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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2005 Anne Mather

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Dormir com um estranho, n.º 1524 - Março 2014

Título original: Sleeping with a Stranger

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Este título foi publicado originalmente em português em 2006

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5017-0

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo 1

 

Helen estava apoiada no corrimão quando o ferribote atracou em Santoros. Milos conseguia vê-la claramente, apesar da enorme tensão que o embargava. Tinha de admitir que era ainda uma das mulheres mais belas que alguma vez vira. Ou com a qual tinha ido para cama, acrescentou, tentando encarar o facto de a ver novamente. Apesar de terem passado catorze anos desde o seu relacionamento, não conseguia ignorar os nervos à flor da pele ou as emoções tumultuosas que a sua visão inspirava.

Meu Deus, o que estava a acontecer-lhe? Depois daquele encontro em Londres, ela casara-se, fora mãe e ficara viúva. Deveria tê-la esquecido. E fora o que acontecera, reafirmou com determinação.

Era imaginação sua ou Helen parecia um pouco inquieta depois da viagem? Dois voos e um percurso de ferribote podiam causar tal coisa, pensou. Ele não tinha experiência naquele tipo de viagens, já que fora mimado com aviões privados, helicópteros e iates.

No entanto, ela estava ali e Sam, o seu pai, ficaria encantado. Tinham falado muito pouco desde que ela aceitara o seu convite. Milos tinha a certeza de que Sam gostaria de ter ido vê-la pessoalmente. Porém, mesmo assim, pedira-lhe que o fizesse. Sam assumira que o facto de já se terem encontrado no passado lhe daria um poder de persuasão que ele não tinha. Se ele soubesse...

Todavia, naturalmente, Sam estava nervoso com a visita. Tinham passado quase dezasseis anos desde que vira a filha pela última vez. E em condições nada favoráveis. Segundo ele, a sua primeira esposa certificara-se de que a filha soubesse apenas uma versão da história. Uma história que implicava um Sam desiludido, que se relacionara e que se casara com uma grega morena e atraente que conhecera numa viagem de negócios a Atenas.

Quando, vinte meses mais tarde, Milos conhecera Helen, ela mostrara uma grande hostilidade em relação ao pai, que aumentara quando descobrira que fora infiel à sua mãe. Culpara-o. Era jovem, idealista e irremediavelmente ingénua.

Contudo, muito vulnerável, teve de admitir Milos. Ele aproveitara-se dessa vulnerabilidade... Endaxi, mas ele não fora o único culpado, justificou-se. Ela fora mais do que complacente na hora de satisfazer os seus pedidos.

O sentimento de culpa surgira mais tarde, quando voltara para a Grécia. Nunca contara o que sucedera durante a viagem, nem à sua família, nem a Maya, a segunda esposa de Sam, nem a Sam, que confiava nele. Porém, o pior sentimento de todos era saber que, de algum modo, se traíra a si mesmo.

Agora, estava ali, a observar o ferribote. O problema era que o seu próprio casamento, que o seu pai arranjara contra a sua vontade, estava a desmoronar-se naquela altura e ele andava à procura de diversão. Essa diversão fora proporcionada por Helen, pensou amargamente. Depois, ela abandonara-o, demonstrando como era imatura.

Naturalmente, ele não esperava chegar à situação em que se encontrava agora. O distanciamento entre Helen, o pai e Maya tinha-o convencido de que nunca haveria uma reconciliação. Que enganado que estava! Ficara estupefacto quando Sam anunciara que Helen e a filha iriam de férias para a ilha. Há quase um ano que o marido de Helen tinha morrido, explicara-lhe Sam, e a carta que escrevera expressando as suas condolências ajudara a limar as arestas entre eles.

Um homem mais cínico ter-se-ia perguntado se a mudança surpreendente da fortuna de Sam tinha algo a ver com a mudança dos sentimentos da filha. Apesar de a sua carreira como importador de vinhos em Inglaterra ter pouco a ver com o verdadeiro cultivo das uvas, conhecer Maya e, consequentemente, cuidar do vinhedo da família dela tornara-o um homem rico. Durante os últimos dez anos, Ambeli Kouros, como o vinhedo era conhecido, prosperara e Sam Campbell tornara-se um homem muito respeitado na ilha.

Uma rapariga apareceu quando o ferribote atracou, abrindo passagem através da multidão de passageiros para se juntar a Helen. «Não é a sua filha», disse para si, apesar da familiaridade aparente. Vestia uma t-shirt preta sem mangas e calças de ganga pretas largas, que se apertavam nos tornozelos. O tipo de turista de lábios pintados de preto, cabelo com madeixas verdes e pírcingues nas orelhas de que a ilha podia perfeitamente prescindir, pensou Milos. Não podia ser mais diferente de Helen.

Esperou que um grupo de adolescentes com mochilas que estavam ansiosos por desembarcar a chamasse. Aquela era uma daquelas ocasiões em que desejava que a sua família possuísse a totalidade da ilha e não só uma grande parte dela.

