cover.jpg

portadilla.jpg

 

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2011 Melissa Martinez McClone

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

A futura rainha, n.º 1286 - Agosto 2016

Título original: Expecting Royal Twins!

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2011

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Bianca e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-8549-3

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Nikola Tomislav Kresimir, príncipe herdeiro de Vernonia, passou pelo ajudante do seu pai e por dois vigilantes do palácio que estavam de guarda. Assim que entrou no escritório do rei, Niko ouviu a porta fechar atrás de si.

Fez uma careta. Não tinha tempo para nada. A conferência sobre comércio que ia ter lugar em breve estava a ser um pesadelo. A princesa Julianna de Aliestle estava à sua espera para almoçar.

De cada vez que o rei o chamava, a sua apertada agenda sofria por isso durante o resto do dia, às vezes até mesmo semanas. Isto sem contar o quanto o protocolo real lhe dificultava a tarefa que se impusera: transformar um país provinciano num estado moderno. No entanto, obedecia às ordens do seu pai, por respeito e também pelo bem da nação.

O rei Dmitar, sentado atrás da sua secretária de mogno, olhava para um envelope de papel-manilha que tinha nas mãos. Os seus cabelos, antes pretos, tinham-se tornado tão brancos como os topos dos Balcãs e dos Cárpatos. O rosto, como o do seu filho, era tão esculpido como as próprias montanhas. Os óculos de aros de metal faziam-no parecer mais um professor do que um soldado ou um rei que tinha passado a maior parte do seu reinado a tentar unificar o seu país.

Niko parou a três metros de distância... e esperou.

O ar que entrava por uma janela aberta trazia o cheiro das flores dos jardins reais, muito mais agradável do que o cheiro a pólvora e o repugnante cheiro a sangue que viciavam o ar do palácio algum tempo atrás.

Tinham decorrido cinco anos desde a ratificação do tratado de paz. Apesar de, às vezes, se agudizarem as tensões entre os dois bandos adversários, reinava a paz. Ele tinha-se proposto que fosse assim para sempre. No entanto, uma Vernonia unificada era um sonho distante, na verdade, um conto de fadas.

Como não queria continuar a perder tempo, pigarreou.

O pai levantou o olhar, as olheiras eram visíveis num rosto sulcado pelas rugas. O conflito tinha-o envelhecido, e também o sofrimento. No entanto os seus lábios curvaram-se num desacostumado sorriso.

– Tenho boas notícias, filho.

A melhor notícia que lhe podiam dar era que Vernonia fora aceite na União Europeia, mas sabia que ainda tinham de melhorar alguns aspectos do país para que isso acontecesse.

– Passei a manhã a estudar as propostas das delegações comerciais – disse Niko, aproximando-se da secretária. – Agradecia uma boa notícia, papá.

– Localizaram a caixa da tua noiva.

Niko assimilou a notícia inesperada. Respeitava as tradições, mas que alguma coisa tão importante como o seu casamento dependesse de um costume tão antiquado como o de entregar à namorada uma relíquia no dia do casamento, irritava-o.

– Tens a certeza de que é a minha?

– Tanta certeza quanta nos é possível sem ter a caixa nas mãos.

Há vinte anos que a caixa da sua noiva estava desaparecida, desde que a dissolução da União Soviética causara tantos transtornos nos países balcânicos. Vernonia evitara as guerras étnicas, mas os actos terroristas levaram a uma guerra civil que devastara o país e a sua economia.

– Onde está a caixa?

– Nos Estados Unidos – respondeu o pai, voltando a cravar os olhos nos papéis que tinha na mão. – Em Charlotte, na Carolina do Norte.

– Bastante longe daqui.

– Sim.

O lugar carecia de importância. O importante era que teria a caixa e assim poderia cumprir a tradição e satisfazer o pai. Nada se interporia entre o seu casamento com Julianna. Finalmente, poderia cumprir o seu dever, tal como o povo e o seu pai lhe exigiam.

– Como é que a caixa foi encontrada?

– Pela Internet – respondeu o pai, revolvendo os papéis. – Alguém perguntou pela chave num fórum de antiguidades. Depois de se certificar de que o nosso interesse era sincero, enviou-nos uma fotografia, que confirmou as nossas suspeitas. É a tua caixa.

