cover.jpg
portadilla.jpg

 

 

Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2009 Sharon Kendrick. Todos os direitos reservados.

AMANTE REBELDE, Nº 345 - Agosto 2013

Título original: Constantine’s Defiant Mistress.

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2010

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® ™, Harlequin, logotipo Harlequin e Harlequin Euromance são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-3386-9

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

1

 

Ouviu o seu nome na rádio e todos os seus sentidos vibraram. Laura não tinha tempo para os jornais, mesmo que a sua dislexia não lhe dificultasse tanto a leitura, mas mantinha-se informada ao ouvir as notícias da manhã na rádio. Normalmente, só lhes prestava relativa atenção e, certamente, não se interessava por nada relacionado com as finanças internacionais.

Mas Karantinos não era um nome frequente. E era grego.

Laura estava a fazer o pão, a pôr um punhado de sementes sobre a massa antes de pôr a última travessa no forno. Mas, de repente, ficou imóvel e ouviu com atenção, como um bichinho que se via, de repente, preso e assustado no meio de um território hostil.

– O milionário grego Constantine Karantinos anunciou os maiores lucros da história da propriedade naval da sua família – estava a dizer a voz da rádio. – O playboy Karantinos encontra-se neste momento em Londres para oferecer uma festa no Hotel Granchester, onde se diz que anunciará o seu noivado com a modelo sueca Ingrid Johansson.

Laura teve de se segurar à mesa para não cair, sem conseguir acreditar no que estava a ouvir, com o coração dolorosamente acelerado. Continuava a ter Constantine no coração, recordava-o tal como era quando o conhecera, como se o tempo não tivesse passado. Umas lembranças agridoces de um homem que ainda era capaz de a afectar profundamente cada vez que pensava nele. Mas o tempo nunca parava e ela sabia isso melhor do que ninguém.

Mas, o que esperava? Que um homem como Constantine continuasse solteiro eternamente? Na verdade, o que deveria surpreendê-la era que não se tivesse casado antes.

Ouviu barulhos no andar de cima e apressou-se a arrumar a cozinha antes de subir para acordar o seu filho. Com frequência, repetia-se como era sortuda por poder viver por cima da padaria e, embora ocupar-se dela não fosse o sonho da sua vida, pelo menos, dava-lhe rendimentos modestos com os quais complementar os seus empregos ocasionais como empregada de mesa. Mas, sobretudo, proporcionava-lhe um lugar onde viver, o que significava uma certa segurança para Alex e isso era o mais importante para Laura.

A sua irmã Sarah já se levantara.

– Bom dia, Laura... – murmurou Sarah, bocejando ao sair de um dos três pequenos quartos do pequeno apartamento que partilhavam, passando os dedos pelo cabelo. Ao ver a cara da sua irmã mais velha, pestanejou e franziu o sobrolho. – O que raios se passou? Não me digas que o forno voltou a estragar-se?

Laura abanou a cabeça e, depois, apontou para o quarto do seu filho.

– Já acordou? – perguntou, num tom baixo.

– Ainda não.

Laura olhou para o relógio de parede e viu que ainda podia deixar que o seu filho descansasse durante mais dez minutos antes de o chamar para se preparar para ir para a escola. Segurando no braço da sua irmã, levou-a para a pequena sala do apartamento e fechou a porta.

– Constantine Karantinos está em Londres – começou, sussurrando as palavras.

A sua irmã arqueou as sobrancelhas.

– E?

– Vai dar uma festa e dizem que vai ficar noivo de uma modelo sueca.

– O que queres que diga? Que é uma surpresa inesperada?

– Não, mas...

– Mas o quê, Laura? – perguntou Sarah, com impaciência. – Não entendo porque és incapaz de aceitar que o porco com que foste para a cama há nove anos não tem consciência. E que depois de ir para a cama contigo não voltou a pensar em ti. Nem sequer quis telefonar para falar contigo! – recordou-lhe, levantando o tom de voz. – Tu foste suficientemente boa para partilhar o seu leito, mas não para te reconhecer como mãe do seu filho!

Laura dirigiu um olhar preocupado para a porta fechada, perguntando-se se Alex teria acordado e se estava a ouvi-la.

– Chiu! Não quero que Alex ouça.

– Porquê? Porque não pode saber que o seu pai é um dos homens mais ricos do planeta enquanto a sua mãe está a matar-se numa padaria para o sustentar?

– Porque não quero… – Laura interrompeu-se.

O que não queria?, perguntou-se. Não queria magoar o seu querido filho porque era o dever de toda a mãe proteger os seus filhos. No entanto, cada vez era mais difícil fazê-lo. Há menos de um mês que Alex tinha voltado a casa com uma nódoa negra na face e, quando lhe perguntou o que tinha acontecido, o menino ficou à defesa e não lhe respondeu. Mais tarde, descobrira que tinha tido uma luta durante o recreio. E, pouco depois, quando fora à escola para falar com a directora, descobrira o verdadeiro motivo.

