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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2009 Christine Rimmer. Todos os direitos reservados.

UM SOLTEIRO INDOMÁVEL, N.º 1383 - junho 2013

Título original: The Bravo Bachelor

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2013

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® Harlequin, logotipo Harlequin e Bianca são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-2987-9

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo 1

 

Naquela manhã de março, Mary Hofstetter levantou-se ao amanhecer. Era evidente que ia estar um dia lindo, mas ela não se sentia muito bem. Doía-lhe as costas, pois a menina tinha passado toda a noite a dar-lhe pontapés nas costelas e apenas tinha conseguido dormir algumas horas.

Saiu de casa e foi dar de comer aos dois cavalos, às galinhas e às cabras. Quando terminou, preparou o pequeno-almoço. Uma infusão, torradas de pão caseiro e um batido de proteínas.

Tinha a ideia de se sentar ao computador assim que tivesse terminado de tomar o pequeno-almoço, mas deu por si a limpar a casa. Devia ser o desejo de ter o ninho acolhedor para a chegada da bebé, que estava prevista para dentro de três semanas. Portanto, deixou a cozinha a brilhar, fez a cama, limpou o pó ao quarto e à sala, limpou a casa de banho e passou a esfregona pelo chão da cozinha.

Quando acabou, já passava das dez e devia pôr-se a trabalhar. Nos últimos dois meses de gravidez, custava-lhe cada vez mais realizar trabalhos intelectuais. Pelo que tinha lido, sabia que quando a bebé nascesse recuperaria a capacidade de concentração, mas naquele momento não seria capaz de cumprir a data de entrega.

Mary suspirou resignada e sentou-se diante do computador que tinha colocado num canto da sala. Comprometera-se com a revista Vida de rancho a entregar no dia seguinte um artigo de duas mil palavras sobre conservas e estava decidida a acabá-lo e enviá-lo por e-mail até às cinco da tarde mesmo que isso lhe custasse a vida. Certamente, era o que aconteceria, porque estava muito cansada e não conseguia concentrar-se.

Mary ligou o computador, respirou fundo e abriu o ficheiro que tinha guardado no dia anterior: «Como desfrutar das coisas boas do verão durante todo o inverno».

Ao ler o título que escolhera fez uma careta de desagrado e bocejou. Ao seu lado, a sua cadela Brownie também bocejou.

– Sim, já sei que é aborrecido – disse-lhe Mary.

De seguida, voltou a olhar para o ecrã e decidiu que quando tivesse terminado o artigo poderia arranjar um título melhor, mas naquele momento o que tinha de fazer era pôr-se a escrever, portanto, começou a digitar.

Tinha escrito quatro frases quando ouviu que chegava um carro. Brownie levantou a cabeça e ladrou de forma lastimosa, para de seguida voltar a apoiar a cabeça sobre as patas dianteiras.

Mary não esperava a visita de ninguém, mas qualquer desculpa era boa para se levantar e assim o fez, embora não sem um esforço considerável. Uma vez de pé, aproximou-se da janela para ver quem era. Fosse quem fosse, estava dentro do carro. Tratava-se de um monovolume preto impecável da marca Cadillac que tinha uns tampões dourados nas jantes que brilhavam sob o sol do Texas e que estava completamente deslocado na sua propriedade em ruínas.

Mary massajou a coluna lombar com uma mão, enquanto com a outra acariciava a barriga e viu que um homem alto saía do veículo. Usava óculos de sol e uma camisa aos quadrados, mas aquele homem não era um vaqueiro.

Se fosse, não conduziria aquele carro, nem teria uma pasta. Além disso, havia algo arrogante e orgulhoso na maneira de conduzir que indicava que era uma pessoa de dinheiro e classe social privilegiada. Antes de fechar a porta do carro, virou a cabeça loira para a casa e Mary soube exatamente o que fazia ali.

Era evidente que o tinham enviado os Bravo.

Fantástico...

Não queria uma distração? Pois, ali a tinha. Claro que teria preferido mil vezes continuar à procura de uma maneira fascinante de descrever o processo de esterilização dos frascos de vidro para fazer conservas a ter de lidar com aquele tipo.