– Incrível! – Niko pensou, com ironia, na quantidade de investigadores privados e caçadores de fortunas que contratara para a encontrar. – A tecnologia ao resgate de uma velha tradição.

– A tecnologia é útil, mas o nosso povo deseja que se respeite a tradição. Será melhor que não o esqueças quando reinares.

– Tudo o que fiz até agora na vida foi por Vernonia – a sua família tinha governado o país durante oito séculos. O dever antepunha-se a tudo. – Mas se queremos ter sucesso no século XXI, devemos modernizar-nos.

– No entanto, apesar disso, aceitaste um casamento de conveniência.

Niko encolheu os ombros. O seu casamento faria de ponte entre o passado e o futuro. A publicidade de um casamento real seria boa para a indústria do turismo. Aproveitaria qualquer coisa que beneficiasse Vernonia.

– Posso não ser um entusiasta da tradição, papá, mas farei sempre o que for melhor para a nação.

– Tal como eu – o seu pai deixou os papéis em cima da secretária. – Tens a chave, certo?

– Sim, é claro – trazia a chave pendurada ao pescoço num fio há mais de vinte anos, a única coisa que tinha mudado era o tamanho da corrente. Tirou uma chave de baixo da camisa, uma mistura de cruz e coração soldados. – Posso tirar o fio?

– Não – respondeu o seu pai com energia. – Quando fores à Carolina do Norte, amanhã, precisarás de ter a chave contigo.

– Envia Jovan. Eu não posso ir aos Estados Unidos neste momento, é preciso que esteja aqui – objectou Niko. – Tenho uma agenda muito apertada. Além disso, a princesa Julianna está aqui.

– É a tua caixa – declarou o seu pai. – Serás tu a trazê-la. A viagem já está preparada. Serão dados os detalhes do itinerário e a informação necessária ao teu ajudante.

Niko mordeu a língua. Continuar a protestar seria inútil.

– Está bem. Mas estás consciente de que eu nunca vi a caixa, certo?

– Viste. Eras uma criança, por isso não te lembras.

 

 

O que Niko recordava da infância era a guerra, uma coisa que queria e esperava esquecer.

– Papá, queres que peça a mão a Julianna antes de ir para os Estados Unidos ou depois, à volta?

O rosto do rei corou.

– Não haverá petição de mão oficial.

– O quê? – Niko fez um esforço por não levantar a voz. – Passámos meses de negociações com Aliestle. Até os separatistas estão a favor do nosso casamento, desde que o rei Alaric lhes prestou apoio durante o conflito. O único obstáculo ao nosso casamento era a caixa. Um atraso preocupá-los-ia...

– Nada de pedidos de casamento.

A frustração de Niko aumentou. Tinha demorado quase um ano a encontrar uma noiva adequada.

– Tu mesmo disseste que Julianna seria perfeita como esposa e futura rainha de Vernonia, por isso era tão importante encontrar a caixa.

– Julianna seria uma rainha mais do que adequada, mas... – o pai tirou os óculos e esfregou os olhos. – Estás apaixonado por ela?

Apaixonado? Surpreendeu-o que o pai mostrasse interesse nisso, o seu próprio casamento fora de conveniência. Depois da morte do irmão mais velho, Stefan, durante o conflito, renunciara a casar-se por amor.

– Damo-nos bem. Julianna é bonita e inteligente. Será uma boa esposa – declarou Niko com sinceridade. Como príncipe herdeiro, casar-se-ia pelo bem de Vernonia, não por interesse próprio. – A publicidade que acompanhará o casamento será boa para o sector turístico. Mas, sobretudo, uma aliança com Aliestle dará a Vernonia o capital que precisa para terminar a sua reconstrução. Isso dará um impulso ao nosso pedido de ingresso na União Europeia.

– Consideraste tudo.

Niko baixou a cabeça.

– Como tu mesmo me ensinaste, papá.

– E Julianna... o que sente por ti?

– Julianna... gosta de mim – respondeu Niko, com cuidado. – E eu dela. Está consciente das suas obrigações.

– Está apaixonada por ti?

Incomodado, Niko mudou o peso do corpo de uma perna para outra.

