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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2002 Beverly Beaver

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Atracção Poderosa, n.º 18 - Maio 2014

Título original: The Princess’s Bodyguard

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2005

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5195-5

Editor responsable: Luis Pugni

 

Conversión ebook: MT Color & Diseño

Índice

 

Portadilla

Créditos

Índice

Prólogo

Um

Dois

Três

Quatro

Cinco

Seis

Sete

Oito

Nove

Dez

Onze

Doze

Treze

Catorze

Quinze

Dezasseis

Dezassete

Epílogo

Volta

Prólogo

 

Matt O’Brien decidiu que o que necessitava era de um pouco de diversão, uma semana de vinho, mulheres e música. E que, para se divertir, não havia melhor sítio que Paris. Registara-se num hotel na noite anterior, depois de chegar num voo procedente da Suíça. O seu último caso tinha-o deixado com vontade de fazer um descanso, portanto, esperava passar uma semana em França, apreciando os monumentos e a companhia de, pelo menos, uma ou duas meninas.

Quando abriu a porta do quarto para que o empregado do serviço de quartos entrasse com o carrinho do pequeno-almoço, levou o indicador aos lábios para pedir silêncio. Com uma inclinação da cabeça, assinalou o homem que dormia numa das duas camas. O empregado limitou-se a assentir e esboçou um sorriso.

Depois de lhe assinar o recibo, o empregado saiu. Então, serviu-se de uma chávena de café e sentou-se para ler o Le Monde. Falar várias línguas, embora não correntemente, era algo muito positivo para o seu trabalho. Trabalhava para a Agência de Investigação e Segurança Dundee, com sede em Atlanta, na Geórgia, desde há vários anos. Antes, tinha servido na Força Aérea durante mais de dez anos. Dado que a agência tinha a reputação de ser a melhor dos Estados Unidos, recebiam cada vez mais casos de países estrangeiros. Essa era a razão pela qual Matt e o seu colega, Worth Cordell, tinham acabado na Suíça a investigar o desaparecimento de um banqueiro suíço rico.

Matt pôs os pés em cima do divã, enquanto folheava o jornal. Tinha descoberto que ler jornais estrangeiros era um óptimo modo de praticar uma língua. Enquanto tomava uma chávena de café e saboreava uma deliciosa bolacha, um título chamou-lhe a atenção. O artigo falava do noivado da princesa Adele de Orlantha com Dedrick Vardan, duque de Roswald, que tinha sido anunciado pelo rei Leopold.

Ao lê-lo, desatou a rir. Era-lhe impossível entender que um povo continuasse a aceitar que um rei regesse um país. Uma coisa era um monarca sem autoridade alguma e outra era um rei que tivesse nas suas mãos todo o poder legislativo, como acontecia no pequeno país de Orlantha. O mesmo ocorria no principado vizinho de Balanchine. Os dois países tinham feito parte de um único Estado durante duzentos anos e ambos costumavam ocupar com frequência as capas dos jornais.

— O que tem tanta graça? — perguntou-lhe Worth Cordell da cama.

— Desculpa, não queria acordar-te.

Matt sorriu. Worth não. O caso da Suíça tinha sido o primeiro que os dois homens tinham partilhado. Matt tinha descoberto rapidamente que o seu companheiro não tinha nada a ver com Jack Parker, outro agente da Dundee, com o qual sempre se divertia muito quando trabalhavam juntos num caso. Worth era um homem silencioso e retraído, com um olhar mortal. Não bebia, não fumava, não jogava e, por isso, Matt sabia que não seduzia mulheres. Não partilhava histórias nem confidências com os seus companheiros. A única coisa que sabia sobre o seu solitário companheiro era que vinha do Arkansas e que tinha sido um Boina Verde.

— Tens a certeza de que não queres ficar em Paris comigo? — perguntou-lhe Matt, enquanto Worth se levantava da cama e enfiava umas calças de ganga. — Não te faria bem descansar um pouco antes do próximo caso?

