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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2004 Harlequin Books S.A.

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

O Meu Solteiro Preferido, N.º 47 - Janeiro 2014

Título original: The Bachelor

Publicada originalmente por Silhouette® Books

Publicado em português em 2007

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Ouro e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Getty Images.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5048-4

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

 

 

Faz parte de:

 

O LEGADO DOS LOGAN

 

Porque o direito de nascença tem os seus privilégios e os laços de família são muito fortes.

 

Estava apaixonada por um mulherengo multimilionário que não tinha intenção de assentar a cabeça... ou era o que ela pensava.

 

JENY HALL: não recordava quando começara a amar Eric Logan. No entanto, quando os seus amigos adquiriram num leilão um encontro de sonho com ele, sentiu-se coibida e perguntou-se como poderiam unir os seus mundos...

 

ERIC LOGAN: num intervalo da sua vida, cheia de viagens em aviões privados e reuniões com accionistas da sua empresa, Eric assistiu a um leilão, pavoneando-se... e acabou por ser o encontro da doce Jenny Hall. E quando entrou no seu mundo... apercebeu-se de que os seus dias de solteiro estavam contados!

 

Quem será a mulher misteriosa do leilão de solteiros?

Peter Logan não consegue tirar-lhe os olhos de cima... E não faz ideia de que, muito em breve, aquela beleza fará estragos no seu coração!

Um

 

Elaine Winthrop Hall deu o braço à sua filha e acompanhou-a até à sala. Jenny sabia que a sua mãe estava a esforçar-se muito para não fazer nenhum comentário sobre a camisola larga que a sua filha usava e sobre o seu pequeno apartamento.

Jenny dizia que a sala era acolhedora. A sua mãe achava que era minúscula e que ela tinha closets maiores. No entanto, os metros quadrados não significavam nada para Jenny.

Nem, segundo a sua mãe, o prestígio, a classe e a opinião das pessoas. Das pessoas que interessavam.

Os olhos perfeitamente maquilhados de Elaine repararam no menino de quatro anos que estava sentado no tapete a meio da sala, a brincar silenciosamente com um amigo imaginário. Jenny sabia que Cole era a razão pela qual a sua mãe fora visitá-la, para tentar convencer, mais uma vez, a sua obstinada filha a ter bom-senso.

A mulher não precisava de falar para que Jenny soubesse em que estava a pensar. Era bom deixar que o coração mandasse de vez em quando, mas aquilo deveria acontecer com homens de um metro e oitenta de altura, não com pequenas âncoras que apenas se interpunham nos planos de uma boa família para a sua única filha.

Finalmente, Elaine falou, entoando a sua voz até a reduzir a um sussurro.

— Ele não é problema teu, Jennifer — insistiu, não pela primeira vez. — Não é tua responsabilidade.

Ultimamente, Jenny tivera alguns dias muito longos e enervantes. No entanto, descobriu que ainda lhe restava alguma paciência.

— Não é problema meu, efectivamente — disse à sua mãe, com suavidade, mas firmemente. — Mas é minha responsabilidade. Dei a minha palavra a uma mulher agonizante.

Aquilo não era novo para a sua mãe. Jenny já explicara, várias vezes, aos seus pais porque adoptara o menino. Jenny observou o rosto perfeitamente maquilhado da sua mãe, em busca de algum sinal que lhe confirmasse que existia bondade humana no peito de uma mulher que ela amava muito, apesar de todos os seus defeitos.

Tentou novamente pela enésima vez.

— E o que queres que faça, mamã? Não vou cumprir com a minha palavra? Foste tu quem me ensinou a cumprir com os meus compromissos, não te lembras?

Elaine suspirou.

— Sim, é verdade. Mas, neste caso, há lugares que poderiam acolher Cole. E muita gente adoraria adoptá-lo. Ainda é viável.

— Viável? — Jenny olhou para a sua mãe sem acreditar no que acabava de ouvir. — Não é uma planta, mamã, é um menino pequeno. Um menino que passou por uma situação muito difícil, que viu a sua mãe morrer — disse. O que era preciso para a sua mãe entender? Jenny sabia que era a última oportunidade de Cole. Se ela não conseguisse atravessar o muro protector que o menino criara à volta dele, ninguém seria capaz de o fazer. — Queres que eu o abandone?

A mulher lançou um olhar de soslaio a Cole e respondeu:

— Não estou a dizer para o abandonares, apenas para o entregares a uma família. A uma família tradicional.