Estenderam uma ponte de madeira para o cais e, enquanto os passageiros se encaminhavam para lá, Milos viu a rapariga a falar com Helen. Não conseguiu decifrar o que ela disse. Todavia, teve a sensação de que Helen não estava a gostar do que estava a ouvir, já que depois houve uma discussão curta e acalorada entre elas.

Milos respirou fundo. Durante as viagens podiam surgir amizades fora do comum. Aquela criatura não podia ser a filha de Helen. Fosse como fosse, estavam agora a descer pela ponte e reparou na cara corada de Helen.

Deu-se conta de que cortara o cabelo. No entanto, era tão magra e encantadora como sempre. Será que ia reconhecê-lo? Afinal de contas, tinham passado mais de catorze anos. Lisonjeava-o pensar que ela poderia lembrar-se dele tão bem como ele se lembrava dela?

Então, os seus olhares encontraram-se e ele ficou sem ar. Meu Deus, ela lembrava-se perfeitamente dele. Senão, porque haveria uma mistura de medo e ódio nos seus olhos?

– Quem é aquele? – perguntou Melissa.

– Quem? – respondeu Helen.

– Aquele homem – disse Melissa, enquanto pendurava a mochila ao ombro. – Vá lá, mãe... Está a olhar-nos fixamente. Não é o teu pai, pois não?

– Dificilmente – disse, reconhecendo que só ela conseguiria perceber a ironia daquela afirmação. – É Milos Stephanides. O teu avô deve tê-lo mandado vir buscar-nos.

– Sim? Como é que o conheces?

– Oh... – Helen não queria falar disso naquele momento. – Conheci-o... há anos. O teu avô pediu-lhe que fosse visitar-nos quando esteve em Inglaterra. Foi antes de nasceres.

– E ainda se lembra de ti? – perguntou Melissa. – O que aconteceu? Não me digas que a minha mãe íntegra teve uma aventura com um operário grego sexy!

– Não! – Helen estava horrorizada, olhando à sua volta para se certificar de que ninguém ouvira as palavras da filha. – Pelo que sei, não é um operário. Trabalha simplesmente para o teu avô, só isso.

– Bom, que outra coisa se faz numa quinta? – perguntou Melissa, impacientemente.

– Não é uma quinta – respondeu Helen.

– É, sim – Melissa olhou para ela, trocista. – Não vais contar-me – soprou. – Devia ter sido mais esperta e não to ter perguntado.

Helen não teve tempo de responder àquilo. Já tinham chegado ao cais e Milos dirigia-se para elas. Usava a camisa desabotoada até meio do peito e umas calças pretas. Meu Deus, estava irresistível! Tinha o cabelo um pouco mais comprido do que se lembrava. Todavia, o rosto atraente que aparecera nos seus sonhos durante todos aqueles anos continuava a ser terrivelmente familiar.

Quis fugir e voltar para o ferribote. Sabia perfeitamente que era um risco ir até ali. No entanto, como haveria de saber que a primeira cara que veria seria a dele? Além disso, com Melissa atrás e uma mala a bater-lhe nos calcanhares, não havia outra alternativa senão seguir em frente. Tinha de enfrentar a situação. Tinha de demonstrar àquele estranho que tinha superado o que acontecera e que seguira com a sua vida.

Não ajudou o facto de, apesar dos seus saltos altos, ainda ter de levantar a cabeça para conseguir olhá-lo nos olhos. Fê-la recordar o passado de forma excessivamente dolorosa e, por um instante, pensou que não seria capaz de fazer aquilo. Contudo, o bom senso voltou e, com um controlo admirável, disse:

– Olá, Milos. Que amável vires receber-nos! Foi o meu pai que te mandou?

A indireta era inconfundível. Porém, ele permaneceu impávido.

– Ninguém me mandou – disse, com o seu sotaque familiar. – Não sou uma carta.

«Não, não és», quis dizer Helen severamente. «És muito mais perigoso.» Mas acabou por dizer:

– Sabes o que quis dizer – olhou-o nos olhos por um segundo. – O meu pai está contigo?

– Não – Milos fez desaparecer aquela esperança com uma arrogância fria. – Fizeste boa viagem?

– Deve estar a brincar! – intrometeu-se Melissa.

Helen viu que Milos olhava para o horizonte, ignorando a resposta da rapariga.

– Onde está a tua filha? – perguntou. – Pensava que vinha contigo.

– Eu sou a filha dela – anunciou Melissa, claramente ressentida pela sua atitude. – Quem és tu? O motorista do meu avô?

A expressão de Milos não mudou. Porém, Helen apercebeu-se de que ficara tenso.

– Não, o vosso – respondeu. – Essa é toda a bagagem que trazem?

Helen sentiu-se ofendida e pouco à vontade. Já era suficientemente difícil ter de lidar com um homem que em tempos a fizera sentir-se parva para ainda ter de se envergonhar da atitude da filha.

– Sim – disse, enquanto lançava um olhar assassino a Melissa. – Estamos... Estamos longe de Aghios Petros?

– Não muito – replicou Milos, ao mesmo tempo que agarrava na sua mala. – Sigam-me.

– Não deverias dizer «Ilthateh sto Santoros»? – perguntou Melissa, ignorando a vergonha da mãe. – Isso significa «Bem-vindas a Santoros» – acrescentou.

