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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2006 RaeAnne Thayne

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Dançando sob a lua, n.º 6 - junho 2017

Título original: Dancing in the Moonlight

Publicada originalmente por Silhouette® Books.

Este título foi publicado originalmente em português em 2007

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Dreamstime.com

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9630-7

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

Samantha Hardcastle estava na Bourbon Street, que estava muito movimentada. Comprara umas sandálias vermelhas da Christian Louboutin que tê-la-iam deixado bem-disposta, mas que, porém, ameaçavam fazê-la cair.

Como pôde, abriu caminho por entre as pessoas até chegar a uma rua com menos movimento. Depois de ali chegar, respirou fundo várias vezes. Estava escuro e cheirava a cerveja. Via luzes e cartazes de néon de diferentes cores por todo o lado. As colunas das casas que suportavam as varandas pareciam árvores de grande porte situadas no meio de um bosque encantado.

Estava tonta e doía-lhe a cabeça, provavelmente, por se ter esquecido de comer desde… teria tomado o pequeno-almoço antes de entrar no avião?

Doía-lhe o tornozelo, por isso encostou-se a uma parede. Ao sair da sapataria, perdera-se e não conseguia encontrar o hotel. Tinha anoitecido e não conhecia aquela cidade. Estava completamente perdida.

Sentia que, desde que o seu marido morrera, já não conseguia fazer nada como devia ser. Sentia que a cada dia que passava ficava com menos energia.

– Está tudo bem consigo? – perguntou-lhe uma voz grave.

– Sim, obrigada – respondeu Sam sem se desencostar da parede.

– Não, a senhora não está nada bem – insistiu o desconhecido. – Faça o favor de entrar.

– Não, não é preciso, eu… – insistiu Sam com algum receio.

Ao sentir que um braço a agarrava pela cintura, tentou libertar-se, mas não conseguiu.

– Sente-se no bar e descanse um pouco – disse-lhe o desconhecido conduzindo-a a uma mesa onde, felizmente, não cheirava a cerveja e onde se ouvia uma música bastante agradável. – Está aí um sofá muito confortável – indicou-lhe a voz num tom autoritário mas simpático.

O bar estava decorado num estilo próprio do início do século XX, com os tectos pintados, chão de madeira encerada e cores suaves.

Sam deixou que o desconhecido a conduzisse a um sofá de couro que estava discretamente a um canto.

– Obrigada – murmurou. – Não sei o que é que me aconteceu.

– Descanse enquanto lhe vou buscar qualquer coisa para comer.

– Não se incomode…

– Não é incómodo nenhum.

Já sozinha, Sam apercebeu-se de que, realmente, precisava de comer qualquer coisa. A verdade é que, ultimamente, se esquecia de comer. Não tinha apetite.

Havia algumas pessoas sentadas nas mesas, mas, ao contrário dos que estavam lá fora, aos gritos e a rir às gargalhadas, os que estavam ali dentro falavam em voz baixa e riam de uma forma contida, sem incomodar.

Dois empregados prepararam uma mesa à frente do sofá em que estava sentada e colocaram uma toalha branca imaculada e talheres de prata.

– Aqui tem – disse o desconhecido colocando um prato à frente dela. – Gambas com arroz. Recomendação do médico.

– Obrigada – respondeu Sam erguendo o olhar. – É muito simpático da sua parte.

– Não, não o faço por simpatia – respondeu o desconhecido de olhos cor de caramelo. – É que fica muito mal uma mulher desmaiar à porta do meu restaurante. Afugenta-me a clientela.

– Sim, acredito que é muito melhor que me sinta mal cá dentro. Isso de certeza que atrai a clientela em vez de afugentá-la – respondeu Sam sorrindo timidamente.

O desconhecido sorriu com um calor que a surpreendeu. Tinha as feições esculpidas e o cabelo escuro penteado para trás. A verdade é que era lindo de morrer.

– Porque é que está a olhar assim para mim? – perguntou-lhe.

– Estou à espera que prove a comida.

