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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2012 Janice Maynard. Todos os direitos reservados.

UM TOQUE DE PERSUASÌO, N.º 1114 - Fevereiro 2013

Título original: A Touch of Persuasion

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

Publicado em português em 2013

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® ™. Harlequin, logotipo Harlequin e Desejo são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-2538-3

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo Um

 

No alpendre, com os punhos fechados, Kieran ouviu ao longe o som de um cortador de relva misturado com gritos e risos infantis. A morada de Santa Mónica, onde localizara Olivia, ficava num agradável bairro de classe média.

O artigo que recortara de um dos jornais do pai fazia ruído no bolso. Não precisou de o reler. Tinha as palavras gravadas na mente.

 

Os oscarizados Javier e Lolita Delgado deram uma festa por ocasião da celebração do quinto aniversário da única neta. O casal, derradeiros representantes da realeza de Hollywood, reuniu um grupo seleto de representantes da indústria cinematográfica. A pequena Cammie, autêntica estrela da festa, divertiu-se a montar um pónei e insufláveis, e a comer do luxuoso banquete. A mãe da criança, Olivia Delgado, tão discreta como habitualmente, foi vista na companhia de uma estrela em auge, Jeremy Vargas.

 

Como um cão a roer o osso, o cérebro regressou à incrível probabilidade. As datas coincidiam, mas isso não significava que ele e Olivia tivessem gerado uma filha.

Uma inesperada ira atravessou-lhe o peito, afogando-o numa sensação de confusão e remorso. Tentara apagar Olivia da mente. Tinham tido uma relação breve, embora explosiva, e amara-a com a inconsistência da juventude.

Não podia ser. Ou podia?

Voltou a tirar o recorte de jornal do bolso para estudar a foto.

Era pai de uma menina?

Chegara há menos de dois dias do Extremo Oriente. Acabara mal com Olivia, mas não acreditava que ela fosse capaz de lhe ocultar uma informação tão importante.

A descoberta alterara-lhe os planos por completo. Em vez de aproveitar um longo período com a família nas montanhas de Virgínia Blue, limitara-se a um cumprimento rápido e a entrar noutro avião, rumo à Califórnia.

Ainda que jamais o admitisse, estava nervoso e apavorado. Estendeu a mão e tocou à campainha.

– Olá, Olivia – cumprimentou com amargura a mulher que lhe abriu a porta.

Poderia ter sido uma estrela de cinema. Era bonita, uma versão mais doce da mãe exótica. Tinha a pele bronzeada e uma cabeleira morena. E uns enormes olhos castanhos que o olhavam com espanto.

– Posso entrar?

A palidez da mulher devia tê-lo deixado envergonhado, mas o que sentiu foi uma pontada de satisfação. Precisava de a magoar.

– Que fazes aqui? – a jovem humedeceu os lábios enquanto o batimento cardíaco era visível no pescoço fino.

Era evidente que se esforçava por aparentar desinteresse.

– Pensei que podíamos recuperar o tempo perdido... Seis anos é muito tempo.

A jovem não se moveu, mas a linguagem corporal dizia-lhe claramente «não».

– Estou a trabalhar – respondeu secamente. – Não é um bom momento.

Os seios generosos da jovem enchiam uma camisa decotada e era impossível não reparar neles. Qualquer homem heterossexual, entre os dezasseis e os setenta anos, sentir-se-ia excitado com a sensualidade daquele corpo.

– Pode ser que para ti não seja – entrou, com um pequeno empurrão. – Mas a mim parece-me o momento perfeito.

A jovem deu, instintivamente, um passo para trás enquanto ele entrava no salão. Não havia brinquedos nem nada que evidenciasse a presença de uma criança.

Uma foto emoldurada chamou-lhe a atenção. Ao aproximar-se reconheceu o fundo. Olivia escrevera a tese de doutoramento sobre a conhecida ilustradora e escritora de histórias infantis de Beatrix Potter. Num memorável fim de semana, arrastara-o para Lake District, em Inglaterra. Depois de visitar a casa e os arredores onde a autora vivera, Kieran reservara um quarto numa encantadora e romântica pousada.

