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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2002 Susan Hope Kearney

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Escrava do amor, n.º 21 - Avril 2014

Título original: Enslaved

Publicada originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

Publicado em português em 2004

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Paixão e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5177-1

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

1

 

– Mãe, não me podes comprar um homem! – disse Brittany Barrington.

Finalmente, desabafava o que há tantos dias a chateava; para dizer a verdade, desde que a sua mãe tinha decidido meter o nariz na sua vida privada.

– Mas... se conseguisse encontrá-lo, ias querê-lo? – a mulher que tinha enchido as capas da Vogue e da Cosmopolitan nos anos sessenta sentou-se num canto da secretária de Brittany, muito calma, apesar do desconforto da filha.

Samantha Barrington era mais do que uma cara bonita e um corpo esbelto. A inteligência daquela mulher que tinha construído um império cosmético nos anos oitenta brilhava nos seus olhos verdes, para além da preocupação bem-intencionada com a sua filha.

Mas Brittany não precisava que a sua mãe se preocupasse, sentisse pena ou se intrometesse. O que queria era que a deixasse conduzir a sua vida à sua vontade, como a mulher de vinte e nove anos que era. Só por ter protagonizado o divórcio mais vergonhoso da década não significava que a sua mãe tivesse o direito de se apresentar no seu escritório com a intenção de lhe organizar a vida.

Indiferente ao aborrecimento da filha, Samantha contornou a mesa e começou a teclar qualquer coisa no computador. O anúncio do ano seguinte para a Campanha Alimentar para as Crianças com Fome desapareceu do ecrã.

– Ei, estava a trabalhar – queixou-se, embora, conhecendo a sua mãe, soubesse de antemão que as suas queixas não lhe serviriam de nada.

– Sempre a trabalhar – respondeu-lhe a mãe em tom de censura, comentário que provocou em Brittany um protesto imediato.

– Isso não é verdade, mãe. Também tenho a minha vida.

– Uma vida chata.

Para Brittany, a sua vida não lhe parecia chata. Mantinha-se ocupada com o trabalho, um grupo reduzido de amigos e mais trabalho.

– Lamento se a minha vida não se ajusta ao teu nível.

– Quero que sejas feliz.

Como poderia discutir aquilo com a sua mãe? Seria muito mais feliz se ela a deixasse em paz, mas Brittany mordeu a língua e não disse nada sobre isso. Samantha tinha boas intenções, mas também estava habituada a conseguir tudo o que queria sem dificuldade.

Claro que, daquela vez, não seria assim. Embora Brittany soubesse que quanto mais discutisse, mais a sua mãe teimaria, ela também sabia desenvencilhar-se.

Feliz ou infelizmente, tinha herdado isso da sua mãe. Brittany perguntou-se então, e não pela primeira vez, por que não podia ter herdado os olhos da mãe ou aquela cara tão bonita. Em vez disso, Brittany tinha a cara oval e parecia-se com o pai, que nunca tinha conhecido, o amor da sua mãe, um hippie que tinha morrido num acidente de mota antes de Brittany nascer.

Embora Brittany nunca tivesse recebido conselhos paternos, tinha herdado o seu cabelo loiro e ondulado, em vez da cabeleira frisada e castanho-avermelhada da sua mãe, e os seus olhos cor de avelã, bonitos, mas nada do outro mundo; ou então, desprovidos de uma cor tão vibrante como os olhos azuis da mulher pela qual Devlin, o seu ex-marido, a tinha deixado.

Claro que Britanny sabia que o seu físico nada tinha a ver com o fracasso do seu casamento. Devlin era um homem fascinante, que não tinha sido capaz de ser fiel a nenhuma mulher. A falha de Britanny tinha sido pensar que poderia fazer dele um homem honrado e de convicções; tinha sido tão ingénua ao ponto de acreditar que, se o amasse o suficiente, ele não sairia do bom caminho.

A mãe tinha-a educado na crença de que tudo era possível se acreditasse em si mesma e se se esforçasse. Até ao seu fracasso matrimonial, aquela filosofia de vida tinha funcionado. Tinha sido uma estudante exemplar, popular no colégio privado de Nova Iorque e reconhecida na Universidade de Michigan, na qual tinha escolhido licenciar-se em Ciências Empresariais.

Inclusivamente, tinha encontrado a profissão dos seus sonhos em Nova Iorque e dirigia uma organização de caridade que se ocupava da alimentação de crianças de todo o mundo. Brittany tinha tudo o que sempre tinha desejado; até há três anos, quando as aventuras amorosas de Devlin lhe tinham destroçado o coração.

