cover.jpg
portadilla.jpg

 

 

Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2011 Janice Maynard. Todos os direitos reservados.

MENTIRAS E DESEJO, N.º 1079 - Agosto 2012

Título original: The Billionaire’s Borrowed Baby

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

Publicado em portugués em 2012

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® ™. Harlequin, logotipo Harlequin e Desejo são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-0596-5

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo Um

 

Estava uma manhã muito bonita em Atlanta, Georgia, mas Hattie Parker só conseguia pensar no pânico e no desespero que sentia.

– Preciso de falar com o senhor Cavallo, por favor. Com o senhor Luc Cavallo. É urgente.

A secretária, uma mulher de uns trinta anos com um fato formal de casaco azul a combinar com os seus olhos, abriu a agenda.

– Tem reunião marcada? – perguntou, sem olhar para ela.

Hattie cerrou os dentes. Evidentemente, a mulher sabia que não tinha uma reunião marcada e estava a fazer de tudo para a intimidar.

– Diga-lhe que é a Hattie Parker – respondeu, segurando a menina com uma mão e o saco de fraldas com a outra. – Não tenho reunião mas tenho a certeza de que Luc quererá receber-me.

Na realidade, era mentira. Não sabia se Luc quereria vê-la ou não. Já tinha sido o seu príncipe encantado, disposto a fazer tudo o que ela quisesse e a conceder-lhe tudo quanto desejasse.

Naquele dia, talvez a expulsasse, mas estava disposta a correr o risco na esperança de que ele se lembrasse dos bons tempos. Não se tinham separado amigavelmente mas, como não tinha outra opção, ou era Luc ou ninguém. E não pensava virar as costas sem lutar.

A secretária de Luc, que era o paradigma da perfeição, desde o cabelo loiro cinza preso num elegante laço até à maquilhagem ou à manicura, examinou com desdém o seu despenteado cabelo loiro, a saia barata de cor caqui e a blusa branca de algodão. Mesmo não tendo a blusa manchada de baba de Deedee, não ia ganhar nenhum prémio de moda com esta indumentária e Hattie sabia-o. Porém, não era fácil manter um aspeto elegante quando andava com uma menina de sete meses a tiracolo.

O segurança da entrada tinha-a obrigado a deixar o carrinho de bebé lá em baixo, antes de apanhar o elevador, e Deedee pesava uma tonelada.

Hattie estava cansada e desesperada. As últimas seis semanas tinham sido um inferno.

– Lamento, mas é impossível. O senhor Cavallo está muito ocupado.

– Ou deixa-me ver o senhor Cavallo ou armo o maior escândalo que Atlanta já viu desde Scarlett O’Hara – advertiu-a Hattie. Tremiam-lhe os lábios, mas negava-se a deixar que aquela antipática se apercebesse disso.

A mulher pestanejou e Hattie soube que tinha vencido.

– Espere um momento – disse, por fim, antes de desaparecer por um corredor.

Hattie acariciou o cabelinho dourado de Deedee.

– Não te preocupes, querida. Não vou deixar que ninguém te afaste de mim.

A menina sorriu, mostrando dois dentitos no maxilar inferior. Estava a começar a palrar e Hattie amava-a mais a cada dia.

A espera pareceu-lhe uma eternidade mas, quando a secretária voltou por fim, o relógio da parede mostrava que só tinham passado cinco minutos.

– O senhor Cavallo recebê-la-á, mas é um homem muito ocupado e tem muitas reuniões esta manhã – avisou-a.

Hattie teve que conter o infantil desejo de lhe deitar a língua de fora enquanto a seguia pelo corredor.

– Pode entrar – disse-lhe, indicando uma porta.

Hattie respirou fundo, beijando a menina para ver se isso lhe dava sorte.

– Começa o espetáculo, Deedee.

Com mais confiança da que sentia na realidade, bateu com os nós dos dedos na porta antes de entrar no escritório de Luc Cavallo.

Luc dirigia um negócio multimilionário e estava habituado a lidar com problemas. A capacidade de pensar depressa era algo que tinha aprendido rapidamente no mundo empresarial.

Por isso não era normal que algo o apanhasse totalmente desprevenido, mas quando Hattie Parker apareceu no seu escritório, após uma década sem a ver, ficou sem palavras.

Estava tão bonita agora como o tinha sido aos vinte anos. A pele de porcelana, os olhos castanhos com pontinhos de cor âmbar e umas pernas intermináveis. O sedoso cabelo loiro mal lhe roçava os ombros, estava bem mais curto do que dantes.

