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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2004 Dixie Browning

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Apenas dois dias, n.º 596 - junho 2019

Título original: Driven to Distraction

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1328-049-3

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

 

 

 

 

Maggie Riley não era uma vítima. Graças aos conselhos de um oficial da polícia que entrevistou para o seu artigo, sabia quando e como estar alerta. Durante a última meia hora, um carro de todo-o-terreno, de cor verde, seguia-a.

Havia pouco trânsito no sentido que ela percorria, de modo que quando saiu da auto-estrada e o todo-o-terreno também o fez, começou a suspeitar. No entanto, talvez o condutor só quisesse avisá-la de que tinha um farol estragado ou que tinha a matrícula solta…

O mais lógico era que fosse para o mesmo sítio que ela: Peddler’s Knob, onde ficava a Escola de Arte de Perry Silver. Para além disso, ela sabia que levar a matrícula solta não era nenhum delito. No entanto, parecia-lhe muito estranho…

– Já chega de paranóias – murmurou ela para si própria.

Pouco depois chegou à entrada de Peddler’s Knob, onde ficava a escola de Silver. Enquanto ela diminuía pouco a pouco a velocidade, o todo-o-terreno ultrapassou-a e parou no parque de estacionamento.

Maggie viu uma casa vitoriana no final de uma encosta; era ali que iria residir durante toda a semana. A casa parecia uma tarte, com as suas janelas e as suas varandas antigas.

Tinha feito um pedido para entrar na escola porque lhe pareceu a solução perfeita… mesmo se ela percebia tanto de arte como de biologia molecular. Mas as escolas de arte existiam para ensinar, não? Deste modo aprenderia a pintar, mesmo não sendo esse o seu verdadeiro objectivo.

– Preparada, pronta… – murmurou, saindo do carro.

Ia passar ali uma semana como «jornalista infiltrada».

Agradava-lhe esta situação e, na verdade, estava ali com uma missão secreta. Nunca na sua vida teria a oportunidade de estudar arte se não fosse porque um canalha tentava enganar a sua melhor amiga que, para além de ser ingénua, tinha muito dinheiro.

Maggie inclinou-se um momento para pôr as sandálias. Desde o dia em que ficaram presas entre o travão e o acelerador, sabia que não era sensato conduzir com aquelas sandálias de plataforma.

Enquanto o fazia olhou com o canto do olho para o todo-o-terreno, pensando que se o condutor quisesse atacá-la não teria esperado tanto.

Maggie alegrava-se ao imaginar-se como uma jornalista infiltrada numa missão de resgate: que a sua melhor amiga não acabasse com o coração destroçado e com a conta bancária a zero.

O condutor do todo-o-terreno, um tipo com calças de ganga gastas, botas e uma camisa cujas costuras pareciam estar para rebentar, desceu do carro. Não lhe via a cara, mas da cintura para baixo era apetitoso. Se aquele fosse Perry Silver, era lógico que Mary Rose tivesse perdido a cabeça.

Como ela escrevia uma coluna semanal de conselhos para as mulheres, Maggie tinha ouvido histórias que podiam gelar o sangue a qualquer pessoa. Tentou apelar à razão da sua amiga, mas não deu em nada. Por outro lado, se aquele fosse o canalha, bem podia entendê-la.

Ainda bem que ela tinha experiência com os homens, disse para si própria.

Enquanto tirava a mala de viagem do porta-malas, olhava para o rapaz pelo canto do olho para tentar ver-lhe a cara. Com um pouco de sorte, seria feio como o demónio.

A fotografia do catálogo da escola mostrava um homem alto, com uma boina francesa. Segundo Mary Rose, que o tinha conhecido numa exposição patrocinada pelo seu pai, Perry Silver era o sonho de qualquer mulher.

– Pegou na minha mão e ficou a olhar-me nos olhos… eu disse-te que ele tem os olhos de cor turquesa? – tinha-lhe contado a sua amiga.

Sim, claro, de cor turquesa. Com a ajuda de umas lentes de contacto.

– Oxalá tivesses estado lá – suspirou Mary Rose. – Falamos durante horas e disse-me que tinha ido a Winston-Salem só por mim, porque sabia que havia uma alma gémea que o esperava.

Maggie emitiu um suspiro, mas dissimulou-o tossindo ligeiramente.

– Foi uma coisa… como é que te posso explicar sem que penses que estou louca? É como se tivéssemos sido amantes noutra vida. É a única forma de descrevê-lo.

