteiro vai ser mais complicado.

Os homens que estavam em redor riram-se, porém, o soldado em questão empalideceu. D.J. passou-lhe o revólver, agarrou outro para ela e começou a caminhar. Percebeu que o que ia ser o seu companheiro durante as catorze horas seguintes iria pôr-se a correr atrás dela quando entendesse que não tinha intenção de esperar por ele.

Assim foi: trinta segundos mais tarde ouviu o som de uns passos velozes sobre o pavimento.

– Como te chamas, rapaz? – perguntou-lhe, quando a alcançou.

– Soldado Ronnie West, senhora.

D.J. olhou para ele um instante. Parecia ainda mais alto que ela, que superava o metro e oitenta. Era magro e quase imberbe.

– Já fizeste dezoito anos, Ronnie?

– Sim, senhora. Há quase quatro meses.

– Parece-te mal que te tenha tocado uma mulher como parceira? – perguntou-lhe.

– Não, senhora – garantiu o rapaz, abrindo desmesuradamente os seus olhos azuis-claros. – Sinto-me muito honrado. O meu sargento disse-me que é uma das melhores e que tinha uma sorte dos diabos por ter a oportunidade de a ver trabalhar – explicou e inclinou a cabeça, corando. – Lamento ter dito um palavrão, senhora.

D.J. parou e virou-se para o rapaz. Os jogos de guerra anuais entre os serviços de emergência de Glenwood, Califórnia, e a base local do exército eram uma oportunidade para que todos praticassem, aprendessem e se divertissem.

A manhã tinha decorrido entre corridas de obstáculos, tiro ao alvo e planos de estratégia. Não lhe interessava nada daquilo. Esperava com impaciência a hora dos jogos de busca e captura.

A partir daquele momento e até às seis da manhã, o seu companheiro e ela deviam encontrar e levar cinco prisioneiros inimigos. D.J. tinha ganho aquele jogo durante os últimos cinco anos. Para ela era um motivo de orgulho. Outros participantes protestavam, atribuindo-lhe sempre a sua boa sorte, incapazes de a compreender. Sobretudo tendo em conta que escolhia sempre como companheiro um recruta relativamente novato.

– Deixemos algumas coisas claras, Ronnie – replicou. – Podes dizer todos os palavrões que queiras. Duvido muito que te ocorra algum que não tenha ouvido já ou até pronunciado. Achas bem? – perguntou-lhe, sorrindo.

– Sim, senhora.

– Óptimo. Eu estou no comando desta missão. Tu estás aqui para ouvir, aprender e cumprir as minhas ordens. Se te atravessares no meu caminho cortar-te-ei uma orelha. Ou alguma coisa de que sentirias ainda mais falta. Entendido?

Ronnie engoliu em seco e depois assentiu.

D.J. entrou na tenda que a sua equipa utilizava como quartel-general e agarrou na sua mochila. Quando saiu, tirou uma faca do seu interior e pô-la na bota.

– Inspecciona as tuas armas – ordenou ao rapaz.

– Não estão carregadas – respondeu ele, franzindo o sobrolho.

– Verifica de qualquer forma. Tens de as inspeccionar sempre.

– Sim, senhora.

Ronnie certificou-se de que tanto o revólver como a caçadeira estavam descarregados. D.J. pôs a boina até às sobrancelhas e pôs-se a andar, lamentando que estivesse uma tarde tão nebulosa. Embora tenha dito a si própria que a névoa reduzia o risco de criar sombras, continuava sem gostar nada da sensação de humidade fria. Já estavam quase em Julho. Devia estar sol e calor.

Duas horas mais tarde entraram em território «inimigo». D.J. abrandou o passo para evitar que os descobrissem. A sua t-shirt de tamanho extra grande estava encharcada e colava-se à sua pele, coisa que detestava. A água escorria-lhe pela boina. Era o dia perfeito para ficar a ler aninhada no sofá, não para rastejar pelo bosque como uma serpente em busca de homens que pensavam saber tudo. No entanto, os jogos de guerra ajudavam-na a manter-se alerta e era nisso que consistia basicamente a sua vida. Portanto o livro teria de esperar.