Ao recordar os dias e noites tórridos que tinham partilhado, sentiu um desconforto e o seu sexo começou a crescer. Voltava a sentir-se assim depois de tanto tempo?

Tentara esquecê-la com todas as suas forças, cumprir o seu dever como um Wolff. Questionara-se um milhão de vezes sobre a decisão de a abandonar sem dizer uma palavra.

E, no entanto, sentira pena dela. Pena da elegante, bonita e divertida Olivia, com um corpo que faria qualquer homem ir às nuvens.

Tirou a ideia da cabeça. Havia muitas possibilidades de aquela mulher o ter enganado de forma imperdoável. Aquele encontro deveria ser em ambiente neutro. Porque, sem testemunhas, havia a possibilidade de acabar à estalada.

Fixou-se de novo na foto. Olivia sorria para uma câmara com uma menina na mão. O mundo de Kieran deu uma cambalhota e perdeu por completo a capacidade de respirar. Aquela criança era, sem dúvida, uma Wolff. Os olhos distantes, a expressão cautelosa, o queixo levantado.

– Onde está? – bradou, virando-se para a traidora. – Onde está a minha filha?

– A tua filha?

– Não brinques comigo – Kieran franziu a testa. – Não estou de bom humor. Quero vê-la. Agora.

Sem esperar para ser convidado, subiu pelas escadas acima com Olivia atrás dele.

Kieran Wolff fora o seu primeiro e único amor. Ela era uma rapariga tímida, um rato de biblioteca com a cabeça nas nuvens. E ele mostrara-lhe um mundo de prazer... e desaparecera logo a seguir.

Todo o sentimento de remorso evaporou-se ao recordar a dor e a confusão vividas.

Kieran entrou numa divisão que tinha a porta aberta, inconfundivelmente um quarto de uma menina. A cama de dossel era como o de uma princesinha da Disney.

– Vou voltar a repetir – durante um segundo, Olivia comoveu-se com a angústia refletida no rosto do homem, mas recompôs-se logo de seguida. – Que fazes aqui... Kevin?

O tom dela fez com que um ligeiro rubor subisse a partir do pescoço de Kieran. O cabelo curto, ligeiramente mais escuro do que o de Olivia, terminava na nuca.

– Então sabes quem sou? – afirmou ele, contemplando o seu rosto indecifrável.

– Sei – Olivia encolheu os ombros. – Há uns anos, contratei um detetive para descobrir a verdade sobre o Kevin Wade. Imagina a minha surpresa ao descobrir que não existia.

– Tinha os meus motivos, Olivia.

– Tenho a certeza, mas não quero saber deles. Quero que saias da minha casa ou chamo a polícia.

A ameaça não surtiu efeito. Os olhos cor de âmbar olharam-na, semicerrados.

– Talvez seja eu a chamar a polícia para lhes dar conta de um rapto...

– Nem penses nisso – sussurrou ela, com um nó na garganta e os olhos rasos de água. – Não depois de todo este tempo. Por favor – não lhe devia nada, mas ele podia arruinar-lhe a vida.

– Onde está a menina? – o tom dele não dava espaço para protestos.

– A viajar pela Europa com os avós – jamais mencionaria que Cammie ainda demoraria algumas horas a apanhar o avião em Los Angeles.

– Admite que é minha – Kieran abanou-a com firmeza pelos ombros. – Sem mentiras, Olivia.

Ela reconheceu e recordou, dolorosamente, o cheiro quente da pele depois de fazerem amor. Durante algum tempo, acreditara que iria acordar ao lado daquele homem pelo resto da vida. Com o passar dos anos, recriminou-se pela estupidez e inocência que demonstrara.

– Larga-me! – ordenou. – Não tens o direito de entrar aqui e de me pressionar assim.

– Que raio, quero a verdade! – Kieran soltou-a bruscamente. – Diz-me!

