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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Susan Mallery, Inc.

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Deliciosamente misteriosa, n.º 2170 - dezembro 2016

Título original: In Bed with the Devil

Publicada originalmente por Silhouette® Books

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9224-8

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

Onze anos atrás

 

Meredith Palmer passou a tarde do seu décimo sétimo aniversário encolhida na sua estreita cama, a chorar inconsolavelmente. Tudo na sua vida era um desastre. E se aquilo fosse o melhor que lhe ia acontecer?

Deveria lançar-se da janela do quarto e acabar com tudo. Claro que tão-só estava num quarto andar e ia ser difícil que se matasse. O mais provável era acabar com umas quantas fracturas.

Endireitou-se e secou a cara.

– Tendo em conta a distância até ao chão e a velocidade no momento do impacto… – murmurou para si própria. – Dependendo da posição… – disse pegando num bocado de papel. – Se saltar de pé… não, é pouco provável, mas poderia ocorrer. Então, a maior parte da carga estaria no meu…

Começou a fazer cálculos. Densidade de ossos face à aterragem sobre o cimento duro. Assumindo um coeficiente de…

Meri largou o lápis e o papel e voltou a deitar-se na cama.

– Sou um completo desastre. Nunca serei mais do que um desastre. Deveria estar a planear a minha morte e não a fazer números. Com razão não tenho amigos.

Os soluços voltaram. Chorou e chorou, convencida que o seu caso não tinha cura, que estava destinada a converter-se numa pessoa solitária.

– Tenho de arranjar um gato – pensou. – Mas sou alérgica a gatos.

A porta do seu quarto abriu-se e afundou o rosto no travesseiro.

– Desaparece.

– Não vou fazê-lo.

Conhecia a voz. O dono dela era o protagonista de todas as fantasias românticas e sexuais que alimentara. Alto, com o cabelo escuro e olhos de um azul intenso.

Meri grunhiu.

– Que alguém me mate agora mesmo.

– Ninguém te vai matar – disse Jack sentando-se na cama ao seu lado e pondo-lhe a mão sobre as costas. – Vá lá, é o teu aniversário. Qual é o problema?

De quanto tempo dispunha? Podia fazer uma lista e inclusive, se lhe desse quarenta e cinco segundos, traduzi-la para duas línguas e fazer-lhe um índice.

– Odeio a minha vida. É horrível. Sou um desastre. Pior, sou gorda, feia e sempre serei assim.

Ouviu como Jack inspirava.

Havia muitas razões pelas quais estava completamente apaixonada por ele. Era muito bonito, embora isso fosse o menos importante. O melhor de Jack era que lhe dedicava tempo. Falava com ela como se fosse uma pessoa de verdade. Juntamente com Hunter, o seu irmão, amava Jack mais do que qualquer outra pessoa no mundo.

– Não és um desastre – disse ele com voz calma.

Notou que não lhe disse que não era gorda. Era impossível evitar ignorar os vinte quilos que a sua estrutura miúda de pouco mais de um metro e cinquenta e cinco centímetros ganhara. Por desgraça também não lhe disse que não era feia. Jack era amável, mas não era nenhum mentiroso.

Entre o aparelho dentário, o nariz e a sua constituição, podia contar com uma oferta de emprego permanente no circo.

– Não sou normal – disse ainda a falar com o rosto afundado no travesseiro. – Estava a planear a minha própria morte e acabei por fazer equações matemáticas. As pessoas normais não fazem isso.

– Tens razão, Meri. Não és normal. És muito melhor do que a média. És um génio e os demais somos uns idiotas.

Ele não era nenhum idiota. Era perfeito.

– Estou na universidade desde os doze anos – murmurou. – Isto é, cinco. Se fosse deveras esperta, já teria acabado.

– Estás a estudar um doutoramento, para não mencionar… Quantas eram? Três especialidades?

– Algo do género.

Incapaz de estar na mesma divisão do que ele sem o observar, deu meia volta.

Era impressionante, pensou enquanto sentia uma pressão no peito e uma reviravolta no estômago.

– Tenho de encontrar a maneira de apagar o meu cérebro – disse cobrindo o rosto com as mãos.