Jenny sabia que a sua mãe nunca aprovara as famílias mono parentais. No mundo de Elaine Hall, as famílias começavam com um marido e uma mulher e depois apareciam os filhos. Qualquer outra coisa seria imperdoável. Quando Jenny lhe contara que ia adoptar Cole, Elaine estivera prestes a sofrer um ataque de nervos.

— Sabes, Jenny? — continuou a mulher. — Não és uma super-mulher.

Jenny odiava que lhe impusessem limites, odiava todas as regras pelas quais a sua mãe se regia. Pareciam do século passado.

— Só porque tu não queres, não significa que seja assim.

Elaine olhou para ela com espanto e depois abanou a cabeça.

— Confundes-me sempre com a tua retórica.

Jenny sorriu.

— Chama-se mecanismo de defesa — respondeu.

Naquele momento, o seu estômago começou a fazer barulho. Já era hora de jantar e ela não comera naquele dia.

— Se querias intimidar-me, mamã, podias ter-me enviado um e-mail.

A sua mãe franziu o sobrolho e o seu rosto atraente adquiriu uma expressão de cansaço.

— O que quero é que a minha filha encontre o lugar que lhe corresponde por direito no mundo.

Ou seja, pensou Jenny, o lugar que a sua mãe considerava que a sua filha devia ocupar. Naquele ponto, tinham opiniões diametralmente opostas. A sua mãe não aprovava a escolha profissional que Jenny fizera, nem o apartamento em que vivia nem a sua existência quase monástica. Na realidade, ela também não estava de todo satisfeita com aquela última faceta da sua vida, mas até se inventar a forma de se criar mais horas para o dia, sair com homens ficaria relegado para um segundo plano.

Jenny tentou falar com um tom alegre.

— Tenho notícias de última hora!

— Sobre o quê? Sobre aquele escritório horroroso onde trabalhas, que fica num edifício cuja instalação eléctrica e cuja canalização não cumprem a sua função?

Evidentemente, a sua mãe tinha de indicar os pontos mais negativos. Mas o escritório tinha de estar onde estavam as pessoas pobres, não num edifício luxuoso do melhor bairro de Portland.

— Processámos o senhorio por essa razão — disse à sua mãe e depois acrescentou com orgulho: — E ganhámos!

— O que tem de mal trabalhares como advogada num escritório conhecido e respeitado? O que tem de mal quereres ganhar dinheiro?

Jenny agarrou no jornal que deixara desdobrado naquela manhã. Para além daquele pormenor, não havia nada desarrumado no seu apartamento. Cole estava na escola a maior parte do dia. Quando Sandra, a sua ama, o trazia para casa, Cole mal tocava nalgum dos brinquedos que Jenny lhe comprara. Estavam todos guardados no seu baú, portanto ela não tinha nada para arrumar naquele momento. Viu-se obrigada a olhar para a sua mãe e a acalmar-se.

— Não há nada de mal em querer ganhar dinheiro — replicou. — Eu tento ganhá-lo para os meus clientes.

Elaine franziu ainda mais a testa.

— Refiro-me a ganhares dinheiro para ti própria.

— Não preciso de muito dinheiro — respondeu Jenny. Entrou na cozinha, a alguns passos da sala, e começou a tirar os pratos para a pizza que ia encomendar por telefone. — Não te tinha dito, mamã? As melhores coisas da vida são grátis.

Elaine soprou, desdenhosamente.

— Não era verdade quando Al Jolson cantava aquela canção, e não é verdade agora — replicou. Depois, o seu tom tornou-se de desespero. — Isto parte-me o coração, Jenny. Estás a esbanjar o teu talento e a tua vida.

Jenny quase sentiu pena da sua mãe. Nunca conseguiriam concordar naquilo.

— A minha vida, mamã! O meu talento!

Elaine fechou os olhos.

— O teu irmão disse-me que isto era uma perda de tempo.

Ao ouvir mencionar Jordan, Jenny sorriu novamente. Tinha de lhe telefonar.

— Às vezes, o meu irmão é demasiado sábio para a sua idade — disse, enquanto pensava num modo de expulsar a sua mãe sem recorrer à força física. — Queres ficar para jantar? Estava prestes a pedir uma pizza.

Elaine encolheu-se. Ela nunca provara uma pizza na sua vida.

— Tenho um compromisso.

Daquela vez, foi Jenny quem deu o braço à sua mãe e, com suavidade, a conduziu até à porta.

— Pois então, por favor, não te atrases por minha causa.

Afastou-se da sua mãe e abriu a porta.

— A tua missão foi um fracasso, mamã, mas gostei de te ver.

Elaine atravessou a soleira e parou o tempo suficiente para se virar e abanar a cabeça.

