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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2008 Natasha Oakley

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Directamente ao coração, n.º 1126 - Novembro 2014

Título original: Wanted: White Wedding

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2009

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Bianca e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5868-8

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Epílogo

Volta

Capítulo 1

 

Freya mordeu a língua para não dizer um palavrão e voltou a perguntar se havia alguém ali, enquanto os seus olhos percorriam as filas de velhos sofás e cómodas. Continuou sem receber resposta. Não se ouvia nada no edifício, salvo o som dos seus sapatos no chão de betão.

– Senhor Ramsey? Há alguém? – parou e examinou a sala de leilões. Susteve a respiração e voltou a olhar para a longa fila de armários cheios de tarecos. Onde estavam todos? O lugar parecia deserto.

Enfiou as mãos nos bolsos do casaco e começou a dar pontapés no chão, para que lhe aquecessem os pés. Aquela forma de fazer negócios era uma loucura. Tinha de haver algum responsável para falar com os possíveis clientes. Um porteiro seria o habitual.

Não tinha esperado que num sítio como Fellingham houvesse algo semelhante à Sotheby’s ou à Christie’s, mas aquilo era ridículo. Visto que ninguém a recebia, sairia dali e daria uma olhadela ao guia, onde, sem dúvida, encontraria alternativas mais prometedoras.

Se não fosse… Franziu o sobrolho. Se não fosse por Daniel Ramsey ter conseguido convencer a sua avó de como era maravilhoso…

Doze anos de experiência dura tinham-na convencido de que qualquer um que parecesse «demasiado bom para ser verdade» era justamente isso. O problema era que se precisaria de uma nova guerra mundial para que a idosa mudasse de opinião. Tirou uma mão do bolso e olhou para o relógio. Onde estaria Daniel? Queria vê-lo a sós, avaliar que tipo de homem era sem que a sua avó estivesse presente.

Deu um passo para trás e chocou contra uma caixa que havia no chão. Praguejou em voz baixa e inclinou-se para tirar o pó das calças. Que negócio era aquele? Fosse qual fosse, Daniel Ramsey não era um homem de negócios. A sala de leilões estava cheia de objectos sem valor.

Franziu o nariz perante o cheiro a humidade. O senhor Ramsey ganharia com muita dificuldade a vida com aquilo. Fora por isso que fizera o impossível para se reconciliar com a sua avó. Assim que tivesse um momento livre, iria conversar com ela e comer o bolo de limão que preparava.

Era indubitável que a enganara. Segundo a sua avó, as suas habilidades iam desde exterminar ratos a mudar uma lâmpada. E, é claro, era um perito em antiguidades: sabia tudo sobre elas. A julgar pelas amostras que havia à sua volta, ela duvidava. Na sua opinião, o dom que Daniel tinha era o de interpretar correctamente uma idosa que queria desfazer-se de uma série de coisas que não apreciava, mas que lhe dariam uma comissão elevada.

Reparou numa porta pintada de verde onde se lia Escritório. Voltou a olhar para o relógio. Estava a perder tempo de forma estúpida. Se o escritório não estivesse fechado, deixar-lhe-ia um bilhete a pedir-lhe que lhe telefonasse à tarde.

Não era o que tinha esperado, mas era melhor do que nada. E havia sempre a possibilidade de que estivesse a preocupar-se sem motivo. Talvez Daniel Ramsey gostasse realmente de fazer companhia à sua avó e carecesse de razões ocultas. Só que o seu cepticismo habitual indicava-lhe que era pouco provável. Bateu à porta com os nós dos dedos e empurrou-a.

Parou à vista do tapete gasto e da desordem que ali reinava. Não havia outra maneira de definir a confusão de móveis e quadros que deveria estar num contentor, em vez de numa sala de leilões. O que era aquilo? Uma espécie de escritório de objectos perdidos? Abriu caminho entre os móveis e parou diante de uma secretária de carvalho. Perguntou-se como conseguiria alguém trabalhar no meio daquela desordem e se Daniel Ramsey seria capaz de encontrar um bilhete entre toda aquela confusão.