O homem em questão tinha fechado a porta do condutor, tirara os óculos de sol, tinha agarrado na pasta e dirigia-se para a porta da sua casa. Mary preferia que voltasse a meter-se no carro e se fosse embora, e perguntou-se quantas vezes teria de dizer que não àquela família com dinheiro até que a deixassem em paz.

Enquanto o tipo subia os degraus do alpendre, Mary pensou na possibilidade de não abrir a porta. Motivos não lhe teriam faltado. Sentia-se como um transatlântico, já lhes dissera três vezes que não e tinha de trabalhar, mas então pensou em Rowdy.

Ele sempre fora muito educado. Embora fosse catorze anos mais velho do que ela, tinha-lhe chamado «senhora» durante semanas quando se tinham conhecido. Na realidade, tinha-lhe chamado assim até ao primeiro encontro. Tratava-se de um homem amável que tirava sempre o chapéu na presença das mulheres.

Rowdy não teria dado aos Bravo o que estavam a pedir, mas ter-lhes-ia aberto a porta educadamente e ter-lho-ia dito na cara. Outra vez.

Por isso, quando o tipo rico do carro deslumbrante bateu à porta, Mary abriu-a.

Tratava-se de um homem muito bonito. Bem poderia ser um modelo ou inclusive um ator famoso. Tinha um sorriso sensual que lhe custou um pouco a manter ao vê-la tão gorda. Pelos vistos, ninguém lhe tinha advertido que a viúva Hofstetter estava grávida, muito grávida.

– Mary Hofstetter? – perguntou-lhe, com voz grave e masculina.

– Sim – respondeu Mary, com um sorriso forçado, endireitando os ombros.

– Sou Gabe, Gabe Bravo.

Ena, daquela vez tinham mandado um membro da família!

Mary aceitou o cartão de visita que o recém-chegado lhe entregou, meteu-o no bolso traseiro das calças de ganga e dispôs-se a livrar-se daquele homem o quanto antes.

– Desculpe-me por não o convidar a entrar, mas tenho muito trabalho e, além disso, não temos nada do que falar. Vou dizer-lhe, para que fique muito claro, o mesmo que disse aos outros. Não estou interessada em vender. É-me indiferente qual seja a oferta. Desejo-lhe um bom dia – disse-lhe, começando a fechar a porta.

– Mary! – protestou Gabe, olhando-a com os seus olhos azuis. – Nem sequer ouviu o que vim dizer-lhe.

– Certamente, o mesmo que os que vieram antes.

– Desde a última vez que esteve aqui um dos meus empregados, pensámos na oferta que fizemos e melhorámo-la.

– É-me indiferente.

– Como pode dizer isso?

– Dizendo-o – respondeu Mary, olhando-o nos olhos.

– Está a cometer um grande erro. Não sabe o que estamos dispostos a fazer para encontrar uma solução satisfatória para este problema.

– Gabe, não preciso de saber porque eu não tenho nenhum problema e estou muito satisfeita, obrigada.

– Vá lá, deixe-me surpreendê-la... – desafiou-a, com ar divertido. – Por favor.

Enquanto o dizia, tinha agarrado a porta e Mary não podia fechá-la. Mary olhou-o nos olhos. Sempre tinha gostado de surpresas.

– A sério, não vou vender! – disse-lhe, no entanto. – Lamento, mas tenho de voltar...

– Deveria ouvir a minha proposta – insistiu o emissário da BravoCorp com um sorriso sarcástico, como se partilhassem um segredo.

Mary era consciente de que aquele tipo estava a enrolá-la e de que deveria dizer-lhe «não, obrigada», pedir-lhe que se afastasse e fechar a porta, mas não o fez.

– Não, lamento muito que tenha vindo até aqui para nada, mas... Não tenho tempo neste momento – disse-lhe, com tom nervoso, enquanto afastava uma madeixa de cabelo da cara.

– Prometo-lhe que não demorarei muito – insistiu Gabe. – Eu não gostaria de voltar para a minha empresa sem ter a certeza de ter feito tudo o que estava ao meu alcance para tentar fazê-la mudar de ideias – acrescentou, com um sorriso esperançado.

