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Editado por Harlequin Ibérica.

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28001 Madrid

 

© 2006 Anne Mather

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Sombras do passado, n.º 2260 - março 2017

Título original: Stay Through the Night

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2007

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9578-2

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Estava muito mais frio do que Rosa esperara. Quando chegara na noite anterior, atribuíra o frio à chuva e aos seus sentimentos de ansiedade e receio. No entanto, naquela manhã, depois de ter dormido bastante bem e de um pequeno-almoço abundante, já não tinha desculpas. Onde estava a onda de calor que ia percorrer o Reino Unido em Julho e Agosto? Não estava ali, em Mallaig. Rosa deu uma olhadela à sala da hospedaria acolhedora onde passara a noite.

Naturalmente, a pouca vontade que tinha de se separar das coisas conhecidas devia-se, em parte, ao facto de, dentro de algumas horas, entrar num mundo completamente desconhecido. Ir para uma ilha, a cerca de duas horas de distância da costa da Escócia, não era como ir para qualquer outro lugar. Por isso estava ali, em Mallaig, que era o porto dos barcos para as ilhas ocidentais. Dentro de uma hora, embarcaria com rumo a Kilfoil, mas não tinha a certeza se Sophie estaria lá.

Felizmente, trouxera roupa quente e, naquela manhã, vestira uma t-shirt, uma camisa e uma camisola de lã. Sobreviveria à travessia de duas horas, disse para si enquanto caminhava pela ruela que a conduzia ao porto. Estava muito frio, mas a vista era maravilhosa. Em frente, estava a ilha de Skye e podia vê-la coroada por algumas montanhas impressionantes. Ela não conhecia quase nada daquela parte da Escócia. O seu avô Ferrara estivera preso perto de Edimburgo durante a guerra, mas ela nunca passara do norte de Glasgow. Tinha tios, tias e primos lá, mas tinham-se visto muito pouco.

Apercebeu-se de que deveria ter sido um pouco mais aventureira. Andara na universidade em Inglaterra, casara-se com um inglês e vivera em Yorkshire quase a sua vida toda. Era fácil arranjar a desculpa de que não fora mais longe porque a sua mãe era viúva e tinha uma irmã mais nova. No entanto, a verdade era que não gostava de aventura. Colin preferia passar as férias em Espanha, onde fazia bom tempo.

Naturalmente, Colin também não era uma desculpa, já que, há três anos, descobrira que a enganava com a secretária do seu chefe e Rosa não hesitara um segundo em pedir-lhe o divórcio. Colin suplicara-lhe que pensasse melhor, que não podia deitar fora cinco anos de casamento por causa de um deslize. No entanto, ela sabia que não fora um deslize isolado. Não fora a primeira vez que suspeitara que ele se encontrava com alguém e também não seria a última. Felizmente, ou infelizmente para Rosa, não tinham filhos que ficariam magoados com a separação. Ela não sabia porquê, mas nunca ficara grávida. Durante o divórcio, ele culpara-a da sua infidelidade. Dissera que se ela tivesse passado mais tempo com ele, em vez de naquela maldita escola cheia de crianças que não a apreciavam, o seu casamento poderia ter continuado. Rosa, no entanto, sabia que era apenas uma desculpa. Sem o salário de professora, não poderiam ter pago as viagens a Espanha que tanto agradavam a Colin.

De qualquer forma, tudo acabara e, embora às vezes lhe doesse um pouco, no conjunto, as coisas tinham corrido bem. Até ao telefonema do dia anterior, que a trouxera até Kilfoil para procurar alguém que não sabia muito bem se estava lá. No entanto, a sua mãe estava desesperada e Rosa soubera que não podia fazer outra coisa.

Suspirou e olhou para o mar como se lá pudesse encontrar alguma resposta. O que aconteceria se a sua mãe estivesse errada? O que aconteceria se Sophie não estivesse na ilha? Encontraria alguma hospedaria para passar a noite?