D.J. pressentiu um barulho, mais que ouvi-lo. Parou e Ronnie fez o mesmo. Depois de lhe passar em silêncio a sua mochila e lhe ordenar que ficasse quieto, D.J. deu a volta a um grupo de árvores para sair pelo outro lado.

Havia um homem sentado numa pedra a estudar um mapa. Era um dos médicos do serviço de urgências. Teria uns trinta e tantos anos e estava mais ou menos em forma, embora para ela não representasse qualquer desafio. Contudo, teria de se conformar com o que havia.

D.J. pisou deliberadamente um ramo e escondeu-se entre as sombras de uma árvore grande. O homem levantou-se e virou-se para o lugar onde tinha ouvido o barulho. Deixou no chão a espingarda e a mochila. Trazia o revólver na mão, porém, duvidava muito que soubesse como usá-lo. Quando o teve a menos de um metro, D.J. agarrou-o por um braço e atirou-o ao chão com um pontapé. O homem aterrou com um grito de dor.

D.J. já estava em cima dele. Depois de lhe tirar o revólver e atirá-lo para longe, deu-lhe a volta e atou-lhe as mãos às costas. Quando esteve prestes a acabar com os pés, o homem abriu a boca para respirar.

– Muito bem, rapaz! – exclamou ela. – Já podes vir.

– Foi incrível – elogiou Ronnie, olhando para o homem atado com a boca aberta.

– Agora o que fazemos? – perguntou o médico com cara de poucos amigos.

– Agora relaxa enquanto procuramos outra presa – respondeu D.J. com um sorriso. – Não vou fazer Ronnie perder tempo, obrigando-o a regressar ao quartel só com um prisioneiro.

– Nem pensar. Não podem deixar-me aqui. Está a chover. O chão está molhado.

– É a guerra – respondeu ela, encolhendo os ombros.

O homem continuava a gritar quando já estavam quase a um quilómetro de distância dele. D.J. teria gostado de lhe tapar a boca com um trapo, contudo, teria violado as regras do jogo.

Era uma pena.

Uma hora mais tarde encontraram-se com três homens que fumavam e se riam, inconscientes do perigo que corriam de serem capturados.

D.J. estudou a situação e depois afastou Ronnie para um lado para poder falar com ele sem serem ouvidos.

– Se queres ganhar tens de estar disposto a fazer tudo o que for necessário – retorquiu, tirando a mochila. – Terás de apanhar o inimigo de surpresa. Vou esperar enquanto alcanças a tua posição. Dirige-te para Este e cerca-os. Quando eu sair estarás em frente a mim e de costas para eles. Quando estiverem distraídos, dirige-te para eles e aponta o revólver.

Ronnie assentiu, porém, ela viu a dúvida reflectida nos seus olhos. Sem dúvida o rapaz queria saber como ia fazer para distrair três homens ao mesmo tempo. D.J. sorriu. Aquilo ia ser muito fácil.

Primeiro tirou a t-shirt de manga comprida. Por baixo tinha outra verde tropa muito curta e justa. Ia sem sutiã. Ronnie abriu os olhos desmesuradamente.

Depois ela afrouxou a cintura das calças e baixou-as até à anca. Pôs o revólver na parte de trás das calças. Então tirou a boina e soltou o cabelo, deixando a descoberto uma longa cabeleira castanha.

– É linda – murmurou o rapaz com a boca aberta. – Lamento muito, senhora – desculpou-se imediatamente. – Não quis dizer que...

– Está bem – interrompeu ela, fazendo um gesto com a mão. – Vai para a tua posição. Dar-te-ei dois minutos de vantagem.

D.J. esperou o tempo combinado antes de se aproximar do grupo. Continuavam a conversar e fumar. Ela deitou o peito para fora e começou a caminhar para eles, tentando parecer uma mulher fácil e ao mesmo tempo perdida.

