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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2009 Melanie Milburne

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Casamento com o inimigo, n.º 1205 - janeiro 2018

Título original: The Venadicci Marriage Vengeance

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-990-9

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

– O senhor Venadicci conseguiu ter tempo entre duas reuniões e vai recebê-la agora – disse a secretária a Gabby. – Só poderá dedicar-lhe dez minutos.

Gabby assentiu educadamente, sem exteriorizar o aborrecimento que fora acumulando durante a hora que esperara que Vinn Venadicci se dignasse a falar com ela.

– Obrigada – disse ela. – Tentarei não lhe fazer perder demasiado tempo – disse com ironia.

Por muito difícil que fosse ver Vinn novamente, acontecesse o que acontecesse, tinha de permanecer calma e manter o controlo. Havia demasiadas coisas em jogo para deitar tudo a perder por uma das reacções furiosas que tantas vezes tivera sete anos antes. Passara muito tempo desde então e, embora não estivesse disposta a contar-lhe todas as coisas por que passara, também não ia humilhar-se diante dele.

A sua torre de escritórios em pleno centro financeiro de Sidney era um símbolo da sua ascensão meteórica. Desde as suas origens humildes no seio de uma família italiana comandada pela sua mãe, Rose, surpreendera toda a gente com a sua capacidade, todos menos o pai de Gabby, que sempre soubera reconhecer o talento que tinha e fizera todos os possíveis para o ajudar.

Contudo, pensar no seu pai era a última coisa que devia fazer naquele momento. Henry St. Clair estava muito fraco de saúde depois do ataque de coração que sofrera. Gabby tivera de cuidar de tudo, enquanto o seu pai recuperava do triplo bypass que lhe fora feito. A sua mãe ficara ao lado do seu marido, deixando que Gabby assumisse todas as responsabilidades.

Tudo acontecera de repente e Gabby ficara à frente dos negócios da família para evitar mais complicações ao seu pai. Estava disposta a fazer qualquer coisa para que estivesse descansado e recuperasse, mesmo que significasse ver Vinn Venadicci novamente.

Gabby bateu à porta que tinha o nome de Vinn em grandes letras e sentiu uma ligeira náusea, a mesma sensação que a invadia sempre que estava perto dele.

– Entre.

Gabby endireitou-se, levantou a cabeça com altivez e abriu a porta. Vinn estava sentado à sua secretária e não fez o menor gesto de se levantar, uma indelicadeza para a qual Gabby já estava preparada. Sempre fora insolente, sempre olhara para os outros por cima do ombro, mesmo quando vivia com a sua mãe na casa dos empregados da mansão St. Clair.

Apesar do esforço que fizera para parecer calma e não perder a compostura, Gabby sentiu que o seu coração, contra a sua vontade, acelerava. Mesmo sentado, Vinn tinha uma estatura intimidatória. Uma madeixa do seu cabelo escuro caía ligeiramente sobre a sua testa, enquanto os raios do sol iluminavam o seu rosto. Tinha o nariz marcado por todas as brigas em que se envolvera na sua juventude. Ao contrário de outros homens de negócios de sucesso, que recorriam à cirurgia estética para arranjar os defeitos do rosto, Vinn exibia-os como uma medalha. O mesmo acontecia com a cicatriz na sua sobrancelha esquerda, uma marca que lhe dava um aspecto perigoso e, ao mesmo tempo, muito atraente.

– Ena, como está a viúva? – perguntou ele, olhando para ela de cima a baixo. – Há quanto tempo não nos vemos? Um ano? Dois? O luto parece ficar-te muito bem, Gabriella. Nunca te vi tão bonita.

Gabby olhou fixamente para ele, sem pestanejar. Tristan Glendenning morrera dois anos antes e, nas poucas vezes que voltara a ver Vinn, ele não deixara de lho recordar com o seu típico tom sarcástico. Cada vez que lhe dizia alguma coisa sobre o seu falecido marido, era como se estivesse a atirar-lhe um insulto à cara.