Mas o que surpreendeu Luc foi ver que a mulher que já tinha amado carregava um bebé nos braços. De repente, sentiu uma pontada de ciúmes. Hattie era mãe e isso significava que tinha um homem na sua vida.

Mas era absurdo que isso o incomodasse. Ele tinha refeito a sua vida há muito tempo. Então, porque sentia aquele aperto no peito, porque tinha a pulsação acelerada?

Luc manteve-se imóvel, com as mãos enfiadas nos bolsos das calças.

– Olá, Hattie – saudou-a, indicando o cadeirão que tinha em frente à sua secretária.

– Olá, Luc.

Estava visivelmente nervosa e enquanto se sentava, durante um segundo, conseguiu ver aquelas pernas que recordava tão bem...

Hattie Parker era uma beleza natural que não precisava de maquilhagem. Mesmo vestida com aquela roupa tão pouco elegante, mostrava-se encantadora.

E uma vez tinha sido o seu mundo.

Mas incomodava-o que essas lembranças lhe doessem tanto.

– A última vez que dormimos juntos foi há muito tempo. Não terás vindo dizer-me que esse bebé é meu filho, pois não?

O sarcasmo fez com que Hattie ficasse sem cor e Luc sentiu-se envergonhado. Mas um homem tinha que usar qualquer arma para defender-se, disse a si próprio. Era quem era por não se mostrar vulnerável. E não voltaria a sê-lo.

Hattie limpou a garganta.

– Vim aqui pedir-te ajuda.

Luc levantou uma sobrancelha.

– Pensava que era a última pessoa da tua lista.

– Na verdade, sim, mas não tenho alternativa. Isto é muito sério, Luc.

– Como se chama? – perguntou-lhe ele, apontando para a bebé.

– Deedee.

Uma menina. Não se parecia muito com Hattie... talvez se parecesse com o pai, pensou enquanto carregava no botão do intercomunicador.

– Marilyn, podes chegar aqui um instante, por favor?

Quando a secretária apareceu, Luc apontou para a menina.

– Importas-te de cuidar dela por uns minutos? O seu nome é Deedee. A menina Parker e eu temos que falar a sós e não quero interrupções.

Hattie esteve prestes a protestar mas, pensando melhor, entregou Deedee nos braços da secretária.

– Aqui dentro está um biberão – disse-lhe, entregando-lhe a mala das fraldas que trazia pendurada ao ombro. – E um babete.

Luc sabia que a sua ajudante conseguiria dar conta do recado. Marilyn era fria como o gelo, mas tremendamente eficiente.

Quando a porta se fechou, deixou-se cair para trás no cadeirão.

– Conta-me, Hattie, que se passa de tão grave que tenhas ponderado vir ter comigo? Se a memória não me falha, foste tu que me deixaste...

Ela apertou as mãos com força.

– Não acho que devamos falar disso. Foi há muito tempo.

– Muito bem, como queiras – Luc encolheu os ombros. – Então concentremo-nos no presente. Porque vieste?

– Lembras-te da minha irmã mais velha, Angela?

– Sim, claro. Recordo-me que as duas não se davam muito bem.

– Depois da morte dos meus pais, começámos a dar-nos melhor.

– Não sabia que tinham morrido. Sinto muito.

Os olhos de Hattie encheram-se de lágrimas, mas pestanejou para as conter.

– O meu pai morreu de cancro uns anos depois de eu terminar o curso.

– E a tua mãe?

– A minha mãe não conseguia viver sem ele. Era o meu pai que se encarregava de tudo e quando morreu o mundo dela ruiu. Tivemos que interná-la numa clínica... e não saiu mais de lá. Angela e eu vendemos a casa e tudo o que tínhamos, mas não foi o suficiente. Arruinei-me, pagando as contas da clínica...

– A Angela não te ajudou?

– Ela disse-me para não pagar nada, que o Estado deveria encarregar-se de todas as despesas, especialmente depois da minha mãe já não conseguir reconhecer-nos.

– Algumas pessoas diriam que tinha razão.

– Eu não – afirmou Hattie. – Não podia abandonar a minha mãe.

– Quando morreu?

– No inverno passado.

Luc olhou para a sua mão esquerda e verificou que não usava aliança. Onde estava o seu marido? Tê-la-ia abandonado, deixando-a com a menina?

Mas, de repente, percebeu tudo. Hattie precisava de dinheiro. Era uma rapariga orgulhosa e independente e as coisas deviam estar muito mal para se ter ido rebaixar a pedir a sua ajuda.