Worth não respondeu e Matt encolheu os ombros. Sabia que o seu companheiro podia ser muito antipático. Quando terminou a bolacha e o café, Matt serviu-se de outra chávena e concentrou a sua atenção na fotografia da princesa e do seu noivo. O tipo era gorducho, com um rosto muito inchado e uma expressão aborrecida. Era um verdadeiro sapo. No entanto, a princesa era..., bom, como devia ser uma princesa. Bela, frágil e encantadora.

No entanto, havia algo mais nela. Não parecia feliz. De facto, parecia mais uma mulher condenada que uma futura noiva.

— Como está o café? — perguntou Worth, enquanto saía da casa de banho depois de tomar um duche.

— Não está mau.

— Já acabaste o jornal?

— Só tinha começado a folheá-lo. Isto — disse, assinalando a fotografia, — despertou-me a atenção.

— Não sabia que gostavas do que se referia à realeza — comentou Worth, depois de dar um gole no seu café.

— E não gosto, mas o título despertou-me a atenção — replicou Matt, lançando o jornal ao seu companheiro.

— Não falo muito bem francês.

— Por que não ligas à recepção e pedes que te tragam um exemplar do...?

— Não — respondeu Worth, enquanto abria o jornal e examinava a página. — Diz que estes dois são noivos desde que eram crianças.

— Por política. Faz-te pensar em que século vivem essas pessoas, não é?

— Vou voltar para Atlanta no próximo voo — disse Worth, mudando bruscamente de assunto. — Enquanto tu estavas no bar ontem à noite, telefonei a Ellen e já tem o caso seguinte preparado.

— Será que tens alguma coisa contra tirar um dia livre? — perguntou Matt, atónito. — Estás a deixar-nos aos outros muito mal vistos.

— Prefiro trabalhar — respondeu Worth, sem levantar os olhos do jornal.

— Sim, bom, cada um com a sua. Eu penso divertir-me um bocado enquanto estiver em Paris.

Worth continuou a ver o jornal sem prestar atenção nenhuma a Matt. De facto, este alegrava-se de que o seu companheiro não fosse ficar com ele em Paris.

Recostou-se na cadeira e fechou os olhos. Imediatamente, dois olhos escuros lhe turvaram o pensamento. A princesa triste. Talvez ali em Paris conhecesse uma mulher com metade da beleza da princesa Adele, embora nenhuma parisiense pudesse comparar-se com ela. Uma boca tentadora desenhou-se na sua imaginação. Raios, quase podia saboreá-la...

Abriu os olhos. O que se passava? Como podia estar a sonhar com uma mulher rica, que nem sequer dedicaria um olhar a um tipo como ele? No entanto, havia algo que a tornava inesquecível. Seria a beleza, a tristeza ou uma combinação das duas?

Matt resmungou. Sabia duas coisas. Primeiro, nenhuma mulher era inesquecível. Segundo, se ele fosse o noivo da princesa, estaria a sorrir.

 

 

Adele Reynard, herdeira do trono de Orlantha, fez a mala rapidamente, escolhendo só o estritamente necessário e uma muda de roupa. Poderia comprar o que necessitasse quando Yves e ela estivessem a salvo do outro lado da fronteira. Normalmente, não era o tipo de mulher que saía a correr. Preferia enfrentar a tirania e lutar até ao final, mas, naquele caso, o seu pai tinha-a despojado de qualquer opção. Se ficasse em Orlantha, ver-se-ia obrigada a casar-se com Dedrick, que era um destino muito pior que a morte. Não só sentia uma profunda antipatia por aquele ser tão pomposo, como também começara a desconfiar dele e até a receá-lo.

— Yves está aqui — anunciou Lisa Mercer. — Estacionou na entrada das traseiras. Disse aos guardas que veio buscar-me para o nosso encontro.

Lisa, a secretária de Adele desde há sete anos, entregou-lhe uma peruca ruiva que tinha o mesmo corte de cabelo que o da própria Lisa.

— Tome, ponha isto — acrescentou. — É o último retoque.

Adele pegou na peruca e cobriu com ela o seu cabelo, que tinha molhado ligeiramente para que se lhe colasse tanto quanto possível à cabeça. Lisa examinou a princesa da cabeça aos pés.