– Posso sentar-me? – perguntou amavelmente, ocultando tudo o que estava a pensar.

– É claro – respondeu Vinn, assinalando a cadeira situada diante dele. – Esse rabo merece descansar. Mas não fiques muito confortável, dentro de dez minutos tenho uma reunião importante.

Gabby sentou-se na beira da cadeira, odiando-se pelo rubor que as palavras dele tinham provocado nas suas faces. Vinn sempre tivera a virtude de a fazer ser plenamente consciente do seu corpo. Era o único que tinha essa capacidade.

– Bom – disse, recostando-se na cadeira. – O que posso fazer por ti, Gabriella?

Ela ficou em silêncio por uns instantes. Vinn era o único que utilizava o seu nome completo para se dirigir a ela. Começara a fazê-lo quando ela acabara de fazer catorze anos, quando a mãe dele fora contratada para trabalhar na mansão e chegara com o seu filho de dezoito anos. A forma como pronunciava o seu nome também tinha alguma coisa especial. Embora tivesse nascido na Austrália, a constante presença do italiano na sua casa dera um toque exótico ao seu sotaque. Quando dizia o seu nome, Gabby ficava paralisada.

– Vim porque surgiu um pequeno problema – disse, tentando manter-se calma. – Como o meu pai está a descansar e não pode cuidar de nada, pensei que poderias aconselhar-me.

Vinn observou-a atentamente com o seu ar enigmático.

– Como está o teu pai esta manhã? – perguntou. – Vi-o ontem à noite na unidade de cuidados intensivos. Parecia um pouco pior, mas suponho que seja normal.

Gabby sabia que Vinn visitava regularmente o seu pai, embora tentasse sempre não se encontrar com ele no hospital.

– Está a melhorar – respondeu. – A cirurgia está marcada para a próxima semana. Acho que estão à espera que estabilize um pouco.

– Sim, é melhor – disse ele, deixando a caneta sobre a mesa. – Os médicos pensam que vai recuperar totalmente?

Gabby tentava não olhar para as suas mãos, contudo, tinham alguma coisa que a atraía. Tinha umas mãos grandes e poderosas, com dedos elegantes e com pêlos morenos que lhes davam um aspecto masculino difícil de resistir.

Já não era o rapaz que conhecera uma vez. A sua pele morena estava brilhante e bem cuidada, os seus músculos, tonificados e muito marcados, eram um sinal do programa de treino físico a que se submetia. Ao seu lado, os exercícios de ginástica que ela fazia pareciam um simples passatempo.

– Gabriella?

Tentou recuperar a compostura e olhou para ele nos olhos, uns olhos cinzentos profundos e penetrantes. Nunca soubera nada sobre o pai de Vinn. Por alguns comentários, deduzira que não era italiano como a sua mãe, porém, nunca lhe perguntara sobre isso directamente. Alguma coisa lhe dizia que não era um assunto agradável de conversa.

– Bom… Não tenho a certeza – respondeu finalmente à pergunta que fizera sobre a recuperação do seu pai. – Não falei com os médicos.

Assim que acabou de falar, apercebeu-se de como as suas palavras tinham parecido indiferentes, como se a saúde do seu pai não fosse importante. A realidade era muito diferente. Não havia nada no mundo que a preocupasse mais. Se não fosse pelo ataque de coração do seu pai, ela nunca teria tido de ir falar com Vinn.

– Suponho que esta visita tem que ver com a oferta que foi feita pelo complexo residencial St. Clair Island, engano-me?

Gabby tentou ocultar a sua surpresa. Como soubera?

– Sim, na verdade… Como deves saber, o meu pai pediu um empréstimo para modernizar o lugar há um ano e meio. Ontem à tarde, recebi uma chamada. Disseram-me que, se não pagássemos a importância total do empréstimo, podíamos ter problemas e todo o complexo ficaria à venda.

– Falaste sobre o assunto com os vossos contabilistas?

– Dizem que não há forma de reunir esse dinheiro em vinte e quatro horas – disse ela, baixando o olhar.

