desj998.jpg

 

HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2010 Jennifer Lewis

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

A mulher adequada, n.º 998 - julho 2017

Título original: The Desert Prince

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-283-2

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

Sabê-lo-ia?

Célia Davidson respirou fundo para tentar acalmar-se. Pelas janelas dos escritórios do hotel viam-se as águas reluzentes do mar Árabe lambendo a estreita faixa de areia branca. A praia devia ser artificial, assim como os exuberantes jardins e palmeirais que rodeavam os luxuosos hotéis da costa. Com dinheiro podia conseguir-se qualquer coisa… Até mudar o passado.

A porta que tinha à sua frente abriu-se e apareceu a secretária impecavelmente vestida e penteada.

– O senhor al-Mansur recebê-la-á agora – disse-lhe, com um sorriso cortês.

Célia sacudiu o casaco, enrugado pela longa viagem desde Nova Iorque até Omã, e colocou uma madeixa dos seus cabelos loiros atrás da orelha. Era uma estupidez. Ele não a fizera vir para retomar o seu romance… Ou fizera?

De qualquer forma, ela não pretendia dar-lhe outra oportunidade para lhe partir o coração. Especialmente agora, quando havia muito mais em jogo.

O som de papéis vindo de um escritório quase a fez hesitar, mas forçou-se a ser corajosa e a entrar. As paredes brancas terminavam num tecto abobadado e duas grandes janelas ofereciam uma esplêndida vista do mar que se estendia aos seus pés. Uma secretária antiga dominava o centro da sala, com a sua grande superfície reluzente e impecavelmente ordenada, atrás da qual estava um cadeirão de couro virado para a janela, ocultando o seu ocupante.

A inquietude de Célia aumentou quando o cadeirão se virou para ela e o seu olhar se encontrou com uns olhos escuros e penetrantes. O cabelo negro e denso penteado para trás coroava um rosto de feições marcadas e aristocráticas, como aquela boca ampla e arrogante que naquele momento formava uma linha severa.

Infelizmente, continuava a ser tão atraente como ela se lembrava dele há quatro anos antes.

– Célia – levantou-se do cadeirão e avançou para ela.

Célia sentiu o sangue subir-lhe à cabeça e teve que assentar firmemente os pés no tapete para não perder o equilíbrio.

– Olá – conseguiu dizer enquanto estendia a mão para ele. Uma descarga eléctrica percorreu-a por dentro assim que os seus dedos desapareceram na enorme mão dele. Não deveria surpreendê-la, pois sempre lhe provocara aquela reacção.

O coração ainda lhe doía desde a última vez que ele a expulsara da sua vida.

Seria por isso que estava ali? Finalmente, convidara-a para o interior do seu santuário e Célia não podia recusar a oportunidade de contemplar os tesouros nunca antes vistos.

Os seus olhos observavam-na com uma expressão fria e hostil, que contrastava fortemente com a intimidade que haviam em tempos partilhado.

Célia retirou a mão, mas o formigueiro persistia na sua pele. A atracção de Salim sempre a intimidara tanto como a atraíra. O seu impecável fato feito à medida ajustava-se perfeitamente à poderosa musculatura que ela recordava ao pormenor.

– Obrigado por teres vindo – disse-lhe ele com um sorriso e com um gesto convidou-a a sentar-se. – Como já sabes, estou a trabalhar num projecto de recuperação de terras desertas e sei que és especialista nesse tipo de obras ambientais.

Célia pestanejou estupefacta. Aparentemente iam ignorar o facto de terem dormido juntos na última vez que se viram.

«Concentra-te.»

– Trabalhei em muitos projectos ambientais, efectivamente. Incluindo um jazigo petrolífero no Texas que transformámos numa pradaria. Tenho uma vasta experiência em terrenos desertos e…

– Sim, já li o teu currículo – virou-se e afastou-se uns passos dela. As suas imponentes costas estreitavam-se elegantemente até à sua esbelta cintura. Nem se dera ao trabalho de ir à apresentação de Célia na conferência. Sem dúvida tinha coisas mais importantes para fazer.