Mary não conseguiu evitar sorrir também. O que raios tinha aquele homem? Deixara o primeiro emissário entrar na sua casa porque lhe tinha parecido o correto, mas ao segundo não lhe permitira passar da porta. Mas Gabe Bravo tinha algo especial, parecia agradável e cordial, e Mary tinha a sensação de que se conheciam de toda a vida, de que era um amigo que tinha ido vê-la.

– Muito bem, vou preparar um café – comentou, abrindo mais a porta.

– Leu-me o pensamento – respondeu Gabe, dedicando-lhe outro dos seus sorrisos incríveis.

Capítulo 2

 

Gabe seguiu a viúva Hofstetter através da sala, reparando em tudo, nos móveis velhos e usados, no chão de madeira que necessitava de ser encerado, no cão rafeiro que estava deitado junto da lareira, na mesa repleta de coisas e no computador antiquado, e, como é óbvio, também reparou na viúva, que usava umas calças de ganga largas, umas sapatilhas vermelhas e uma camisa branca que parecia uma tenda e que lhe cobria a barriga enorme.

A distribuição da casa era muito simples. No andar de baixo havia um quarto com casa de banho, a sala de jantar e uma cozinha em forma de «U». Uma vez ali, Gabe viu que havia outro quarto onde havia uma cama de pinho e uma cadeira de baloiço.

– Sente-se – indicou-lhe Mary, assinalando uma cadeira.

Uma vez sentado, Gabe ficou a observá-la enquanto Mary preparava o café. Notou que precisava de um corte de cabelo, pois apanhara-o num rabo de cavalo e parecia desalinhado.

Depois de pôr a cafeteira ao lume, Mary sentou-se na cadeira que havia em frente dele.

– Muito bem, o café estará pronto num minuto – comentou.

– Obrigado, Mary – disse Gabe, com respeito sincero.

Gabe costumava conhecer as pessoas assim que as via. Não era em vão que era o advogado da família e o emissário que mandavam quando as coisas não corriam bem. Sabia por experiência que todas as mulheres, independentemente da idade que tivessem, gostavam que os homens namoriscassem um pouco com elas porque gostavam de se saber atraentes.

Mas aquela mulher era diferente. Aquela mulher preferia ser simples e direta, e não gostava de namoriscar com desconhecidos. Gabe apercebera-se disso assim que lhe tinha aberto a porta e se deparara com aqueles olhos castanhos enormes com olheiras.

– Bom, acho que é melhor irmos diretos ao... – comentou Mary, interrompendo-se de repente e levando as mãos à barriga com uma expressão de dor.

– O que se passa? – sobressaltou-se Gabe. Ia entrar em trabalho de parto?

– Nada, uma contração – respondeu Mary. – Por favor, eu gostaria que terminássemos isto o quanto antes.

– Muito bem – respondeu Gabe.

Gostava de iniciar as negociações depois de alguns minutos de conversa para criar um ambiente mais relaxado e amistoso, pois à maioria das pessoas custava-lhes mais dizer que não a um amigo, mas era evidente que aquela mulher queria ir direta ao assunto e que se fosse embora o quanto antes, portanto, Gabe fingiu seguir a sua vontade e tirou o portátil da pasta.

– Só demoraremos alguns minutos... – comentou, virando o ecrã para ela.

– Ouça, pode mostrar-me tudo muito bonito, mas não vai servir de nada – advertiu Mary, recostando-se na cadeira e apoiando as mãos na barriga. Tinha os olhos fechados e o seu tom de voz denotava que precisava de dormir. – O que lhe disse à porta disse-o muito a sério. E o que disse às três pessoas que estiveram aqui antes de si também o disse muito a sério. Tanto faz quanto me ofereça. Não estou disposta a vender o rancho. Jamais venderei o Lazy H.

«Nunca digas nunca», pensou Gabe.

– Porquê?

Mary abriu os olhos e olhou para ele com o sobrolho franzido.

– Isso só diz respeito a mim.

Gabe ficou a olhá-la, pensando que as coisas seriam mais fáceis se aquela mulher não fosse tão inteligente.

– Se vender à BravoCorp estes cinquenta hectares de terra pela quantia que vou apresentar-lhe, tornar-se-á uma mulher rica. Você e o seu filho terão tudo o que necessitarem. Para toda a vida. Poderia meter-se na cama e dormir quando me for embora. Não teria de trabalhar. Nem hoje, nem nunca mais.