– Ah – respondeu Sam pegando no garfo e provando o arroz. – Está realmente delicioso – acrescentou de forma sincera.

O desconhecido sorriu satisfeito.

– O que é que vai querer beber?

Não lho tinha perguntado como se de um empregado se tratasse, mas mais propriamente, com o tom utilizado pelos homens quando engatam nos bares.

Sam sentiu, de imediato, um arrepio a percorrer-lhe as costas. Sentia um enorme receio de voltar a ficar solteira.

– Um copo de água, por favor – respondeu com o tom próprio das senhoras ricas de Park Avenue.

O desconhecido desapareceu, Sam suspirou aliviada e começou a devorar o marisco guisado. Tinha andado o dia inteiro, a tentar localizar o homem que julgava ser o filho perdido do marido.

Tinha localizado a casa de Louis DuLac na Royal Street, mas não o tinha encontrado a ele. Tinha ido à procura dele duas vezes e à segunda a governanta fechara-lhe a porta na cara.

A cidade estava repleta de turistas porque havia um festival qualquer. Sam não tinha tido essa situação em conta quando planeou a viagem. Como tinha à sua disposição o avião privado do marido, não precisava de ir a uma agência de viagens e ninguém a tinha avisado.

Sabia que não era terça-feira de Carnaval porque isso era em Fevereiro ou Março e estavam em Outubro mas, de qualquer forma, ficou satisfeita por ainda ter à sua disposição alojamento por dez mil dólares a noite porque supunha que os hotéis estariam ocupados.

Ao ouvir abrir uma garrafa, ergueu o olhar. Pelos vistos, o senhor encantador decidira que Sam podia dar-se ao luxo de beber uma garrafa de champanhe de setecentos dólares.

Aquilo era o que dava calçar sapatos Louboutin.

– Não… – protestou.

– Oferta da casa – murmurou o desconhecido servindo-lhe um copo.

Sam ficou perplexa. Nem nos restaurantes favoritos de Tarrant ofereciam uma garrafa de Krug sem haver um pedido.

– Porquê?

– Parece-me que a senhora é linda demais para estar tão triste.

– E não lhe ocorreu pensar que talvez tenha motivos justos para estar triste?

– Sim – respondeu o desconhecido entregando-lhe um copo e sentando-se ao seu lado. – A senhora tem uma doença terminal e vai morrer? – perguntou-lhe com um ar muito sério.

– Não – respondeu Sam.

– Ainda bem – suspirou o desconhecido. – Brindemos a isso – acrescentou servindo um copo para si e erguendo-o.

Sam brindou e provou o champanhe. As caríssimas borbulhas acariciaram-lhe a língua.

– O que é que me teria dito se lhe contasse que estava a morrer?

– Tê-la-ia aconselhado a viver cada dia como se fosse o último – respondeu o desconhecido, que tinha uns olhos cor de caramelo poderosamente atraentes, – que me parece um bom conselho de qualquer das formas.

– Tem toda a razão – suspirou Sam.

Tarrant, o marido, tinha tanta paixão pela vida que vivera mais do que os médicos estavam à espera. Sam tinha jurado a si própria seguir o exemplo dele, mas, por enquanto, não lhe estava a correr muito bem.

Achou que beber champanhe era um bom começo.

– Brindo ao primeiro dia do resto das nossas vidas – propôs erguendo o copo com um sorriso.

– Que cada dia seja uma celebração – acrescentou o desconhecido olhando-a intensamente.

Sam sentiu uma sensação estranha e agradável e bebeu o champanhe.

– Está a ver o guitarrista? – perguntou-lhe o desconhecido apontando para um homem que estava a um canto. – Tem cento e um anos.

Sam olhou-o com os olhos muito abertos. Era um homem de cabelo branco que contrastava com a sua pele de ébano. Era incrível como tinha cabelo com aquela idade e o mais incrível de tudo era que estava a tocar a guitarra com muita energia.