— Perfeito. Com a minha roupa, os meus sapatos e a peruca, poderia passar facilmente por mim. Bom, pelo menos, de longe. É claro, é um pouco mais baixa e tem os olhos castanhos em vez de verdes como os meus, mas...

— Não digas nada sobre onde fui ou com quem. Jura ao meu pai e a lorde Burhardt que não fazes ideia de para onde fui — pediu Adele. — E dá isto ao meu pai — acrescentou, entregando-lhe um envelope. — Escrevi-lhe uma carta breve em que lhe explico que me recuso a casar-me com Dedrick e que não regressarei a casa até que aceda a cancelar o casamento.

— Se o rei Leopold suspeitar que a ajudei, que eu chamei Yves, talvez ao seu regresso me encontre exilada ou na prisão.

— Se o meu pai descobrir que me ajudaste, tens a minha permissão para lhe garantir que não fazias ideia do que tinha planeado fazer e dizer-lhe que apenas seguias as minhas instruções.

— Por favor, Sua Alteza, tenha cuidado — pediu Lisa, enquanto acompanhava Adele até à saída. — Se o que suspeita do duque for verdade, a sua vida poderia estar em perigo.

— Não poderei comunicar-me contigo durante algum tempo — sussurrou Adele, agarrando-se à sua pequena mala, — mas suplico-te que digas a Pippin que pode entrar em contacto comigo através de Dia Constantine, em Golnar. Pode enviar-me qualquer mensagem importante através dela. Espero que ele consiga descobrir provas sólidas contra Dedrick para que eu as apresente ao meu pai.

— Envio-lhe uma mensagem assim que possa — prometeu Lisa.

Adele saiu a correr e começou a descer as escadas. Àquelas horas da noite, todos os que trabalhavam na cozinha estavam a dormir, por isso não teve problemas em alcançar a porta das traseiras. O seu coração batia com força, enquanto se dirigia a uma pequena via de serviço que havia atrás do castelo. Ali a esperava um Ferrari preto com as luzes apagadas e o motor ligado. Então um homem alto e loiro saiu do desportivo, agarrou na pequena mala de Adele, meteu-a no porta-bagagens e, depois, abriu-lhe a porta do passageiro. Uma vez lá dentro, Yves Jurgen inclinou-se sobre Adele e deu-lhe um beijo na face.

— Chèrie, que disfarce maravilhoso! — exclamou. — Quem suspeitaria que, debaixo dessa roupa tão moderna e esse cabelo tão masculino, está uma princesa tradicional e cheia de glamour?

— Os guardas acreditaram na história?

— Pois claro. Sou um actor consumado, lembras-te? — respondeu ele, enquanto arrancava.

— Péssimo, diria eu — replicou Adele, apertando o cinto.

— Vá, fere a minha sensibilidade, minha querida princesa... — brincou Yves.

— Já chega disso. Devemos partir agora mesmo. Se o meu pai descobrir que estou a tentar escapar, fechar-me-á e porá guardas à minha porta até ao dia do casamento.

Yves meteu outra mudança e conduziu o Ferrari até às grades altas que separavam o palácio real da cidade de Erembourg.

— O teu papá ficará furioso quando descobrir que fugiste — disse ele. — Ainda bem que não há nada que possa fazer para me prejudicar ou arruinar a minha boa reputação.

— Que boa reputação? — contrapôs Adele com ironia.

Yves Jurgen era conhecido internacionalmente como «o playboy da Europa». Arrogante até ao impossível e quebra-corações consumado, Yves tinha tentado, sem êxito, cortejar Adele quando esta tinha vinte anos. No entanto, quando se deu conta de que nunca conseguiria ir para a cama com ela, aceitou graciosamente a sua amizade. Se tivesse sido sua amante, Yves tê-la-ia deixado por outras mulheres há muito tempo. No entanto, como amigo, era firme e leal.

— Tens razão, minha querida Adele.

Quando os guardas olharam para o carro, Adele afundou-se um pouco mais no banco e fingiu estar a esticar a saia. Yves sorriu e falou com os guardas. Quando os portões se abriram, Adele suspirou, aliviada.

