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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2013 Janice Maynard

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

O filho perdido, n.º 1218 - Novembro 2014

Título original: A Wolff at Heart

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5836-7

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Volta

Capítulo Um

 

Pierce Avery não tinha um bom dia. De facto, nunca tivera um dia tão mau na vida. A tensão tinha-se apropriado do seu estômago e retumbava-lhe a cabeça. Suavam-lhe as mãos. Nem sequer deveria conduzir naquele estado de espírito.

A sua primeira reação perante uma crise assim teria sido ir ao rio no seu caiaque. Numa calorosa tarde de agosto como aquela, não havia nada como sentir a humidade na cara para atrair, paradoxalmente, tanto a euforia como a serenidade. Desde criança sabia que não fora talhado para trabalhar sentado à secretária. A mãe natureza chamava-o, seduzia-o, reclamava-o.

Em jovem, tinha encontrado um emprego em que lhe pagavam para ser temerário. Esses empregos eram escassos e não se encontravam com facilidade, por isso tinha acabado por criar a sua própria empresa. Agora dedicava-se a organizar atividades ao ar livre para grupos de universitários, executivos sedentários e reformados cheios de energia. Andar de bicicleta, caminhadas, rappel, espeleologia e o seu favorito, a canoagem. Amava o seu trabalho, amava a vida. Mas nesse dia, tinha sofrido um duro revés.

Estacionou numa rua sossegada do centro de Charlottesville. As aulas ainda não tinham começado na universidade de Virginia, por isso mal havia gente nas esplanadas dos cafés. A Alma Mater de Pierce tinha-o moldado apesar das suas tentativas de rebelião. Tinha-se formado com excelência num mestrado de gestão de empresas só porque o seu pai tinha feito questão de que estivesse à altura do seu potencial.

Pierce devia tudo ao pai. Agora, anos mais tarde, o pai precisava dele e não podia fazer nada por ele.

Enquanto fechava o carro com as mãos trémulas, ficou a contemplar a discreta entrada do escritório que tinha diante de si. Uma placa gravada flanqueava a campainha e havia um vaso de gerânios junto ao muro de tijolo. O único detalhe discordante era um pequeno cartaz de «aluga-se» que dependurava do interior da janela, atrás de umas cortinas de renda antiga. Podia ter sido qualquer negócio, da consulta de um médico a uma empresa de auditoria.

O próspero centro de Charlottesville era prolífero em artesãos, bem como em negócios tradicionais. Uma ex-namorada de Pierce tinha um ateliê de cerâmica na mesma rua. Mas nesse dia, nada disso lhe interessava.

Pierce tinha uma reunião com Nicola Parrish. Bateu à porta com os nós dos dedos e entrou. A zona de receção estava fresca, iluminada e sentia-se um cheiro a ervas proveniente das plantas que tinha no miradouro.

Uma mulher madura levantou a vista do computador e sorriu.

– Senhor Avery?

Pierce assentiu, nervoso. Chegava com vinte minutos de antecedência porque tinha sido incapaz de permanecer um segundo mais em casa.

A rececionista sorriu.

– Sente-se. A senhorita Parrish estará consigo em seguida.

Faltavam dois minutos para a hora marcada para a reunião quando voltou a dirigir-se a ele.

– Está à sua espera.

Pierce não sabia o que o esperava. A sua mãe tinha marcado aquela reunião que ele não desejava. De facto, daria qualquer coisa para sair dali sem olhar para trás. Mas a lembrança do olhar angustiante da mãe impediu que os seus pés se mexessem.

A mulher que tinha ido ver levantou-se e estendeu a mão.

– Boa tarde, senhor Avery, Nicola Parrish, muito prazer em conhecê-lo.

Apertou-lhe a mão e sentiu a firmeza, os dedos esguios e a pele suave.

– Obrigado por me receber tão cedo.

– A sua mãe disse que era urgente.

– Sim e não. De facto, não sei muito bem por que motivo estou aqui ou o que pode fazer…

– Sente-se – disse estendendo o braço. – Vamos por ordem.

Era loira e usava melena à altura do queixo. Apesar de se mexer de cada vez que virava a cabeça, tinha a certeza de que nenhuma madeixa estava fora do lugar. Era esbelta, mas não magra, e alta, uns centímetros menos do que ele.

Contemplou a parede que havia atrás dela. Faculdade de Harvard, licenciatura em estudos forenses, vários galardões. Aquela informação, unida ao aspeto que lhe dava o fato preto que envergava, transmitia a imagem de uma mulher inteligente, aplicada e profissional. Se era ou não boa a obter informações e respostas, ainda estava por ver.

De repente levantou-se.

– Quiçá estejamos mais à vontade aqui.

Sem esperar a que a seguisse, saiu de trás da secretária e dirigiu-se a uma pequena salinha. Tinha umas pernas muito atraentes. Era o género de pernas que faziam com que os adolescentes e os homens maduros acreditassem na existência de um criador benevolente.

Sentou-se num cadeirão enquanto a advogada pegava numa cafeteira de prata.

– Café?

– Sim, obrigado, simples e sem açúcar.