Tinham-lhe dito que as bilheteiras para o barco abriam às nove horas e que não teria problemas para comprar um bilhete para Kilfoil. Seria uma travessia longa e, pela primeira vez, esteve prestes a desejar que a sua mãe a tivesse acompanhado, para poder falar com alguém conhecido.

 

 

Liam estacionou o Audi no estacionamento e saiu do carro. O vento que chegava do mar era cortante, mas não o sentiu. Nascera em Londres, mas vivia na Escócia há dez anos. Desde que o seu primeiro livro alcançara tanta fama. Um realizador famoso de Hollywood lera o seu livro, gostara e transformara-o num sucesso. No entanto, isso fora quando a sua vida em Londres já começava a ser insuportável e violenta. Passou a mão pela coxa e sentiu a cicatriz através das calças de ganga gastas. Tivera sorte, pensou. Dos muitos ferimentos que tivera, aquele poderia tê-lo matado. No entanto, sobrevivera apesar de lhe ter atravessado a artéria femoral e muitos nervos. O atacante, sim, morrera, espetara a faca em si mesmo quando achara que atingira o seu objectivo.

Liam fez uma careta. Aquilo acontecera há muito tempo e, desde então, nenhum dos seus livros tivera uma reacção tão brutal dos seus leitores. Alegrou-se por ter voltado de Londres a tempo para apanhar o barco da manhã. Desejava chegar a Kilfoil para começar a trabalhar. Então, uma mulher solitária que se agarrava ao corrimão chamou a sua atenção. Chamou-lhe a atenção o seu cabelo, que era muito vermelho e com uns caracóis que não se submetiam ao laço que atara na nuca. Parecia ausente. Olhava para a costa da ilha de Skye como se quisesse encontrar alguma resposta entre a bruma. Liam encolheu os ombros. Evidentemente, era uma turista que estava vestida com roupa de Verão naquela parte da Escócia.

Jack Macleod, que tinha alguns barcos à vela que alugava a turistas, cumprimentou Liam.

– Meu Deus! – exclamou com um sorriso. – Começávamos a pensar que não ias voltar.

– Não vão livrar-se de mim assim tão facilmente! – replicou Liam. – Voltei assim que pude. Já não me interessa passar muito tempo nas grandes cidades.

– Contaram-me que foste ao médico – comentou Jack com um olhar penetrante. – Espero que não seja nada grave…

– Uma consulta de rotina – respondeu laconicamente Liam, que não queria falar do assunto.

Sabia que a sua conversa chamara a atenção da mulher que estava no molhe e ela olhava para eles por cima do ombro. Ela também se apercebeu de que eles tinham captado a sua curiosidade e olhou para o outro lado, mas Liam já reparara no formato oval do rosto e nos olhos extraordinariamente escuros para aquela tez e aquele cabelo. Certamente, o cabelo seria pintado. Além disso, era alta, mas demasiado magra.

– Vais apanhar o barco desta manhã? – continuou Jack sem reparar na distracção de Liam.

– Assim espero – respondeu Liam.

Quando se virou para olhar outra vez para a mulher, ela fora-se embora.

 

 

Rosa foi à hospedaria buscar a sua bagagem e voltou para o molhe a tempo de comprar o bilhete para Kilfoil. Imaginava que pareceria mais uma turista, com calças de ganga, sapatilhas e um saco pendurado ao ombro. Outros turistas não lhe prestaram qualquer atenção, ao contrário do homem que vira há pouco, que a olhara de alto a baixo. Ela reparou claramente na sua censura, mas não soube se seria porque estivera a observá-lo. Parecera-lhe atraente. Calculou que mediria mais de um metro e oitenta e tinha umas costas muito largas que enchiam completamente uma camisa amarrotada. Pressupôs que seria um pescador. Não parecia um turista e o homem que o acompanhava usava botas de borracha.

Mesmo assim, certamente não voltaria a vê-los. Talvez alguém do barco se lembrasse de uma rapariga loira que fora para Kilfoil na semana anterior. Atrever-se-ia a perguntar por Liam Jameson? Não acreditava. Tinha fama de anti-social e de estar enclausurado. Então, porque fora a um festival de música em Glastonbury? Seria para se documentar?