— Tens noção de que há muitas raparigas que matariam para ter a tua educação e as tuas oportunidades?

E, caso não tivesse noção, pensou Jenny, já tinha a sua mãe para lho recordar com frequência.

— Pois então, dá-lhas antes que magoem alguém.

— Nem tudo na vida é uma brincadeira, Jennifer!

— Não — admitiu ela. — Mas, se sorrires, conseguirás ultrapassar tudo — respondeu. Depois inclinou-se e deu um beijo na face à sua mãe. — Sorri de vez em quando, mamã. Evita as rugas — disse. Depois compadeceu-se dela. — Caso faça sentir-te melhor, vou ser a presidente do leilão anual de solteiros para angariar fundos para a Associação de Pais Adoptivos. Pressupõe-se que algumas das damas da tua querida sociedade estarão lá, a babarem-se com os bons partidos que desfilarão naquela noite.

Elaine olhou para ela com os olhos semicerrados.

— Não sejas vulgar, Jennifer! Uma dama não se baba!

— Uma dama não permite que ninguém a veja babar-se — corrigiu Jenny com um sorriso.

Perante aquela derrota inegável, Elaine deixou escapar um suspiro...

— És impossível!

Jenny inclinou a cabeça.

— Sim, mas amo-te e tu tens outro a quem tentar convencer em casa.

— Jordan já não vive em casa, Jennifer. Está fora há anos. Tu sabes.

A sua mãe sempre fora uma amante da precisão.

— É uma forma de falar, mamã — respondeu Jenny enquanto começava a fechar a porta.

Elaine deu-lhe uma última instrução.

— Come qualquer coisa.

— Assim que trouxerem — prometeu Jenny, e depois fechou a porta rapidamente, caso a sua mãe mudasse de ideias e arranjasse mais alguma coisa para criticar. — Aquela mulher distribui alegria por onde anda — disse, enquanto caminhava para a sala e para Cole. — Na verdade, não pensa o que disse, Cole. Tem um bom coração. Só que é difícil encontrá-lo debaixo daquela capa de jóias e roupa de marca. É verdade o que se diz, sim! Os ricos são diferentes de ti e de mim — prosseguiu.

Enquanto falava, assentia como se o menino tivesse feito algum comentário. Era algo que fazia todas as noites, com a esperança de conseguir, algum dia, arrancar-lhe alguma palavra. Era um menino precoce, que antes da morte da sua mãe passava o dia todo a falar.

— Bom, sei em que estás a pensar. Que eu também sou um deles, mas não é verdade. Não podes atirar-me à cara as minhas origens. Eu não queria fazer parte da elite e fugi assim que pude.

O que era verdade. Ela nunca sentira afinidade com o mundo dos seus pais. Sentia muito mais vínculos com as pessoas que estava a tentar ajudar, embora também não encaixasse por completo no seu mundo.

— Os privilegiados pensam que, para todos os outros, respeitá-los e admirá-los também é um privilégio. Não se apercebem de que saltar de cocktail em cocktail e de festa em festa pelo mundo não leva a descobrir o verdadeiro sentido da vida.

Cole continuou a brincar com o seu amigo imaginário como se ela não tivesse dito nada, mas Jenny tentou convencer-se de que o som da sua voz estava a reconfortá-lo de algum modo. Jenny recordou o menino que fora até há seis meses atrás, um menino brilhante e alegre que se ria constantemente. Mas também era muito ligado a Rachel e a sua morte fora um golpe fortíssimo para ele.

Imediatamente depois do funeral, quando assimilara a morte da sua mãe, Cole afastara-se do mundo. Falava, mas, de noite, nos seus pesadelos, gritava e chamava por Rachel, a soluçar.

Jenny, com o coração partido, corria para o seu quarto e abraçava-o até o menino voltar a adormecer. Um dia, disse para si, um dia, iria conseguir alcançá-lo. Até então, continuaria ali para Cole.

Jenny olhou para a mesa da cozinha, onde espalhara todos os relatórios que trouxera do escritório. Estava a meio de uma batalha nos tribunais em nome de Miguel Ortiz. Se ganhasse, o seu triunfo representaria uma grande ajuda na vida do homem.

Se não houvesse um milagre, Miguel nunca voltaria a andar, nem se livraria das dores que estava a suportar desde que um respeitado cirurgião o operara à espinha dorsal. Apesar do seu renome, o médico levara a operação a cabo em estado de embriaguez e causara danos irreparáveis ao paciente.

Assim, se ganhassem aquela causa, conseguiriam uma indemnização para Miguel e o homem recuperaria a sua dignidade.

