Editado por Harlequin Ibérica.
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© 2008 Helen R. Myers
© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.
O último homem, n.º 11 - novembro 2017
Título original: The Last Man She’d Marry
Publicada originalmente por Silhouette® Books.
Este título foi publicado originalmente em português em 2009
Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.
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Imagem de portada utilizada com a permissão de Dreamstime.com
I.S.B.N.: 978-84-9170-655-7
Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.
Página de título
Créditos
Sumário
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Epílogo
Se gostou deste livro…
Alyx Carmel estava a ter um dia mau. Apertou os dentes e agarrou-se com força à máquina em que estava a fazer exercício no Centro de Reabilitação Mesa. Tinha vontade de atirar pela janela a aparelhagem que estava a tocar uma canção pop.
Sim, estava a ter um dia mau, um ano mau, uma vida má. A única coisa que lhe faltava era ter de ouvir aquela música tão desagradável.
– Vamos, Alyx, tenta com mais força – disse a instrutora.
Sharleigh Moss, a sua instrutora de ginástica, estava sempre bronzeada, embora ela mesma admitisse que evitava ao máximo a luz do sol.
Alyx tinha de reconhecer que Sharleigh conhecia bem os aparelhos de exercícios, porém, a sua voz era muito desagradável.
Para além disso, num lugar tão supostamente espiritual e harmonioso como Sedona, Arizona, como podiam permitir que aquela mulher dirigisse o centro de reabilitação como se fosse uma máquina de tortura?
Cada vez mais irritada com a instrutora, Alyx tentou levantar-se:
– Não, não quero tentar com mais força. Parece-me óbvio que sou a única que se preocupa com o meu bem-estar.
As suas feridas não eram visíveis, no entanto, ela sabia onde as tinha, escondidas debaixo da sua t-shirt. Aquele pensamento amargurou-a e levantou-se, rejeitando a mão que a instrutora lhe estendia.
– Achas que esse comentário era mesmo necessário? – protestou a instrutora, olhando à sua volta.
– Tenho estado a tentar dizer-te que a sequência de exercícios que criaste para mim é demasiado. Mal consigo conduzir até casa quando acabo a sessão e, quando chego, não tenho forças para fazer mais nada senão ficar deitada no sofá – replicou Alyx num tom civilizado, depois de abanar a cabeça.
– Só estás aqui há uma semana. É sempre difícil ao princípio.
O que importava? Alyx não gostava de pôr os seus limites físicos à prova. O mais parecido a fazer exercício a que estava habituada era tomar um banho de imersão. Também começara a fazer um pouco de ioga no ano anterior ao ataque, para aliviar o stress.
– Tenho trinta e nove anos, não dezanove – disse Alyx à instrutora. – E estou magoada, tal como o resto dos teus doentes – acrescentou.
– Sei que pensas que dou um tratamento preferencial aos outros pacientes, Alyx. Mas já era um pouco tarde quando me pediste ajuda. Parece que parte dos danos já se tornou crónico e é por isso que me esforço mais contigo. Quanto mais te pressionar, maior será o teu progresso.
– Oh, és uma santa. Como eu sou insensível… É melhor ir-me embora e deixar-te com mais tempo para as pessoas que estão ansiosas por receber os teus castigos.
– Olha, posso aguentar o sarcasmo – disse Sharleigh, levantando-se. – De facto, prefiro isso àqueles que me mordem ou me dão pontapés. Mas não podes desistir agora – disse, cruzando os braços. – Vamos, ajuda-me. Tenho uma reputação a manter.
– Não viveste o suficiente para ter uma – disse Alyx.
– Desculpa?
Noutra altura, Alyx teria facilmente deixado Sharleigh sem palavras. Contudo, já perdera o interesse naqueles jogos de poder.
– Prometo que não digo a ninguém que perdeste tempo comigo – sussurrou Alyx num tom conspiratório.
Alyx desejava massajar a zona dos ombros para acalmar a dor e pensou que o melhor que podia fazer era sair dali e ir para o vestiário. Um duche quente ajudá-la-ia a afastar a tentação de tomar analgésicos ou alguma coisa pior.
Era Agosto. Tinham passado sete meses desde o ataque que mudara a sua vida para sempre, numa fria manhã de Janeiro, em Austin, Texas. Sharleigh estava enganada. Tentara seguir os conselhos dos médicos em casa, porém, a dor não desaparecera. O seu cirurgião, um dos melhores do país, avisara-a de que alguns dos danos causados por Doug Conroe, ex-marido da sua cliente Cassandra Field Conroe, seriam permanentes. Com a sua fanfarronice habitual, assegurara-lhe que ia ficar bem. Afinal de contas, ela estava viva, enquanto a pobre Cassandra estava enterrada em Austin.