A sua mãe achava que depois disso tinha ficado deprimida e isolada do mundo. Brittany preferia pensar que era o seu instinto de sobrevivência que a tinha levado a retirar-se da vida social. Já não tinha medo de encontrar o marido de braço dado com a sua última conquista. Não. Simplesmente, queria evitar cometer outro erro.

– Viste o e-mail que te enviei?

– Sinto muito. Não tive tempo. Comecei um novo...

– Um novo passatempo? Querida, parece-me óptimo. Sabia que ias gostar das aulas de dança que te sugeri se desses uma oportunidade a ti mesma. Foi terapêutico?

– Não preciso de nenhuma terapia – o que precisava era de fazer o que gostava sem que ninguém tentasse controlá-la. – Aceitei um estágio de nutrição na universidade.

– Isso significa mais trabalho, querida – Samantha abriu o e-mail que tinha enviado à filha. – Precisas de te divertir – colocou o cursor sobre o arquivo anexo e abriu-o. – O que te parece?

No ecrã apareceu a fotografia de um homem atraente de lindos olhos azuis e sorriso branco e perfeito; os seus peitorais mostravam que passava mais tempo no ginásio do que num trabalho normal.

Brittany suspirou exasperada; negava-se a deixar-se convencer pela ideia que a sua mãe tinha do homem ideal.

– Mãe.

Samantha clicou num botão e apareceu um Adónis em tanga. Tinha os ombros de um nadador olímpico, o estômago chato e umas coxas e um rabo firmes.

– É bonito, não te parece? – disse a mãe enquanto esperava pela sua reacção.

Brittany negava-se a dar à mãe a satisfação de estar de acordo com ela.

– Talvez pudesses contratá-lo como modelo para os teus cosméticos para homem.

– Não o achas atraente? – insistiu a mãe com um certo desconsolo.

Britanny ignorou a manipulação da mãe, ignorou a maneira de abrir os olhos, fingindo inocência. Talvez a sua vida privada não fosse nada de especial, mas era dela e tinha intenção de continuar assim. Que a sua mãe pensasse que precisava de encontrar um homem era para ela vergonhoso. Quase tão vergonhoso como o dia em que Samantha tinha encontrado Britanny a chorar à porta do apartamento onde tinha vivido com Devlin, depois de apanhá-lo na cama com outra mulher. Brittany tinha ficado tão devastada, tinha-se sentido tão traída, que ficou ali durante horas. Incapaz de sair ou de entrar, aninhou-se junto à porta em posição fetal, enquanto repetia incessantemente que o seu mundo perfeito já não era tão perfeito.

Nem o esforço que tinha investido nem o amor verdadeiro que tinha sentido por Devlin tinham conseguido salvar o seu casamento. O simples facto de que fosse preciso o amor de duas pessoas para que um casamento funcionasse tinha-a deixado paralisada e tremendamente magoada.

Depois disso, tinha ficado muito tempo deprimida, mas também tinha aprendido muitas coisas. A mais importante era que a única pessoa que podia controlar tudo era ela mesma.

– Estaria a mentir se dissesse que não o acho atraente – disse, exercendo todo o controlo de que era capaz sobre os seus pobres nervos, – mas não quero conhecê-lo. E o que certamente não quero é que me compres isso.

– Porque não?

Brittany cruzou os braços, segura de si mesma.

– Não vale a pena estar com um homem que se pode comprar com dinheiro.

Samantha sacudiu aquele cabelo de aspecto natural que tanto lhe custava a conseguir no cabeleireiro.

– Porque pensas que a prostituição é a profissão mais antiga do mundo?

Samantha era teimosa, mas Britanny não ficava atrás.

– Não vou discutir contigo, mãe. E continuas sem querer entender. Não me interesso por um homem que é pago para me divertir. Só a ideia parece-me vergonhosa.

– Parece-te vergonhoso que um homem se esforce por te agradar?

– Não foi isso que quis dizer e tu sabes. Pagar a alguém para que vá para a cama com outra pessoa parece-me... degradante.

– A sério? E como sabes? – perguntou-lhe Samantha com aquela voz bem modulada, mas de tom firme. – Como sabes que não seria divinal? Ou divertido?