– Porquê? Para seres como o resto de nós?

– Sim – disse deixando cair as mãos. – Quero ser uma rapariga normal.

– Lamento. Terás de te conformar em seres alguém especial.

Amava-o tanto que sentia dor. Queria que a visse como algo mais que a irmã mais nova do seu melhor amigo. Queria que a visse como uma mulher.

– Não tenho amigos – disse esforçando-se por ignorar a necessidade que sentia de lhe confessar que o amaria sempre. – Sou muito jovem, especialmente no curso de doutoramento. Todos acham que sou uma menina convencida. Estão à espera que me vá abaixo e fracasse.

– O que não vai ocorrer.

– Eu sei, mas entre o meu isolamento académico e a falta de um modelo feminino de referência desde a morte da minha mãe, as probabilidades de amadurecer e converter-me num membro útil para a sociedade são cada dia menos. Como disse antes, sou um autêntico desastre – disse enquanto umas lágrimas sulcavam as suas bochechas. – Nunca terei namorado.

– Espera uns dois anos.

– Isso nunca ocorrerá. E se algum rapaz sentir dó de mim e me pedir para sair, terá de estar bêbado para querer beijar-me, já para não falar de sexo. Vou morrer virgem.

Os soluços começaram de novo.

Jack puxou-a até a sentar e abraçou-a.

– Que dia de anos! – disse.

– Nem me digas.

Ela arrimou-se, desfrutando da sua força e dos seus músculos. Também do seu cheiro. Se estivesse loucamente apaixonado por ela, aquele momento seria perfeito.

Mas isso nunca ocorreria. Em vez de lhe declarar o seu amor incondicional e arrancar-lhe a roupa, ou pelo menos beijá-la, ele afastou-se.

– Meri, estás num momento difícil. Aqui não encaixas e certamente também não o faças com os rapazes da tua idade.

Queria dizer-lhe que tinha quase a mesma idade, só os separavam quatro anos, e que encaixava perfeitamente com ele. Mas Jack era do tipo de homem que tinha dúzias de mulheres em seu redor. Bonitas e elegantes, e ela odiava-as.

– Mas superá-lo-ás e então a vida será muito melhor.

– Acho que não.

Ele estendeu a mão e acariciou-lhe a cara.

– Tenho grandes esperanças em ti.

– E se estiveres enganado? E se morrer virgem?

Ele sorriu.

– Não, não será assim. Prometo.

– Asneiras.

– Tenho jeito para isso.

Inclinou-se para ela e antes que soubesse o que ele ia fazer, beijou-a. Na boca!

Mal sentiu o roçar dos seus lábios e o beijo já tinha acabado.

– Não! – exclamou sem pensar e agarrou-o pela camisola. – Jack, não, por favor. Quero que sejas o primeiro.

Nunca antes tinha visto um homem mexer-se tão rápido. Num segundo, passou de estar sentado na cama a estar de pé junto ao umbral da porta do quarto.

Sentiu-se envergonhada. Teria dado cem pontos do seu quociente intelectual para não ter proferido tais palavras.

A sua intenção não era que ele soubesse. Evidentemente já teria adivinhado que se sentia atraída por ele, mas nunca quis confirmá-lo.

– Jack, eu…

Ele abanou a cabeça.

– Meri, desculpa. És a irmã mais nova do Hunter. Nunca poderia… Não te vejo dessa maneira.

Claro que não. Porque irias querer uma besta quando podes ter tantas belezas?

– Entendo. Entendo tudo. Vai-te embora.

Ele começou a ir-se embora, mas parou e deu meia volta.

– Quero que sejamos amigos, Meri – disse e, com aquelas horríveis palavras, desapareceu.

Meri sentou-se à beira da cama, perguntando-se quando deixaria de sofrer tanto. Quando deixaria de amar Jack? Quando deixaria de desejar que a terra a tragasse cada vez que estavam na mesma divisão?

Instintivamente rebuscou por baixo da cama e tirou um saco de plástico cheio de gulodices. Depois de procurar nele, tirou uma tablete de chocolate e desembrulhou-a.