– Sobreviveu às duas guerras mundiais, à depressão de 29, à digitalização de quase tudo e ao furacão Katrina, toca guitarra todos os dias e diz que de cada vez que o faz a sua chama interior se reacende cheia de força.

– Que inveja de ter uma paixão na vida.

– Não tem nenhuma?

– Não.

Não queria contar àquele desconhecido que estava embrenhada na missão de encontrar os filhos perdidos do marido. Até as suas amigas mais íntimas achavam que estava louca.

– Às vezes, comprar sapatos alegra-me a vida – respondeu sorrindo e olhando para os seus Louboutin novos.

Por um lado, teria preferido que o desconhecido fizesse uma cara desagradável. Assim a sensação estranha teria desaparecido, mas não fez outra coisa além de sorrir.

– O Christian é um artista – comentou – e a arte dá-nos sempre um novo alento para a vida.

– Conhece-o?

– Sim, vivi vários anos em Paris e gosto muito de lá ir.

– A verdade é que estou surpreendida por você conhecer a pessoa que desenhou os meus sapatos. A maioria dos homens não se interessa por estas coisas.

– Eu sempre gostei de coisas belas – respondeu o desconhecido olhando-a nos olhos.

Não era um olhar sexual nem sugestivo, mas a Sam pareceu-lhe que estava a dizer «como tu».

Em vez de ficar perturbada, sentiu-se desejada, o que havia muito tempo que não sentia.

– Nova Orleães é sempre assim? – perguntou afastando aquele pensamento da sua cabeça.

– Sim – respondeu o desconhecido a sorrir. – Há pessoas que vêm com tanto entusiasmo que até se esquecem de comer – acrescentou olhando para o prato de Sam, que estava quase vazio.

Sam sorriu. Era preferível pensar que estava ali de férias, ou a divertir-se. Poderia ter sido assim porque Tarrant adorava jazz e chegara até a falar várias vezes em ir a Nova Orleães para o Festival da Primavera.

– Já está outra vez triste – disse o desconhecido. – Está a precisar de dançar.

Sam olhou para a pista de dança, onde alguns casais muito elegantes estavam a dançar. De imediato, sentiu a adrenalina a apoderar-se da sua corrente sanguínea.

– Oh, não, não. Não consigo com os sapatos novos – respondeu bebendo um golinho de champanhe.

Era viúva e estava de luto embora tivesse prometido a Tarrant que nunca se iria vestir de preto. Nem tão pouco para o funeral.

– O Christian ia ficar escandalizado por saber que uma mulher usou a desculpa dos seus sapatos para não dançar.

– Então, não lho diga.

– Pode ter a certeza que lho direi… a não ser que aceite o meu convite para dançar. Parece-me que é o mínimo que pode fazer para compensar o facto de a ter resgatado da rua e a ter alimentado – disse.

Sam fez um estalido com a língua.

– Dito dessa forma, qualquer pessoa diria que sou uma sem-abrigo.

– Uma sem-abrigo com sapatos do Christian Louboutin – respondeu o desconhecido levantando-se e estendendo-lhe a mão.

Sam aceitou-a e levantou-se. Era uma mulher educada na alta sociedade e sabia como se deveria comportar. Além disso, que mal tinha uma dança? Com certeza que Tarrant preferiria vê-la a dançar do que vê-la a chorar pelos cantos.

O desconhecido fez um gesto ao guitarrista, que lhe piscou o olho e começou a interpretar outra canção. Sam sentiu a emoção a invadi-la ao pisar a pista de dança. Havia muito tempo que não dançava.

A música envolveu-os e criou um ambiente mais sensual. Sam apercebeu-se de que o seu companheiro de dança era alto e tinha os ombros largos, para além de uma boca sólida e autoritária, tal como todo o seu corpo.

O homem em questão pegou-lhe na mão e entrelaçou os seus fortes dedos com os de Sam.

– Que música é esta? – perguntou Sam sem ousar erguer o olhar porque o tinha demasiado perto.

– A mim, parece-me que é um mambo – respondeu o desconhecido.

