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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2012 Melissa Martinez McClone

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Um amor da adolescência, n.º 1445 - Setembro 2014

Título original: It Started with a Crush…

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Bianca e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5372-0

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo 1

 

Lucy olhou para o relógio de parede do salão. Eram dez para as quatro. O autocarro escolar costumava deixar Connor na esquina antes das três e meia.

O sobrinho já devia ter chegado a casa, pensou, com um nó no estômago.

Devia ligar para a escola para ver o que acontecera ou seria melhor esperar? Para ela, era uma novidade fazer de mãe.

Olhou pela janela, à espera de ver o autocarro. A esquina estava deserta.

O que podia fazer?

Antes de se ir embora, a cunhada Dana deixara-lhe uma lista de números de telefones que podia usar em caso de emergência. Contudo, não pensara na possibilidade de o autocarro se atrasar. Lucy já o verificara duas vezes.

Tentou tranquilizar-se, pensou que Wicksburg era uma vila pequena rodeada de quintas, com pouco crime e pouco para fazer, exceto os jogos de futebol às sextas-feiras no outono e os de basquetebol no inverno. O autocarro podia ter-se atrasado por várias razões. Talvez um trator se tivesse posto à frente, talvez houvesse obras na estrada ou um acidente de viação...

Lucy sentiu um calafrio.

Não devia assustar-se, pensou. Muito bem, não estava habituada a cuidar de ninguém. A urgência que sentia por ver o sobrinho naquele momento era uma sensação nova para ela. Porém, era melhor habituar-se. Durante o ano seguinte, não ia ser apenas a tia de Connor, mas também seria a responsável por ele, enquanto os pais, ambos militares, estavam destacados no estrangeiro.

Aaron, o irmão mais velho de Lucy, contava com ela para tomar conta do único filho. Se acontecesse alguma coisa a Connor sob a sua tutela...

– Miau...

O gato enorme da casa esfregou-se contra a porta da entrada. O olhar dele encontrou-se com o de Lucy.

– Não sei, Manny – replicou ela, cheia de tensão. – Eu também quero que Connor venha de uma vez.

De repente, viu algo amarelo pela janela e voltou a espreitar.

Um autocarro escolar na esquina.

– Graças a Deus! – suspirou com alívio e deteve-se a meio caminho para a porta. Connor pedira-lhe para não esperar por ele na paragem do autocarro. O menino precisava de se sentir independente e ela compreendia.

No entanto, apesar de a tia se esforçar para o agradar, não conseguira apagar a tristeza dos olhos de Connor. Ela sabia que não era nada pessoal. O rapaz deixara de sorrir no momento em que os pais tinham sido destacados para fora do país.

Lucy odiava vê-lo por aí sozinho, como um cachorro abandonado, mas compreendia. O pequeno sentia a falta dos pais. Ela tentava fazê-lo sentir-se melhor. No entanto, não conseguira com as sobremesas favoritas, levando-o a um restaurante nem a um salão de jogos. Ainda por cima, desde que a equipa de futebol da escola ficara sem treinador, as coisas tinham ido de mal a pior.

A porta do autocarro abriu-se.

Connor estava parado no último degrau do veículo com um grande sorriso. Saltou para o chão e correu para a casa.

Lucy encheu-se de alegria ao vê-lo assim. Devia ter-lhe acontecido algo muito bom na escola, pensou, e afastou-se da janela.

Custasse o que custasse, queria que o sobrinho continuasse a sorrir.

A porta abriu-se. O gato correu para ela, mas Connor fechou-a antes de o animal conseguir escapar.

– Tia Lucy, olá! – cumprimentou o menino, com os olhos brilhantes. Tinha a mesma cor de cabelo e os mesmos olhos que o pai. – Encontrei alguém que pode treinar os Defeeters.

Devia ter adivinhado que a mudança de atitude do sobrinho só podia ter sido causada pelo futebol, pensou Lucy. Connor adorava esse desporto. Aaron fora o treinador da equipa desde que o menino começara a jogar com cinco anos. Outro pai oferecera-se para o substituir, no entanto, tivera de desistir quando o seu horário de trabalho o impedira. Nenhum outro pudera fazê-lo, por diferentes razões, e a equipa ficara sem treinador.