Então, soubera que as crianças se metiam com Alex porque era «diferente». Porque a sua pele morena, os seus olhos pretos e a sua estatura alta o faziam parecer mais velho e mais forte do que o resto das crianças da sua turma. Porque as meninas da sua turma, até mesmo com seis e sete anos, tinham estado a seguir o seu filho como cachorrinhos. Tal pai, tal filho, tinha pensado ela, recordando o pai do seu filho.

De volta a casa, Laura sentira uma mistura de emoções. Por um lado, queria perguntar ao seu filho porque não se defendera, mas isso teria ido contra tudo o que lhe tinha inculcado: ser amável, raciocinar e não lutar. Se pudesse, teria levado o menino para outra escola, mas era um luxo a que não podia dar-se. A escola pública mais próxima ficava a muitos quilómetros dali e, para além de Laura não ter carro, o serviço de autocarros não era de confiança.

Além disso, ultimamente, o seu filho cada vez lhe perguntava mais pelo seu aspecto, tão diferente do das outras crianças do seu ambiente. Era um menino inteligente e não demoraria a pedir informação sobre o pai que nunca conhecera. Se, pelo menos, Constantine falasse com ela, mesmo que fosse apenas uma vez. Se pudesse reconhecer o seu filho e dedicar-lhe um pouco de tempo... Era a única coisa que ela queria. Que o seu querido filho soubesse de onde vinha.

Distraída, preparou o pequeno-almoço de Alex e acompanhou-o até à escola. Embora estivessem perto das férias de Verão, ultimamente não tinha parado de chover e, naquela manhã, a chuva continuava a cair persistentemente. Laura tremeu um pouco e tentou falar animadamente com o seu filho, mas sentia um peso no peito que quase a impedia de falar.

Alex levantou a cabeça e olhou para a sua mãe com os seus olhos pretos:

– Passa-se alguma coisa, mãe? – perguntou.

«O teu pai está prestes a casar-se com outra mulher e, certamente, terá filhos com ela.»

Recordando como era ridículo sentir ciúmes naquelas circunstâncias, Laura despediu-se do seu filho com um abraço forte.

– Não se passa nada, querido – ela sorriu e observou-o a entrar pelo pátio da escola, rezando para que o pequeno discurso da directora sobre perseguição escolar tivesse tido algum efeito nos selvagens que se tinham metido com ele.

De volta à padaria, pendurou o impermeável molhado nas traseiras e fez uma careta ao ver a cara pálida que olhava para ela do espelho minúsculo na parte posterior da porta. A expressão dos seus olhos cinzentos era de inquietação. Com o sobrolho franzido, procurou uma escova e prendeu o cabelo loiro e liso numa trança.

Vestindo a bata, saiu para a padaria onde a sua irmã já estava a acender as luzes. Só faltavam cinco minutos para abrir e atender clientes que queriam comprar pão e confeitaria recém-feita. Laura sabia como era sortuda por ter a vida que tinha e por ter a sua irmã, que amava Alex.

As duas jovens tinham ficado órfãs quando Sarah ainda estava na escola. A sua mãe viúva morrera repentinamente numa noite enquanto dormia e Laura vira-se obrigada a adiar os seus planos de percorrer o mundo para se certificar de que a sua irmã podia continuar com os seus estudos. Mas, então, o destino fizera-a esquecê-los definitivamente, pois Laura descobrira pouco depois que estava grávida de Alex.

A sua situação económica era difícil, mas pelo menos tinham a pequena padaria e o apartamento do andar superior onde tinham passado boa parte da sua infância. Dado que as duas irmãs sempre tinham ajudado a sua mãe na padaria, Laura sugeriu modernizá-la e continuar com o modesto negócio familiar, enquanto Sarah dividia o seu tempo entre os seus estudos e ajudar a sua irmã.

Até então as coisas tinham funcionado bem e, embora os lucros não fossem excessivos, conseguiam sobreviver. Mas, ultimamente, Sarah tinha começado a falar de como gostaria de estudar Belas Artes em Londres e Laura tinha consciência de que não podia continuar a usar a sua irmã mais nova como ama do seu filho. Sarah tinha de fazer a sua vida.

– Ainda pareces zangada – comentou Sarah, ao vê-la entrar.

– Não zangada – respondeu. – Estou a perceber que não posso continuar a esconder a cabeça na areia.

– De que estás a falar?

«Diz-lhe», pensou. «Vá lá, diz em voz alta, assim as palavras ganharão vida e ver-te-ás obrigada a fazê-lo. Luta pelo teu filho.»

– De que tenho de falar Constantine e dizer-lhe que tem um filho.

– Mas porquê? Porque achas que assentará finalmente? Achas que quando te vir ignorará a modelo sueca e ajoelhar-se-á para te pedir em casamento?