Silenciada pela brusca interrupção de Salim, percorreu o escritório com o olhar. As paredes estavam desprovidas de quadros e as estantes, de adornos. O único objecto decorativo era uma adaga com bainha de ouro pendurada na parede, e cuja função devia ser degolar os rivais e inimigos de Salim. Célia sabia como podia ser impiedoso. Cravara-lhe a adaga no coração e afastara-se sem olhar para trás.

Em duas ocasiões.

Embora, na verdade, apenas se podia culpar a si mesma por permitir que acontecesse uma segunda vez. O relacionamento que tiveram na universidade terminara muito tempo antes, mas ela dormira com ele à primeira oportunidade.

– O terreno fica no deserto – a profunda voz de Salim devolveu-a ao presente.

Salim caminhou para a janela e a sua silhueta recortou-se contra a brilhante imagem da baía.

– A tribo da minha mãe possuía a terra, que foi explorada e perfurada nos anos setenta. No final da década foi extraído todo o petróleo e desde então a terra permaneceu estéril e abandonada.

– Está contaminada? – era a pergunta que os proprietários das terras mais odiavam.

– Seguramente – respondeu ele, observando-a com olhos frios e inexpressivos, sem qualquer emoção.

Melhor assim, porque Célia já tinha emoções que chegassem pelos dois. Um terror glacial invadia-a por dentro, provocado pela horrível verdade que pendia entre eles.

«Não lhe podes contar.»

Os seus amigos pensavam que era louca por ir ali e todos lhe tinham suplicado que se mantivesse afastada e guardasse o seu segredo.

– Vou ter que te levar ao terreno – disse ele, fincando-lhe uma vez mais o olhar dos seus penetrantes olhos negros.

– Claro – respondeu ela e tirou rapidamente o seu PDA do bolso para tentar não pensar numa viagem ao deserto com Salim. – Quando é que queres sair? Sou uma pessoa muito madrugadora e…

– Agora – não era uma sugestão. Era uma ordem. Salim al-Mansur estava habituado a dar ordens e a ser obedecido de imediato.

– A esta hora da tarde? Deve estar um calor infernal – observou ela. Nem lhe ia dar tempo para desfazer as malas e mudar de roupa? Estava cansada e desorientada com o fuso horário. Ia tirá-la directamente do aeroporto, sem passar sequer pelo hotel para deixar as suas coisas.

Embora se pudesse dizer que já estava no hotel. Salim era o dono daquela luxuosa faixa costeira no sul de Omã e o seu escritório encontrava-se no mesmo complexo hoteleiro.

Os olhos negros suavizaram-se e pela primeira vez apareceu um brilho de humor na sua expressão.

– No deserto faz sempre calor… É a sua natureza.

Célia engoliu em seco.

– Desde… – obrigou-se a sorrir. – Tens razão. O melhor será encarar a situação de frente.

Assim que o disse sentiu-se empalidecer.

Salim dirigiu-se em silêncio para a porta e Célia não conseguiu livrar-se de uma aterradora suspeita.

Chamara-a porque descobrira a verdade?

 

 

Salim avançava depressa para o seu carro. A necessidade de se mover impulsionava os seus membros numa desesperada tentativa de deixar para trás os pensamentos e sensações.

Acreditava, absurdamente, que as lembranças o haviam enganado. Mas Célia Davidson era ainda mais bela do que se lembrava. Apesar do seu aspecto desalinhado depois do longo voo, a sua pele brilhava como a areia do deserto e os seus olhos azuis brilhavam como o Bahr al-Arab, o mar Árabe, debaixo do sol da tarde.

Dispensou o motorista e abriu ele mesmo a porta do passageiro para Célia, sem nunca desviar o olhar dela. O fato bege não conseguia esconder as apetecíveis curvas que ele memorizara palmo a palmo entre os seus braços.

Algumas recordações eram uma maldição para toda a eternidade.

– Aperta o cinto – ordenou-lhe. Ligou o motor e saíram do estacionamento do hotel, deixando para trás o cintilante oásis artificial para entrar no arenoso e empoeirado mundo exterior.

Célia pertencia a esse mundo e era bom que ele não o esquecesse.

Chamava-lhe a atenção que ainda continuasse a apanhar o cabelo dourado num rabo-de-cavalo, como nos tempos de estudante universitária. Nunca fora uma mulher que desse demasiada importância à imagem e embora Salim sempre tivesse gostado daquele rasgo natural e despreocupado, agora incomodava-o que fosse mais bela do que as outras mulheres que passavam o dia a embelezar-se.