Mary endireitou-se na cadeira.

– Há coisas piores do que não ser rica e coisas melhores do que sê-lo. Por exemplo, viver num lugar que amo, estar rodeada de pessoas que me amam e que eu amo. Eu amo este lugar, amo este rancho e, quanto ao trabalho, há sempre que trabalhar. É verdade que hoje me sinto muito cansada, mas gosto do meu trabalho. Jamais me perdoaria se vendesse o rancho que o meu marido tanto amava para que vocês o convertam numa urbanização – declarou.

Naquele momento, a cafeteira silvou, indicando que o café já estava pronto.

– Permita-me – disse Gabe.

– Não – respondeu Mary, levantando-se. – Eu encarrego-me disto – acrescentou, indo para o fogão. – Com leite e açúcar?

– Não, simples – respondeu Gabe.

Mary encheu uma chávena e entregou-lha.

– Aqui tem – disse-lhe, aproximando-se, apoiando-se nas costas da cadeira de Gabe e colocando a chávena junto do computador.

Gabe reparou no seu pescoço e numa madeixa de cabelo que lhe caía sobre a face. Aquela mulher cheirava a sabonete e a limão.

Vira o ecrã do computador.

– Sabe, Gabe? Acho que está na altura de pôr um ponto final a isto – comentou, olhando-o.

«É muito inteligente, demasiado inteligente», pensou Gabe.

– Sente-se aqui – disse-lhe, indicando-lhe uma cadeira que estava mais perto. – Assim poderá ver bem.

– Tanto faz onde me sente e o que me mostre – respondeu Mary, sorrindo com ironia.

– Vá, sente-se e deixe-me mostrar-lhe o que preparei... – insistiu Gabe.

Mary aceitou, contrariada.

– Muito bem, Gabe. Vamos ver os gráficos tricolores e os quadros.

Gabe provou o café e sorriu, satisfeito.

– Hoje em dia preparam o café de mil e uma maneiras, cada uma mais glamorosa do que a outra, mas a que mais gosto é da de toda a vida, do café de cafeteira ou de panela com cascas de ovo no fundo para lhe tirar o sabor amargo.

– Acampou muito, hã? – perguntou Mary.

– Bom, a minha família tem um rancho perto daqui, o Bravo Ridge, e em adolescente costumava passar muitas noites sob as estrelas.

– Tem irmãos?

– Sim, seis irmãos e duas irmãs.

– Ena, uma família muito numerosa...

– Sim.

– É o mais velho?

– Não, o segundo.

– E porque não constroem a urbanização no seu rancho?

Gabe bebeu outro gole de café. Como é óbvio, esperava aquela pergunta. Não o apanhara desprevenido, portanto, explicou-lhe porque não podia ser, embora a sua família o tivesse adorado.

– O Bravo Ridge está afastado das estradas principais, portanto, é impossível porque a nossa ideia é construir uma urbanização de luxo com boas ligações a San Antonio. Como compreenderá, é indispensável que haja uma autoestrada por perto, para que as pessoas vivam no campo, mas possam trabalhar na cidade.

– O que compreendo é que o seu rancho é a vossa herança, a vossa casa familiar e não vos agrada construir uma urbanização lá. Jamais permitiriam que uma construtora lhe pusesse as mãos em cima – respondeu Mary.

E tinha razão, portanto, Gabe mudou de assunto.

– Mary, por favor... – comentou, olhando para o exterior, onde havia um armazém velho e erva seca. – É um bom projeto, garanto-lhe. As suas terras serviriam para alguma coisa.

– As minhas terras já servem para alguma coisa.

– É escritora. É óbvio que não tem conhecimentos, nem tempo para cuidar do rancho e quando o bebé nascer ainda menos.

– Desenvencilhar-me-ei.

– As terras estão descuidadas.

– Eu gosto assim.

«Mas é perigoso tê-las assim. Poderia haver um incêndio», pensou Gabe.

Claro que não lho disse. Poderia encará-lo como uma ameaça.

– O que digo é que as terras estariam melhor se estivessem mais cuidadas.

– Ah, sim?

– Sim.

– Bom, é evidente que o mandaram em desespero para... Como diziam no filme O Padrinho?

– Para lhe fazer uma oferta que não possa recusar – respondeu Gabe.