Lucy pensara em pedir ao ex-marido para o fazer, mas descartara-o logo. Já era bastante difícil viver na mesma vila do que ele e não queria reabrir a comunicação e lidar com todas as lembranças dolorosas que isso traria. A verdade era que não estava pronta para voltar a vê-lo.

– Fantástico – afirmou ela. – Quem é?

– Ryland James – indicou Connor, sorrindo ainda mais.

– Ryland James? – repetiu ela. Ficou atónita.

– Não só é o melhor jogador da liga, como também é o meu favorito – declarou o menino, com entusiasmo. – Será o treinador perfeito. Jogou na mesma equipa que o meu pai. Ganharam imensos torneios. Além disso, é muito agradável. Foi o que o meu pai me disse.

Lucy tentou procurar as palavras adequadas. Não podia cometer erros, pelo bem de Connor.

Ryland fora um dos melhores amigos de infância do irmão. Contudo, desde que deixara o liceu para ir para Florida com um programa para jovens promessas do futebol, ela não voltara a vê-lo. Segundo Aaron, tivera sorte como jogador da Phoenix Fuego, uma equipa da liga nacional dos Estados Unidos. Era muito pouco provável que treinar um grupo de crianças de nove anos estivesse na sua lista de prioridades.

Lucy mordeu o lábio, tentando pensar em alguma coisa... qualquer coisa, para não tirar o sorriso da cara de Connor.

– Ena! – exclamou, finalmente. – Ryland James seria um treinador magnífico. Mas não achas que deve estar a preparar-se para a nova temporada?

– A nova temporada só começa em abril – corrigiu Connor. – Mas Ryland James lesionou-se num jogo amistoso contra o México e estará de baixa durante algum tempo.

– Magoou-se muito? – quis saber a tia, surpreendida por Aaron não lhe ter dito.

– Operaram-no e não poderá jogar durante dois meses. Ficará com os pais enquanto recupera – explicou Connor, com os olhos reluzentes. – Não é fantástico?

– Não penso que estar lesionado seja fantástico.

– Isso não, mas estará na vila durante tempo suficiente para nos treinar – replicou Connor. – Tenho a certeza de que Ryland James seria quase tão bom como o meu pai.

– Alguém perguntou a James se está disposto a ser o vosso treinador?

– Não – admitiu o menino, sem perder o seu entusiasmo. – Tive a ideia no recreio, quando Luke me disse que tinha estado a assinar autógrafos na festa do quartel de bombeiros. Todos os meus colegas pensam que é muito boa ideia. Se tivesse estado lá ontem à noite...

A grande festa dos bombeiros de Wicksburg era um dos maiores acontecimentos na vila. Connor e ela tinham decidido não ir e ficar em casa para esperar pela chamada da mãe do menino.

– Não te esqueças de que tinhas de falar com a tua mãe.

– Eu sei – confirmou Connor. – Mas gostaria de ter um autógrafo de Ryland James. Se nos treinar, poderia autografar uma bola.

Assinar algumas bolas e posar para as máquinas fotográficas não era nada comparado com o tempo necessário para treinar uma equipa de crianças. A temporada da primavera era mais curta e informal do que a liga de outono, mesmo assim...

Lucy não queria dececionar o sobrinho.

– É uma ideia fantástica, embora talvez Ryland não tenha tempo.

– Podes pedir-lhe para ser o nosso treinador, tia Lucy? Talvez diga que sim.

O som da voz de Connor, cheia de excitação e emoção, fê-la sentir um aperto no coração. Ela estava disposta a fazer qualquer coisa pelo sobrinho, até regressara à mesma vila onde o ex-marido vivia, o ex-marido que se casara com a antiga melhor amiga, só para cuidar de Connor. No entanto, ir ver Ryland...

– Podia dizer que não – insistiu, suspirando.

A última vez que Lucy o vira fora antes de se submeter a uma operação para transplante de fígado. Ela tinha catorze anos, estivera inchada, doente e cansada, para além de apaixonada pelo jogador de futebol que era a estrela do liceu. Durante os dias intermináveis que passara na cama devido aos seus problemas de saúde, Ryland James habitara as suas fantasias de adolescente. Sonhara que ele a deixava usar o seu casaco, que a convidava para ir ao cinema ou para ser o seu par no baile de fim de curso.

É óbvio, nenhuma dessas coisas acontecera. Lucy nunca se atrevera a falar com Ryland. Até...