Alyx deixara a sua profissão, a sua casa e afastara-se de quase todas as pessoas que tinham feito parte da sua vida. A sua prima, Parke Preston, uma artista cujas obras apareciam cada vez mais em hotéis e restaurantes de Sedona, quase recusara um convite para ir para a Europa por não ter ninguém que cuidasse da sua casa e da sua cadela, Grace. Fora então que ela entrara em cena.
Embora Alyx não gostasse muito de animais, estava a dar-se cada vez melhor com Grace. Gostaria de sentir o mesmo entusiasmo pelo centro de saúde e reabilitação que Parke lhe recomendara.
Ao sair à rua, o sol do Arizona fez com que parasse. Precisava de uma garrafa de água. Estava habituada a um ambiente mais húmido, como o do Texas. Naquela zona do país, onde os cactos tinham a altura de um homem, o clima caloroso era pouco clemente e não estava vestida de forma adequada: calças de fato de treino e uma t-shirt demasiado larga, a única forma de ocultar as suas cicatrizes.
Talvez estivesse na hora de considerar um ajuste na medicação, disse para si, enquanto tirava as chaves do carro da mala e a pendurava ao ombro. Embora os cortes das pernas já tivessem sarado, continuava a acordar com dores a meio da noite. O médico assegurara-lhe que eram dores psicossomáticas e que desapareceriam com o tempo. Ainda continuava à espera. Perguntou-se se se teriam enganado no seu diagnóstico. Pelo menos, conseguira manter-se afastada dos analgésicos, disse para si para tentar consolar-se.
Desejando chegar a casa e tomar um duche para acalmar a dor, pôs os óculos de sol. Numa questão de minutos, saiu do parque de estacionamento, no carro preto de Parke.
Como era habitual, a vila estava cheia de actividade. Era um lugar muito turístico, uma espécie de oásis para os amantes da espiritualidade. Enquanto as lojas começavam a encher-se com os primeiros compradores, muitas pessoas passeavam pelos vales e colinas que rodeavam a população. O resto das pessoas, residentes e visitantes, como ela mesma, aguentava o trânsito com impaciência.
Alyx apercebeu-se de que estava à frente do centro comercial que Parke lhe recomendara para comprar legumes. Ao mudar para a faixa da esquerda, o carro de trás buzinou. Conseguira irritar outra pessoa, para além de Sharleigh.
– Lamento muito, lamento muito! – gritou Alyx.
Ao entrar no parque de estacionamento, encontrou um lugar mesmo à porta do centro comercial. Disse para si que iria directamente à zona dos alimentos e que compraria frutas e legumes suficientes para permanecer isolada do contacto humano durante, pelo menos, três dias. Pensou que, nesse tempo, seria capaz de formular um plano B para recuperar.
Há um ano, teria ficado horrorizada perante a ideia de se render. Alyx Carmel com medo de se ver reflectida nos espelhos? Alyx Carmel assustada?
Como as coisas podiam mudar num ano.
Alyx suspirou, aliviada, ao ver que a loja estava quase vazia. Agarrou num cesto de plástico e foi buscar um saco para guardar a fruta. Ao alcançar um cacho de bananas, uma mão masculina cobriu a sua.
– Lamento… – disse Alyx, recuando.
– A culpa foi minha. Parece que ambos temos bom gosto.
Um homem, de mais ou menos um metro e setenta e tal como ela, recuou e sorriu com jovialidade. Depois fez uma vénia.
– Depois de si.
– Não o tinha visto – disse Alyx, desconcertada. Teria jurado que não havia ninguém por perto. Para além disso, não podia culpar os seus óculos de sol, pois tirara-os quando entrara na loja, quando quase chocara com a máquina de refrigerantes.
– É o que acontece por andar na loja como se estivesse em casa – disse o estranho. – Por favor, sirva-se. Gosto de observar uma mulher bonita.
Nem que tivesse sido o homem mais atraente do mundo, se teria deixado impressionar por um elogio tão medíocre. Lançou-lhe um olhar de «obrigada, mas não, obrigada» e agarrou noutro cacho de bananas.
– Essas bananas não são muito boas – disse o estranho, quase apoiando-se sobre o ombro dela. – O cacho do lado é melhor.
– Mas tem mais bananas do que as que quero – respondeu ela, ficando tensa com aquela invasão do seu espaço pessoal.