– Não ias reconhecer a verdade nem que estivesse debaixo do teu nariz. Vai-te embora, Kevin Wade.

– Temos de falar – a reação de Olivia enfureceu-o ainda mais. – Podes escolher: esta noite no meu hotel ou amanhã num escritório com os meus advogados.

– Não tenho nada a dizer-te – respondeu ela, desolada. Aquele homem não iria desistir.

– Então vou ser eu a falar – trespassou-a com o olhar.

Estupefacta, Olivia viu-o ir embora e seguiu-o com a intenção de fechar a porta e, assim, com sorte, deixar o passado do lado de fora. Mas Kieran parou no alpendre.

– Vou enviar um motorista para te vir buscar às seis – anunciou friamente. – Não te atrases.

 

 

Olivia sentiu as pernas a enfraquecer e teve de se sentar numa cadeira. Que poderia fazer? Não se atrevia a contar-lhe a verdade. Kieran Wolff não era o jovem sorridente que conhecera em Oxford.

Era letal e predador, como um felino da selva que frequentava. Era o homem que ajudava a cavar poços em aldeias remotas e que construía e reconstruía pontes e edifícios em países assolados pela guerra.

Sem demora, marcou o número da vizinha, mãe da melhor amiga de Cammie, já que a menina estava em casa dela e, minutos mais tarde, observava a filha a escrever uma nota de agradecimento aos avós pela festa de aniversário. Tudo correra bem.

– Preciso de mais papel – Cammie franziu a testa, quase a chorar. – Correu-me mal.

– Assim está bem, querida – Olivia tentou acalmá-la. Com cinco anos já era uma perfecionista.

– Tenho de começar de novo.

A adivinhar a birra que se aproximava, Olivia suspirou e entregou-lhe uma folha de papel.

Se Cammie tivesse tido um pai, teria tido uma vida mais fácil?

Olivia sentiu um aperto no estômago. Naqueles momentos não conseguia pensar em Kieran, não até Cammie estar longe dali, sã e salva.

Iria ter saudades dela. Formavam uma família de duas pessoas. Uma família completa e normal.

Estaria, por acaso, a tentar convencer-se de outra coisa?

Desejava desesperadamente que Cammie tivesse a segurança emocional que lhe faltara quando era pequena. O prazer dos abraços e das tarefas escolares.

Olivia fora criada por uma série de amas e tutores. Desde muito pequena, lidara com as longas ausências de uns pais que a ignoravam. Fora o estereótipo da pobre menina rica com o coração destroçado.

Por sorte, os seus pais eram mais presentes na vida de Cammie do que tinham sido na sua.

A obstinação de Olivia em viver com a filha uma vida de classe média deixava Lolita e Javier estupefactos. A festa de aniversário fora um exemplo do estilo de vida ao qual Olivia tentara escapar. Não era bom que uma criança acreditasse que poderia ter tudo o que desejasse. Mesmo que ela um dia fosse à falência, Cammie continuaria a herdar os milhões de dólares dos avós.

– Quem me dera que a Lolo tivesse um frigorífico – Cammie sorriu por fim, satisfeita. – A minha amiga, a Aya, diz que a avó cola coisas dela na porta do frigorífico.

Olivia sorriu. Lolo tinha vários frigoríficos em diferentes cozinhas, desde Los Angeles até Nova Iorque, passando ainda por Paris. Mas duvidava seriamente que a mãe tivesse alguma vez aberto algum e muito menos que o tivesse decorado com os desenhos da neta. Lolita pagava para que outros fizessem essas coisas. Na realidade, pagava para que lhe fizessem tudo.

– A Lolo vai adorar o teu desenho, Cammie, e o Jojo também.

O pai de Olivia não ficara louco com o dinheiro, mas consentia qualquer coisa à neta, por amor e porque ela lhe concedia o que mais desejava: amor incondicional.

– Vou buscar a minha mochila – Cammie saltou da cadeira. – Eles vão chegar a qualquer momento.

