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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2001 Annette Broadrick. Todos os direitos reservados.

ESQUECER É IMPOSSÍVEL, N.º 1106 - Janeiro 2013.

Título original: Hard to Forget.

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Este título foi publicado originalmente em português em 2005.

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® ™. Harlequin, logotipo Harlequin e Desejo são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-2498-0

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Prólogo

 

Joe Sánchez, de dezoito anos, olhou-se no velho espelho do seu desconjuntado guarda-roupa e piscou os olhos. Não reconhecia o desconhecido que via. Era a primeira noite da sua vida que se vestia de gala. E claro que o fato era alugado. Custar-lhe-ia semanas de trabalho comprá-lo para poder ir à festa de fim de curso em Santiago, Texas, uma pequena cidade situada na fronteira com o México.

Sorriu ao pensar nisso. Não se lembrava de alguma vez ter sorrido, nem ao espelho nem numa fotografia. No entanto, nessa noite tinha um motivo muito importante para rir. Ia acompanhar Elena Maldonado ao baile.

Ainda não conseguia acreditar que ela tivesse aceitado acompanhá-lo.

Há já alguns meses que Elena o ajudava nas disciplinas de inglês e de história. Graças a ela, tinha a certeza de conseguir terminar a secundária. Ia ser o primeiro da sua família a terminar a escola.

Se lho tivessem dito um ano atrás, não teria acreditado...

 

 

– Sánchez, quero vê-lo no meu gabinete assim que você acabar o duche – dissera-lhe o treinador ao terminar o treino de futebol americano.

Joe assentiu e dirigiu-se para os balneários com os restantes membros da equipa. Sabia o que lhe queria dizer. Os professores já o tinham avisado que as suas notas estavam a descer.

E então? Há dois anos que jogava na equipa universitária. Valia a pena. O treinador Torres tinha-o colocado no lugar de recetor porque corria muito e agarrava bem a bola. De facto, diziam que tinha íman nas mãos. Normalmente, se o quarterback se aproximava dele, tirava-lhe sempre a bola.

Os seus companheiros cochichavam à sua volta, mas ele mandou-os calar enquanto vestia as calças de ganga e a camisa de sempre. Saiu dos balneários e dirigiu-se para o gabinete do treinador sabendo que o ia expulsar da equipa.

Torres estava a falar por telefone e fez-lhe sinal para se sentar. Joe sentou-se e observou o treinador, que tinha os pés em cima da mesa. Quando desligou, tirou os pés e aproximou-se da mesa, sobre a qual apoiou os cotovelos.

– Vamos a ver, Sánchez, vais seguir os passos do Alfredo?

Joe ficou perplexo. Que tinha o seu irmão mais velho a ver com aquilo?

– A que se refere?

– Parece-me que o Al foi condenado por tráfico de estupefacientes dois anos antes de acabar a escola. Quantos anos tem ele agora?

– Vinte e dois.

– Pois. E tem passado os últimos cinco a entrar e a sair da prisão, não é?

– E?

– É isso que tu queres? – Joe encolheu os ombros.

O treinador Torres não disse nada. Limitava-se a olhar para ele fixamente. Joe remexeu-se na cadeira, cruzou os braços e as pernas e ficou a olhar para a sola do sapato. – Vou propor-te uma alternativa. Espero que penses nela. Joe, tu és inteligente, aprendes as jogadas num instante, és um líder nato. Todos os membros da equipa te seguem. Tens tudo o que é preciso para triunfar exceto a vontade para fazê-lo.

– Está a chamar-me preguiçoso?

– Não – sorriu o treinador. – Não estás motivado, simplesmente, e gostaria de ajudar-te a mudar isso.

– Como?

– Conseguindo-te uma bolsa para que no ano que vem vás para a universidade.

Joe ficou estupefacto.

– Para a universidade? Eu?

– Exato. Tal como jogas, poderias jogar profissionalmente dentro de um ano. Se as tuas notas melhorarem, claro.

Joe encostou-se na cadeira.

– Sim, pois.

– Parece-te assim tão impossível? – Joe encolheu os ombros. – Quanto tempo dedicas aos teus deveres? – voltou a encolher os ombros. – Obviamente, vendo as tuas notas, não o suficiente – Joe não sentiu necessidade de responder-lhe. Voltou a olhar para a sola do sapato e perguntou-se onde iria arranjar dinheiro para comprar outros. – Não te achas capaz de conseguir?

Joe negou com a cabeça sem erguer os olhos.

– Devo ter mais fé em ti do que tu próprio. Há uma pessoa que quer ajudar-te a melhorar as notas, se quiseres fazer esse esforço.

– Quem?

– Elena Maldonado.

Joe franziu a testa. Não sabia quem era. De repente, lembrou-se que em várias das suas disciplinas havia uma aluna que se chamava Elena.

– É uma magrinha com ar de tonta que usa óculos e tem cabelo encaracolado?

– Essa mesma.

Joe riu-se.

– Ofereceu-se para me ajudar?

– Sim.

– Você só pode estar a brincar. Ela não... perde tempo com ninguém. É uma rata de biblioteca... entra para as aulas e passa o tempo todo a tirar apontamentos.