– Isso.

– Os Bravo não são mafiosos, Mary.

– Claro que não, mas estão habituados a levar sempre a sua avante – disse, acariciando o ventre.

– As pessoas com quem lidamos saem sempre a ganhar. As nossas ofertas são sempre boas para ambas as partes.

– Pois... – murmurou Mary, levando a mão à zona lombar. – Suponho que o tenham mandado porque tem alguma coisa especial... Possivelmente, porque é bonito...

– Ena, obrigado!

– Não foi um elogio. Só um dado evidente. Ser bonito dá sempre jeito. Sobretudo, quando tenta convencer uma pessoa de algo que recusou várias vezes. Além disso, é encantador.

– Tento sê-lo.

– Está a encantar-me.

– Fico feliz.

– E mostra-se solícito e aparentemente interessado em mim e no meu bem-estar.

– Interessa-me e o seu bem-estar também – assegurou-lhe Gabe.

A verdade era que o seu bem-estar não lhe interessava tanto, mas aquela mulher surpreendera-o. Não era absolutamente o que tinha esperado. Certamente, convencê-la a vender era um desafio e Gabe adorava desafios. Mas claro que, mesmo que não estivesse interessado nela, a teria feito acreditar no contrário.

– Penso que ambos temos muito claro que está a tentar manipular-me para que venda o meu rancho – comentou Mary, colocando uma madeixa de cabelo atrás da orelha. Deixe-me que lhe diga que as suas táticas são boas. Está realmente desesperado por que lhe venda o rancho, mas disfarça muito bem, fingindo que não lhe importa, agindo como se estivesse encantado por estar aqui sentado comigo na cozinha, a beber um café.

– Estou encantado, Mary – assegurou-lhe Gabe, inclinando-se sobre a mesa. – Esse é o meu segredo. Gosto de fazer o que faço, conseguindo que as coisas corram bem.

– Ainda bem para a BravoCorp.

– Ainda bem para todos, Mary. Também para si. Acredite ou não, estou do seu lado.

Mary revirou os olhos e Gabe mexeu-se na sua cadeira.

– Pronta para a apresentação?

– Força.

Mary não conseguiu evitar rir-se quando o nome da urbanização apareceu no ecrã.

– O que se passa? Não gosta do nome? – perguntou-lhe Gabe, parando a apresentação.

– Bravo River? Aqui não há nenhum rio com esse nome – respondeu Mary. – Na realidade, no meu rancho não há nenhum rio.

– Não, não há nenhum rio, mas há um ribeiro que tem bastante água.

– O Skunk?

– Exato. Vamos mudar-lhe o nome.

Mary pensou que não iam fazer nada parecido porque nunca poriam as mãos na sua propriedade, mas, como já o dissera várias vezes, decidiu não se repetir.

Gabe continuou com a apresentação. Na verdade, Mary ficou impressionada. A apresentação começava com um documentário sobre a empresa da sua família, os arquitetos e os construtores assegurando que iam respeitar a terra onde iam construir a urbanização, mostrando as plantas de cada casa, que iam adequar-se ao terreno onde seriam construídas, comprometendo-se a respeitar as árvores e as características geológicas. Pelos vistos, as casas estariam dotadas de tecnologia ecológica, a energia seria obtida através de fontes renováveis, sobretudo de painéis solares, e inclusive criariam uma linha de autocarros entre Bravo River e San Antonio para que as pessoas utilizassem os transportes públicos em detrimento dos privados.

Para terminar, havia uma montagem de como iam construir as casas e uma vista aérea da urbanização terminada. Apesar de aquela urbanização nunca vir a ser construída na sua propriedade, Mary admitiu que onde quer que a fizessem ficaria muito bonita.

Como é óbvio, a apresentação de Gabe contava com os sabidos gráficos tricolores e os quadros em que se via os lucros que a Bravo River levaria à economia da zona e, sobretudo, às finanças de Mary. Agora, não só lhe ofereciam uma quantia exagerada, como também lhe garantiam uma percentagem dos lucros das vendas.

Certamente, se Mary quisesse mudar de ideias, tê-lo-ia feito depois de ter visto a apresentação de Gabe, mas isso não ia acontecer e deixar-lho-ia muito claro assim que desligasse o computador. Por fim, a banda sonora chegou ao fim, apareceu o logótipo da empresa no ecrã, Gabe desligou o aparelho e guardou-o.