– Oh, por favor. Por acaso tenho que tomar drogas para saber que são más para mim? Tenho que me atirar da Ponte de Brooklyn para saber que me magoarei ao cair?

Brittany carregou no botão de «apagar» e alegrou-se por o Adónis loiro desaparecer. Era uma pena que não pudesse fazer desaparecer a sua mãe com a mesma facilidade.

A verdade é que tinha que trabalhar. Não tinha almoçado e começava a doer-lhe o estômago. Além disso, não tinha necessidade de saber que a sua mãe podia, sem dúvida, comprar aqueles homens.

Samantha apagou todos os arquivos.

– Se, pelo menos, o teu pai fosse vivo...

– Então não veria tudo a preto e branco – Britanny terminou a frase favorita da sua mãe. – Só que, desta vez, enganaste-te.

– Não podes saber o que estás a recusar até passares um mês glorioso com um estranho que está a cobrar para te dar atenção.

A sua mãe parecia falar por experiência. Os olhos brilhavam-lhe ligeiramente e no seu tom de voz percebia-se a recordação de uma paixão.

Mas Britanny não queria experimentar o mesmo. Há pouco mais de um ano, a sua mãe tinha saído com o escultor Jeffrey Payne, que a tinha trocado por uma jovem de dezoito anos. Brittany sabia que a mãe tinha ficado muito mal e não tinha tornado a mencionar o nome do artista. Não conhecia os pormenores da sua aventura amorosa, mas sabia que Jeffrey se mudara para o apartamento de luxo da mãe e tinham partilhado a cama durante vários meses. Mas não queria pensar na sexualidade da sua mãe; nem na sua.

– Não me interessa.

– Pois devia interessar-te. Há quanto tempo não estás com um homem?

– Mãe!

Brittany ficou corada. Embora devesse estar habituada à atitude aberta da mãe em relação ao sexo, nem a entendia nem a partilhava. Suspeitava que, nos anos sessenta, a pílula e o lema «fazer amor e não guerra» tinham influenciado muito a sua progenitora. Pois bem, ela não tinha crescido nos anos sessenta.

Samantha agarrou na filha pela mão.

– Eu gostava que tirasses umas férias comigo.

– Não tenho tempo para ir de férias.

– Vá lá. Não tens que participar se não quiseres.

– Participar em quê? Nalguma terapia? – perguntou-lhe Britanny com apreensão.

Depois do divórcio, a mãe tinha-lhe perguntado se estaria interessada em juntar-se a um grupo de mulheres ricas e poderosas que passavam férias no norte do estado.

– Vem até Éden comigo.

Éden? O nome suscitou a lembrança de uma tarde desagradável, logo depois de receber os papéis do divórcio, em que a sua mãe tinha tentado obrigá-la a ir de férias com ela. Samantha tinha explicado a Britanny o suficiente para perceber o que era Éden. Embora a sua mãe nunca lhe tivesse dito directamente que era membro, Brittany supunha há algum tempo que Samantha Barrington pertencia ao clube exclusivo de mulheres ricas e poderosas proprietárias de um complexo nos Montes Catskill; um clube muito selecto, onde os membros tinham influência suficiente para manter as suas actividades em segredo perante o resto do mundo. Em cinco mil hectares de terreno, Éden tinha as suas próprias leis, o seu próprio departamento de polícia.

E tinha um segredo. Em Éden, as mulheres podiam comprar os serviços de um homem.

Perguntou-se se Éden era a razão pela qual a mãe jamais se tornara a casar, ou talvez fosse porque saía com os homens errados. Por egoísmo, Brittany desejava que a mãe encontrasse um homem que a fizesse feliz para que assim a deixasse em paz a ela.

Mas se não tinha permitido que a sua mãe a levasse a Éden depois do divórcio, também não iria permiti-lo dois anos depois. Era demasiado humilhante pensar que era uma mulher tão falhada que tinha que comprar a companhia de um homem.

Embora Samantha conseguisse quase sempre o que queria, dessa vez, Britanny não iria ceder. Não pensava ir até Éden.

 

 

– O nome de código é «Éden».

– Outra missão secreta, senhor? – perguntou o primeiro-tenente Chad Hunter ao seu superior, que parecia estranhamente renitente em ir direito ao assunto.

Mas também era verdade que aquela reunião era pouco comum. Inesperada, na verdade. As reuniões para as missões secretas dos SEAL, um corpo especializado da Marinha, não costumavam ter lugar no bar de um clube de campo.