– Bem, esses apontamentos poderão ser a diferença entre tu acabares o liceu e ires para a universidade ou passares a vida na prisão junto do teu irmão. Tu é que escolhes – Joe não queria admitir, mas a ideia de ir para a universidade seduzia-o. Era a chance de afastar-se da pobreza da sua casa, uma oportunidade para fazer algo proveitoso, a chance de poder ajudar a sua mãe, que passara toda a vida a trabalhar para o seu irmão e para ele. – Que me dizes? Se estás disposto a tirar notas melhores, eu farei tudo o que puder para te conseguir uma bolsa completa para que possas ir para a universidade. Só terás a ganhar.

Joe começou a falar, mas a voz alquebrou-se e pigarreou.

– Se a Elena não se importar, gostaria de tentar.

– Boa escolha, filho – sorriu o treinador. – Vou dizer-lhe e depois vocês combinam entre vocês.

Joe saiu desconcertado do gabinete. Normalmente, passava as tardes por ali com os amigos, percorrendo a cidade e divertindo-se. Se queria tirar melhores notas, ia ter de esquecer isso.

A ideia da universidade fê-lo sorrir. Talvez valesse a pena.

A verdade era que se envergonhava do que Al tinha feito, embora não o culpasse. O seu irmão nunca tinha gostado de estudar. Tinha deixado a escola aos quinze anos porque convenceu a mãe de que iria trabalhar. Não se incomodou a dizer-lhe que o trabalho não era muito legal. Vivendo na fronteira, havia muitas formas de fazer dinheiro, desde que não se fosse apanhado.

No dia seguinte, quando acabou a aula de história, aproximou-se de Elena. Tinha estado a observá-la antes, na aula de inglês. Aquela rapariga não levantava a cabeça nem olhava para ninguém. Quando quase chocou com ela no corredor e viu que ela corava soube que o treinador tinha falado com ela.

Aproximou-se dela enquanto Elena deixava os livros sobre a mesa.

– Olá – cumprimentou-a.

– Olá – respondeu ela sem levantar os olhos.

– O treinador disse-me que queres ajudar-me com as minhas notas.

Elena assentiu.

– Onde queres combinar? Na tua casa ou na minha?

Elena levantou a cabeça sobressaltada e olhou-o com os olhos muito abertos.

– Na minha casa, não podemos. O meu pai não gosta de visitas.

Joe sabia que não era verdade. O pai dela não costumava trabalhar e passava o dia nos bares. Não queria que ele estivesse lá em casa e visse o pai, bêbado, a voltar.

Não podia culpá-la por isso. Pelo menos, ela tinha pai. O seu morrera quando ele tinha cinco anos e quase não se lembrava dele.

– Queres ir para minha casa, então? – perguntou, envergonhado de que ela visse a «barraca» em que vivia. Sabia que a casa dela era muito mais bonita. Viviam nos subúrbios numa grande casa que o seu pai tinha herdado.

– E se estudarmos por aqui? Podemos ficar na biblioteca ou na cafetaria.

– Está bem, o que te parecer melhor. Quando começamos?

– Não tens treinos?

Joe assentiu.

– Acabo às cinco. Podíamos combinar depois disso.

– Está bem – respondeu ela, baixando a cabeça.

– Hoje?

– Sim.

 

 

Demorara algumas semanas a romper o gelo que a envolvia. Descobriu que tinha um caráter maravilhoso e um sentido de humor estupendo. Adorava a sua alegria e a sua vulnerabilidade.

Era demasiado magra, tinha uma grande cabeleira e usava sempre óculos demasiado grandes na ponta do nariz. No entanto, olhava para ele de um modo que lhe acelerava o coração.

Não se lembrava quando começara a ter pensamentos eróticos com ela. Como seria beijá-la? Que faria Elena se tentasse tocar-lhe? Teria algum dia a oportunidade de fazer amor com ela?

Pela primeira vez na vida, uma rapariga interessava-lhe mais do que o futebol ou sair com os amigos.

Há meses que vivia assim e agora iam juntos a uma festa.

 

 

Olhou-se uma última vez ao espelho e foi até ao quarto onde a sua mãe estava a remendar-lhe uma camisa.

– Joe, estás bem bonito! – exclamou ela, pondo uma mão no peito. – Até fiquei sem respiração.

Joe inclinou-se e beijou-a na face.

– Obrigado. E obrigado por conseguires que o tio Pete me deixe levar o carro dele.

A sua mãe olhou-o por cima dos óculos.

– Será melhor não lhe fazeres nem uma marca.

Joe ergueu uma mão.

– Prometo cuidar bem dele.

O carro era velho, mas tinha rodas, o que já era suficiente. Não ia dizer a Elena que tinham de ir a pé para a festa de finalistas.

Saiu da cidade no velho Plymouth e seguiu pela estrada que levava à casa dela. Era a primeira vez que lá ia. Não sabia o que o punha mais nervoso, se ter um encontro com uma rapariga decente, conduzir um carro emprestado ou ter de conhecer os pais dela.

Subiu as escadas da entrada e bateu à porta. Antes de ter tempo para respirar fundo, abriram.