A equipa de futebol do liceu organizara um acampamento de verão para juntar dinheiro para a operação de Lucy. Recordava muito bem o dia em que Ryland lhe entregara um grande cheque. Ela tentara esconder a sua timidez, sorrir e olhar para ele nos olhos. E ele surpreendera-a ao retribuir o sorriso, fazendo com que o seu coração acelerasse. Ainda que, quando vira os olhos cheios de compaixão por ela, se tivesse sentido devastada.

Ao lembrar-se, Lucy sentiu um nó no estômago. Ela já não era a mesma. No entanto, não queria voltar a vê-lo.

– Ryland é mais velho do que eu – indicou ela. – É amigo do teu pai, não meu. Eu não o conheço bem.

– Mas conheces.

– Costumava vir a nossa casa, mas não penso que se lembre de mim...

– Por favor, tia Lucy – suplicou Connor. – Nunca saberemos se não lhe pedires.

Bolas! Aquele menino era como o pai, nunca se rendia. Aaron também não deixara que ela se rendesse, nem quando estivera prestes a morrer antes do transplante, nem quando Jeff lhe partira o coração.

Devia fazê-lo, por Connor e por Aaron, pensou Lucy, respirando fundo. No entanto, não sabia como ia poder aproximar-se de alguém tão rico e famoso como Ryland James.

Connor olhou para ela com olhos suplicantes.

– Está bem. Vou pedir-lhe.

– Sabia que podia contar contigo – afirmou o menino, abraçando-a.

– Podes sempre contar comigo, campeão – confirmou a tia, com carinho.

Embora soubesse que as coisas não iam correr como o sobrinho queria, Lucy tencionava fazer com que Connor continuasse a sorrir. Pelo menos, até Ryland dizer que não.

– Vamos vê-lo agora – propôs Connor, saindo do seu abraço.

– Não tão depressa. É algo que tenho de fazer sozinha – recusou-se. Não queria que a imagem que Connor tinha do seu herói fosse destruída, no caso de Ryland ter deixado de ser uma boa pessoa. A fama e o dinheiro podiam mudar as pessoas. – E não posso aparecer lá de mãos a abanar.

No entanto, o que podia oferecer a um homem que podia comprar o que quisesse? As flores podiam servir, mas eram um pouco femininas. Chocolate, talvez?

– Bolachas – sugeriu Connor. – Todos gostam de bolachas.

– Sim – afirmou ela, embora duvidasse muito de que conseguisse convencer Ryland a aceitar o lugar de treinador. – Pode ser bolachas de chocolate?

– São as minhas favoritas – afirmou e, de repente, o sorriso empalideceu. – É uma pena que a minha mãe não esteja aqui. Faz as melhores bolachas de chocolate do mundo.

– É uma pena, sim, mas lembra-te de que, agora, está a cumprir uma missão importante, como o teu pai – consolou-o Lucy, acariciando-lhe a cabeça.

Connor assentiu.

– O que achas de usarmos a receita da tua mãe? Podes ensinar-me a fazê-las.

– Está bem – aceitou o menino, sorrindo novamente.

Lucy queria acreditar que ia correr tudo bem, mas sabia que não era provável. Tal como acontecera com o seu casamento, as possibilidades de aquela história ter um final feliz eram muito poucas. Era melhor começar a preparar-se. Faria duas bandejas de bolachas: uma para Ryland e outra para eles. Connor e ela iam precisar de alguma coisa para se sentirem melhor depois de Ryland James rejeitar a sua proposta.

 

 

Os latidos da cadela ecoaram por cima da música que pusera no ginásio em casa dos pais.

Ryland não olhou para Cupcake. A cadela podia esperar. Primeiro, tinha de acabar os seus exercícios.

Deitado por baixo dos pesos, levantou-os por cima da cabeça várias vezes, como o treinador lhe ensinara. Tinha a testa encharcada em suor. Tirara a t-shirt há vinte minutos e tinha a pele nua colada ao banco de vinil.

Queria voltar à sua equipa em plena forma, para lhes demonstrar que continuava a merecer o seu respeito e o lugar de capitão.

– Sim! – exclamou, cerrando os dentes e levantando os pesos mais uma vez.

Depois, Ryland sentou-se, ofegante. Não devia abusar, pois precisava de deixar que o seu corpo sarasse depois da operação.

Bolas, pensou, olhando para o pé direito, numa bota ortopédica.