E embora as suas lembranças fossem amargas, não era capaz de a mandar embora. Gostava da ideia de ajudar Hattie... talvez se tratasse de justiça poética.

– Se precisas de dinheiro, posso emprestar-to, sem segundas intenções, sem perguntas. Pelos velhos tempos.

Ela inclinou a cabeça para o lado.

– Perdão?

– Foi por isso que vieste, não? Pretendes pedir-me dinheiro. E acho bem, de que me serve o dinheiro se não posso ajudar uma velha amiga?

– Não, não, não – começou a dizer Hattie enquanto se levantava da cadeira. – Não é isso.

Luc levantou-se também.

– Se não é dinheiro, o que queres de mim?

Conseguia ver os pontinho de cor conhaque nos seus olhos. De repente, viu-se assaltado pelas lembranças, boas e más.

Estava tão perto dela que conseguia cheirar o seu champô. Um champô que cheirava a cerejas. Algumas coisas não mudavam nunca, pensou.

– Hattie?

Ela tinha fechado os olhos durante um segundo, mas quando os abriu havia neles um brilho de pena e resignação.

– Preciso que te cases comigo.

Luc, que lhe tinha posto as mãos sobre os ombros, retirou-as a toda a velocidade. O império têxtil Cavallo, criado pelo seu avô em Itália, anos antes e com quartel-geral em Atlanta, tinha enriquecido Luc e o seu irmão. E Hattie sabia que o elegante fato de caxemira que ele vestia seria de uma das suas fábricas.

– É uma partida?

– Não, não é. É muito sério – respondeu ela. – Preciso que te cases comigo para que Deedee fique a salvo.

– Porquê? O pai ameaçou-te... fez-te mal?

– Não, não, é mais complicado que isso – começou a dizer.

Luc passou uma mão pelo cabelo escuro.

– Parece que não vamos resolver isto em cinco minutos e tenho uma reunião. Podes conseguir uma ama para esta noite?

– Prefiro não o fazer – respondeu. – Deedee tem sofrido muito e não se quer separar de mim.

E a ideia de ficar sozinha com ele assustava-a porque aquela breve reunião tinha servido para revelar uma verdade terrível: que a Hattie que tinha estado apaixonada por Luc continuava ali, agarrada aos sonhos tontos do passado.

– Então enviarei um carro para te ir buscar... com uma cadeirinha de segurança para Deedee. Jantaremos em minha casa e a minha governanta encarregar-se-á da menina enquanto falamos.

Não havia nada de ameaçador nas suas palavras, mas provocaram em Hattie um nó na garganta. Iria mesmo conseguir convencer Luc a casar-se consigo? Era absurdo. Ele não tinha nenhum motivo para a escutar, além da mera curiosidade.

Porque não lhe tinha dito que não podia fazer nada por si? Porque queria falar com ela?

Deveria alegrar-se, pensou. Inclusive dar graças a Deus por Luc não ser casado.

Mas, naquele momento, as suas emoções eram bem mais complicadas. Porque continuava fascinada por aquele homem que uma vez lhe prometera a lua.

Capítulo Dois

 

O que era suposto uma mulher vestir para pedir alguém em casamento?

Enquanto Deedee dormia, Hattie procurava algo no pequeno roupeiro do seu, igualmente pequeno, apartamento, sabendo que não iria encontrar um vestido adequado. O único minimamente decente era um vestido preto que tinha usado tanto no funeral do seu pai como no da sua mãe. Talvez com algum acessório conseguisse dar-lhe alguma graça, pensou, retirando do guarda-joias a única peça que não era uma bijutaria barata. A delicada corrente de platina com uma pérola rodeada por diminutos diamantes continuava tão brilhante como no dia em que Luc lha oferecera.

Hattie acariciou a pérola, recordando...

Tinham faltado às aulas da tarde em Emory para irem ao parque Piedmont com uma manta e uma cesta de piquenique. Ela tinha uma bolsa... o pai de Luc era diretor da Escola de Arte da universidade.

Enquanto se deixavam ficar debaixo do sol, sentindo-se livres e vivos, Luc tinha-se apoiado num cotovelo e olhava para ela.

– Tenho um presente de aniversário para ti – disse-lhe, com um sorriso nos lábios.

– Aniversário?

Luc acariciou-lhe o rosto.

– Conhecemo-nos faz hoje seis meses. Estavas a comprar uma abóbora no mercado para a noite de Halloween e eu ofereci-me para te ajudar a esvaziá-la. Tu sorriste e então soube-o.