Freya deixou a mala na secretária. O som do telefone sobressaltou-a. Como costumava atender todas as chamadas que recebia numa questão de segundos, ficou nervosa ao deixá-lo tocar. Estava prestes a agarrar uma caneta da secretária quando a porta do escritório se abriu de repente.

– Pode fazer o favor de atender? O telefone. Anote a mensagem! – gritou uma voz masculina. – Demorarei um minuto.

– Eu…

– O telefone! Atenda!

Freya encolheu os ombros. O que interessava? Pelo menos, deixaria de fazer aquele ruído infernal.

– Leilões Ramsey – disse, com a vista fixa na porta fechada.

– És tu, Daniel?

Obviamente, não! Esfregou os olhos ao dar-se conta do cómico da situação.

– Lamento, o senhor Ramsey não pode atender neste momento. Quer que lhe diga alguma coisa?

– Diga-lhe que telefonou Tom Hamber, boneca!

Freya arqueou um sobrolho enquanto agarrava num papel para o apontar. Noutras condições, teria dito a Tom Hamber que não lhe chamasse «boneca», embora pudesse transmitir uma mensagem, não tinha a certeza de querer fazê-lo.

– Apontou-o? Não se esquecerá?

– Telefonou Tom Hamber – respondeu ela, num tom seco. – Acho que me lembrarei.

– Diga-lhe que tenho de falar com ele antes do meio-dia.

– Deixar-lhe-ei uma mensagem – se a encontrasse ou não, o problema era dele.

– É só isso, boneca.

Freya desligou. De uma coisa tinha a certeza: não consentiria de maneira nenhuma que a sua avó vendesse nada de valor através daquela empresa de loucos. Olhou para a desordem reinante na secretária e pôs a mensagem ao lado do telefone.

– Obrigado.

Freya virou-se e teve de levantar muito a vista para encontrar uns olhos castanhos que olhavam para ela. Dado quão alta era, mais os saltos altos, não era habitual que tivesse de o fazer.

Porque se sentia tão bem a fazê-lo? Provavelmente, teria algum argumento freudiano para o explicar. Aquele homem devia medir quase dois metros. E aqueles olhos… castanhos-escuros e incrivelmente atraentes.

– Estava a segurar a ponta de uma mesa e não podia largá-la.

– Pois… – disse Freya, desviando o olhar.

– Anotou a mensagem?

– Sim. Era Tom Hamber. Quer falar com Daniel Ramsey antes do meio-dia.

– Não há problema.

A mais terrível das suspeitas invadiu Freya.

– Sou Daniel Ramsey – disse o homem, sorrindo.

Freya ficou atónita. Aquele não podia ser Daniel Ramsey. Fizera uma imagem muito diferente dele a partir do que lhe dissera a sua avó. Muito mais provinciano. Mais…

Bom… menos, para ser sincera. Muito menos atraente. Daniel Ramsey era um homem ao lado do qual não se importaria de acordar num domingo de manhã.

– Chegou um pouco atrasada – disse ele e voltou a sorrir enquanto limpava as mãos na parte traseira das calças de ganga. – Não se preocupe. Chego cerca das oito e meia, mas disse à agência que às nove e meia estaria bem.

Estendeu a mão e ela fez o mesmo de maneira automática. A sua aliança de casado lançou um brilho. Era evidente que um homem com aquele aspecto não podia estar livre. Nunca estavam, mesmo que o fingissem.

Uma sensação familiar de insatisfação apoderou-se dela. Era surpreendente a quantidade de homens que dizia que estavam separados quando a única coisa que os separava da sua companheira era uma distância geográfica e temporária.

Estava farta daquilo, farta de joguinhos. Daniel inclinou-se e abriu a gaveta inferior da secretária.

– A chave do outro escritório está aqui. Vou mostrar-lhe onde está tudo. Depois, tenho de ir à quinta Penry-James.

– Não…

– O que não entendeu? – perguntou ele, enquanto se endireitava.

– Entendi-o perfeitamente, mas não pertenço a nenhuma agência. Sou uma possível cliente.

– Meu Deus! Peço desculpa. Achei que…

– Que era outra pessoa – não era necessário ter a agilidade mental de Einstein para se dar conta.

Os olhos dele iluminaram-se, risonhos, e ela teve de lutar contra a atracção que sentia no seu interior.