Estavam a aproximar-se do fim. Durante as últimas cinco semanas, ela não fizera outra coisa a não ser comer, dormir e respirar aquele caso, mas, naquele momento, precisava de algum tempo para si. E não lhe ocorria nada melhor que criar uma ilha minúscula de tempo para poder partilhá-la com a pessoa que mais lhe importava no mundo: Cole.

Inclinou-se para ele, abraçou-o e, suavemente, fez com que ficasse de pé. Depois beijou-lhe a cabeça.

— Não te preocupes com o que a bruxa malvada disse. Eu estarei sempre aqui para cuidar de ti. Tu e eu contra o mundo, está bem, miúdo? Bom, vamos pedir a pizza e depois leio-te uma história. Acho que precisamos de relaxar depois desta visita surpresa.

No fundo, sabia que a sua mãe tinha boas intenções. Na verdade, tanto o seu pai como ela tinham, mas Jenny não estava disposta a sacrificar nenhum aspecto da sua vida. Adorava ser a heroína das pessoas que tinham perdido a esperança. E amava Cole. Desejava ser uma mãe para ele, mais do que qualquer outra coisa no mundo.

A única coisa de que, por vezes, sentia falta no seu mundo era ter um príncipe que a apoiasse, a quem pudesse recorrer quando o desânimo se apoderava dela e precisava de se reafirmar. Mas, na realidade, existiriam vidas perfeitas? A sua estava muito perto da perfeição, e isso era suficiente para Jenny.

Telefonou para uma pizzaria de confiança e encomendou a Angelo, o seu empregado, uma pizza com uma dose extra de queijo e três tipos de carne. Ele prometeu-lhe que a enviariam dentro de meia hora.

— Muito bem — disse a Cole enquanto desligava. — É o suficiente.

Depois aproximou-se da pequena estante do canto, agarrou no livro preferido de Cole e sentou-se no sofá. Aninhou Cole no seu colo e depois começou a ler.

Lentamente, a tensão desapareceu.

 

 

— Vamos, vai ser divertido — disse Jordan Hall ao seu melhor amigo, Eric Logan.

Teve de levantar a voz para conseguir fazer-se ouvir por cima das pancadas rítmicas que a bola dava ao bater contra a parede que tinham à sua frente, no ginásio de que ambos eram sócios. Eric e ele estavam muito igualados no jogo e Jordan tinha de se concentrar para não perder o jogo. E aquela não era uma tarefa fácil quando estava preocupado com o facto de pôr em funcionamento o seu plano com subtileza.

Pensara naquilo depois de falar com a sua mãe ao telefone. Elaine Hall estivera a queixar-se de que, quando, finalmente, Jennifer decidira deixar-se ver nos círculos em que fora criada, iria fazê-lo num leilão deplorável de solteiros.

— Claro que é um leilão de beneficência e acho muito bem — dissera-lhe a sua mãe, — mas quando irá pensar aquela tua irmã em arranjar um marido adequado e formar uma família, como se pressupõe que tem de fazer?

Era a mesma pergunta com que a sua mãe também o perseguia. E a mesma com que Leslie, a mãe de Eric, o atacava de vez em quando. Normalmente, ter-lhe-ia entrado por um ouvido e saído pelo outro, como todas aquelas conversas que a sua mãe tinha com ele, excepto que, daquela vez, lhe dera uma ideia. A informação que a sua mãe lhe dera fundira-se com um dado que ele tinha na mente, de que tinha a certeza que só ele sabia. Sabia que Jenny, em tempos, estivera apaixonada por Eric.

E talvez continuasse a estar.

De qualquer modo, aquele leilão fizera-o elaborar um plano. Jenny não fazia mais nada a não ser trabalhar e nunca se dava ao luxo de se divertir. Na opinião de Jordan, a sua irmã precisava de diversão. E ele queria dar-lha.

Aquela era a primeira fase.

— Divertido — repetiu Eric, com um sopro, enquanto lhe devolvia a bola, enviando-a primeiro para a parede e depois directamente para Jordan. — Passear-me como um naco de carne por uma sala cheia de senhoras da alta sociedade com os livros de cheques na mão. É essa a tua ideia de diversão?

— Não, a minha ideia de diversão é passear-me à frente das filhas dessas senhoras que têm os livros de cheques na mão — corrigiu Jordan enquanto saltava para apanhar a bola e mandá-la novamente para a parede. — Já participei nalguns desses leilões. Acredita em mim, é por uma boa causa e cobre a tua quota de beneficência por seis meses, no mínimo!