– Eh, não tem aliança de casamento? Eu, também não – disse ele. – O meu nome é Denny. Deixe-me ajudá-la a procurar um cacho de bananas melhor.
– Se não se importa, tenho pressa – replicou, ignorando a sua oferta.
Alyx dirigiu-se para a bancada dos tomates. Infelizmente, o homem não queria desistir.
– O café daqui não é mau. Quer ir beber um café comigo?
– Obrigada, mas não.
– Porquê? Pela forma com está vestida, não me parece que esteja com pressa para ir trabalhar.
Todos os alarmes tocaram dentro de Alyx. Aquele fora um comentário muito negativo. Como advogada de divórcios, Alyx já ouvira muitos assim, desde os ataques pessoais que recebera até às histórias que as suas clientes lhe tinham contado, casadas com mestres nos maus-tratos psicológicos. Que maneira tão idiota de fazer com que uma mulher se sentisse feliz por receber a atenção de um homem. Para ela, foi um aviso de todas as pessoas que tentara ajudar, pessoas que tinham ouvido aquela cantiga durante demasiado tempo. Bom, aquele macho estava prestes a descobrir que se enganara na vítima.
– Deixe-me esclarecer-lhe uma coisa. Não estou interessada – assinalou Alyx com a maior frieza possível.
O estranho pareceu ignorá-la.
– Porquê? Parece uma boa pessoa. Eu sou uma boa pessoa.
– Quem lhe disse isso? A sua mãe? Aposto que lhe mentiu só para fazer com que saísse finalmente de casa.
Denny riu-se, porém, alguma coisa no seu olhar endureceu.
– É muito engraçadinha.
– Não queira descobrir como – disse com um olhar frio. Pôs alguns tomates no cesto e dirigiu-se para a zona das alfaces. Queria acabar as compras o mais depressa possível.
– Ena, não me diga que é vegetariana?
Haveria uma câmara oculta em algum lado?, perguntou-se Alyx. Aquele tipo parecia um verdadeiro perseguidor.
– Senhor, será que não entende que não estou interessada?
– Não tem de se envergonhar – disse ele, como se não a tivesse ouvido, e depois encolheu os ombros. – Eu adoro carne, mas posso suportar um pouco de comida verde se isso significar passar a noite consigo.
Alyx sentiu que se arrepiava e soube que, se não saísse dali depressa, sofreria um ataque de pânico. Desesperada, olhou à sua volta, à procura de algum empregado da loja, contudo, todos pareciam ter desaparecido.
– Bom, já chega – disse, virando-se para enfrentar o homem com determinação. – Ou desaparece ou chamo o gerente.
– É o meu tio.
Alyx ficou boquiaberta. Porque Parke não a avisara sobre aquele tipo? Parecia que aquele Casanova falso era habitual na loja.
Duvidava que ele nunca tivesse reparado na sua prima. Parke era muito atraente. Tinha o cabelo escuro, que herdara dos seus antepassados galeses, e uns olhos pretos lindíssimos. Contudo, também tinha um temperamento forte. Para ser sincera, sempre invejara o seu cabelo tão escuro quando eram pequenas e imitara Parke mais de uma vez durante os julgamentos, quando a situação requerera uma aproximação ao estilo de um Ranger do Texas. Quase sempre funcionara. Disse para si que empregaria uma dose da força verbal da sua prima nesse momento.
– O seu tio? Como se chama? – perguntou e, como Denny não respondeu, respirou fundo e gritou: – Tio de Denny! Precisam de si no corredor dos legumes!
– Isso não foi engraçado… nem educado – comentou Denny, sem sorrir.
– Também não é educado incomodar mulheres que não conhece.
Alyx saiu da secção dos legumes e, ao ver o cartaz que anunciava o pão, virou à esquerda. Então agarrou no primeiro saco de pão integral que encontrou, tentando despachar-se o mais depressa possível. Imediatamente, alguém a agarrou com força pelo ombro ferido e virou-a para ele. Gritou de dor.
– Não!
Por instinto, Alyx, empurrou Denny para o afastar dela. Infelizmente, ele chocou com as prateleiras do pão e caiu. Observou-o com uma mistura de medo e espanto. Rugindo de raiva, Denny levantou-se e aproximou-se dela outra vez.
Alyx engoliu em seco pela dor do seu ombro e cobriu-o com a mão. Baixou-se, com a esperança de evitar mais danos. Ouviu um golpe e, quando levantou o olhar, viu Denny novamente no chão. O que acontecera?
– Está louco?