– É muito longe? – perguntou ela. Mantinha o olhar fixo em frente, talvez para evitar o olhar dele.

– Isso depende das distâncias a que estejas habituada… Aqui em Omã quase tudo é longe. Alguma vez estiveste no nosso país?

– Não, esta é a primeira vez.

– Costumavas dizer que gostarias de conhecê-lo.

Ela olhou para ele, sobressaltada. Era evidente que não se esperava a menção ao passado.

– E dizia-o a sério – assegurou-lhe. O olhar acusador dos seus olhos azuis recordava-lhe que esperava bem mais dele do que recebera. – Mas isso foi há muito tempo – acrescentou, desviando o olhar com visível esforço.

– Não tinha a certeza de que aceitasses este trabalho – disse-lhe ele olhando-a de soslaio. – Na realidade, estava convencido de que o recusarias.

– Por causa do que aconteceu entre nós?

Um momento de fragilidade fizera-o dormir com ela outra vez, após passarem tantos anos sem se verem. Ficara perplexo ao vê-la num congresso, com a mesma expressão que tinha na universidade.

Quando eram jovens e inocentes.

Célia permanecera em silêncio quando ele lhe deixou claro que a sua nova aventura não tinha qualquer futuro. Parecia ter-se transformado numa mulher sensata, pelo que não podia esperar que um homem como ele continuasse um romance que nunca poderia terminar em casamento.

Voltou a olhá-la de soslaio para apreciar o seu perfil, tão elegante como sempre.

– Pensava que o irias recusar pela dificuldade deste projecto. Qualquer arquitecto paisagista rir-se-ia de mim se lho propusesse.

Quatro anos antes tinham-se encontrado num congresso hoteleiro em Nova Iorque, pelo que ele sabia que Célia se dedicava à arquitectura paisagística. Ainda assim, ficara agradavelmente surpreendido ao consultar o relatório que a sua secretária lhe conseguiu. A sua experiência e formação faziam dela a pessoa ideal para o projecto e a coincidência oferecia a Salim uma oportunidade para enfrentar o passado e deixá-lo para trás para sempre.

– Gosto de participar em projectos difíceis – respondeu ela. Parecia estar à defensiva, embora Salim não soubesse porquê. – E a localização é um desafio novo para mim.

– Calculo que viajes muito.

– Imenso. O meu trabalho concentra-se em Manhattan e eu vivo em Connecticut, mas quase todos os meses tenho que passar umas duas semanas fora.

Salim sentiu uma pontada de curiosidade. Ou seria de ciúmes?

– O teu namorado não se importa que viajes tanto?

– Não tenho namorado – num gesto nervoso colocou uma madeixa de cabelo atrás da orelha.

– Lamento – disse ele, sentindo um enorme alívio no peito.

– Porque é que lamentas? A minha vida é plena e satisfatória – murmurou, com uma expressão rígida e a olhar para a frente.

Por que motivo lamentava? Quatro anos antes dissera-lhe que não era casada. Talvez ele se sentisse culpado por lhe ter partido o coração e impedido que se apaixonasse por outros homens?

Não, não podia ser tão importante para ela.

No entanto, ele nunca a esquecera. E de facto culpava-a pelo falhanço do seu primeiro casamento, apesar de Célia se encontrar a milhares de quilómetros. O tórrido romance que mantiveram no congresso apenas servira para o enfurecer ainda mais. Como podia esperar que o seu casamento funcionasse se estava apaixonado por outra mulher?

Apagar Célia Davidson do coração e da cabeça parecia um desafio impossível, mas tinha que o fazer. O futuro da dinastia al-Mansur dependia disso.

 

 

Célia ficou boquiaberta ao ver os extensos palmeirais que rodeavam as fileiras de construções de Salalah. Onde iriam buscar água para regar aquele bosque esmeralda no meio do deserto?

– Salalah é uma terra muito fértil – explicou Salim. – Recebe mais água das chuvas do que qualquer outra região do país.

– Deve ser muito útil para ajardinar os teus hotéis. Quantos é que tens? – reprimiu um suspiro de alívio. A conversa voltara a um tema profissional.