– Nunca me tinhas falado de amor, só de dever e da importância de um casamento real.

– Tens idade suficiente para saber se uma mulher te ama ou não. Responde à minha pergunta.

– Não, não está apaixonada por mim.

– Bem.

– Papá, não compreendo ao que vem isto. Aconteceu alguma coisa no que diz respeito às relações entre Vernonia e Aliestle que...

– Não, nada mudou a respeito de isso – o pai soltou um suspiro. – No entanto, surgiu uma ligeira complicação no que se refere ao teu casamento com Julianna.

Niko ficou tenso.

– Que complicação?

 

 

Numa oficina de mecânica em Charlotte, na Carolina do Norte, soava na rádio uma canção de Brad Paisley. Cheirava a gordura, gasolina e óleo.

Isabel Poussard inclinou-se sobre o motor de um Chevrolet 350. O parafuso que tinha de tirar estava a resistir, mas não ia pedir ajuda. Queria que o resto dos empregados da oficina a tratassem de igual para igual, não como a uma mulher incapaz de resolver os problemas sem ajuda.

Ajustou a chave-inglesa.

– Vamos, cede.

Uma madeixa de cabelo castanho-claro caiu-lhe sobre os olhos, tapando-os. Maldito rabo-de-cavalo. A primeira coisa que faria quando tivesse dinheiro seria ir ao cabeleireiro cortar o cabelo, porque não se atrevia a cortá-lo ela mesma. Durante anos, o tio Frank tinha-lho cortado, fazendo-a parecer mais um rapaz do que uma rapariga.

Izzy pôs a madeixa de cabelo atrás da orelha. Fez tudo o que pôde para desapertar o parafuso, mas suavam-lhe as mãos e a chave-inglesa caiu.

– Se és incapaz de desapertar um parafuso, nunca vais conseguir que te contratem como mecânica de carros de corrida – disse a si mesma, após soltar um suspiro de frustração.

O sonho do seu tio Frank era ser mecânico de carros de corrida, mas um aneurisma tirara-lhe a vida. Agora, era ela quem ia tornar aquele sonho realidade. O tio passara a vida a cuidar dela, a ensinar-lhe tudo o que sabia e a partilhar com ela a sua paixão por carros. Mais do que uma vez tinham-lhe proposto fazer parte de uma equipa de mecânicos de carros de corrida, mas Frank não quisera deixá-la sozinha. Portanto, isso era o mínimo que podia fazer por ele.

E consegui-lo-ia, tinha a certeza disso.

Agarrou na chave-inglesa, segurou-a com força e voltou a tentar desapertar o parafuso. E conseguiu!

– Eh, Izzy! – gritou o filho do chefe e o seu melhor amigo, Boyd, para se fazer ouvir por cima da rádio. – Umas pessoas querem ver-te.

Corriam rumores sobre a sua habilidade como mecânica de automóveis. Não só conseguia arranjar motores velhos, mas também os novos híbridos. O facto de se dar bem com computadores e electrónica, além de com o diagnóstico dos problemas dos motores, estava a trazer nova clientela diariamente. O seu chefe, Rowdy, estava tão contente com ela que lhe aumentara o salário. Se tudo continuasse assim, numa questão de meses teria dinheiro suficiente e matricular-se-ia numa das escolas especiais em que se preparavam os mecânicos de carros de corrida.

Com um sorriso, deixou a chave-inglesa e o parafuso em cima da sua caixa de ferramentas e saiu da oficina. Encheu os pulmões de ar fresco e o sol aqueceu-lhe o rosto. Adorava a Primavera.

À sua frente viu uma limusina a brilhar ao sol. Os vidros escuros escondiam a identidade dos passageiros, mas por perto havia polícias com uniformes.

Izzy limpou o óleo das mãos na perna das calças do fato-macaco enquanto um dos polícias a olhava de cima a baixo. Um motorista rodeou o carro e abriu uma das portas de trás. Do carro saiu um homem loiro impecavelmente vestido, que usava uns fabulosos sapatos pretos. Era bonito, de uma beleza clássica, mas o seu atractivo era algo insípido, como um gelado de baunilha. Gostava dos homens menos... bonitos, com mais... personalidade.