Vinn começou a brincar com a caneta, como se fosse um ritual que o ajudasse a pensar.

– Não disseste nada ao teu pai, pois não?

– Não, é claro que não – respondeu ela. – Não quero preocupá-lo. Se lhe disser o que está a acontecer, talvez tenha outro ataque.

– Falaste com os encarregados da gestão do complexo? Sabem o que está a acontecer?

– Falei com Judy e Garry Foster – respondeu ela. – Como é lógico, estão preocupados com os seus empregos, mas garanti-lhes que me ocuparia pessoalmente do assunto.

– Trouxeste a documentação? – perguntou depois de uma pausa.

– Não, pensei que seria melhor discutir primeiro o assunto contigo.

Estava incomodada. Sentia-se incompetente, tentando resolver assuntos demasiado difíceis para ela. Desde que os seus pais lhe tinham pedido que se encarregasse de tudo, tivera dúvidas sobre a sua capacidade para seguir em frente, porém, não quisera dizer-lhes nada para não os desiludir. Ambos tinham muitas esperanças nela depois da morte trágica do seu irmão mais velho, Blair. Gabby tentara fazer todos os possíveis para preencher o vazio terrível que deixara, contudo, continuava a ter a sensação de estar a tentar fazer mais do que conseguia.

– Então tens um dia para reunir os recursos necessários, não é assim? – perguntou ele.

– Efectivamente – respondeu ela. – Se não conseguirmos, a minha família terá de pôr o complexo à venda e só teremos trinta e cinco por cento das acções. Não sei exactamente se podes ajudar-me com alguma coisa. Sei perfeitamente que, se o meu pai não estivesse no hospital, teria vindo ver-te para que o ajudasses a resolver isto.

– Tens alguma ideia de quem está por detrás de tudo isto? – perguntou Vinn.

– Não – respondeu. – Perguntei a todas as pessoas que conheço, mas ninguém parece saber.

– Estamos a falar de quanto?

Gabby respirou fundo antes de responder.

– Dois milhões e quatrocentos mil dólares.

– Ena! – exclamou ele, arqueando uma sobrancelha. – Não é precisamente uma ninharia.

– Não, não é – comentou ela. – Tenho a certeza de que o meu pai nunca pensou que isto pudesse chegar a acontecer. O mercado esteve muito instável nestes últimos meses. Parece que não fomos os únicos a pedir um empréstimo no pior momento.

– Certamente.

– Bem… Estava a perguntar-me… O que achas que poderíamos fazer? – perguntou timidamente, embora, por instantes, o desespero crescesse no seu interior. – Não queria comprometer-te, mas o meu pai respeita muito as tuas opiniões. Foi por isso que vim.

– Sim, imagino que não tenhas vindo até aqui só para falares do tempo – disse Vinn. – Na verdade, já só tenho cinco minutos.

– Tu sabes o que estou a pedir-te – disse Gabby, lutando consigo mesma. – Não me faças dizê-lo só para alimentar o teu ego.

Os olhos dele pareciam encher-se de energia enquanto se inclinava sobre a secretária.

– Queres que eu pague o empréstimo, não é verdade?

– O meu pai fez muito por ti – respondeu ela, começando com o discurso que ensaiara várias vezes na noite anterior. – Pagou a fiança quando roubaste aquele carro com dezoito anos, assim que foste viver connosco. Deu-te dinheiro para que pudesses ir para a universidade… Não terias conseguido tudo o que tens hoje sem a ajuda dele.

Vinn recostou-se novamente, brincando com a caneta.

– Dois milhões e quatrocentos mil dólares é muito dinheiro, Gabriella – disse. – Para poder fazer isso, precisaria de alguma coisa em troca, alguma garantia, caso as coisas corram mal.

– Uma garantia? – repetiu ela, alarmada. – Podemos falar sobre isso com os nossos advogados e chegar a um acordo. Poderíamos assinar um plano de reembolso a cinco anos, por exemplo. Com juros, é claro. O que te parece?