Sam deixou que os seus pés se movessem ao ritmo do mambo, recordando as lições que anos antes tivera na escola de dança. Tentou concentrar-se nos passos, em mover-se de forma elegante e em manter a distância do companheiro, que cheirava a especiarias, como a comida que estava a comer, e a algodão.

– Gosto da sua camisa – comentou erguendo o olhar até ao seu rosto.

– Não é preciso tentar ser educada. Já percebi que é boa pessoa – respondeu o desconhecido com um brilho malandro nos olhos.

– Ah, sim? E como é que sabe?

– Para mim, é fácil saber como é que são as pessoas à primeira vista. É um dom que herdei da minha avó, que lia nas folhas do chá. O seu grande segredo era olhar as pessoas nos olhos enquanto elas olhavam para as folhas.

– E como é que isso se faz?

– Pela expressão facial consegue-se saber o que é importante para uma pessoa. As rugas e como estas configuram o rosto dizem muito acerca dela.

– Continue – comentou Samantha, que sabia que aos trinta e um anos ainda lhe faltava muito para chegar ao bloco operatório, mas também tinha consciência de que a sua beleza estava a diminuir.

– O sinal que tem no queixo indica-me que gosta de sorrir e que o faz com frequência e a inclinação dos seus olhos indica que gosta de fazer outros felizes.

– É verdade – respondeu Sam rindo nervosa. – Gosto de ver os outros felizes. Ando pela vida com o sim como bandeira.

– Mas você tem uma personalidade forte. Vejo isso pelo seu andar. Gosta de fazer bem as coisas.

Sam franziu o sobrolho e pensou naquelas palavras. Seria verdade? Se calhar andava daquela forma única exclusivamente porque tinha sido preparada para os concursos de beleza.

Era verdade que se tinha esforçado por amadurecer, por aprender com os erros dos seus casamentos falhados e tinha-se esforçado para que os últimos anos de vida de Tarrant fossem bons.

– E lá está você muito triste outra vez – concluiu o desconhecido, que se tinha ido aproximando e agora lhe estava a falar ao ouvido.

– Estou bem – respondeu Sam tentando convencer-se a si própria.

– Tem razão, você está bem – respondeu o desconhecido acariciando-lhe as costas. – Você está muito bem, mas a minha avó ter-lhe-ia aconselhado que respirasse.

– Estou a respirar – protestou Sam.

– Está a respirar de forma superficial – insistiu o companheiro de dança inclinando-se sobre ela de uma forma que Sam conseguia sentir a sua respiração no pescoço. – Respira o suficiente para se manter à tona, para ultrapassar o dia. O que tem de fazer é inspirar profundamente para ficar oxigenada da cabeça aos pés – aconselhou-a olhando-a nos olhos.

– Agora? – perguntou Sam preparando-se.

– Porquê deixar para amanhã o que se pode fazer hoje?

Tinha-o dito a sorrir. Tinha um sorriso agradável e simpático. Sam não era especialista na leitura de folhas de chá, mas também tinha jeito para saber o estado de espírito das pessoas, um mecanismo de sobrevivência que aprendera na infância para poder sobreviver na sua volátil casa.

– Vá lá, respire – indicou-lhe parando e esperando que Sam obedecesse.

Sam inspirou o ar para não atrair os olhares curiosos. Ao fazê-lo, o peito ficou inchado por debaixo do fino vestido branco, mas não aguentou muito e soltou-o rapidamente, corando.

– Boa tentativa. Outra vez – indicou-lhe o desconhecido. – Inspire o ar profundamente de maneira a que eu o sinta na ponta dos dedos – acrescentou tocando-lhe nas costas entre as costelas.

Sam olhou em redor um pouco perturbada.

– Respirar não é nenhum crime – tranquilizou-a o desconhecido. – Vamos lá, agora os dois ao mesmo tempo. Um, dois, três… – acrescentou inspirando e inchando o peito.

Sam voltou a inspirar e tentou retê-lo como ele. Quando expirou, sentia-se um pouco aflita.

– Que vergonha – comentou.