– Isabel Poussard? – perguntou o homem.

Ficou tensa. Todos a chamavam Izzy. O tio Frank sempre tinha insistido para que tivesse cuidado com desconhecidos, preocupava-se muito com ela e fora muito protector. Sabia que, se estivesse vivo e ali com ela, faria o mesmo agora.

Izzy levantou o queixo.

– Quem quer sabê-lo?

Uns quentes olhos castanhos cravaram-se nos seus. O tipo não parecia intimidado, mas quase divertido.

– Sou Jovan Novak, secretário de Sua Alteza Real, o príncipe herdeiro Nikola Tomislav Kresimir.

O sotaque de Jovan parecia europeu. Estranho, pois essa era uma zona de NASCAR, não de Fórmula 1.

– Não sei quem é.

– O príncipe herdeiro de Vernonia.

– Vernonia – o nome era-lhe vagamente familiar. Depois de pensar uns segundos, lembrou-se. – Ah, é um desses países balcânicos com castelos de contos de fadas e cúpulas nevadas. Houve uma guerra civil lá.

– Sim.

– Eh, Izzy – gritou Boyd atrás dela. – Precisas de ajuda?

Izzy voltou o rosto e cravou os olhos no homem que tinha um maço na mão e curiosidade no olhar. Sorriu. Gostava que Boyd a tratasse como a uma irmã mais nova, sobretudo agora que já não tinha família.

– Não, ainda não, Boyd, mas aviso-te se precisar.

– Isabel. Izzy – com um sorriso que lhe chegou aos olhos, Jovan inclinou a cabeça. – É um prazer conhecê-la, Al...

– O seu carro precisa de alguma reparação? – perguntou ela, sem compreender porque é que o homem parecia contente por vê-la. A maioria dos seus clientes limitava-se a falar com ela sobre os problemas dos seus carros. Alguns, simplesmente, ignoravam-na. Outros, os que faziam o possível por falar com ela, costumavam acabar por lhe propor casamento. – Ou trata-se de outra coisa? A verdade é que tenho muito trabalho agora.

– Um momento, por favor – Jovan baixou-se e colocou a cabeça dentro da limusina.

Passaram alguns segundos. Ela impacientou-se. Tinha de acabar de arranjar o Chevrolet para poder começar com o Dodge. Também tinha uma mãe com quatro filhos que estava à espera que ela lhe arranjasse a carrinha.

Finalmente, Jovan tirou a cabeça da limusina. Outro homem com um fato escuro saiu do veículo. Izzy examinou-o com o olhar... e sentiu o corpo inteiro a tremer.

O homem, no mínimo, devia medir um metro e oitenta e três, o cabelo castanho chegava-lhe aos ombros e tinha uns penetrantes olhos de um azul-esverdeado rodeados de pestanas escuras.

Izzy endireitou-se, como se um centímetro pudesse aproximá-la da altura dele. Mesmo assim, a sua cabeça chegava apenas ao queixo do homem.

«E que queixo!», pensou Izzy, engolindo em seco.

Nariz poderoso, maçãs do rosto pronunciadas, sobrancelhas escuras. Traços duros que, combinados, produziam um rosto bonito, apesar de uma cicatriz na face direita.

E por falar em personalidade, a este homem não lhe faltava nenhuma.

É claro, para ela era igual.

Como tinha passado a vida rodeada de homens, mecânicos de automóveis, sabia como pensavam e agiam. O que tinha à sua frente, com um excelente fato e sapatos reluzentes, não podia dar mais do que problemas. E também era perigoso.

A limusina, a roupa cara, os empregados e a polícia que o acompanhavam indicavam que vivia num mundo completamente diferente do seu; um mundo no qual ela só podia ser uma empregada, um papel de parede ou, pior, um engate de uma noite. Era-lhe incómodo tratar com gente rica. Não queria ter nada a ver com ele.

Mas não a incomodava olhá-lo. Este homem era digno das capas das revistas. Mexia-se com a graça e a agilidade de um atleta. O fato fê-la perguntar-se como seria por baixo da roupa.

O resto das pessoas pareceu desvanecer-se.

– Você é Isabel Poussard – o seu sotaque, uma mistura de inglês britânico e outra coisa, fê-la derreter. Izzy assentiu.