— Já passámos o primeiro obstáculo — disse Yves, ao ver que os portões da grade se fechavam atrás deles. — Quando passarmos para o outro lado da fronteira, estaremos a salvo. Ter-te-ei levado para Viena antes que amanheça.

Adele encostou a cabeça no banco e fechou os olhos, perguntando a si mesma quanto tempo ficaria a salvo no imóvel que Yves tinha nos subúrbios de Viena. Mais cedo ou mais tarde, alguém filtraria a informação para a imprensa. Tinha que telefonar a Dia dentro de poucos dias para lhe dizer o que se estava a passar e que, se fosse necessário, talvez tivesse que procurar refúgio em Golnar, onde nem sequer a poderosa influência do seu pai poderia tocar-lhe.

Quando amanhecesse, o seu desaparecimento perturbaria a tranquilidade do palácio. O rei ficaria furioso e ninguém, nem a sua esposa nem o seu conselheiro, lorde Burhardt, poderiam tranquilizá-lo. Não tinha a certeza de que medidas o seu pai tomaria, no entanto, havia algo que sabia com toda a certeza: faria qualquer coisa para a devolver ao palácio a tempo para o casamento. No entanto, ela estava igualmente decidida a evitar a busca do seu pai e a encontrar o modo de lhe provar não só quão inapropriado Dedrick era para ela, mas também como o seu noivo seria perigoso para Orlantha.

 

Um

 

O rei Leopold amachucou a carta na mão enquanto passeava para cima e para baixo pelos seus aposentos privados. Apesar de já ter sessenta anos, o seu cabelo prateado e uns hipnóticos olhos escuros faziam dele um homem muito atraente. Além disso, a sua altura, os ombros largos e o seu tórax largo davam-lhe uma aura de poder real. A rainha Muriel, a sua segunda esposa, uma mulher loira, magra e vinte anos mais nova que ele, torcia as mãos enquanto observava o seu marido.

— Querido, não te desgostes — apelava repetidamente.

Lisa esperava, tal como tinha sido instruída. A princesa Adele tinha-lhe pedido que mantivesse em segredo o seu paradeiro e tinha a intenção de fazer o que lhe tinha pedido. No entanto, considerando o quanto Sua Majestade se encontrava aborrecido, desejou não ser ela a entregar a carta.

A saúde do monarca era muito delicada desde há vários anos. Tinha sofrido um ataque de coração e tinha tido que implantar um bypass. No último ano, tinha tomado uma decisão importante: abdicaria a favor da princesa Adele se esta se casasse com o duque. Tinha tomado aquela decisão quando os médicos o aconselharam a reduzir o nível de stress e quando se fez evidente que a rainha, depois de dez anos de casamento, não lhe iria dar um filho que herdasse o reino. Além disso, a princesa Adele era muito admirada e querida pelos cidadãos de Orlantha pela sua graça, inteligência e encanto. O seu trabalho para melhorar as condições de vida de Orlantha e a sua participação em organizações sociais e de beneficência eram bem conhecidos.

Lisa sabia que, há uns meses, Pippin Ritter, o vice-chanceler do conselho que regia o país juntamente com o monarca, tinha informado a princesa Adele de que se suspeitava que Dedrick Vardan, o duque de Roswald, era membro de uma sociedade secreta chamada «os realistas», que tinha fortes vínculos com Balanchine. O objectivo dos realistas era voltar a unificar Orlantha e Balanchine sob um único rei, que seria o único governante depois de abolir o poder do conselho. Eduardo, o rei de Balanchine, tinha quase oitenta anos e não tinha herdeiros. Por uma coincidência suspeita, a mãe de Dedrick Vardan era prima do rei Eduardo.

— Como se atreve Adele a realizar tal pedido! Diz que não regressará a casa a menos que cancele o casamento com Dedrick. Que ideia! Não permitirei que me chantageie — trovejou o rei Leopold. Então parou e olhou para Lisa muito fixamente. — Sabe onde se meteu?

— Não, Majestade — respondeu Lisa, engolindo em seco. — Simplesmente me ordenou que lhe desse a carta.