A sua licença de seis semanas em terra não tinha sido interrompida, o que teria acontecido se a Marinha tivesse o requerido a ele e à sua equipa especializada para resolver o mais rapidamente possível algum conflito em qualquer dos pontos conflituosos do planeta.

Há três dias que ele e os seus homens tinham voltado para o Havai depois de uma bem-sucedida missão em que tinham resgatado um piloto que tinha sido abatido na costa da China. No mês anterior, tinham resgatado um submarino que tinha ficado preso entre o gelo do Árctico.

Chad orgulhava-se tremendamente dos sucessos da sua equipa e da sua capacidade para estarem disponíveis com uma margem muito pequena de tempo. Até à data não tinha perdido nenhum homem; nunca tinha falhado nenhuma missão. A Marinha encomendava-lhe missões muito duras e, sempre preparado para servir o seu país, Chad estava habituado a adiar os seus planos pessoais, se fosse caso disso.

Com a mala feita e prestes a ir para Ohio para gozar um bem merecido descanso junto dos seus pais, das suas seis irmãs, respectivos maridos e de todos os seus sobrinhos, Chad tinha ficado surpreendido quando o almirante lhe tinha pedido que jantassem juntos. No entanto, não se importava com o atraso. Chad gostava de passar tempo com a sua família, mas, por outro lado, não tinha grande vontade de aturar as suas irmãs, que não deixavam de se meter na sua vida privada.

Chad deu um gole na cerveja. Estava desejoso que o Almirante Warren Gates fosse direito ao assunto.

– Esta não é uma missão oficial. Estou a interromper alguns planos especiais durante as suas férias, marinheiro?

– O habitual, senhor.

O almirante parecia tão desconfortável como um novato a saltar pela primeira vez de pára-quedas e isso fez com que Chad sentisse apreensão.

– Tenho planos para ir ver a minha família – disse em tom descontraído, para não dar a entender o seu receio.

O almirante sorriu de maneira curiosa.

– Não há ninguém especial?

Chad franziu o sobrolho ao pensar no bando de casamenteiras que o esperava em casa. Gostava de mulheres, disso não havia dúvida. As mulheres com quem saía eram inteligentes, bem sucedidas na vida profissional e tão empenhadas em evitar relações sérias quanto ele. De vez em quando, juntava-se com alguma amiga quando tinha os fins-de-semana livres ou, às vezes, durante a semana, se tivesse tempo livre.

Fez uma careta de fastio, sabendo que em sua casa as suas irmãs estavam a fazer o possível para lhe arranjar um par. Tinha tentado explicar-lhes que não se voltaria a casar; pelo menos, enquanto estivesse na Marinha. Adorava o seu trabalho e apreciava a emoção de viver no limite, a responsabilidade de liderar um grupo de homens e a satisfação de salvar vidas.

Tinha aprendido há cinco anos que uma esposa esperava que o seu marido voltasse para casa todas as noites ou, pelo menos, que ligasse para lhe dizer quanto tempo teria que esperar. O seu trabalho não lhe permitia tal luxo.

Às vezes, passava horas, dias ou semanas sem poder contactar ninguém. Não era justo exigir a uma mulher que se conformasse com essas poucas vezes em que poderia estar com ela. Tinha tentado fazer com que o seu casamento funcionasse, mas Roxy fartara-se e tinha-se, finalmente, divorciado dele.

Nunca mais voltaria a permitir que uma mulher se despedisse dele com lágrimas nos olhos; que em silêncio lhe implorasse que deixasse a sua profissão para ficar em casa e levar uma vida normal. Não conseguiria suportar o sentimento de culpa outra vez. Preferia não voltar a passar por aquela experiência.

– Cada uma das minhas irmãs terá escolhido uma candidata que esteja preparada para se casar.

O almirante arqueou uma das suas sobrancelhas peludas.

– Não parece muito contente.

– Senhor, tenho seis irmãs.

O almirante abanou a cabeça e desatou a rir.

– Entendo a sua relutância – o almirante fez uma pausa. – Tenho um favor extra-oficial para lhe pedir, Hunter. Um favor... pessoal.

Finalmente, como Chad sabia que acabaria por acontecer, estava a chegar ao que tinha para lhe dizer.

– O que posso fazer por si, senhor?

Chad faria qualquer coisa pelo almirante. Não só o respeitava por ser o oficial em comando, mas também admirava a sua coragem e os riscos que corria pelos seus homens. Chad e os seus homens deviam-lhe a vida, de modo que não só sentia respeito por ele como profissional, mas também como homem.