– É melhor recomeçarmos.

Ela experimentou uma sensação de estranheza inexplicável quando, pela segunda vez, apertaram a mão. Deu-se conta de que tinha as mãos bonitas, fortes e com as unhas bem cortadas.

Mas não está livre!, recordou-lhe a parte lógica do seu cérebro. E, além disso, se realmente não estivesse a tentar explorar a sua avó, aproveitaria ao máximo a oportunidade que se lhe apresentava.

– Deve ter achado que estava louco. Tom disse-lhe o que queria?

– Não.

– Então, se não é da agência, o que deseja? – o seu sorriso tornou-se mais aberto e ela não conseguiu evitar sentir um aperto no estômago.

– Não sou eu. É a minha avó – respondeu ela, num tom desnecessariamente cortante, enquanto tentava recuperar o controlo. Inspirou profundamente e expirou o ar, que se transformou num bafo. – Faz sempre tanto frio aqui?

– No Verão, não – afastou-se e ligou um aquecedor. – O calor pode chegar a ser muito desagradável.

– Este frio é que é muito desagradável!

– Porque a janela desta divisão não se abre – continuou ele, como se Freya não tivesse falado. – Foi pintada demasiadas vezes.

Ela não disse que conseguir que uma janela se abrisse era muito fácil de resolver, em qualquer negócio normal, claro!

– Suponho que deveria fazer alguma coisa a esse respeito – acrescentou ele.

– Eu fá-lo-ia.

Ele desatou a rir-se. Freya olhou para ele, sobressaltada. Há muito tempo que ninguém se atrevia a rir-se dela. Observou os reflexos de âmbar nos seus olhos risonhos e engoliu em seco.

Era uma pessoa imprevisível. Criara uma imagem dele e obstinara-se a ela com tanta força que lhe era difícil mudá-la perante a pessoa real.

– No que posso ajudar a sua avó?

– Tem alguns objectos que quer vender e eu gostaria que um profissional os avaliasse.

– Pode trazer-mos.

– Não é fácil. São móveis grandes.

– Então, irei vê-los – contornou as caixas empilhadas e sentou-se à sua secretária. Pegou numa caneta.

– Hoje, se for possível.

– Como se chama? – perguntou-lhe, assentindo.

Freya hesitou. Ainda não estava disposta a dizer-lho. Estava há três dias em Fellingham e já estava mais do que farta da reacção das pessoas quando ouviam o seu nome. Pela forma como arqueavam os sobrolhos, não lhe restava outro remédio senão supor que no imaginário local era a encarnação da depravação.

Não deveria importar-lhe, de facto, não lhe importava. Mas a raiva que lhe provocava continuava no seu interior e não deixava de a importunar, apesar dos sucessos que alcançara.

– A minha avó é Margaret Anthony.

Daniel semicerrou ligeiramente os seus olhos atraentes. Se ela não tivesse aprendido a reconhecer as reacções das pessoas, provavelmente não se teria dado conta do instante de silêncio que se produziu depois.

– Então, você é Freya Anthony.

– É verdade.

Ele abriu uma grande agenda preta e anotou o nome da sua avó no fim de uma longa lista.

– Terá de ser por volta das cinco horas. Hoje, tenho muito trabalho.

– Está bem.

Ele levantou a vista, mas os seus olhos já não sorriam. Algo murchou dentro dela. Apesar de não a conhecer, já formara uma má opinião dela. O que esperara? A rede de mexerico de Fellingham trabalhava depressa e não era preciso ser muito imaginativo para adivinhar o que ele teria ouvido dizer dela.

– A sua avó continua a pensar em vender as jarras?

– Sim.

– E?

– Quero certificar-me de que lhe oferecem o máximo possível por elas – disse Freya, enquanto olhava fixamente para ele com a intenção de o intimidar. – Acho que um par intacto é muito valioso.

– Pode sê-lo. A única coisa que se precisa é de dois coleccionadores que tenham muita vontade de as possuir. Acho que podem oferecer-lhe mil libras.

– E em Londres?

– Possivelmente mais – respondeu ele, encolhendo os ombros. Não se alterava perante as suas perguntas. – Mas a diferença está a diminuir devido à Internet. Os bons coleccionadores procuram na Internet.