– Bom, se tiver alguma pergunta...

– Não, não tenho nenhuma pergunta – respondeu Mary.

– Muito bem – comentou Gabe, tirando alguns documentos da sua pasta. – Então, vamos tratar dos detalhes.

Mary sentiu de repente uma dor aguda nas costas, como uma chicotada, teve de fazer um grande esforço para controlar a sensação desagradável, esticou as pernas e inclinou-se para a frente enquanto massajava a zona lombar e repetia pela enésima vez a Gabe Bravo o que já dissera aos outros emissários da sua empresa:

– Gabe, a sério, não vou vender! – declarou, massajando as costas.

Mas a dor ia-se espalhando e tornando-se cada vez mais forte, sentia-a de ambos os lados da coluna e teve de morder a língua para não se queixar, pois chegara-lhe às costelas e rodeava-a como um cinto que a apertava cada vez mais. Apesar da dor, conseguiu dizer com voz clara e segura:

– Acho que já deixei muito claro que nunca venderei.

Gabe fingiu que não a tinha ouvido e deixou os documentos sobre a mesa.

– Deveríamos dar uma olhadela a estes papéis.

– Para quê? – protestou Mary, mantendo a compostura com muita dificuldade. – Não vou vender. Quero que o meu filho cresça aqui. Adoro este lugar e não penso ir-me embora. Além disso, o meu marido amava esta terra e andaria às voltas na campa se vendesse o Lazy H para construírem uma urbanização de casinhas de cartão.

– O nosso projeto não é uma urbanização de casinhas de cartão! – protestou Gabe. – Cada casa da urbanização será única e construída com respeito pela terra e pelo meio ambiente – recordou-lhe. – Lamento pelo seu marido – acrescentou. – Acha que ele não teria assinado a venda com estas condições? Certamente, quereria que vendesse. Sobretudo, agora que vai ser mãe. Se fosse vivo, certamente quereria que o seu filho tivesse o melhor, tudo o que o dinheiro pode comprar. O seu filho merece o melhor. Isso significa poder escolher os melhores colégios e as melhores universidades. Se vender, quando chegar a altura poderá pagar as contas sem pestanejar. Mary, se o seu marido estivesse aqui, surpreendê-la-ia vendendo o rancho por si e pelo bebé, pelo vosso futuro, pela vossa segurança.

– Como sabe o que quereria Rowdy se não o conheceu? – Mary sorriu. – A verdade é que gosto muito deste lugar. Possivelmente, mais do que o próprio Rowdy. Não se preocupe connosco. O meu bebé e eu estamos muito bem. A sua visita foi um prazer, mas tenho coisas para fazer.

– Está a expulsar-me, Mary?

– Exatamente, Gabe, é o que estou a fazer.

Gabe guardou os documentos e o computador na sua pasta e olhou para Mary enquanto a fechava.

– Sabe que vou voltar, não sabe?

– Sim, mas da próxima vez não vou oferecer-lhe um café. Da próxima vez, ficará à porta, portanto, não perca o seu tempo, por favor.

– Não se preocupe, Mary, eu nunca perco o meu tempo – assegurou-lhe Gabe, levantando-se com a pasta na mão.

Mary empurrou a cadeira e, fazendo um grande esforço, também se levantou. Naquele momento, a dor era mais intensa do que nunca e, de repente, começou a transpirar. As contrações eram cada vez mais fortes e estava assustada. Doía-lhe muito e teve de se agarrar à cadeira para não cair ao chão. Doía-lhe tanto que não conseguiu evitar emitir um pequeno grito.

– Mary! – exclamou Gabe, visivelmente preocupado.

Gabe Bravo, o senhor encantador e contido, estava preocupado. Aquilo assustou ainda mais Mary, mais do que as gotas de suor que lhe caíam pelo rosto e mais do que a dor horrível.

– Mary, o que se passa?

Mary não conseguia falar, só podia agarrar-se com força à cadeira. De repente, aconteceu algo no seu interior, gemeu de forma gutural e sentiu as cuecas molhadas.

Não podia ser, mas era.

Tinham-lhe rebentado as águas.