Serviu-lhe o café e, ao dar-lho, os seus dedos roçaram-se. Não usava anéis nas mãos. Pierce bebeu meia chávena de um trago, fazendo uma careta quando a língua sentiu a temperatura do líquido. Um golo de uísque ter-lhe-ia caído melhor.

O olhar da advogada era amável, mas interrogante.

– O tempo voa, senhor Avery. Hoje só tenho quarenta e cinco minutos.

Pierce inclinou-se para a frente e apoiou a cabeça nas mãos.

– Não sei por onde começar.

Sentia-se derrotado, indefeso. Essas sensações eram tão desconhecidas para ele que estava zangado e frustrado.

– O único que a sua mãe me disse é que precisa de investigar uma possível negligência médica cometida há mais de três décadas. Acho que tem a ver com o seu nascimento.

– Isso mesmo.

– Estamos a falar de um caso em que um bebé pôde ser entregue aos pais errados?

– Não é assim tão simples.

Quiçá deveria ter ido antes a um psiquiatra. Os advogados estavam treinados para observar, não para se meterem na cabeça de outras pessoas. Embora na verdade não quisesse que ninguém se metesse na sua cabeça. Se isso sucedesse, seria incapaz de ocultar a enorme confusão que sentia.

– Senhor Avery?

Respirou fundo e espetou as unhas no estofo.

– O meu pai está a morrer de um tumor no rim.

O brilho de compaixão que assomou aos seus olhos cinzento-azulados parecia sincero.

– Lamento.

– Precisa um transplante. Está em lista de espera e o tempo acaba-se. Por isso decidi dar-lhe um dos meus. Fizemos os testes e…

Deteve-se. Um nó na garganta impossibilitou-lhe prosseguir.

– E então?

Pierce levantou-se e começou a passear pela diminuta sala. Reparou no ostentoso tapete oriental em tons rosa e verde. O resto do chão era de tábua corrida.

– Não sou seu filho.

Tinha repetido aquelas palavras centenas de vezes durante os últimos três dias. Pronunciá-las em voz alta não tornava a realidade mais fácil de aceitar.

– Adotaram-no? Não sabia?

– Não, não é esse o caso.

– Uma aventura então?

– Não me parece. A minha mãe é mulher de um só homem. Adora o meu pai. Por um momento pensei que me tinham ocultado que fosse adotado. Mas vi a cara dela quando o doutor nos deu a notícia. Estava desolada. A notícia surpreendeu-a tanto como a mim.

– Daí que a única explicação possível seja que foi trocado no hospital, não?

– A tia da minha mãe, minha tia-avó, era a médica de banco naquela noite. Duvido muito que tivesse permitido um engano assim.

– O que pretende que faça?

Pierce apoiou o braço na prateleira da lareira e ficou a contemplar o retrato de Thomas Jefferson pendurado na parede. Aquele ex-presidente tinha sido pai de um número indeterminado de crianças. As pessoas continuavam a debater sobre a sua paternidade inclusive na atualidade.

Pierce nunca tinha duvidado dos seus vínculos familiares. Era unido aos seus pais como qualquer filho, embora tivessem as suas diferenças nos anos da adolescência. Descobrir que não era do mesmo sangue que o seu pai perturbara-o até à medula. Se não era Pierce Avery, então quem era?

– A minha mãe passa todo o dia no hospital com o meu pai. Confia em que o estabilizem para que o mandem para casa. A sua preocupação é que esteja bem.

– E o senhor?

– Informei a minha equipa de que preciso de tempo para me ocupar de uns assuntos pessoais. São muito competentes, por isso nesse aspeto estou tranquilo. Pode contar comigo para o que for. Tem de começar a investigar já. Dissemos ao meu pai que não sou compatível, mas não sabe toda a verdade. É evidente que isto é muito importante para nós. Precisamos da sua ajuda.

 

 

Nikki nunca tinha conhecido um homem que parecesse precisar menos da ajuda de uma mulher. Pierce Avery era corpulento, tinha os ombros largos, media mais de um metro e oitenta e para mais era musculoso. Parecia capaz de escalar uma montanha com as mãos.

Também era o tipo de homem que instintivamente protegia as mulheres. Podia vê-lo na sua atitude. A sua masculinidade provocava-lhe um formigueiro no ventre. Ela tinha formação, era independente e economicamente estável. Porque a ideia de receber atenção por parte de um homem forte e corpulento fazia com que se lhe dobrassem os joelhos?

Aquelas inoportunas e pré-históricas feromonas…

– Acho que o primeiro passo que temos de dar é pedir os relatórios médicos – disse ela com tranquilidade.

Era evidente que Pierce Avery queria rapidez.

– O hospital era um centro privado. Em meados dos anos noventa foi comprado por uma companhia e recentemente foi demolido.

– Ainda assim, os relatórios têm de estar guardados em alguma parte.

– Isso é o que esperamos. Quanto demorará a consegui-los?

Nikki franziu a testa.

– Acha que o seu é o único caso que tenho?

– Podemos pagar.

Nikki sentiu que o seu aborrecimento aumentava.

– Não gosto dos ricos que exibem o dinheiro e esperam que os restantes se ponham a dançar à volta.