Fora culpa dele, pensou, cheio de frustração. Não fora boa ideia gabar-se durante o jogo amistoso no México. Como consequência, ficara fora de jogo, incapaz de correr e de dar pontapés na bola.

Os meios de comunicação social tinham-no acusado de estar bêbado ou de ressaca quando se magoara. Contudo, não fora assim. Embora lidar com a imprensa fizesse parte do seu trabalho, tal como jogar no campo.

Aparecera à frente das câmaras, admitira que se lesionara por ter estado a gabar-se para os fotógrafos e as fãs e desculpara-se com os seus companheiros de equipa e os seus seguidores. Reconhecer a verdade só servira para aumentar a sua imagem de rapaz mau, sobretudo, depois dos cartões vermelhos que acumulara, as discussões em que se metera fora do campo e as notícias sobre as suas conquistas.

Cupcake, uma pequena cadela rafeira que os pais tinham resgatado de um canil, ladrou novamente, como se estivesse farta de ser ignorada

– Anda cá – chamou-a Ryland e pegou nela ao colo. – Sei que sentes a falta da mamã e do papá. Eu também. Mas tens de parar de chorar. Merecem umas férias sem terem de se preocupar contigo ou comigo.

Ryland oferecera uma viagem num cruzeiro aos pais para que celebrassem o seu trigésimo segundo aniversário de casamento. Embora lhes tivesse comprado aquela mansão na zona mais rica da vila e lhes pusesse dinheiro na conta todos os meses, ambos continuavam a trabalhar nos mesmos trabalhos mal pagos que tinham tido durante toda a vida. Também conduziam os mesmos carros, apesar de lhes ter oferecido veículos novos no Natal.

O único capricho dos pais fora Cupcake. Mimavam-na sem reparos. Não tinham querido deixá-la com um desconhecido para ir de férias e, quando tinham descoberto que o filho estava lesionado, tinham-lhe pedido para tomar conta do animal. Os pais nunca lhe pediam nada, portanto, não hesitara em aceitar.

Embora estar de volta a Wicksburg lhe trouxesse más lembranças da infância. Além disso, sentia a falta da diversão da grande cidade, mas precisava de tempo para recuperar do pé e refazer a sua reputação. Dececionara muitas pessoas, sobretudo, a si próprio. Precisara de se lesionar para se aperceber dos seus excessos e de como estivera pouco concentrado.

– Vou beber água – avisou, deu uma palmadinha carinhosa na cabeça da cadela e pô-la no chão. – Depois, tenho de tomar banho. Se não me barbear, vou ficar tão peludo como tu.

Então, o telemóvel tocou. No ecrã, apareceu o nome do seu agente, Blake Cochrane.

Ryland olhou para o relógio. Eram dez em ponto, o que significava que eram sete em Los Angeles.

– Acordaste cedo – afirmou Ryland, ao atender.

– Levanto-me às seis para me livrar do trânsito – indicou Blake. – Chegaram-me notícias de que apareceste em público recentemente. Pensei que tínhamos combinado que serias discreto.

– Tinha fome – desculpou-se Ryland. – Era o jantar anual da estação de bombeiros e pensei que seria boa ideia apoiar a causa deles e, ao mesmo tempo, comer esparguete. Pediram-me para assinar autógrafos e para posar para umas fotografias. Não pude negar-me.

– Havia jornalistas?

– Do semanário local, mais nada – respondeu Ryland, com a garrafa de água numa mão, e dirigiu-se para o salão, seguido de perto por Cupcake. Tentou não se apoiar muito no pé direito. Só deixara as muletas há alguns dias. – Disse-lhes que não queria entrevistas, mas o fotógrafo tirou algumas fotografias dos assistentes, portanto, talvez apareça em alguma.

– Esperemos que dê uma imagem positiva – indicou Blake.

– Estive a falar com pessoas que conheço desde criança – explicou ele. Algumas dessas pessoas tinham-no tratado como se fosse lixo antes de ter entrado na equipa de futebol. Depois, tinham-no aceitado, quando demonstrara que podia ser um grande atleta. – E estive rodeado por um monte de crianças.

– Parece-me bem – admitiu Blake. – Mas deves cuidar da tua imagem. Já tivemos demasiados problemas. Os chefes não estão contentes com o assunto da lesão.