– Espera, meu amor... – no entanto era demasiado tarde. A menina correra pelas escadas acima.

Os pais de Olivia levá-la-iam à Disneylândia. Olivia protestara por considerar excessivo após o gasto desmesurado na festa de aniversário, mas acabara por ceder perante o olhar suplicante da filha e os seus fortes abraços. Os avós e a menina não lhe tinham dado alternativa.

– Promete-me que te portas bem – suplicou Olivia, quando Cammie desapareceu.

– Dizes-me sempre o mesmo – a menina revirou os olhos.

– E digo-o sempre a sério.

– Adeus, mamã – gritou a feliz pequena quando ouviu tocar à porta.

Olivia seguiu-a até ao carro. Os seus pais continuavam felizes e elegantes no meio do barulho que uma menina muito entusiasmada fazia para entrar no carro.

– Por favor, não a mimem em excesso – Olivia abraçou a mãe com cuidado para não lhe amassar a roupa.

Durante um segundo, sentiu o impulso de partilhar com eles a verdade sobre Kieran, de lhes pedir conselhos. Jamais divulgara os detalhes sobre a paternidade de Cammie.

Mas o momento para isso passou quando Javier sorriu e beliscou a bochecha da filha.

– É o que sabemos fazer melhor, Olivia.

Depois da partida, a casa ficou em silêncio. Durante muitos anos tinham estado as duas sozinhas. E, de repente, Kieran aparecera para desestabilizar tudo.

Olivia sentiu os olhos a arder e esforçou-se para ignorar tanta sensibilidade. Tinha uma boa vida. Uma família, um trabalho como ilustradora de contos infantis que adorava e muitos e bons amigos. Kieran não fazia parte disso, o que a deixava feliz.

 

 

O resto do dia foi uma perda de tempo. Tinha menos de duas semanas para entregar à editora umas aguarelas, mas não se sentia capaz de dar o toque final à última.

Era incapaz de se concentrar, incapaz de conter a enxurrada de recordações.

Tinham-se conhecido como estudantes universitários através de um amigo em comum numa casa tradicional no meio do campo inglês. Faltavam seis semanas para o fim do curso e ambos sabiam que a relação tinha um prazo. Mas Olivia, completamente apaixonada pelo atraente e carismático Kevin Wade, construíra um conto de fadas em que a relação continuaria nos Estados Unidos.

No entanto, não fora propriamente isso que acontecera. Durante a última semana, Kevin desaparecera, deixando um simples bilhete de despedida. Pensar nisso continuava a dar-lhe voltas ao estômago. O amor transformara-se em ódio e fizera todos os possíveis para virar as costas à recordação do rapaz que lhe partira o coração... e lhe dera um bebé.

Depois de tomar banho, contemplou o próprio reflexo ao espelho. Apesar de ter querido seguir os passos da mãe no cinema, não teria tido a menor possibilidade. Tinha nove quilos a mais e não correspondia ao género atrevido e loiro que os realizadores de cinema continuavam a preferir.

Quando a limusina estacionou à frente da casa, Olivia estava uma pilha de nervos.

Durante seis anos inventara mentiras para proteger a filha, para construir uma vida tão insonsa que a imprensa a deixara em paz há muito tempo. Uma mãe solteira em Hollywood era um assunto muito aborrecido... desde que ninguém descobrisse que o pai era um Wolff.

O hotel em que Kieran estava alojado ficava numa tranquila rua de Santa Mónica. Exclusivo, discreto e, sem dúvida, extremamente caro. O gerente em pessoa acompanhou Olivia à suite do quinto piso.

Depois deixou-a sozinha. Mas, em vez de bater à porta, ponderou a possibilidade de fugir do país. Cammie era tudo para ela e a ideia de a perder...

Apesar de não ser capaz de competir com a conta bancária dos Wolff, possuía uma fortuna própria invejável. Numa batalha legal, poderia manter a posição e os juízes frequentemente colocavam-se do lado da mãe, sobretudo numa situação como aquela.