– O que soubeste?

– Que eras a mulher da minha vida.

Hattie desviou o olhar para que ele não percebesse o quanto aquela declaração a emocionava.

– Não sabia que os universitários sabiam dizer coisas tão românticas.

– Eu tenho antepassados italianos, temos o romance no sangue.

Oxalá fosse verdade, pensou ela. Mas a sua mãe tinha-lhe metido na cabeça que os homens só queriam uma coisa e Hattie tinha-se entregado a Luc sem sequer pensar duas vezes.

Ser amante de Luc Cavallo era a melhor coisa que alguma vez lhe acontecera. Era o primeiro homem da sua vida e amava-o tanto que lhe doía, mas mostrava-se reservada. Tinha que terminar os seus estudos porque uma mulher devia ser independente. Depender de um homem só conduzia ao desastre.

Luc meteu a mão no bolso das calças de ganga e retirou uma caixinha de cor azul turquesa da famosa joalharia Tiffany’s. Ela não poderia comprar nem sequer um porta-chaves num lugar tão caro e se lhe tivesse ocorrido uma forma amável de negar o presente tê-lo-ia feito, mas Luc olhava-a com tamanha ilusão que a abriu. Dentro tinha uma corrente com uma pérola que Luc lhe pôs ao pescoço.

– Fica-te muito bem.

Mas não era verdade. Ela não era a mulher que Luc Cavallo precisava. Um dia, ele ocuparia o seu lugar entre os ricos e poderosos e ela, com ou sem colar, desejar-lhe-ia o melhor. Porque não era a mulher da sua vida, não podia ser...

O ruído de um carro na rua interrompeu os seus pensamentos, devolvendo-a ao presente. Franzindo o sobrolho, Hattie fechou o guarda-joias. Certamente que Luc não se lembrava do colar. Sem dúvida, teria comprado muitas joias ao longo dos anos para outras mulheres.

A tarde ia passando, com Deedee a protestar porque estavam a sair-lhe os dentes, e foi quase um alívio quando um condutor de uniforme tocou à porta às seis e meia.

O homem agarrou no saco das fraldas enquanto ela colocava Deedee na cadeirinha. A sua sobrinha estava encantada com a novidade de ir sentada de frente para ela num carro tão grande.

Tinham passado dez anos desde que rompera com Luc e não tinham voltado a ver-se depois da cerimónia de graduação. Atlanta era uma cidade muito grande e moviam-se em círculos diferentes. Ela vivia num bairro de classe trabalhadora e ele em West Pazes Ferri, um das comunidades mais luxuosas da cidade, onde se situava a mansão do governador.

Luc tinha comprado ali recentemente um imóvel. Hattie vira as fotografias numa revista. O artigo, acompanhado por fotos de Luc, levara-a a decidir-se a pedir-lhe ajuda. Mas ver o seu rosto após tantos anos ressuscitara sentimentos que achava estarem esquecidos para sempre.

Talvez fosse um sinal, pensou.

A casa era espantosa, com uma profusão de azáleas e glicínias ao longo de um caminho de pedrinhas que conduzia até à entrada, com uma impressionante porta dupla. Luc saiu para a receber.

– Bem-vinda, Hattie.

Ela sentiu a cara a arder quando lhe apertou a mão.

– Tens uma casa muito bonita.

– Ainda não está terminada. Estou desejoso de que acabem as obras.

Apesar do que dizia, e apesar do andaime que havia de um lado da casa, o interior era impressionante. No vestíbulo, com chão em mármore e paredes forradas, havia uma ampla escada com corrimão em nogueira, um enorme lustre sobre as suas cabeças e, num móvel baixo com espelho de moldura dourada, um enorme ramo de flores brancas.

Hattie olhou à sua volta, com Deedee calada pela primeira vez, como se também ela estivesse impressionada.

– É maravilhosa, Luc.

– Obrigado – disse ele. – Felizmente, já começa a parecer um lar. O casal que vivia aqui comprou-a em 1920 e, além de lhes comprar a casa, também herdei Ana e Sherman, a governanta e o condutor.

– É um homem muito amável – disse Hattie. – E Ana?

– Conhecê-la-ás de seguida. É governanta, cozinheira, jardineira... faz um pouco de tudo. Tanto o seu marido como ela sentem tanto carinho pela casa que tenho a impressão de estar à prova.

Como lhe tinha prometido, Ana encarregou-se de Deedee durante o jantar, enquanto Luc e ela comiam.