Duvidou, como sempre que pensava no que a sua mãe lhe dissera. Sophie já dera alguns problemas antes, mas nenhum daquela gravidade. Rosa pensara que a sua irmã assentaria a cabeça e que iria viver com Mark Campion. No entanto, a sua relação estava por um fio por causa de um homem que conhecera no festival de música.

Rosa comprou o bilhete. Os chuviscos tinham parado e o sol brilhava. Pensou que era um bom presságio. Olhou para o barco que sairia dentro de três quartos de hora. Voltou a ver aquele homem. Estava no seu carro à espera de embarcar. Subitamente, o seu coração acelerou. Ele ia apanhar o mesmo barco que ela. No entanto, o mais provável era que não fosse para Kilfoil. Segundo a senhora Harris, a proprietária da hospedaria, Kilfoil estivera deserto durante vários anos até que um escritor rico comprara o terreno e restaurara o castelo para seu uso pessoal. Rosa compreendera que se tratava de Liam Jameson, mas não pedira mais dados para não revelar o motivo pelo qual ia à ilha. Dissera-lhe que ia tirar algumas fotografias para ilustrar um artigo que estava a escrever sobre a ilha. A senhora Harris, no entanto, avisara-a de que a ilha era propriedade privada e que necessitaria de uma permissão para tirar fotografias.

Perdeu de vista o homem quando entrou no barco. Subiu para a coberta superior e sentiu um calafrio quando o vento lhe atravessou o casaco de caxemira. Também se perguntou porque alguém com dinheiro para comprar uma ilha decidira viver num sítio assim. Devia ser louco. Só podia pressupor que estaria no seu ambiente para escrever as suas histórias de terror. Além disso, segundo a sua irmã, o próximo filme iria ser rodado na própria ilha. No entanto, seria possível? O que tinha de verdade a história que Sophie contara a Mark? Rosa não acreditara, mas a sua mãe acreditara até à última palavra.

Se, pelo menos, Jameson não tivesse comprometido a sua irmã… Ela tinha quase dezoito anos e era muito impressionável. Além disso, a sua ambição era ser actriz profissional. Se tivesse conhecido Jameson, teria ficado muito impressionada. Vendia milhões de livros e Sophie devorava-os assim que eram colocados à venda. Todos os seus filmes tinham sido sucessos de bilheteira e tinham atingido a categoria de filmes de culto graças ao crescente fascínio pelo sobrenatural. Concretamente, pelos vampiros, que eram a sua marca característica.

No entanto, teria ido a um festival de música rock? Já se tinham visto coisas mais estranhas, certamente. O que estava claro era que Sophie convencera Mark de que era uma oportunidade que não podia desperdiçar. Porque não telefonara à sua mãe para lhe explicar? O que não era nada convincente era que tivesse deixado Mark dar as explicações. No entanto, se fosse mentira, onde estaria?

Felizmente, na coberta superior havia uma cabina onde os passageiros podiam comer sandes, refrigerantes e bebidas quentes. Rosa entrou e encontrou um banco junto à janela. Os passageiros acabaram de entrar e a fila de carros também desapareceu.

Rosa alegrou-se que Kilfoil fosse a primeira paragem. Quando entraram em mar aberto, o barco começou a subir e a descer, embalado pelas ondas. Rosa encurvou-se, olhou para o grupo de pessoas que se amontoara no bar e lamentou não ter pedido uma bebida. Tinha a certeza de que não conseguiria atravessar a cabina sem enjoar. O barco mexia-se muito.

– Sente-se mal?

Rosa, que imaginou que estaria pálida, olhou para cima e deparou-se com o homem do estacionamento. Aparentemente, o vaivém não o afectava. Usava um casaco de couro muito gasto, uma camisa e umas calças de ganga, e parecia tão grande e imponente como antes. A camisa saía-lhe por cima das calças de ganga em algumas partes e deixava ver uma pele morena e curtida. Ela pensou que era a encarnação do sexo, mas ele estava à espera de uma resposta e Rosa esboçou um sorriso forçado.