– Você sabe o meu nome, mas eu não sei o seu.

– Sou o príncipe Nikola, de Vernonia.

– Um príncipe?

– Sim.

Pressupôs que um príncipe levaria escolta e iria acompanhado de um secretário, mas aquele era o tipo de brincadeira que Boyd podia estar a pregar-lhe para se rir dela o resto da vida. Olhou ao seu redor à procura de alguma câmara oculta.

– Estão a gozar comigo?

Jovan sorriu travessamente.

Nikola apertou os lábios com força.

– Não.

Pensando bem, não acreditava que a polícia participasse numa brincadeira. No entanto custava-lhe acreditar que a realeza visitasse a oficina de Rowdy. Não era a pior zona da cidade, mas também não era a melhor.

– Tenho de o chamar Alteza ou algo parecido?

– Niko é suficiente – respondeu ele.

– Bem, Niko, ao que veio?

Jovan tentou falar, mas Niko levantou uma mão, silenciando-o.

– Na Internet, iniciou a busca da chave de uma caixa – disse Niko. – A caixa é minha.

Izzy levantou a cabeça, como se o estivesse a medir de cima a baixo.

– Não, não me parece. A caixa era da minha mãe, o que quero é a chave.

– Sei que quer a chave, mas a caixa da fotografia nunca pertenceu à sua mãe.

Céus! Rowdy e Boyd tinham-lhe dito que, se pusesse um anúncio na Internet, receberia todo o tipo de respostas, algumas estranhas. Mas só uma pessoa entrara em contacto com ela e lhe tinha descrito a caixa na perfeição, por isso ela tinha enviado uma fotografia da caixa.

– Você é o SMRDK?

– É o meu pai – respondeu Niko. – Sua Majestade, o Rei Dmitar Kresimir.

Pois! Como se um rei fosse enviar uma mensagem por correio electrónico a uma perfeita desconhecida a respeito de uma caixa de madeira, por muito bonita que fosse. Para ela, só tinha um valor sentimental, mas talvez tivesse um valor económico também.

– Como lhe disse, a caixa é minha.

– Talvez o seja, mas só porque eu lha dei.

Isso era uma tolice. A caixa era a única coisa que tinha da sua mãe, que morrera quando ela era muito pequena. Por isso tinha começado a procurar a chave, para abrir a parte inferior da caixa e ver se havia alguma coisa lá dentro. Agora que o tio Frank também tinha morrido, não tinha família nem sabia nada do seu passado. Queria descobrir alguma coisa, o que quer que fosse.

Izzy endireitou os ombros.

– Ouvi falar de Vernonia, mas nunca lá estive. Tenho a certeza que nunca nos vimos. A caixa esteve sempre na minha posse.

– A caixa esteve na sua posse vinte e três anos, para ser mais exacto – declarou Niko. – Dei-lha quando você era um bebé.

– Um bebé – repetiu ela como se assim pudesse dar sentido àquela conversa. Não conseguiu. E aquele homem não podia ser muito mais velho do que ela, o que significava que também era uma criança. Uma tolice.

– Sim, sei que deve parecer uma loucura – admitiu Niko.

– É verdade.

– Garanto-lhe que não estou louco – disse Niko, e então olhou para o seu secretário. – Não é verdade, Jovan?

– Não, não está louco – disse Jovan, embora parecesse estar a divertir-se com o que estava a presenciar.

– Suponho que lhe pagam para estar de acordo com ele – declarou Izzy, irritada.

– Sim, mas também sou advogado e isso confere-me uma certa credibilidade.

– Não necessariamente. Penso que os dois estão loucos – disse ela. – De todos os modos, imaginemos por um momento que dizem a verdade...

– É a verdade – interrompeu Niko. Izzy respirou fundo para controlar a sua crescente irritação.

– Porquê dar uma caixa a um bebé? Que significado teria esse gesto?

– É um costume.

– Um costume? – repetiu ela, confusa.

– A tradição – esclareceu Niko. – Quando o príncipe de Vernonia se casa, no dia do casamento concede essa caixa à sua esposa.

– Isso continua sem explicar porque me deu a caixa.

– Porque sou o seu marido.