– Não sabia que tinha uma página Web.

– Estamos a criá-la.

– Mas estará na fase inicial – disse ela, com desdém. – Portanto, ainda não é muito útil – levantou a gola do casaco. Não lhe importava o que pensasse dela. A única coisa que lhe importava era a sua avó e faria todos os possíveis para que não a enganassem, nem a magoassem. Nem ele, nem ninguém. – Direi à minha avó que o espere.

– Tentarei ser o mais pontual possível.

– Estaremos lá as duas – dedicou-lhe um sorriso rápido, antes de agarrar na mala e sair do escritório.

Capítulo 2

 

Portanto, aquela era a famosa menina Anthony. Daniel observou o movimento das suas ancas enquanto saía… porque não conseguiu evitá-lo. Tinha umas pernas muito compridas. Depois, ouviu o som dos seus sapatos no chão de betão, até que o som se perdeu. Enfiou as mãos nos bolsos.

A rapariga má de Fellingham não era exactamente como tinha imaginado. O nome de Freya assentava-lhe bem. Alguém que tinha o nome da deusa escandinava do amor e da beleza tinha de ter o seu aspecto.

Brincou com a etiqueta de um dos objectos destinados ao leilão de objectos do século XX que teria lugar naquele mês. A neta desencaminhada de Margaret Anthony tinha de ser muito bonita para estar à altura de uma milésima parte da vida que o mexerico local lhe atribuía.

No entanto, não esperava que se notasse tão claramente nela a classe que tinha, embora não entendesse porquê, já que se informara de tudo o que dizia respeito ao seu Audi Roadster, alguns minutos depois de ter entrado na vila a conduzi-lo. Não o deveria ter surpreendido o penteado do seu cabelo loiro, nem a roupa de marca que usava.

– Daniel…

Virou-se.

– Temos um problema – um rapaz pôs a mão na ombreira da porta. – Aquela loira explosiva quer que tiremos o camião de Pete. Não consegue tirar o seu carro. Pôs-se a gritar.

– Imagino.

– Disse-lhe que o motorista está a tomar o pequeno-almoço e que demorará uns vinte minutos para voltar, mas não lhe interessa. Diz que, se o meu tempo não vale nada, o dela vale ouro. Quer que o tiremos agora mesmo.

Não era difícil para Daniel achar que Freya Anthony esperasse que as coisas acontecessem quando e como ela quisesse. Não duvidava que lhe bastaria estalar os dedos para que o mundo caísse aos seus pés.

– Vou falar com ela.

– É melhor. Está furiosa.

Daniel sorriu. O quadro que Bob apresentava era indicativo do que supunha que a menina Anthony faria quando a contrariavam.

– Muito bem. Eu trato disso – Daniel olhou para o relógio e franziu os lábios. Aquele dia estava a correr-lhe mal.

– De qualquer forma, é muito bonita, não é? – perguntou o rapaz.

Daniel saiu para o pátio e examinou como estava estacionado o carro. Desvaneceu-se a sua leve esperança de que Freya conseguisse sair, dando-lhe indicações. Dirigiu-se para ela.

– Peço desculpa.

– Tire-o.

– Vai ver se encontras Pete e pede-lhe as chaves – disse Daniel, virando-se para Bob.

– Não tem outras chaves?

– Para quê? O camião não é meu – respondeu ele, com calma, enquanto via brilhar a raiva nos olhos dela. Virou-se novamente para Bob. – Acho que estará no Carlo’s.

Bob assentiu e partiu. Freya emitiu um som gutural de pura irritação.

– Não demorará muito – disse Daniel. – Quer esperar lá dentro?

– Que diferença faz? Faz tanto frio aqui como lá.

– Pode usar o telefone, se tiver de telefonar a alguém – acrescentou ele.

– Tenho um telemóvel.

Daniel deixou de propósito que o silêncio entre eles se prolongasse. Por muito difícil que ela se tornasse, não conseguiria que entrasse no jogo dela. Passados alguns instantes, pareceu que tinha tomado a decisão de se acalmar, apesar de continuar muito tensa.