— Por que não tentou detê-la?

— Senhor, deve saber tão bem como eu que, uma vez que a princesa toma uma decisão, ninguém consegue persuadi-la a fazer o contrário.

Naquele momento, lorde Sidney Burhardt, o conselheiro do rei, entrou na sala. Imediatamente, bateu os calcanhares, fazendo com que todos os olhos se voltassem para olhar para ele. Vestido com um fato azul-marinho, tinha a aparência do soldado que tinha sido e um ar de superioridade que punha toda a gente imediatamente no seu lugar. O seu cabelo branco, cuidadosamente cortado, e uns olhos azuis gélidos contribuíam para esse efeito.

— Menina Mercer — disse lorde Burhardt, fazendo com que Lisa se pusesse a tremer, — por que não veio falar directamente como rei... ou comigo... antes que a princesa partisse? Se nos tivesse advertido, poderíamos ter evitado que partisse.

— Como sabe, a minha lealdade é, em primeiro lugar, para com a princesa — respondeu Lisa, olhando directamente para o rei.

— Sim, sim, claro que a sua lealdade é para com a princesa, como deve ser — comentou o rei, olhando, por sua vez, para lorde Burhardt. — Tal como a sua lealdade é para comigo, Burhardt. Portanto, não persiga a pobre Lisa. Pelo menos, agradeço que Adele tenha deixado uma carta. Se não, poderíamos ter achado que a tinham raptado.

— Sim, é claro. Todos agradecemos que a princesa tenha deixado o palácio por vontade própria — replicou lorde Burhardt, — mas a notícia passou para a imprensa e... Se as pessoas descobrirem que fugiu só umas quantas semanas antes do seu casamento... Efectivamente, oxalá a menina Mercer tivesse tentado persuadir a princesa para que ficasse...

— Como podemos esperar que a secretária de Adele possa controlá-la quando eu, o seu pai, sou incapaz de o fazer? É uma rapariga teimosa. No entanto, neste assunto, submeter-se-á à minha vontade. Casar-se-á com Dedrick dentro de um mês!

— Nesse caso, Majestade, sugiro que... — começou lorde Burhardt, vendo-se interrompido pelo rei.

— Tragam-me imediatamente o coronel Rickard.

— Querido, porquê chamar agora o chefe de segurança quando Adele gozou os seus guardas? — perguntou-lhe Muriel.

O rei Leopold lançou um olhar frio à sua esposa, que baixou a cabeça imediatamente.

— Chamarei o coronel Rickard — disse lorde Burhardt.

O rei Leopold aproximou-se da sua esposa, rodeou-lhe os ombros com o braço e apertou-a afectuosamente contra o seu corpo. Ela levantou a cara e sorriu.

Enquanto isso, Lisa sentiu que se lhe fazia um nó no estômago. Iria interrogá-la o coronel Rickard? Descobriria ele que a princesa tinha escapado do palácio fazendo-se passar por ela?

Poucos minutos depois, o alto e esbelto chefe de segurança apresentou-se perante o rei. Parecia tão pálido e envergonhado que Lisa sentiu pena dele.

— A princesa não foi raptada — disse o rei. O coronel Rickard suspirou profundamente ao ouvir aquelas palavras.

— Então teve notícias dela, Majestade?

— Essa maldita rapariga escapou-se e diz nesta mensagem — respondeu o rei Leopold, mostrando-lhe a carta, — que não regressará até que cancele o seu casamento com Dedrick.

— Esta informação é estritamente confidencial — comentou lorde Burhardt, olhando para o coronel e Lisa com uma expressão de advertência nos olhos. — Ninguém fora desta sala deve sabê-lo.

— Efectivamente — concordou o rei. — Coronel, quero que encontre a princesa e a traga para o palácio tão rapidamente quanto possível. Como sugere que façamos isto sem alertar a imprensa? O assunto deve ser tratado com discrição. Deve evitar-se a todo o custo o escândalo!

— Compreendo, Majestade — disse o coronel. — Sugiro que contratemos uma agência privada para tentar localizar a princesa e, com a sua permissão, trazê-la para o palácio, mesmo que isso signifique fazê-lo contra a sua vontade.