Elena tinha um vestido preto de alças muito finas que lhe deixavam os ombros nus. Caía-lhe como se tivesse sido feito à medida e marcava as curvas do seu corpinho magro até aos tornozelos. Tinha o cabelo apanhado e uns quantos caracóis emolduravam-lhe o rosto. Os óculos, sempre na ponta do nariz.

Nesse preciso momento, Joe percebeu que estava apaixonado por Elena Maldonado.

 

 

Elena ficou sem ar quando viu Joe à porta. Sempre o vira de calças de ganga gastas e t-shirts velhas. Não podia crer como estava diferente. Mais sofisticado. Tão bonito que até doía.

– Entra – disse-lhe, dando um passo para o lado.

Joe passou ao lado dela e Elena sentiu um odor a aftershave que não sentira antes. Sentiu as pernas a fraquejarem. Sentiu-se como se a tivessem enfeitiçado e perguntou-se se não estaria a sonhar.

Ir à festa de finalistas com Joe Sánchez era muito importante para ela porque era o primeiro encontro que tinha na vida. Não contava quando se encontravam depois das aulas para falarem de inglês ou de história.

Nem sequer tinha querido criar ilusões quando ele começara a procurá-la nos intervalos das aulas para acompanhá-la à biblioteca onde ia trocar livros.

No entanto, quando lhe pedira que fosse com ele à festa, as suas expectativas dispararam. Sabia que não era bonita, como outras raparigas. Apesar de lhe terem tirado o aparelho dos dentes há já dois anos, ainda lhe custava sorrir. Não sabia do que falar com os outros, que pareciam seguros de si mesmos, por isso, limitava-se a ir às aulas e a não falar com ninguém.

Durante as três semanas que tinham passado desde que Joe lhe pedira que fosse com ele e a noite em questão, Elena tornara-se outra pessoa e sabia disso. Sentira-se importante e bela pela primeira vez na vida. Deixara de andar por aí com a cabeça baixa e tinha começado a cumprimentar os colegas, que ficavam perplexos.

Não lhe custava sentar-se com outras pessoas na cafetaria e ouvir as suas conversas. Continuava sem falar muito, mas ouvia e assentia. E ria-se muito mais porque estava feliz.

Quando lhe perguntaram se ia à festa e ela respondera que sim, que ia com Joe Sánchez, as pessoas mostraram-se surpreendidas porque Joe era muito conhecido na escola. Era um pouco selvagem e isso conferia-lhe uma condição especial. Não saía com raparigas do liceu, só com raparigas mais velhas, da cidade.

Elena e a mãe tinham ido a San Antonio comprar o vestido. Era preto e caía direito até aos tornozelos, com uma abertura até aos joelhos para que conseguisse andar. Calçava saltos altos para não pisar a cauda. A mãe penteara-a.

Sabia que os óculos não lhe ficavam bem, mas não via nada sem eles. Nem sequer o facto de ter de usar aqueles óculos odiosos lhe tinha estragado o momento em que tinha aberto a porta e vira a expressão de Joe.

Ele ficara surpreendido, espantado, e durante toda a noite não se tinha separado dela.

O único momento desagradável que ocorrera fora quando três amigos de Joe se tinham aproximado e tinham feito comentários de gozo, que ela não compreendeu. Enquanto dançavam, perguntara-lhe o que eles tinham dito, mas Joe limitou-se a encolher os ombros e a garantir-lhe que os seus amigos eram um bando de estúpidos.

Joe estava completamente relaxado, divertindo-se até ao momento em que eles tinham aparecido. Não sabia como tinham entrado porque já não andavam na escola. Considerara-os seus amigos até ao outono, quando mudou de vida e começou a estudar.

Não lhes agradara que deixasse de sair com eles. Com o passar dos meses, Joe dera-se conta de que eram uns idiotas, que faziam coisas estúpidas e que se metiam em sarilhos sem outro motivo que não o tédio.

A sua vida era diferente. Há uma semana, o treinador Torres anunciara-lhe que ganhara a bolsa e que iria entrar na universidade do Texas. Falara-lhe também da possibilidade de alistar-se na academia militar da universidade. De repente, Joe viu que tinha um futuro longe daqueles imbecis.

Elena apercebeu-se de que Joe estava mais calado desde o episódio com os amigos. Pouco depois, Joe disse-lhe que era melhor irem-se embora e ela concordou. Não conseguia dançar muito bem com saltos altos. Assim que entrou no carro, tirou os sapatos.

Ele tirou a gravata e desabotoou o primeiro botão da camisa. Olharam um para o outro e riram-se.

– Diverti-me muito, Joe. Obrigada por me teres convidado e pelas flores – disse-lhe. Joe oferecera-lhe um ramalhete de gardénias para colocar no pulso. Eram as suas flores preferidas.

– Tens que ir já para casa? – perguntou ele, olhando para o relógio.

– Não – respondeu. A sua mãe dera-lhe permissão para chegar tarde porque dizia que aquela festa era uma vez na vida e esperava que o seu pai estivesse a dormir quando ela chegasse, por isso, quanto mais tarde melhor.