Laura sabia que Sarah falava com uma dureza só permitida às irmãs, mas também que as suas palavras eram verdadeiras. Tinha de esquecer todo o tipo de noção romântica com o milionário grego. Além disso, Constantine nem sequer se incomodaria em olhar para ela. Com vinte e seis anos, depois de anos de trabalho árduo e sem se cuidar, Laura sentia-se como se tivesse mais dez anos. E, mesmo que o seu coração ainda continuasse a acelerar pelo pai do seu filho, tinha de fazer um esforço para apagar umas chamas que eram inúteis.

– Claro que não – respondeu ela, amargamente. – Mas devo-o a Alex. Constantine tem de saber que tem um filho.

– Nisso concordo, mas não estás a esquecer-te de uma coisa? – perguntou Sarah, com paciência. – Da última vez que tentaste entrar em contacto com ele não conseguiste nada. Porque achas que o conseguirás agora? O que mudou?

Laura caminhou devagar para a porta da padaria. Não tinha a certeza do que tinha mudado, talvez tivesse percebido que o tempo passava muito depressa e que aquela podia ser a sua última oportunidade. O que sabia era que já não estava disposta a aceitar que o círculo que rodeava o magnata grego a impedisse de entrar em contacto com ele. Devia-o ao seu filho.

– O que mudou? – Laura repetiu lentamente as palavras de Sarah. – Suponho que eu mudei e desta vez falarei com ele. Desta vez, olharei para ele nos olhos e dir-lhe-ei que tem um filho.

– Oh, Laura, voltarás a passar pelo mesmo de sempre! – exclamou Sarah. – Não permitirão que te aproximes dele.

Laura ficou pensativa por um momento e, finalmente, disse:

– Procurarei outra forma de o fazer.

– Como?

– Na rádio disseram que vai dar uma grande festa em Londres – disse ela, pensando rapidamente. – Num hotel.

– E?

Laura engoliu em seco.

– E em que sector há a maior rotação de pessoal do mundo? Na hotelaria! – exclamou, triunfante. – Pensa nisso, Sarah. De certeza que precisam de mais empregados para essa noite, não achas?

– Um momento... – Sarah esbugalhou os olhos. – Não estarás a dizer que queres…?

Laura assentiu, vendo os seus planos cada vez mais claros.

– Passei anos a trabalhar como empregada de mesa no hotel da vila. De certeza que consigo uma boa referência.

– Está bem. Imagina que te contratam para esse dia – disse Sarah. – E depois? O que farás, vais parar à frente de Constantine com o uniforme, no meio da sua festa elegante e anunciar a todos, para além da sua futura esposa, que tem um filho de sete anos?

Laura abanou a cabeça, tentando não se assustar com a audácia do seu plano.

– Tentarei ser um pouco mais subtil. Mas não tenciono ir-me embora sem lhe contar.

Laura esticou o braço e virou o letreiro da loja, de «fechado» para «aberto». Lá fora já havia um pequeno grupo de clientes à espera e, assim que ela abriu a porta, entraram na loja, sacudindo os guarda-chuvas e os anoraques.

Enquanto atendia os clientes com o seu melhor sorriso, Laura percebeu a ironia do seu plano. Afinal de contas, quando conhecera Constantine Karantinos ela estava a trabalhar como empregada de mesa e caíra nos seus braços com uma facilidade incrível.

Depois, ao olhar para trás, perguntou-se como pôde comportar-se de uma forma tão imprópria dela. E, no entanto, acontecera num Verão maravilhoso livre de preocupações, antes da morte da sua mãe, quando ela se sentia como se tivesse o mundo aos seus pés e poupava dinheiro para viajar pelo mundo.

Fora uma ingénua em todos os sentidos, mas alguns meses a trabalhar como empregada de mesa na pequena cidade da costa de Inglaterra com uma afluência grande de veraneantes ricos tinham-lhe ensinado a lidar com os clientes que passavam regularmente por lá a bordo dos seus iates e atracavam alguns dias no porto desportivo.

Constantine fora um deles, embora fosse muito diferente de todos outros. Com a sua estatura, o resto dos homens ao seu lado parecia insignificante. O dia em que Laura o vira pela primeira vez ficara gravado na sua mente para sempre: com todo o aspecto de um Deus grego, a silhueta do seu corpo forte e musculado recortava-se em frente do sol do entardecer e a sua beleza bronzeada e morena sugeria uma imagem tentadora de força e perigo.

Recordava os seus ombros largos, a sua pele morena e sedosa e os seus músculos marcados. E recordava os seus olhos, pretos como o ébano e brilhantes como o sol da manhã sobre o mar. Como resistir a um homem que era como todas as suas fantasias tornadas realidade, um homem que a fizera sentir-se mulher pela primeira e única vez na sua vida?

Laura recordava acordar nos seus braços na manhã seguinte e encontrá-lo a observá-la. E também como ela olhara para ele, procurando na sua expressão alguma pista do que sentia, sobre ela, sobre eles, sobre o futuro.

Mas não havia nada nos seus olhos pretos. Absolutamente nada.