Tinha chegado ao fundo do poço. Estava a viver o pior momento da sua vida. Era o fim da esperança.

Deu uma mordidela à tablete de chocolate. A vergonha fê-la mastigar depressa e engolir. Quando o açúcar e a gordura fizessem o seu efeito, não se sentiria tão mal. Deixaria de sentir a solidão e a rejeição de Jack Howington III.

Por que não podia amá-la? Era uma boa pessoa, mas não era loira nem magra como as demais miúdas com as quais ele saía e se deitava.

– Tenho cabeça – murmurou para si, – e isso assusta os rapazes.

Pronunciou aquelas palavras com decisão, mas sabia que era algo mais do que o seu incrível quociente intelectual o que espantava os rapazes. Era o seu aspecto. Para ela, a comida era tudo, especialmente depois da morte da mãe. Tinha rejeitado a proposta trôpega do seu pai de levá-la a um cirurgião plástico para que retocasse o nariz. Tinha-lhe respondido dizendo que se a amava verdadeiramente, nunca mais voltasse a falar desse assunto, apesar de no fundo estar assustada. Tinha medo de mudar, ao mesmo tempo que temia continuar a ser a mesma.

Pôs-se de pé e ficou a olhar para a porta fechada do quarto.

– Odeio-te, Jack – disse enquanto umas lágrimas rolavam pelas suas faces. – Odeio-te e vou fazer-te sofrer. Vou amadurecer e serei tão bonita que quererás ir para a cama comigo. Mas desaparecerei e partir-te-ei o coração. Tempo ao tempo.

 

Na actualidade

 

Jack Howington III tinha conduzido dois dias sem parar para chegar ao lago Tahoe. Podia ter voado no seu avião e depois ter alugado um carro durante o mês que ia ter de passar em casa de Hunter, mas tinha preferido aproveitar o tempo da viagem para esclarecer as ideias.

A sua secretária tinha enlouquecido, incapaz de dar com ele nas partes mais recônditas do campo, enquanto ele desfrutava do silêncio. Há muito tempo que não desfrutava de silêncio na sua vida. Inclusive quando estava a sós, tinha de se ver com aqueles malditos fantasmas.

Percorreu um longo caminho de entrada em direcção a uma grande casa. O lugar estava rodeado de árvores e ao fundo avistava-se um lago. Os degraus e os caixilhos das janelas eram de pedra, tal como o da dupla porta de madeira.

Jack estacionou e saiu do seu Mercedes. A casa de Hunter tinha sido construída recentemente, quase dez anos depois da morte do amigo, mas Jack tinha a sensação de Hunter ter deixado instruções detalhadas do aspecto que devia ter. O lugar recordava-lhe Hunter, o que era bom e mau ao mesmo tempo.

Era só por um mês, pensou, enquanto ia ao porta-bagagem e tirava a mala e a pasta do computador. Se ficasse ali um mês, de acordo com a última vontade de Hunter, a casa destinar-se-ia a doentes de cancro. Seriam doados vinte milhões à cidade ou a uma obra de caridade ou a algo do género. Jack não tinha prestado atenção aos detalhes, o único que sabia era que Hunter lhe tinha pedido um último favor. Jack tinha falhado tantas vezes ao amigo que não podia fazê-lo mais uma vez.

Deu um passo para a casa e deteve-se ao ver que a porta se abria. Na carta, o advogado prometera-lhe um lugar sossegado no qual trabalhar e uma governanta para atender às suas necessidades diárias.

Naquele momento tinha-lhe parecido algo simples, mas agora, ao ver aquela delicada e bonita mulher no alpendre, não estava tão certo disso. Era a última pessoa que esperava ver.

– Olá, Jack – disse ela.

– Meredith.

– Reconheces-me?

– Claro, por que não haveria de reconhecer?

– Passou muito tempo e mudámos os dois.

– Reconhecer-te-ia em qualquer lugar.