— Uma agência privada? Hum... Uma agência que não seja de Orlantha. Sim, sim... — afirmou o rei. — Uma empresa com agentes que saibam como manter a boca fechada.

— Indagarei com discrição, senhor, e trarei alternativas em menos de uma hora — respondeu o coronel, fazendo uma reverência.

— Sim, sim, agora vá-se embora — ordenou o rei. — E despache-se. Não temos tempo a perder — acrescentou. Quando o coronel saiu da sala, voltou-se para lorde Burhardt. — Anuncie que a princesa tem gripe e que se encontra a recuperar-se nos seus aposentos. Entre em contacto com o doutor Latimer e dê-lhe instruções para que venha ao palácio ainda esta manhã.

Lorde Burhardt fez uma reverência, bateu os calcanhares e saiu. Lisa esperou, rezando para que o rei também lhe dissesse para sair. Tinha que entrar em contacto com Pippin Ritter assim que pudesse para lhe dizer onde estava a princesa e entregar-lhe a informação que esta tinha deixado para ele.

Naquele momento, o rei deixou-se cair numa enorme poltrona ao lado da lareira. A rainha aproximou-se imediatamente dele e pôs-lhe as mãos nos ombros.

— Por favor, descansa, querido — disse a rainha. — Encontrarão Adele e trá-la-ão imediatamente para casa. Tudo correrá bem.

— Ela disse-me que não amava Dedrick — comentou o rei, olhando para Lisa. — Essa é a razão de tudo isto, não é? Uma tolice romântica. Assegurei-lhe que, com o tempo, sentiria carinho por Dedrick. Esse homem tem umas qualidades excelentes. É inteligente, engenhoso, encantador e a sua linhagem é muito pura. Recuso-me a acreditar que o que se passa com Adele seja outra coisa que não os nervos habituais antes de um casamento.

Lisa ficou em silêncio: sabia que não tinha o direito de pronunciar uma opinião. Na sua opinião, Dedrick não era muito inteligente e só era encantador na presença do rei. Os que o conheciam bem, sabiam que bebia em excesso, que jogava e que perseguia mulheres.

— Adele contou-me uma história descabelada que a fazia suspeitar que Dedrick era culpado de traição — disse o rei. — Ela pensa que Dedrick é um desses malditos realistas que querem voltar a unir este país com Balanchine. Disse-lhe que não lhe serviria de nada fabricar mentiras sobre ele.

— Senhor, e... e se não forem mentiras? — perguntou Lisa.

— Retire-se — respondeu o rei, como se não a tivesse ouvido. — Se tiver notícias de Adele... Esqueça, sei que não telefonará para o palácio.

Lisa fez uma reverência e saiu tão rapidamente quanto lhe foi possível. Quando chegou aos seus aposentos privados, utilizou o seu telemóvel para telefonar ao vice-chanceler Ritter. Este tinha que saber o que tinha acontecido e que a princesa mandaria e receberia mensagens através da sua amiga, Dia Constantine.

 

 

Adele tomou um gole de champanhe rosé, enquanto relaxava na sala do castelo Gustel, a trinta quilómetros de Viena. Apesar de ser muito mais pequeno que o palácio real, era muito cómodo e acolhedor. Além disso, nos três dias decorridos desde a fuga, Yves tinha-se mostrado encantador. Tinham ido às compras a Paris e, com a sua peruca ruiva, Adele tinha passado completamente despercebida. No entanto, sabia que não podia esconder-se ali indefinidamente. Era só uma questão de tempo até que alguém descobrisse o seu paradeiro. No entanto, esperava que as pessoas da sua confiança conseguissem suspender o casamento ou, pelo menos, proporcionar provas ao seu pai da deslealdade de Dedrick.

— O que se passa? — perguntou Adele ao ver que Yves entrava na sala com um jornal sob o braço e uma expressão tensa no rosto.

— Descobriram-nos.

— Como? — perguntou Adele, levantando-se.

Yves abriu o jornal e começou a ler.