– Deixa-me adivinhar. Querem um bom rapaz, não um rebelde que coleciona cartões vermelhos em vez de golos.

– É verdade – confirmou Blake. – Não é oficial, mas ouvi rumores de que McElroy quer ceder-te a outra equipa.

McElroy era o dono da Phoenix Fuego e preocupava-se muito com os jogadores.

– A sério?

– Ouvi-o de várias fontes.

Bolas! Enquanto Blake mencionava o nome de algumas equipas, Ryland deixou-se cair no sofá do pai. Cupcake saltou para o colo dele.

– Cometi erros. Desculpei-me. Estou a recuperar e a manter-me afastado da imprensa. Não vejo porque não podemos esquecer o assunto da lesão de uma vez.

– Não é assim tão fácil. És um dos melhores jogadores de futebol. Antes de te operarem ao pé, podias ter jogado em qualquer equipa importante do mundo – comentou Blake. – Mas McElroy pensa que a má imagem que dás não beneficia a equipa. Hoje em dia, o marketing é o mais importante.

– Sim, eu sei. Estar lesionado e envelhecer não é um benefício – reconheceu Ryland, que já tinha vinte e nove anos. – Mas, se for assim, porque é que uma equipa estrangeira haveria de me contratar?

– Só te transfeririam em junho. Nenhuma equipa mostrou interesse em ti neste momento.

Aquilo magoava, pensou Ryland. E ele era o único culpado da situação em que estava.

– A boa notícia é que os da Liga de Futebol não querem perder um jogador nacional tão bom como tu. McElroy não tem as coisas fáceis – continuou Blake. – Penso que quer recordar-te quem manda e quem tem o controlo do teu contrato.

– Queres dizer, do meu futuro.

– É verdade – confirmou Blake e suspirou.

– Olha, entendo porque McElroy está aborrecido. E digo o mesmo do treinador Fritz. Não lidei muito bem com a situação até agora – admitiu Ryland. – Sei que não fui um anjo. Contudo, não sou um diabo. Não é possível que alguém faça tudo o que a imprensa me atribui. Os jornais exageram em tudo.

– É verdade, mas as pessoas estão preocupadas. Deves ser cuidadoso e comportar-te enquanto estiveres a recuperar.

– Vou fazê-lo. Quero jogar na Primeira Liga de Futebol. E no meu país. Se McElroy não me quiser, talvez possa ir para o Indianápolis Rage ou para outro clube norte-americano.

– McElroy não vai deixar que um jogador como tu vá para outra equipa da liga nacional – observou Blake, como se fosse óbvio. – Se queres jogar no teu país, terá de ser com o Fuego.

– Então, terei de abrilhantar a minha imagem até reluzir – replicou Ryland, acariciando a cadela.

– Sim, cega-me com o teu brilho, Ry.

– Vou fazê-lo...

Todos queriam alguma coisa dele, pensou Ryland. Aborrecia-o ter de dar provas a McElroy e aos fãs da sua equipa.

– Pelo menos, não me meterei em problemas a cuidar de um cão. Além disso, em Wicksburg, nunca acontece nada.

– Há mulheres...

– Aqui, não – interrompeu Ryland. – Sei o que se espera de mim. Na cidade, é outra coisa, como posso rejeitar todas essas belezas?

Blake suspirou.

– Lembro-me desse rapaz que só se interessava pelo futebol. Antes, não davas importância a mais nada.

– E continua a ser assim – afirmou Ryland, sentindo-se como um rapaz popular que conseguira triunfar no desporto e conhecer o mundo graças a isso. – O futebol é a minha vida. Por isso, quero limpar a minha reputação.

– Não te esqueças, as ações valem mais do que as palavras – recordou-lhe o agente.

Depois de desligar, Ryland ficou a olhar para o telemóvel e suspirou. Assinara o seu contrato com Blake quando tinha só dezoito anos. E os conselhos do seu agente sempre tinham sido muito sábios.

– Eu meti-me nisto sozinho. Agora, também tenho de sair sozinho – declarou, em voz alta, olhando para Cupcake.

Então, a campainha tocou.

Cupcake foi a correr para a porta, ladrando como um cão feroz.

Quem podia ser?, questionou-se Ryland, sem se levantar do sofá. Não esperava ninguém. Talvez, quem quer que fosse, se fosse embora, pensou. A última coisa que queria naquele momento era companhia.