Maggie tentou fazer com que a sua amiga descesse das nuvens, mas não serviu de nada. E quando Mary Rose mencionou a possível criação da bolsa Perry Silver, para a qual o seu pai doaria um montante elevado, decidiu intervir no assunto.

Ah, finalmente o indivíduo alto tinha-se virado. Maggie fingiu não estar atenta enquanto tirava a enorme mala de viagem…

Santo Deus!

Aquele trabalho não iria ser tão fácil como esperava… o indivíduo era espectacular.

– E tu és tonta – murmurou, ao tirar o cavalete.

Se aquele vaqueiro fosse Perry Silver, compreendia que Mary Rose tivesse ficado louca. Era mais que bonito, era… não sabia como descrevê-lo. E isto para ela que trabalhava com palavras.

– Quer que lhe dê uma ajuda?

As sua voz era como ele: masculina, lenta, rouca. Forte.

– Não, obrigada – murmurou Maggie.

Como sempre, tinha levado demasiadas coisas, mas não queria aceitar favores de um estranho.

– Parece-me que precisa.

Maggie levantou o olhar… e lamentou-o. Aquele homem era de deixar qualquer uma sem alento. No entanto, apesar dele ser mais alto, conseguiu fulminá-lo com o olhar.

– Desculpe?

Não era fácil mostrar-se altiva quando uma pessoa mede um metro e sessenta e pesa cinquenta quilos, mas Maggie era perita nisso.

– Só quero ajudá-la.

– Não será você…?

Ia perguntar se era Perry Silver. Sabia que as fotografias publicitárias costumam estar retocadas, mas os olhos daquele homem eram de cor âmbar, não turquesa. Para além disso, ia com a cabeça descoberta e, segundo Mary Rose, Perry usava sempre uma boina francesa.

«É o homem mais romântico que conheci na minha vida. Imagina o Gregory Peck. Disse-me que se Rafael, o pintor, me tivesse conhecido, o meu retrato estaria pendurado no Louvre. Não te parece o elogio mais bonito do mundo?»

– Menina?

– O quê? – respondeu ela agressivamente.

– Necessita que alguém a ajude e eu tenho uma mão livre.

Maggie olhou para o porta-malas, cheio de jornais que se esquecia sempre de reciclar e coisas que levava para caso de haver alguma emergência: uma corda, uma lanterna, uma manta, um par de sapatos horríveis…

– Pode levar o cavalete, se quiser. Eu levo o resto.

Sorrindo, ele agarrou na mala pesada, no computador portátil e no cavalete, tudo com uma só mão. Maggie só teve que carregar a mochila e a mala de cosméticos.

Seguiu-o pela encosta admirando as calças de ganga, que estavam gastas onde deviam estar. Parecia um artista de cinema. Se fosse Perry Silver, voltaria para casa imediatamente. Seria impossível convencer uma mulher de que aquele não seria o homem da sua vida, mesmo que o apanhasse em flagrante.

– Cuidado com a areia – avisou ele.

– Eu tenho cuidado – replicou Maggie.

O seu ídolo era Farrah Fawcett Majors, de Os Anjos de Charlie. E Farrah nunca tinha tropeçado na série.

Maggie Riley, colunista do Suburban Record e «quase» jornalista de investigação, já tinha tropeçado algumas vezes. Na verdade muitas, normalmente porque estava a olhar para o que não devia.

Como naquele momento, por exemplo.

Para além de desmascarar Perry Silver, pensava aproveitar para aprender algo de arte. O Suburban Record não tinha crítico de arte, mas isso não significava que não necessitasse de um.

Só quando estava mais triste é que admitia que a sua coluna, Pergunte à Maggie, servia sobretudo para preencher os espaços entre os anúncios.

Por outro lado, pessoas como Woodward e Bernstein tiveram que começar por algum lado, não?

Maggie Riley, crítica de arte.

Crítica de arte?

Já lhe estava a agradar.

– Deviam pôr uma escada mecânica – murmurou o vaqueiro, enquanto subia a encosta. Tinha um sotaque do sul, um sotaque doce, cálido.

– Ou um elevador – sugeriu Maggie. – Suponho que vem aqui para aprender a pintar.

Tinha a certeza de que não era Perry Silver. Porque se fosse, Mary Rose teria mencionado algo mais que os seus olhos e as suas mãos.

– Sim, claro.