Ele observou os títulos luxuosamente emoldurados.

– Estudar em Harvard não é precisamente barato, doutora Parrish.

Nikki tratou de conter a sua raiva e respirou fundo até que pôde controlar a voz.

– Surpreender-se-ia.

Ficou a olhar para ela.

– Nunca me interessaram os advogados.

Pouco a pouco estava a irritá-la.

– É sempre tão direto?

Levantou-se e alisou a saia.

Pierce desfez a pequena distância que havia entre eles e passou a mão pelo cabelo escuro.

– É sempre tão temperamental?

Ambas as respirações se aceleraram. Podia detetar os seus batimentos no pescoço. Aqueles intensos olhos castanhos eram demasiado bonitos para um homem.

– Não costumo discutir com os meus clientes – murmurou ela. – Que se passa consigo?

Pierce deu um passo atrás. Nikki aborreceu-se por a sua própria reação ser mais de desilusão do que de alívio.

– Estou impaciente – disse algo envergonhado.

– É isso uma desculpa?

– Continuo sem gostar de advogados. Isto não foi ideia minha.

– Não, a sua mãe fê-lo vir – disse trocista e curiosa por ver se a mandava passear.

No entanto, surpreendeu-a que desatasse às gargalhadas. Todo o seu rosto se iluminou.

– É a primeira vez na minha vida que pago para que me insultem.

Nikki abanou a cabeça, desconcertada pelo instantâneo vínculo surgido entre eles. Quiçá fosse um tipo de compenetração negativa, mas já era qualquer coisa.

– Acho que puxa pelo pior que há em mim.

– O mau pode ser bom – disse ele.

Tinha-o dito com expressão séria, mas os seus olhos brilhavam, travessos.

– Não seduzo clientes – disse ela com firmeza, fazendo ouvidos surdos.

– Porque se aluga este escritório?

Aquela pergunta a apanhou-a desprevenida e tentou dar-lhe uma resposta ambígua.

– Bom, eu…

Era fria e implacável em tribunal, mas depois de horas de preparação. Naquele momento sentia que calcava areias movediças.

Pierce inclinou a cabeça.

– Um segredo inconfessável?

Ela suspirou.

– De todo. Para que saiba, deixo o escritório. Fizeram-me uma proposta para me juntar a um escritório de advogados de Virginia, nos arredores de Washington D. C.

– Suspeito que há um mas por alguma parte.

O seu olhar curioso contradizia a sua prévia descortesia.

– Pedi algum tempo para pensar. Há seis anos que acabei o curso e nunca tirei mais de um fim de semana de férias.

– Deve estar muito certa da sua decisão.

– Nada disso, mas ainda que não aceite a oferta, quero fazer algo diferente. Gostaria de trabalhar como assessora para uma organização benéfica.

– Assim não se tornará rica.

– Já ouviu alguma vez a expressão «procura da felicidade»? Quero começar a tornar realidade os meus desejos e não esperar até ser velha.

– Entendo – disse ele, metendo as mãos nos bolsos.

Duvidava. Tinha toda a pinta de se ter criado como uma flor de estufa.

– Continuamos outro dia – disse ela olhando para o relógio. – Tenho uma reunião.

– Não importa – disse ele. – Já descobri tudo o que precisava de saber. Vejo que me presta atenção. Isso agrada-me.

Era da sua cabeça ou tudo o que dizia tinha uma conotação sexual?

– Vou de férias – disse ela.

– Sim, eu sei. E vai fazer uma profunda introspeção. Nisso eu posso a ajudar. Pagarei os seus honorários sejam eles quais forem, e juntos tiraremos os cadáveres do meu armário, algo que para ser sincero, não desejo. Mas por enquanto, vou ajudá-la a portar-se como uma pessoa e não como uma advogada convencida.

– Não disse que aceito o seu caso. Para mais, o que o qualifica para conseguir essa mudança?

Pierce moveu o retrato que havia sobre a lareira até que o endireitou.

– Vai ver, Nicola Parrish, vai ver.

 

 

Pierce tinha tido de esperar seis dias até que Nicola acabasse com as reuniões. Tinha-se oferecido para ajudá-la a tirar as suas coisas do escritório em troca de um encontro cara a cara. Não lhe restara mais remédio que aceitar; Nikki era muito boa a negociar. Por sorte, o seu pai estava a resistir, mas Pierce não estava disposto a esperar muito mais para obter as respostas de que precisava.

A pedido de Nicola tinha levado a furgoneta que o seu pai e ele utilizavam para transportar as canoas. Havia um monte de coisas que preferiria estar a fazer num caloroso dia de verão em vez de andar a acartar caixas.

Ainda assim, o seu estado de espírito melhorou quando bateu à porta e Nicola o recebeu. Parecia mais acessível. Tinha uma fita no cabelo e vestia uns calções que deixavam a descoberto umas estupendas pernas. O contorno dos seus peitos sob a t-shirt branca e justa deixou-a com a boca seca. As alpargatas pretas faziam-na parecer demasiado jovem para ser uma advogada conceituada.

– A furgoneta está lá fora.