– Não esperava que o mar estivesse tão picado – reconheceu ela enquanto se perguntava se ele teria noção de que tinha os olhos à altura das suas virilhas. – Imagino que esteja habituado.

Ele semicerrou uns olhos verdes como esmeraldas.

Rosa reparou na sua pele bronzeada, no seu queixo firme e na sua boca, estranhamente sensual, apesar de ter os lábios apertados. Pareceu-lhe muito bonito.

– Porque diz isso? – perguntou-lhe com um sotaque que não era escocês.

Rosa pestanejou ao não se lembrar do que dissera.

– Ah… Pareceu-me que era da zona – respondeu ela, atrapalhadamente. – Evidentemente, estava errada. É inglês, não é?

Liam franziu o sobrolho e arrependeu-se de lhe ter perguntado se se sentia mal. Vira-a tão pálida, que sentira pena. Era evidente que parecia deslocada. Não usava roupa impermeável nem botas e até o seu saco parecia muito fino.

– Nem todos falamos escocês – replicou ele passado um momento.

– Está bem – Rosa conteve a sua indignação. A conversa, pelo menos, distraía-a do movimento. – Então, vive nas ilhas?

– É possível. Espero que não vá fazer nenhuma caminhada com essa roupa – acrescentou ele.

– Não lhe diz respeito.

– Não. Estava a pensar em voz alta, mas antes não pude evitar reparar no frio que estava a passar.

Reparara nela… Rosa sentiu menos antipatia por ele.

– Está mais frio do que tinha previsto, mas espero não passar muito tempo aqui.

– Uma visita rápida?

– Mais ou menos.

– Tem família por aqui? – perguntou-lhe ele com o sobrolho franzido.

Rosa susteve a respiração. Aquele homem fazia muitas perguntas, mas também se lembrou de que tinha de perguntar se alguém vira a sua irmã. Se aquele homem andasse frequentemente no barco, talvez a tivesse visto, tal como Liam Jameson, mas preferia não falar dele.

– A verdade é que espero encontrar-me com a minha irmã – respondeu ela com um tom despreocupado. – É loira e bonita. Calculo que tenha feito a travessia há dois dias.

– Não é possível – replicou ele, imediatamente. – O barco só funciona às segundas-feiras e às quintas-feiras. Se fez a travessia, teve de ser na quinta-feira passada.

Rosa engoliu em seco. Na quinta-feira, Sophie continuava em Glastonbury com Mark. Ele telefonara no sábado à noite, para contar à sua mãe o que acontecera e a sua mãe telefonara-lhe a ela à beira da histeria.

– Tem a certeza?

Rosa tentava assimilar o que ouvira enquanto se perguntava se Liam Jameson teria um helicóptero. Era muito provável. Certamente, não viajaria com as pessoas comuns. Também era possível que tivesse um barco particular em Mallaig. Fora muito ingénua ao não pensar nisso.

– Tenho a certeza – respondeu ele com um olhar de curiosidade. – Isto significa que, afinal de contas, não acredita que a sua irmã esteja aqui?

– É possível – não tinha intenção de lhe contar o que pensava. – Falta muito?

– Depende de para onde vá.

– Hum… Hum! Para Kilfoil.

Rosa decidiu que não aconteceria nada por lhe dizer e reparou que ele se surpreendeu.