– Chamo-me Maggie Riley. Suponho que estudaremos juntos – continuou ela, olhando aquele perfil que poderia aparecer numa moeda romana.

– Encantado. Eu chamo-me Ben Hunter. Disposta a subir até ao último degrau?

Estava mais disposta para isso do que para a sua primeira aula de pintura. No folheto falavam muito do esplendor da paisagem, a mistura das cores… Maggie olhou com suspeita para as montanhas, o bosque denso e o rododendro em flor. «Não se passa nada», disse para si própria. «Um pouco de azul, um pouco de verde, um pouco de rosa e direi que pintei um quadro abstracto. Quem pode dizer o contrário? A arte não é algo matemático».

Quando chegaram acima não a surpreendeu ver uma série de mulheres. A maioria delas, mais velhas. A única que parecia ter a sua idade era uma rapariga com uma blusa que parecia um soutien. Seria perfeita como isco, se quisesse cooperar.

Tudo iria correr bem, disse-se para si mesma. Tinha que correr bem. Mary Rose era uma ingénua, mas Maggie não pensava deixar-se enganar por um mulherengo com olhos de cor turquesa.

Nem por um vaqueiro com olhos de cor whisky.

– Cansada? – perguntou-lhe o vaqueiro.

Para não olhar para ele, Maggie olhou para a casa que, de perto, não parecia tão esplendorosa.

– Estou óptima – assegurou-lhe.

Como não estava a olhar para o chão escorregou-lhe uma sandália na areia… Tropeçou, moveu os braços e largou a mala de cosméticos para segurar-se num arbusto. Tinha prática em manter o equilíbrio.

– Magoou-se?

– Não. É esta maldita areia – queixou-se Maggie, ao levantar um pé para tirar a terra da sandália.

– Deixe-me que a ajude – disse Ben Hunter que, sem esperar a resposta, tirou-lhe a sandália.

Segurando-se no arbusto, para não se agarrar ao seu ombro, Maggie pensou: «isto é que é começar com o pé errado».

Genial.

A primeira impressão tinha sido desastrosa.

 

 

Ben deixou as coisas no chão, meteu as mãos nos bolsos das calças e piscou os olhos para se habituar à escuridão do interior.

«Que rapariga tão tola», pensava.

A ele agradavam-lhe mais os saltos, como a todos os homens, mas uma rapariga que usava estas plataformas nos pés… enfim, não devia estar muito bem da cabeça.

Ben olhou à sua volta, para procurar a placa a indicar a recepção. Talvez não tivesse sido uma boa ideia inscrever-se na escola. Tinha feito muito trabalho à paisana e gostava disso… até que encontrou provas de que vários dos seus companheiros na polícia estavam comprados. E não eram só eles, chegava ao presidente da câmara, inclusivamente em Austin, a capital. Decepcionado, mas sem nenhum desejo de ser um herói morto, enviou as provas às autoridades competentes e devolveu o seu distintivo.

Foi então quando tudo começou a desmoronar-se, inclusivamente a sua relação com Leah. Mesmo que nenhum dos dois levasse a relação muito a sério, na cama davam-se bem e ela não parecia importar-se que ele fosse polícia.

Sem trabalho e sem namorada, recebeu uma chamada da sua avó Emma, que vivia na costa Este. Não se viam frequentemente, mas ele telefonava-lhe uma vez por semana e enviava-lhe flores no seu aniversário.

– Benny, parece-me que cometi um erro – disse-lhe.

Emma contou-lhe que um canalha que se fazia passar por um artista lhe tinha roubado as suas poupanças pedindo-lhe que «investisse» nuns quadros que em dois anos triplicariam de valor.

Ben fez umas investigações e descobriu que era tudo uma fraude. Isso irritou-o. Nos seus quinze anos de polícia tinha detido muitos patifes e, embora já não tivesse o seu distintivo, queria desmascarar Perry Silver.

Ainda não o conhecia, mas tinha visto a sua fotografia no folheto. Alto, moreno, com uma boina francesa e uma expressão que parecia dizer: «confia em mim».

Sim, claro. Confiar nele. Pequeno vigarista.

Enquanto estava no vestíbulo rodeado de malas, voltou a pensar na loira… não na que usava uma blusa que parecia um soutien, mas na outra, a independente das sandálias ridículas. Cabelo loiro escuro, comprido, pestanas claras e um par de olhos pardos que pareciam querer fulminá-lo.

Se fosse esperto afastar-se-ia, pensou.