– O meu filho desapareceu.

– Lyle?

Chad sabia que o almirante sempre tinha tido a esperança de que o seu filho seguisse as suas pegadas e entrasse na Marinha. Sob o comando de Chad, Lyle tinha tentado. Chad recordava-se do jovem, não só porque era o filho do almirante, mas porque tinha sido um SEAL particularmente brilhante. Nadava como um peixe. Tinha aprendido o básico da luta corpo a corpo, mergulho e cargas explosivas debaixo de água. Um atirador de primeira, com a coragem de dez homens e era um óptimo estratega. Mas como era um solitário, nunca tinha encaixado, nem tinha sido feliz.

Chad tinha perdido a pista de Lyle. O almirante raramente falava nele; no entanto, não havia dúvida de que pai e filho continuavam unidos. Chad reparou que o almirante estava preocupado. Estava muito tenso e tremia-lhe um pouco a voz.

– Decidiu ir passar uma temporada num sítio chamado «Éden». E não voltou.

Chad estava familiarizado com a maioria dos sítios que contratariam um homem com as habilidades marciais de Lyle e uma inteligência superior como a do filho do almirante, mas nunca tinha ouvido falar de Éden.

– Éden é um campo mercenário, senhor?

– Não. É um complexo turístico.

– Onde fica?

– Nos Montes Catskill.

Chad franziu o sobrolho.

– Um grupo paramilitar está a operar num complexo turístico no norte do estado de Nova Iorque?

– Éden não é um complexo militar, mas sim um lugar dirigido pelas mulheres mais ricas e poderosas do país. É toda a informação que lhe posso dar.

Lyle tinha sido capturado por um grupo de mulheres? Ao lembrar-se das habilidades e do coeficiente intelectual do SEAL, Chad teve dificuldade em imaginar tal coisa. Lyle tinha-se especializado em demolições, mas sabia forçar uma fechadura, pilotar um avião e falava três línguas. Com o seu metro e oitenta e cinco e cento e dez quilos, Lyle não tinha motivos para invejar Chad. A ideia de um grupo de mulheres a retê-lo contra a sua vontade pareceu-lhe ridícula. Mas Chad não se riu. Se tinha aprendido alguma coisa no tempo em que tinha estado sob o comando da Brigada Vermelha de homens de elite, era que havia vários modos de imobilizar uma pessoa, fosse a chantagem, o rapto, a vingança ou o dinheiro.

Chad pressionou o almirante para que lhe desse mais informação.

– Receio não estar a compreender.

– É difícil conseguir pormenores. O grupo Éden é selecto e altamente reservado. Têm poder, dinheiro e influência suficientes para se manterem afastados dos olhos do público.

Chad assobiou. Para que um grupo operasse em segredo nos Estados Unidos não bastava só um pouco de dinheiro.

– Estamos a falar de juízas do Supremo Tribunal, de proprietárias de monopólios mundiais e de celebridades que passam as suas férias em cinco mil hectares de terreno zelosamente guardado.

Chad coçou o queixo. Aquele assunto soava-lhe muito estranho.

– E este grupo de mulheres tem alguma coisa a ver com o desaparecimento de Lyle?

– Fizeram-lhe um contrato para trabalhar lá um mês.

– Acha que continua lá?

– Sim – o almirante pediu outra ronda. – Quero que se infiltre em Éden e que mo traga de volta.

– Senhor, a minha equipa pode estar preparada em menos de cinco horas.

O almirante acenou negativamente.

– Não podem ir como de costume. Deve ir em missão secreta. E sozinho.

– Sem apoio?

Chad tinha uma fé cega na sua equipa e não os deixaria para trás a não ser por um motivo de peso. Mas seis cabeças e seis pares de olhos fariam um trabalho muito mais completo que Chad sozinho.

– Os meus homens sabem infiltrar-se...

– Os únicos homens que entram em Éden é por contrato. A segurança é tão apertada que nem sequer um SEAL seria capaz de lá entrar.

– Então qual é o plano?

– Quero que se infiltre na operação de contratação, tal como Lyle. Uma senhora tem que comprar os seus serviços.

Chad sentiu o estômago a encolher. Tinha levado a cabo muitas tarefas desagradáveis pelo seu país, mas aquilo fê-lo pensar em escravidão.

– Que espécie de serviços vou vender às senhoras?

– Os do tipo pessoal.