Capítulo 2

 

Liam estava surpreendido. Achava que sabia tudo sobre as famílias que tinham ido para a ilha depois de a ter comprado. Estava desabitada há muitos anos e as casas de campo estavam quase em ruínas. Enquanto se reabilitavam as casas, restaurara-se o gerador eléctrico e tinham-se recuperado os serviços básicos, e todas aquelas pessoas se tinham tornado suas amigas, para além de serem suas inquilinas. Naquele momento, Kilfoil gozava de uma boa economia graças ao turismo, à pesca e à agricultura, e mantinha cerca de cem pessoas. Quis perguntar-lhe porque achava que a sua irmã poderia estar na ilha, mas sabia que já lhe fizera demasiadas perguntas. Embora o intrigasse o ar de inocência misturada com desprezo que empregava para falar da ilha. Poderia estar enganado, mas dava-lhe a sensação de que havia mais alguma coisa para além do desejo de se encontrar com a sua irmã. Teria fugido? Talvez tivesse fugido com um namorado. No entanto, porque teria ido para Kilfoil?

Rosa viu que ele enfiava as mãos nos bolsos de trás das calças de ganga sem se aperceber de que se desabotoara o botão da cintura. Pensou dizer-lhe, mas isso teria deixado claro que estava a olhar para ele.

– Cerca de uma hora – respondeu ele à pergunta de Rosa.

Ele, como se tivesse reparado na ansiedade dela, foi para o bar que havia do outro lado da cabina. Ela, de soslaio, viu-o falar com o jovem que o atendia. Depois, deu-lhe algum dinheiro e o empregado estendeu-lhe dois copos de plástico. Seria um para ela? Rosa não se atreveu a olhar para ele enquanto voltava.

– Quer um café?

– Hum… Hum…! Não… era preciso – balbuciou ela enquanto pegava num dos copos. – Obrigada. Não quer sentar-se?

Liam hesitou. Convidar desconhecidas para beber café e sentar-se com elas não era o seu estilo, mas parecia tão desorientada, que não podia abandoná-la. Pensou que talvez fosse uma jornalista, mas, se fosse, estivera muito à vontade com ele. De qualquer forma, parecia demasiado vulnerável para estar sozinha. Contra as suas normas, sentou-se no banco que havia junto dela. Bebeu um gole de café, olhou para ela de esguelha e confirmou que ela também olhava para ele.

– Pelo menos, está quente – comentou ele.

– Está muito bom – replicou ela com muito pouca sinceridade. – Foi muito amável.

– A hospitalidade escocesa – Liam encolheu os ombros. – Temos essa fama.

– Então, é escocês? Conhecerá bem esta zona – Rosa fez uma pausa. – Como é Kilfoil? Tem todos os progressos da civilização?

Liam esteve prestes a engasgar-se com o café.

– Onde acha que está? – perguntou ele quando conseguiu falar. – Na Mongólia?

– Não – Rosa corou. – Fale-me da ilha. Tem casas, lojas, hotéis…?

Liam hesitou. Não sabia se havia de lhe dar uma imagem resplandecente da sua ilha, porque também não queria parecer que a conhecia demasiado bem.

– É como muitas outras ilhas. Tem uma vila onde pode comprar o que precisar. O correio e os objectos de luxo chegam de barco. Tal como os turistas que ficam alojados em hospedarias.

– Então, não é muito desolador… – Rosa pareceu aliviada.

– É linda! Todas as ilhas são lindas. Eu não viveria noutro sítio.

– Onde vive? – perguntou-lhe Rosa com os sobrolhos arqueados.

– Em Kilfoil – reconheceu ele, contrariado, antes de se levantar. – Desculpe, tenho de ir ver o meu carro.

Ele foi-se embora e Rosa acabou o café, pensativamente. A resposta não a surpreendera, mas continuava a perguntar-se o que um homem daqueles fazia naquele lugar. Não parecia um pescador, como pensara de início. Talvez trabalhasse para Liam Jameson ou fizesse parte da equipa de filmagem, se estivessem a rodar lá. Devia ter perguntado se estavam a rodar na ilha, mas, se o tivesse feito, teria tido de explicar o que fazia ali. Era melhor esperar antes de fazer perguntas. Não queria que Jameson suspeitasse quem era. Sentiu um estremecimento ao pensar na sua missão. Em que confusão se metera? Se estivessem a rodar um filme, a gente da vila saberia. Outra questão era que lhe dissessem onde Liam Jameson vivia.