– Estou tão perdida – disse em voz baixa. – Cavalheiros, algum de vocês pode ajudar-me?

Eles eram todos soldados profissionais do exército. Porém, não esperavam encontrar-se com uma mulher semi-nua no meio do bosque. Estava frio e húmido, portanto não a apanhou de surpresa que todos os olhares se concentrassem no seu peito.

– Tem algum problema, senhora? – perguntou o mais velho do grupo, aproximando-se dela.

D.J. pensou com satisfação que se tratava de um grupo de idiotas. Tinham deixado as espingardas apoiados contra o tronco de uma árvore. Mais um passo e tê-lo-ia ao seu alcance.

– Não sei o que me aconteceu – sussurrou, frisando uma madeixa de cabelo com um dedo. – Nem sequer recordo em que equipa estou. Vim aos jogos porque o meu namorado me pediu, tudo para que depois o imbecil me abandonasse há três dias – explicou e pestanejou como se estivesse a lutar contra as lágrimas. – Tenho frio e estou cansada e sozinha.

Os homens aproximaram-se sem hesitar.

– Quietos aí! Mãos ao ar.

Teria de reconhecer que Ronnie parecia poderoso a dar ordens. Os homens viraram-se para ele. Quando voltaram a olhar, D.J. estava a apontar-lhes o seu revólver.

Dois dos oficiais praguejaram, contudo, o terceiro riu-se.

– Uma actuação muito boa – elogiou.

– Obrigada.

Em questão de minutos os três estavam atados.

O limite de capturas estava marcado em cinco. Havia uma gratificação extra para quem levasse mais de quatro antes da meia-noite. Quanto mais depressa levasse os «inimigos» para o campo, mais pontos.

– Recordas-te de onde deixámos o médico? – perguntou D.J. a Ronnie, após vestir novamente a t-shirt comprida e ajustar as calças.

– Sim, senhora.

– Óptimo, então leva estes três contigo e deixa todos no quartel-general. Certifica-te de que nos dão os pontos de bónus e depois reúne-te aqui comigo. Não estarei longe.

Quando D.J. ficou sozinha sentou-se ao pé de uma árvore e fechou a sua mochila. Finalmente parara de chuviscar. Estava a começar a anoitecer e a temperatura não tinha subido nem um grau. Pensou em acender uma fogueira, no entanto, isso denunciaria a sua posição e isso não lhe interessava. Se ninguém se aproximasse demasiado ficaria onde estava até que Ronnie regressasse. Segundo os seus cálculos demoraria aproximadamente duas horas a ir e voltar. Caso contrário podia encontrar outro prisioneiro sozinha e regressar ao acampamento base pouco antes da meia-noite.

Quase uma hora depois, D.J. pensou ouvir alguma coisa. Não se tratava de passos nem de nenhum movimento de arbustos. Não conseguiu identificar o barulho, contudo, fez com que os pêlos dos braços se arrepiassem e todos os seus sentidos ficassem em alerta.

Ali havia alguém.

Depois de verificar que tinha o revólver no seu lugar, D.J. agarrou na espingarda e pousou a mochila escondida sob umas folhas, disposta a descobrir quem se aproximava.

Primeiro dirigiu-se para Este e depois para Sul para o apanhar pelas costas. Trabalhava instintivamente, sem ouvir ainda nada concreto, porém, sabendo que estava lá.

Demorou trinta minutos a completar o circuito. Quando apareceu a escassos metros do seu ponto de partida, observou com desgosto um tipo que estava a tirar a sua mochila do esconderijo. Tinha ido directamente lá, como se tivesse sabido desde o começo. Como o tinha feito? Enquanto o homem abria distraidamente a mochila, D.J. preparou-se para atacar.

– Bang, estás morto – replicou, apoiando a ponta do revólver contra as costas do desconhecido. – Agora levanta-te muito devagar. Os fantasmas não se movem com rapidez.