— «Os rumores apontam que a princesa Adele de Orlantha, que está oficialmente na cama com gripe no palácio de Erembourg, na verdade, se encontra a divertir-se em Paris com o bon-vivant Yves Jurgen. O que faz uma princesa, noiva, em viagem com um homem que não é o seu noivo, Dedrick Vardan, duque de Roswald?». Bom — disse Yves, levantando os olhos, — o artigo continua, todavia, suponho que já fazes ideia do que diz. Receio que metemos a pata na poça, chèrie.

— Isso significa que é só uma questão de tempo até que alguém descubra que estou em Viena contigo.

— Podemos arrumar as tuas coisas e partir para a Riviera assim que tu quiseres. Esta tarde. Amanhã.

— Não, receio que não. Na Europa toda a gente te conhece e, aparentemente, reconhecem-me a mim, embora use uma peruca ruiva. Julgo que há menos possibilidades de que me reconheçam se estiver sozinha.

— Eu não gosto da ideia de que andes sozinha por aí — protestou Yves. — O que farás se...?

— Prepararei tudo para voar para Golnar amanhã de manhã. Telefonarei a Dia para que saiba que terei que me esconder com Theo e ela muito antes do que tinha planeado.

— Fico muito triste com a tua partida, querida. És uma companheira tão divertida... Fazia planos para que tivéssemos um jantar íntimo com uns amigos esta noite, mas...

— Não mudes de planos. Eu estarei muito ocupada a fazer as malas e a preparar-me para a minha viagem para Golnar.

— Tens a certeza de que não te importas? Se preferires que fique aqui contigo, ficarei encantado em cancelar...

— Ficarei perfeitamente, pelo menos por esta noite. Duvido que qualquer dos empregados do meu pai consiga informação sobre este castelo nas próximas vinte e quatro horas. Afinal de contas, continua a pertencer ao teu primo Jules, não é?

— Sim, mas como soubeste que este castelo não é meu?

— Porque ambos sabemos que tu não tens dinheiro próprio e que dependes dos teus familiares ou de damas ricas que te sustentem.

— Partilhei muitos segredos contigo, chèrie.

— E eu contigo.

— Então — comentou Yves, com um sorriso, enquanto levantava uma mão de Adele e a beijava, — ainda bem que confiamos um no outro, não achas?

 

 

Dedrick voltou-se na cama e espreguiçou-se. As pancadas que alguém dava na porta tinham-no despertado de um sono tranquilo. A mulher voluptuosa que tinha deitada ao seu lado levantou-se da cama, pôs um robe de seda e dirigiu-se à porta.

— Pergunta quem é — ordenou Dedrick a Vanda. — Não posso consentir que me encontrem aqui.

— Não te preocupes — respondeu ela, com um sorriso atrevido nos lábios. — Podes esconder-te entre os lençóis.

Abriu a porta um pouco e espreitou através da fresta. No entanto, antes que pudesse impedi-lo, um homem abriu a porta e empurrou-a para um lado para entrar num dos quartos do bordel de Madame Pellonia, o mais exclusivo que havia em Orlantha.

— Idiota! — gritou o homem a Dedrick. — E se alguém te vê aqui? Assim, toda a gente saberá por que a princesa não quer casar-se contigo.

— Preocupas-te demais — respondeu Dedrick, enquanto se endireitava na cama.

— Deixe-nos a sós! — ordenou o homem a Vanda.

— Vai-te embora, vai-te embora... — ordenou-lhe Dedrick, ao ver que Vanda olhava a ele para lhe pedir instruções. Em seguida, levantou-se e vestiu-se.

— Devemos ir para o palácio imediatamente. O rei contratou um detective privado dos Estados Unidos para que encontre a princesa e a faça voltar para Orlantha. Deverias estar ao lado do rei Leopold, mostrando o teu apoio e a tua preocupação. Se começar a suspeitar...

— Ah, mas esse é o teu trabalho, ou não? Evitar que suspeite de mim.

— A princesa Adele disse ao seu pai que pensava que tu eras um dos realistas.

— Tenho a certeza de que o seu papá não acreditou. Por que iria suspeitar de mim?