– Demasiado arriscado – respondeu ele com um sorriso enigmático. – Preferia alguma coisa mais segura, alguma coisa que seja mais do que um simples pedaço de papel.

– Não estou a entender – disse ela, hesitante. – Referes-te a alguma coisa mais concreta? A única coisa que poderia adaptar-se aos teus requerimentos é a casa dos meus pais, mas vão precisar de algum sítio onde…

– Não quero a sua casa – interrompeu.

– Então… O que queres? – perguntou, quase desesperada, levando a mão à barriga para tentar acalmar as náuseas que sentia.

Fez-se silêncio. Um silêncio incómodo e cheio de alguma coisa muito intensa que Gabby não foi capaz de precisar. O ar tornou-se subitamente denso, tão denso que tinha dificuldade em respirar sem sentir uma sensação de sufoco.

– Podias ser a garantia – disse então Vinn.

– Não possuo nada cujo valor se assemelhe a essa quantia – respondeu ela, franzindo o sobrolho. – Só obtenho alguns pequenos rendimentos da sociedade para as minhas necessidades e pouco mais.

– Deduzo que o teu falecido marido não te deixou na posição desafogada de que desfrutaste durante toda a tua vida, engano-me?

Gabby baixou o olhar para não ter de enfrentar o olhar dele, um olhar que parecia estar cheio de recriminação.

– As finanças de Tristan eram um desastre quando morreu de repente. Havia dívidas, coisas que não estavam claras… Demasiadas coisas para resolver.

«E demasiados segredos para ocultar», pensou Gabby.

– Eu dou-te o dinheiro – afirmou Vinn finalmente. – Posso enviar o dinheiro para a sociedade do teu pai usando o computador. O teu pequeno problema estará resolvido antes de chegares ao elevador.

No entanto, havia uma condição. Gabby olhou para ele na expectativa. Conhecia-o muito bem para saber que nunca ofereceria tanto dinheiro em troca de nada. Vinn sentia um profundo respeito pelo seu pai, até tolerava bastante bem a sua mãe, porém, no que lhe dizia respeito, sentia um ressentimento profundo. Aquele favor estava a dar-lhe a oportunidade de se vingar. Gabby tinha a certeza de que Vinn não ia desperdiçá-la.

– É claro, haverá certas condições – começou ele.

Gabby tremeu ao ver a determinação nos seus olhos.

– Que tipo de condições?

– Surpreende-me que não te tenha ocorrido já – disse ele, fazendo uma careta irónica, como se estivesse a brincar ao rato e ao gato com ela, como se estivesse a gostar de tudo aquilo.

– Eu não… Não faço ideia do que estás a referir-te – gaguejou ela, esfregando as mãos, cobertas de suor.

– Eu acho que sim – disse ele. – Lembras-te daquela noite mesmo antes do teu casamento?

Gabby obrigou-se a olhar para ele nos olhos, embora sentisse como a culpa subia pela sua pele, até tingir as suas faces com um rubor difícil de ocultar. Recordava perfeitamente a noite a que se referia. Durante o tempo que o seu casamento durara, recordara-a centenas de vezes, perguntando-se várias vezes como teria sido a sua vida se tivesse dado ouvidos a Vinn.

Na tarde anterior ao seu casamento, Gabby encontrava-se na igreja, realizando o ensaio final, apesar de Tristan ter telefonado a dizer que lhe tinham marcado uma reunião de última hora e não ia poder ir. Vinn chegara apressadamente do aeroporto depois de ter estado seis meses em Itália, onde a sua mãe estava a morrer. Apoiara-se numa das colunas do fundo da igreja com a sua típica pose calma e não dissera nada.

Quando o ensaio acabou, a mãe de Gabby convidara todos os presentes para tomarem uns aperitivos na casa familiar. Gabby pedira a Deus que Vinn declinasse a oferta, contudo, hora e meia depois, saiu da casa de banho do andar superior e encontrou-o diante dela.

– Tenho de falar contigo em privado, Gabriella – dissera.