Alyx pestanejou várias vezes quando viu que alguém levantava Denny pelo colarinho da camisa. O seu salvador era mais alto do que Denny e mais magro… Mas tinha um rabo…
Um momento, disse para si Alyx. Onde já vira aquele rabo?
– Desaparece – disse o seu herói a Denny. – Tenta fazer isso outra vez e garanto-te que te arrastarei por todos os cactos que há daqui até Agave.
Jonas?
Alyx ficou perplexa ao ver como aquele homem de cabelo loiro empurrava Denny até à saída. Quando regressou, não tinha dúvida nenhuma de quem era.
Então o agente Jonas Hunter, do FBI, ajoelhou-se diante dela.
– Estás bem? – perguntou Jonas, franzindo o sobrolho.
– O que estás a fazer aqui? – perguntou ela. Estava a ser um pouco mal-educada, tendo em conta que Jonas acabava de a salvar. Contudo, não sentiu vontade nenhuma de o abraçar. As dores no ombro tinham passado e a única coisa que sentia eram os vestígios de um medo terrível.
– Sim. O mundo é mesmo pequeno – disse e apontou para o ombro dela. – Podemos acabar esta conversa noutro lado? Precisas de apanhar ar fresco…
Alyx decidiu deixar que Jonas a ajudasse a levantar-se.
– Obrigada pelo que fizeste – disse ela.
– Magoou-te no ombro ferido? Achas que devíamos ir ao hospital? – perguntou Jonas.
– Nunca mais quero voltar ao hospital – resmungou ela. – Consigo suportar a dor.
– Estás muito pálida – disse Jonas, preocupado.
Alyx tentou acalmar-se e respirou fundo.
– Fui apanhada desprevenida. Agora estou bem. Na verdade, onde está o meu cesto?
– Eu tenho-o – disse Jonas. – Precisas de mais alguma coisa? Porque não esperas por mim no carro? Eu trato disto. Bem, é melhor acompanhar-te para me certificar de que esse tipo não está à tua espera ou algo do género.
Jonas estava a ser atencioso e amável com ela, como se tivessem tomado o pequeno-almoço juntos e se tivessem despedido com um beijo, disse para si Alyx. Contudo, a verdade era que não se viam há meses… Sete meses, para ser exacta. Para além disso, a sua separação não fora muito amigável. A culpa fora dela, porém, não quis recordar esses dias outra vez. Então, disse para si que Jonas só estava a comportar-se com profissionalismo e que estava a tratá-la com a mesma atenção que dedicaria a qualquer outra pessoa.
Alyx fez um gesto para que lhe desse o cesto.
– Eu posso levar o cesto, mas obrigada pela tua amabilidade.
Jonas não cedeu e Alyx aproximou-se mais para agarrar no cesto. Puxou uma das asas com suavidade e reparou que as pessoas estavam a começar a olhar para eles.
– Por favor, Jonas.
– Lamento muito. Ainda estou a tentar entender… O que estás a fazer aqui? – perguntou ele com um sorriso.
Então estava surpreendido, disse para si Alyx, que, ao princípio, pensara que fora tudo um plano romântico de Jonas para se encontrar com ela. Sentiu-se envergonhada por esses pensamentos e corou.
– Tu não me disseste o que estás a fazer aqui, por isso porque havia de te dizer? – replicou com uma careta, ao mesmo tempo que conseguia apoderar-se do seu cesto de compras.
– Que mulher tão teimosa – disse Jonas e encolheu os ombros. – Estou a ajudar um amigo. E tu?
– O mesmo… Estou a ajudar a minha prima.
– Sim, claro – disse Jonas num tom brincalhão.
– Não quero saber se acreditas ou não.
Jonas pareceu arrepender-se do seu tom, tocou-lhe no braço e fez um gesto com a cabeça, indicando-lhe que se dirigissem para a caixa.
– Gostava de entender – disse Jonas, muito baixo, atrás dela. – Quis entender desde o começo. Expulsaste-me da tua vida.
Oh, mais não, por favor, disse para si Alyx. Não queria ter aquela conversa outra vez.
– Fiz-te um favor – disse ela. – Tinhas o teu trabalho.
– Teria adorado tirar umas férias.
Era a primeira vez que Jonas dizia aquilo. Nunca se dera ao luxo de tirar algum tempo livre, pensou Alyx.