— Eu já a cubro no escritório — replicou Eric, devolvendo o serviço.

Ambos sabiam que aquela resposta era verdadeira. Todos os membros da família de Eric se dedicavam, em diferentes graus, à beneficência. Embora ele fosse o mais despreocupado de todos, um solteiro encantador e desejável que fazia parte da empresa gigantesca de informática Logan Corporation, encarava tão a sério como o resto o facto de realizar acções caridosas e, embora não o fizesse de forma tão visível como os outros Logan, Jordan sabia que o seu amigo estava atento aos que tinham menos possibilidades e, em segredo, fazia o que podia para ajudar.

Algo que tinha em comum com Jenny, pensou Jordan. E contava com que aquilo aplainasse o caminho para que a sua irmã desfrutasse de uma noite que merecia e que não iria esquecer.

No entanto, primeiro tinha de convencer Eric.

— Pois, faz mais um pouco.

— Porquê esse interesse repentino em que eu participe neste grande espectáculo de homens?

— A minha irmã é a presidente — respondeu ele. — E pensei que devia ser um bom irmão mais velho e recrutar alguns homens para o seu leilão.

Com uma estocada poderosa, Eric enviou a bola por cima do ombro de Jordan e sentiu uma injecção de adrenalina nas veias pelo seu triunfo. O ponto era dele.

O desporto era o único campo onde permitia que o seu sentido de competitividade aflorasse. Deus sabia que não o utilizava no trabalho. Lá, Peter, o seu irmão mais velho, era o director-geral desde que o seu pai se reformara. Eric estava convencido de que Peter nunca dormia. O seu irmão mais velho já estava no escritório quando Eric chegava e ficava lá muito depois de ele ir para casa.

Eric pressupôs que aquilo era, em parte, por Peter pensar que tinha de fazer o dobro dos outros, por ser adoptado. Portanto, Peter conseguia coisas espantosas e Eric ficava como se não fizesse nada. Se Eric fosse uma pessoa insegura, aquilo tê-lo-ia enviado a correr para o sofá do psiquiatra mais próximo. No entanto, tinha um amor-próprio saudável, o que lhe permitia ver os esforços de Peter como algo muito bom para a família e que não se reflectia negativamente nele.

Na verdade, fazia com que Eric se preocupasse com o seu irmão mais velho. Sentia-se como se Peter estivesse a deixar passar a vida ao seu lado.

— Está bem. Irei. Mas com uma condição — disse e fez o serviço. Imediatamente, preparou-se para a resposta. — Também terás de convencer Peter. Ele é que precisa de relaxar.

Não houve a mínima hesitação por parte de Jordan.

— Claro que sim! Peter será uma grande contribuição — respondeu Jordan com um sorriso, pensando naquele homem tão sério enquanto devolvia a bola ao seu amigo. — Mas porque não lhe dizes tu primeiro?

— Eu? — perguntou Eric. Naquele momento, perdeu a bola e praguejou entredentes. Depois, com a bola fora de jogo, fez uma pausa para recuperar o fôlego. — Tu é que és o proxeneta.

Jordan agarrou numa garrafa de água e bebeu antes de responder.

— Isto não tem nada de proxenetismo. É algo completamente limpo. Leva-te a menina...

— Que pagar pelos meus serviços — acrescentou Eric, imediatamente.

— Que doar uma boa quantia de dinheiro para uma causa justa pelo prazer da tua companhia — corrigiu Jordan e recomeçou: — A menina leva-te a jantar e ao cinema. Isso não inclui aquecer os lençóis de ninguém — disse Jordan e fez uma pausa. Sabia que não podia parecer um menino de coro da igreja sem levantar as suspeitas de Eric. — A menos, claro, que te apeteça.

— O que me apetece nunca é um problema. O que conta é o que a menina quiser — disse-lhe Eric, com um toque de inocência que era menos do que convincente.

Jordan conhecia bem a reputação de mulherengo do seu amigo.

— E tu consegues sempre que queiram exactamente o mesmo que tu — acabou ele.

Eric respirou fundo e preparou-se para outro jogo.

— É o que tu dizes!

Jordan fez a bola bater contra o chão do ginásio e depois olhou para Eric.

— Então, irás?

Eric encolheu os ombros.

— Claro, porque não? E encarregar-me-ei de convencer Peter — respondeu. Depois, lançou um olhar inquisitivo a Jordan. — Tu também irás, não é?

— Não o perderia por nada deste mundo.

Com aquilo, Jordan atirou a bola, entusiasmado.

A primeira fase estava completa, pensou. Só tinha de avançar com a segunda.