Enquanto observava que as pequenas rugas lhe desapareciam da testa, Daniel pensou que era muito mimada, que era uma mulher que levava a sua avante com demasiada frequência e facilidade. Ela deu meia volta e foi sentar-se num muro baixo de tijolo que havia atrás do seu carro.

Ele lançou um olhar ao elegante Audi cinzento do qual tanto tinha ouvido falar.

– É um carro muito bonito.

– Eu gosto.

Ele sorriu. Era um carro para exibir, não para andar de um sítio para o outro; um carro que não passava despercebido, que causava inveja, e ela sabia-o. E de certeza que tinha previsto a reacção que produziria ao entrar na vila a conduzi-lo.

Perguntou-se se tudo aquilo não seria um jogo para ela. Acharia graça à ideia de voltar para o seu local de origem e oferecer aos bisbilhoteiros material para os seus falatórios? Porque falar, falavam. Dissecavam tudo o que fazia e dizia, para onde ia…

Importar-se-ia?

Observou as olheiras que tinha e a dureza da sua boca. Importava-se. Não fazia ideia de porque tinha tanta certeza.

– Quanto tempo vai ficar?

– Ainda não decidi.

– É muito bom poder escolher – Daniel sentou-se ao seu lado, resolvido a fazer com que falasse. – Margaret continua a pensar em mudar-se para um lar de idosos?

– Possivelmente – respondeu ela, encolhendo ligeiramente os ombros. – Não há necessidade de esperar aqui comigo – acrescentou.

– Não me importo.

– Tenho a certeza de que… Chama-se Bob, não é? Pois tenho a certeza de que Bob encontrará o motorista daquela coisa – assinalou a carrinha branca – e poderei sair antes da hora de almoço. Vá fazer o que tiver para fazer.

– Pete está no seu intervalo, portanto, serei eu a tirá-la. A menos que queira fazê-lo você.

– Não tenho nenhum problema.

Daniel reprimiu a vontade inesperada de se rir. Tinha a certeza de que o faria. Gostaria de o ver. Era uma pena que Bob se recusasse a entregar-lhe as chaves, já que Pete lhe daria uma sova se visse o mínimo arranhão no seu veículo.

– Parece-me que Pete não gostaria disso. Aquela carrinha é o seu orgulho e a sua alegria.

– Então, porque mo propôs?

Boa pergunta! Porquê? Daniel examinou-lhe o rosto durante alguns segundos. Porque gostava de ver como levantava o queixo perante um desafio, a resolução que expressava a sua cara e que, quando não a desafiava, serviria de modelo para a de uma boneca de porcelana.

Freya Anthony tinha as pestanas mais escuras que já vira na sua vida, embora talvez se devesse à brancura da sua pele. Tinha os olhos azuis e um olhar inteligente, precavido, ferido…

Dera-se conta porque ele também se sentira assim. Estabelecia-se sempre um vínculo sem palavras entre duas pessoas que sabiam o que era sofrer. Fez um gesto com a cabeça. Havia uma afinidade entre duas almas que sabiam que a vida não era perfeita, nem podia sê-lo. E, por algum motivo, sabia que aquela loira o entendia, que o sabia com a mesma certeza que ele.

– Se vamos ficar aqui sentados durante algum tempo, quer que lhe traga um café?

– Não – obrigou-se a ser educada e acrescentou: – Mas isso não impede que vá preparar um, se está decidido a fazer de ama – levantou-se e deu um pontapé no chão.

– Não importa. Ficarei aqui consigo.

– Desde quando conhece a minha avó?

A pergunta surpreendeu-o. Ou, melhor dizendo, o seu tom hostil. Encolheu os ombros.

– Há anos.

– Como se conheceram?

Daniel olhou para a cara dela e observou a sua expressão de desagrado. O que se passava? Alguma coisa a tirava do sério e parecia que essa coisa era ele.

Seria uma pessoa possessiva? Talvez não tivesse gostado de descobrir que Margaret preenchera o vazio deixado pela sua família, se não completamente, pelo menos, em parte.

– Margaret interessa-se pelos outros – disse, lentamente. – E as pessoas agradecem – viu que ela assimilava as suas palavras.

Ela voltou a bater no chão e virou-se para que não pudesse ver-lhe a cara.

– Bob vai demorar muito mais? Isto é ridículo!