Milos olhou para ela. Todavia, se esperava uma reação zangada, apanhou uma deceção.

– Fico contente por teres interesse em aprender a minha língua – disse-lhe suavemente. – Then to ixera.

– Sim – Melissa ficou perplexa, enfiou o guia de conversação no bolso das suas calças de ganga e adotou a sua agressividade habitual de quando tinha de enfrentar alguma oposição. – Bom, na verdade, não estou interessada em aprender grego – disse grosseiramente. – Bom, vamos?

Helen cerrou os dentes. Melissa era impossível. Como se tivesse piedade dela, Milos disse:

– O teu pai está ansioso por te ver – disse. Então, acrescentou: – O carro está ali.

– Eu também estou desejosa de o ver – confessou Helen, andando ao seu lado. – Está muito doente?

– Ele está... tão bem como poderia esperar-se – respondeu, surpreendido. – Para a idade, está bem – fez uma pausa e acrescentou forçadamente: – Lamento o acidente do teu marido.

– Obrigada – Helen não queria falar de Richard e ainda menos com ele. Esforçou-se para dizer outra coisa e encontrou a resposta perfeita: – Como está a tua esposa?

– Divorciámo-nos – disse, sentindo-se obviamente tão ofendido pela sua pergunta como ela ficara pelo comentário dele. – O teu marido devia ser muito jovem quando morreu.

– Tinha...

– Uma bebedeira – intrometeu-se Melissa, farta de ser ignorada. Então, antes que algum dos adultos conseguisse responder, exclamou: – Uau! Este é o teu carro? Uau!

Incapaz de se controlar, os olhos de Helen encontraram os de Milos. Conseguia ver o que estava a pensar. Estava a perguntar-se que tipo de genes tinha engendrado tal monstro. Não podia censurá-lo. Nem sequer podia culpar a morte prematura de Richard. Perdera o controlo sobre Melissa muito antes de isso acontecer.

– Vais atrás – disse Milos à rapariga, abrindo-lhe a porta do Mercedes impecável.

Havia um inconfundível tom cortante na sua voz e, como era de esperar, Melissa respondeu-lhe.

– Com quem achas que estás a falar? – contestou, sem se incomodar em obedecer. Apoiou a anca contra o carro e passou uma unha pintada de preto pela pintura cromada e reluzente. – Não podes dizer-me o que tenho de fazer. Não sou tua filha.

Uma expressão furiosa invadiu a cara de Milos. Helen imaginou que estivesse a pensar que nenhuma filha sua agiria assim. Se ele soubesse...

– Entra! – foi tudo o que Milos disse, desafiando Melissa a discutir outra vez com ele. No entanto, Melissa resmungou um palavrão e manteve a sua atitude.

– Por favor... – acrescentou Helen, receando outra cena. – Melissa, por favor!

– Oh... Está bem.

Melissa inspirou ruidosamente. Contudo, por fim, rendeu-se. Atirou a mochila para cima do couro marroquino delicado e entrou. Porém, não fez qualquer tentativa de evitar roçar os seus ténis gastos na parte de trás dos bancos.

– Estás satisfeita? – perguntou-lhe Melissa.

Helen não estava. Todavia, não era altura para o manifestar. Era muito consciente do perigo que Milos representava e de como se saía mal a mentir. O dia começara mal, depois de uma noite de insónia, e, de repente, tinha piorado.

Entrou no carro quando Milos lho indicou. No entanto, apercebeu-se de que ele estava tenso quando se sentou ao seu lado. Atormentava-a o que ele estaria a pensar. Será que reparara em alguma coisa na cara de Melissa ou nas suas palavras que o fizesse pensar? Meu Deus, o que faria se isso realmente acontecesse?

– Eu vou ter um carro como este quando for maior – disse Melissa, do banco de trás.

Helen perguntava-se se ela se teria apercebido da tensão existente entre eles.

– Terás de trabalhar antes – disse Helen. – Carros como este custam muito dinheiro.

– Posso sempre arranjar um marido rico – replicou a rapariga, sem se conter. – Mesmo que tenha mais do dobro da minha idade.

Helen susteve a respiração, recusando-se a deixar-se levar pelo comentário tão pouco subtil de Melissa acerca do seu chefe.

– Também vives em Aghios Petros? – perguntou Melissa.

– Não muito longe de lá – respondeu ele. – Mas não passo o ano inteiro em Santoros. Tenho uma casa em Atenas.

– Ah, sim? – perguntou Helen, surpreendida. Se trabalhava para o seu pai, era evidente que recebia bem.

– A minha família não se dedica à produção de vinho – disse, eliminando com sucesso as suas ideias preconcebidas a respeito dele. – O meu pai tem barcos.

– Barcos? – interveio Melissa. – Como aquela coisa velha que nos trouxe de Creta?

– Melissa!

Helen lançou-lhe outro olhar furioso. No entanto, Milos já estava aparentemente farto da insolência de Melissa.

– Não – disse asperamente. – Não são ferribotes, thespinis, mas petroleiros. Infelizmente, sou um daqueles homens ricos dos quais falavas com tanto desprezo.