O homem fechou com parcimónia a mochila e levantou as mãos.

– Ouvi-te a mover-te por aí. O que estavas a fazer? Jogar futebol com os coelhos?

D.J. não achou graça nenhuma ao comentário nem ao tom brincalhão. Primeiro porque sabia que não tinha feito barulho nenhum e segundo porque era ela quem tinha a arma.

– Mantém as mãos ao alto – ordenou e chegou-se para atrás o suficiente para que ele não conseguisse agarrar o revólver.

Com aquele homem de costas, D.J. considerou a situação. Era alto, mediria pouco mais de dois metros, e musculado. O seu instinto dizia-lhe que não se tratava de um amador, como eram muitos dos participantes. Nada lhe era familiar, o que significava que provavelmente pertencia ao exército, talvez a alguma força especial.

D.J. não lhe via a espingarda, o que a preocupava. O seu revólver estava no chão ao lado da mochila, porém, e a espingarda?

– Quanto tempo mais vamos continuar assim? – perguntou ele com naturalidade. – Ou já esqueceste o que terás de fazer depois? Acho que tens de me virar, olhar-me nos olhos e atar-me. Não te lembras?

– És um insolente, rapaz.

– Rapaz? – gozou ele. – Querida, não me parece que tu sejas muito mais velha.

«Maldito arrogante», pensou D.J., incomodada. Não havia dúvida de que pensava que por ser mulher seria mais fácil de vencer.

– Não tenho interesse nenhum em olhar-te nos olhos – garantiu ela. – As mãos à cabeça e de joelhos.

– Acabo de me levantar! – protestou o homem, como se fosse uma criança a protestar por a obrigarem a comer legumes. – Porque não decides primeiro o que é que queres e depois me dás a volta?

– Escuta, mentecapto... – começou a dizer D.J., cerrando os dentes.

O homem moveu-se à velocidade da luz. Primeiro estava de costas para ela e, um segundo depois, virou-se, deu um pontapé ao revólver com a força suficiente para lhe magoar o braço. D.J. soltou involuntariamente a arma, que foi parar ao chão.

No entanto, ela quase não estava consciente. Com o braço dorido estava em séria desvantagem. Embora não fossem lutar. O seu adversário tirou um revólver não se sabia de onde e apontou-o directamente à cabeça dela.

Fiel à sua filosofia de usar todas as armas ao seu alcance, D.J. levou o braço dorido ao peito. Com a mão livre agarrou o pulso e começou a gemer suavemente.

O homem não baixou a arma, contudo, deu meio passo em frente. Era tão forte como ela pensava, alto, de olhos escuros e com um leve sorriso que lhe curvava os lábios.

– O que se passa? – perguntou, ficando sério. – Bati no revólver, não em ti.

– Talvez fosse essa a tua intenção, mas falhaste o golpe – garantiu D.J., mordendo o lábio inferior. – Acho que tenho o pulso partido.

– Não te bati no pulso – insistiu ele, franzindo o sobrolho.

– Claro – respondeu D.J. e olhou para ele fixamente. – Pensas que com essas botas que tens consegues sentir exactamente onde me bateste.

D.J. cruzou mentalmente os dedos e esteve prestes a gritar de júbilo quando ele baixou o olhar para o seu calçado. Um segundo de distracção era a única coisa de que ela precisava.

D.J. levantou a toda pressa o pé e bateu com força contra a barriga do homem. Porém, apesar da rapidez e a firmeza do movimento, o homem conseguiu agarrar-lhe a perna. Ela começou a perder o equilíbrio e ao mover-se bateu sem querer na cabeça do seu rival com a coronha do revólver. O homem caiu como uma pedra.

A primeira coisa que D.J. pensou foi que estava morto. Depois viu como o seu peito subia e descia. O seu segundo pensamento foi que mais lhe valia atá-lo enquanto estivesse inconsciente porque de certeza que quando voltasse a si não o conseguiria.