Não fazia a menor ideia do que a aguardava do outro lado da porta, mas não desistiria sem lutar. Kieran Wolff não merecia ser pai. E, se fosse preciso, ela mesmo lho diria.

Respirou fundo e bateu à porta com os nós dos dedos.

 

 

Ao abrir a porta sentiu um aperto no estômago. Olivia estava linda e cada uma das suas hormonas levantou-se para a saudar. Só morto não reagiria à sexualidade que ela emanava.

Era como as modelos de calendário dos anos 40, com pernas que não acabavam, seios generosos e todas as curvas necessárias. Olivia era uma fantasia com pele cor de mel.

– Entra, Olivia – convidou-a. – A seguir vão-nos servir o jantar.

Ela entrou. Kieran esperou que ela se sentasse antes de ele se sentar à frente dela. Ensaiara a cena mil vezes e estava decidido a conservar a calma, por muito que ela o provocasse.

– Não podes negar, Olivia – começou, ao ver que ela não tinha intenção de falar. – Quando nos conhecemos, eras virgem. Eu sei fazer contas. A tua filha é minha.

– A minha filha não é assunto teu – ela olhou-o furiosa. – Foste o primeiro, mas houve outros homens depois.

– Mentirosa. Dá-me o nome de um.

– Eh... – Olivia ficou boquiaberta.

Kieran riu-se pela primeira vez desde que descobrira o artigo no jornal. Continuava a ser a rapariga doce e sensata que conhecera na universidade, sem consciência alguma da sua extraordinária beleza.

– Mostra-me a certidão de nascimento dela.

suite

– Ia contar-te – insistiu ele. – Mas primeiro precisava da autorização do meu pai. Mas, entretanto, ele teve um enfarte e tive de sair de Inglaterra de repente.

– Deixando um bilhete que dizia: «Querida Olivia, tenho de regressar a casa. Perdoa-me.».

– Tinha pressa – ele fez uma careta.

– Tens alguma ideia da humilhação que senti quando fui ao reitor suplicar informação sobre ti e me disseram que o Kevin Wade já não estava matriculado lá?

– Lamento – interrompeu ele, consciente pela primeira vez do que a fizera sofrer.

– Lamentar não explica porque é que o teu telemóvel e o teu endereço eletrónico deixaram de funcionar.

– Estavam ligados à conta da faculdade. Quando soube que já não ia voltar, fechei-a.

– Se o que estás a tentar fazer é justificar o teu comportamento, estás a fracassar miseravelmente.

– Nunca te quis magoar – insistiu ele. – A minha casa estava uma loucura – continuou Kieran. – Durante uma semana não saí do hospital. E quando o meu pai saiu, estava muito deprimido. Mal tinha tempo para mim próprio.

– Compreendo – ela assentiu lentamente enquanto franzia a testa. – Não fui mais do que uma aventura temporária. Fui uma ingénua. Até terem passado várias semanas, não me dei conta que me tinhas deixado plantada. Continuava a acreditar que tínhamos alguma coisa especial.

– E era verdade, bolas!

– Mas não era especial o suficiente para me teres telefonado. Ainda que te deva agradecer, porque aprendi muito com a experiência. Se é tudo, posso ir-me embora. Foste absolvido de todas as acusações.

Felizmente para Kieran, a chegada do jantar interrompeu a partida de Olivia. Permaneceu ali enquanto o empregado servia o jantar em frente à janela com vista para a paisagem. No final, o aroma que saía dos pratos venceu a determinação dela.

Durante quinze minutos, nenhum dos dois falou enquanto saboreavam um espadarte grelhado com molho de manga e salada de espinafres.

Kieran tinha noção de que a situação se descontrolara. Deviam ter falado do porquê de Olivia lhe ter ocultado que tinha uma filha, mas acabara por adotar uma postura defensiva. Precisava de um novo plano.

– Talvez seja um idiota – disse, depois de comer duas colheradas de sorvete de limão, – mas isso não desculpa o facto de nunca me teres dito que tinha uma filha, Olivia.