– Não tens um trabalho. Tens uma carreira – disse ela e depois disse para si que os homens como Jonas dedicavam com orgulho toda a sua vida e a sua determinação ao seu trabalho. Não era fácil tirar férias da dedicação absoluta e, depois de todo o esforço e dinheiro que era investido na formação de um agente, o FBI também não ia deixar que o fizesse. Para além disso, não podia considerar o que tinham partilhado uma verdadeira relação. Tinham-se visto alguns fins-de-semana, quando ele tivera a oportunidade de viajar de Washington D.C. a Austin, Texas. De facto, a única coisa boa que acontecera entre eles fora o facto de ter acabado antes de ela ter tido de se preocupar que as coisas fossem demasiado longe.
Jonas ficou a olhar para ela, em silêncio.
– Não acreditas que eu quero ajudar-te. Porque achas que te enviei aquelas cartas e te deixei todas aquelas mensagens no telefone?
– Talvez eu não queira ser o projecto de ninguém – replicou, sentindo a necessidade de ter a situação sob controlo. Estendeu o cesto à caixa.
– Peço desculpa, senhora – disse o gerente do supermercado. Tinha o rosto corado. – Posso fazer alguma coisa por si? Está bem?
Seria o tio de Denny? Pelo menos, não eram nada parecidos, disse para si Alyx.
– Estou bem, obrigada – disse, com o único desejo de fugir dali. – Só quero pagar isto e ir para casa.
– Não vou cobrar-lhe as suas compras. Lamento que tenha tido esta má experiência. Não vai voltar a acontecer.
Alyx perguntou-se quantas vezes teria tido o gerente de pagar do seu bolso para proteger o filho delinquente da sua irmã ou irmão.
– Eu agradeço, mas não é necessário – disse Alyx, sentindo compaixão por ele.
– Onde está o homem que a atacou? – interveio Jonas.
O gerente olhou para a entrada da loja e engoliu em seco.
– Ele está… Eh… Estão a levá-lo para casa, senhor. Telefonei para a sua casa. A sua família vai certificar-se de que permanece lá.
Noutra altura, Alyx teria achado graça que o gerente se sentisse intimidado por Jonas. Há um ano, na primeira vez em que o vira, tivera de se esforçar muito para não perder a sua frieza e decoro habituais. Então, durante um momento, não se importara muito que a sua cliente, a advogada E. D. Martel e o juiz Dylan Justiss, amigo de Jonas, se tivessem apaixonado num momento tão inoportuno. Jonas tinha um aspecto tão imponente que merecera toda a sua atenção. Sempre lhe recordara algum actor de Hollywood, porém, nunca soubera quem.
De repente, depois de todo aquele tempo, percebeu que lhe recordava George Peppard, o apaixonado por Audrey Hepburn em Breakfast at Tiffany’s.
– Aqui tem, senhora – disse o gerente, sem aceitar o cartão de crédito que lhe estendera. – Mais uma vez, lamento muito.
– Obrigada – disse Alyx e saiu da loja, consciente de que todos olhavam para ela. A única coisa que queria era sair dali o mais depressa possível.
– Alyx? Tens um momento?
Alyx abriu as portas do carro e parou. Olhou para o seu antigo amante e esperou que ele dissesse alguma coisa. O que mais podia perder?, disse para si. Pensou que devia estar com muito mau aspecto, contudo, pelo menos, não havia nenhum fotógrafo por perto.
Jonas pôs os óculos de sol. Um agente perfeito, disse para si. Perito em revelar os segredos dos outros e em guardar os seus.
– Sem explicações? Nada?
Alyx não podia culpar Jonas por o seu «obrigada» não lhe ter parecido suficiente, nem no sentido profissional nem no pessoal. No entanto, todos sabiam que ela era uma mulher dura nas suas relações pessoais. Não tinha desejo nenhum de se justificar naquele momento e talvez nunca o tivesse.
– O passado é passado, Jonas. Tu tens o teu mundo e eu tenho o meu. Esquece.
Então Alyx olhou para ele e ficou espantada. Jonas perdera o aspecto de profissional frio e eficiente que ela recordava. Tinha o rosto taciturno, com mais rugas do que antes.
– Esquecer? – perguntou. – Alyx, tens-te visto ao espelho ultimamente? Estás com aspecto de estar à beira do suicídio – acrescentou, praguejando em voz baixa, e afastou-se.
A sua crítica magoou Alyx e foi impossível conter-se.
– Ah, sim? – gritou ela, enquanto Jonas se afastava. – Pois tu estás muito pior!
Homens. Soubesse Jonas ou não, fizera-lhe um favor. No entanto, a testosterona obrigava os homens, quando eram rejeitados, a atacar a mulher para a tornar mais manejável.