O que não era minimamente verdade. Ao longo dos anos tinha vigiado Meri. Era o mínimo que podia fazer depois de ter prometido a Hunter que cuidaria da sua irmã. Jack não tinha sido capaz de ocupar-se dela em pessoa, mas, à distância, as coisas tinham sido fáceis. Pelos relatórios regulares que recebia, conhecia o seu físico, embora em pessoa a visse mais feminina. Também conhecia muitos detalhes da sua vida laboral. Mas o que não sabia era que ia encontrá-la ali.

– Ainda bem.

Os seus olhos eram tão azuis como os recordava, da mesma cor e forma do que os de Hunter. Fora isso e o sorriso fácil, aqueles irmãos tinham pouco em comum.

Há anos que não a via, desde o funeral de Hunter. E na vez anterior…

Afastou a lembrança daquela sincera declaração e da baixeza com que tinha reagido. Tinham passado muitos anos e ambos tinham percorrido um longo caminho desde então.

Tinha amadurecido, observou ao vê-la descer os degraus e deter-se frente a ele. A menina gorducha tinha desaparecido e tinha-se transformado numa bonita e atractiva mulher que esbanjava segurança.

Noutras circunstâncias, teria desfrutado daquelas mudanças, mas não com ela. Não com as promessas que tinha feito.

– Evidentemente recebeste a carta do advogado, já que, caso contrário, não estarias aqui – disse ela. – Tens de ficar um mês. No final desse prazo haverá uma emotiva cerimónia de cessão da casa à Câmara da cidade, com entrega das chaves e do dinheiro. Os outros samurais e tu poderão desfrutar e pôr a conversa em dia. Depois poderão partir – e dirigindo o olhar para a mala, acrescentou. – Vejo que viajas com pouca bagagem.

– Assim é mais fácil deslocar-me.

– Não terás muitas alternativas a uma festa surpresa de máscaras.

– Vai haver uma?

– Que eu saiba não.

– Então está bem.

Ela inclinou ligeiramente a cabeça num gesto que ele evocou. Era curioso como podia ver a menina naquela mulher. Sempre gostara da menina e não tinha em mente conhecer a mulher.

Olhou-a de alto a baixo e franziu a testa. Não vestia uns calções muito curtos? Não é que não lhe agradasse ver aquelas pernas, mas ela era Meredith, a irmã mais nova de Hunter. Além disso, o top que envergava era muito… revelador.

– Também vou ficar aqui.

A sua voz era cálida e sensual. Se tivesse sido outra mulher, ter-lhe-ia agradado.

– Porquê?

– Sou a governanta, a que te prometeram. Estou aqui para tornar a tua vida mais fácil.

Aquela declaração parecia esconder um desafio.

– Não necessito de uma governanta.

– Não tens opção. Estou incluída na casa.

– Isso é ridículo.

Sabia que trabalhava para um gabinete de especialistas em Washington D.C. e que actualmente estava a trabalhar num projecto da JPL e outras companhias privadas para o desenvolvimento de um combustível sólido para foguetes.

– Era o que o Hunter queria. Ambos estamos aqui por ele – disse a sorrir.

Ele franziu a testa. Não acreditava naquela história. Por que iria querer Hunter que a sua irmã estivesse na casa um mês? Claro que havia pedido a todos os seus amigos que passassem esse tempo ali, portanto era possível. Além disso, provavelmente Meri não quereria estar na mesma casa com ele, sobretudo depois do que se tinha passado no seu décimo sétimo aniversário.

Tinha-a magoado. Não fora essa a sua intenção, mas fora assim e naquele momento não tinha sabido encontrar uma forma de remediar as coisas. Depois, Hunter tinha morrido e tudo tinha mudado.

Talvez estivesse a dar muita importância àquilo. Talvez para Meri lhe fosse indiferente o que se tinha passado entre eles.

– Entremos – disse ela, mostrando-lhe o caminho.

Percorreram um amplo vestíbulo revestido a pedra e uma grande escada. O lugar era acolhedor e masculino. Não era o tipo de casa que ele construiria, mas pelo menos não daria em doido com ornamentos de flores secas e cheirosas.

– Farás exercício a subir as escadas.

– Ficas aqui em baixo? – perguntou ele olhando em redor.

– Não, Jack – respondeu sorrindo. – Estarei no segundo andar, diante do quarto principal. Tão-só nos separarão uns metros.