– Doze – respondeu ele enquanto virava o carro com uma mão. Era um volante grande, forrado de couro. Salim al-Mansur poderia comprar um punhado de pequenos países com o dinheiro que levava na carteira.

– Deves ter gasto uma fortuna em palmeiras…

Os lábios de Salim curvaram-se ligeiramente, mas Célia não percebeu se era um sorriso ou um esgar.

– E comprarei umas quantas mais, se tudo correr bem.

Deixaram para trás a exuberante vegetação e saíram para a paisagem desolada, nua e estéril que se estendia perante eles. Célia não conseguia convencer os seus clientes de que certas regiões eram secas por natureza. Eles preferiam instalar milhares de aspersores para transformar uma terra desértica num paraíso artificial.

De repente viu algo que a fez olhar duas vezes. Seria uma miragem ou estava a contemplar uma corrente montanhosa?

– As Montanhas Nubladas – disse Salim, que devia ter adivinhado a sua expressão de assombro.

– Céus – foi todo o que conseguiu dizer.

Um banco de nuvens flutuava em volta dos penhascos, tão verdes e arborizados como se estivessem em Vermont. Parecia uma ilustração de um conto de fadas.

Célia engoliu em seco. Estivera tão obcecada com a sua angústia pessoal por aquela viagem que não se preocupara em pesquisar a região. Salim dissera-lhe sempre que o seu país estava cheio de surpresas e houve um tempo em que Célia acreditou que as descobririam juntos. Mas não daquela maneira.

Parecia-lhe muito estranho estar sentada a escassos centímetros dele depois de tudo o que haviam partilhado. A sua intensa presença era-lhe demasiado familiar, e o seu cheiro, único, quente e viril, evocava-lhe as imagens do passado. Tinham partilhado dois anos das suas vidas. Dois anos de intimidades, alegrias e paixões selvagens.

A lembrança fez com que lhe ardessem as maçãs do rosto. Célia acreditara sempre que passaria o resto da sua vida com ele até que Salim acabou com os seus sonhos da maneira mais horrível que se pudesse imaginar.

Subiram pelas frondosas montanhas em silêncio e voltaram a descer até à planície desértica que se perdia na distância, apenas interrompida por alguma construção isolada. Enquanto avançavam por aquela aridez, Célia surpreendeu-se a si mesma esperando que acontecesse algo maravilhoso, como outro palmeiral ou outra serrania surgindo da neblina que se desvanecia no horizonte.

Talvez estivesse ali por isso? Para confiar nalgum milagre?

Salim desviou o veículo da estrada e entrou por um caminho para oeste que se perdia no nada. Ao fim de uns minutos, estacionou junto a um alpendre metálico cujo telhado caíra e saiu em silêncio do carro. Abriu a porta a Célia que saiu para a terra arenosa e queimada pelo sol.

– É aqui? – perguntou ela, absolutamente confusa e incrédula.

A expressão de Salim tornou-se sombria.

– Há muito tempo foi um local muito belo.

Custava a crer. Junto deles estava um velho todo-o-terreno capotado, sem rodas nem bancos. Havia estranhos objectos empilhados por todo o lado com pneus por cima.

– São saídas de poços – explicou Salim. – Há um velho oleoduto que chega até à costa, mas pode ser desinstalado, pois aqui já não há petróleo.

Avançou por entre a sucata e os detritos. O seu elegante fato escuro parecia quase cómico no meio de tantos escombros.

– Pensas construir um hotel neste local? – perguntou-lhe Célia enquanto tentava lamber elegantemente o suor do lábio. Seria alguma brincadeira?

– Por aqui – indicou-lhe ele. A terra amontoava-se aqui e ali em pequenos montículos. Célia seguiu-o até um desses montículos e surpreendeu-se ao ver sinais de actividade à volta do mesmo. Os montes de terra indicavam uma escavação recente. Espreitou para um buraco, largo e pouco profundo e viu uma grande pedra lavrada cujas bordas gravadas em baixo-relevo contrastavam fortemente com o solo arenoso.

– Silhares? De onde é que saíram?

– Há um complexo de edifícios por baixo desta terra. Talvez mesmo uma cidade inteira – a voz áspera e resmungona de Salim não conseguia ocultar o seu entusiasmo.