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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Jennifer Lewis

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Amor tórrido, n.º 818 - Julho 2016

Título original: Seduced for the Inheritance

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2008

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas

registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-8568-4

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

– O que faz aqui? – uma voz de trovão e um par de olhos pretos fulminaram-na desde a porta da cozinha.

Era ele.

Sabia que iria ver Reynaldo León mais tarde ou mais cedo. Afinal de contas, aquela quinta era sua. Mas queria estar arranjada, não de calças de ganga, coberta de suor e despenteada depois de passar o dia a remexer nos pertences da sua mãe.

Anna Marcus apertou o pacote de fast-food que levava nas mãos e ele olhou-a da sua impressionante altura, com as sobrancelhas arqueadas.

– Veio limpar?

Parecia um gigante naquela cozinha diminuta, com a lâmpada sem protecção a iluminar-lhe as feições arrogantes e a ampla e sensual boca numa expressão de desdém.

– Se lhe pagam à hora, dar-lhe-ei o dinheiro que corresponde a esta noite. Mas deve dizer ao seu chefe que me contacte antes de tirar alguma coisa daqui.

Achava que tinha ido limpar? Não a estaria a reconhecer?

De repente, toda aquela situação lhe pareceu insuportável. A sua mãe morrera, repentinamente, aos quarenta e oito anos. Um telefonema a horas impróprias para a informar sobre um acidente na estrada da Florida...

– E então? – Reynaldo cruzou os braços.

Os olhos de Anna encheram-se de lágrimas. «Não chores agora». No último ano tinha sobrevivido a uma falência e a um divórcio. E agora a perda da pessoa de quem ela mais gostava no mundo. Tinha chegado ali e...

– Não fala a minha língua? – Naldo León arqueou uma sobrancelha.

– Claro que falo. – respondeu ela.

– Está a escorrer um líquido do pacote.

– O quê? – Anna olhou para o pacote de papel. – Ah, é o meu jantar.

A dura expressão do homem suavizou-se um pouco.

– Então, coma-o – disse, apontando para a mesa com tampo de formica. – Não faz sentido desperdiçar a comida.

Talvez não fosse preciso dizer-lhe a verdade. Deixá-lo pensar que era uma rapariga da limpeza. O que é que isso importava? Nem ele nem o seu poderoso pai, Robert León, se tinham dado ao trabalho de ir ao enterro da sua mãe, apesar de Letty Marcus ter vivido na sua quinta e cozinhado para eles durante quinze anos. Trabalhadoras como a sua mãe e ela não eram ninguém para aquele tipo de gente.

Sim, ela tinha um curso superior, e até tivera uma imobiliária durante algum tempo. Mas, naquele momento, a sua conta estava com saldo negativo e não tinha casa, de modo que...

Enquanto tirava um prato do armário e se sentava à mesa, apercebeu-se que Naldo tinha os olhos cravados nela. Uns olhos que tinham marcado os seus sonhos de adolescente e a tinham feito criar esperanças absurdas de que algum dia...

A amasse?

Tonta. Anna tirou o hambúrguer do pacote e colocou-o no prato. Mas o imperioso olhar do homem provocou-lhe um aperto no estômago.

– Vai ficar aí especado?

– Claro. Não posso deixar uma estranha sozinha numa propriedade da minha família. Calculo que compreenderá.

Uma estranha? Anna não sabia se havia de rir ou chorar.

Era apenas mais um ser insignificante naquela enorme quinta. Ninguém especial. Era óbvio que não tinha voltado a pensar nela desde a última vez que se viram no corte de ténis.

Mas ela sim, tinha pensado nele. Mais do que gostaria de admitir.

Deixando o hambúrguer sobre o prato, Anna levantou-se, com as pernas trémulas.

– Tenho de ir.

Naldo tirou uma nota de vinte dólares do bolso e deu-lha.

– Pode voltar amanhã.

«Depois de encontrar o que vim à procura.»

– Não quero o seu dinheiro. Fiquei sem fome. Pode comer o hambúrguer, se quiser.

Naldo dissimulou um sorriso ao pensar naquela coisa gordurosa, quando tinha um jantar de lagosta à sua espera em casa.

Apesar de, naquela noite, estar sem apetite.

Não, o que tinha realmente que fazer era encontrar o que procurava. Naquela mesma noite. Além disso, a casa até era pequena...

Naldo arrancou uma folha de um caderno que encontrou ao lado do frigorífico e anotou o seu número de telefone.

– Ligue-me amanhã a dizer a que horas pensa vir.

Ao pegar no papel, os seus dedos tocaram-se, despertando nele uma estranha sensação. Os seus olhos encontraram-se, os dela eram grandes e azuis e... de repente, Naldo reconheceu-a.

– Anna!

Ela levantou a cabeça.

Ele olhou para ela durante uns segundos, incrédulo. Como podia aquela rapariga magra e tímida ser a alegre e atrevida miúda que ele conhecera em tempos?

– Passou muito tempo.

– Parece que sim – murmurou Anna, apertando os lábios.

– Estás tão diferente... – disse Naldo, sem pensar.

– É o efeito do tempo sobre as pessoas. Bom, sobre algumas pessoas. Tu continuas o mesmo de sempre.

– Estás tão magra...

– É a moda.

– Mas o teu cabelo... dantes era ruivo.

– Ainda é. Mas agora pinto-o.

– Pintas o cabelo?

Parecia-lhe inconcebível que a dura e enérgica Anna Marcus, a miúda que subia às árvores e andava à luta com todos os rapazes da quinta, fizesse algo tão feminino.

– Não me olhes com essa cara. A maioria das mulheres pintam o cabelo.

– Mas tu nunca foste como a maioria das mulheres.

– E quem te diz que agora sou? – desafiou ela.

A antiga chama continuava lá, mas de uma forma diferente. E isso despertou em Naldo algo mais que curiosidade.

– Ouvi dizer que a vida te tem corrido muito bem.

A sua mãe, orgulhosa, tinha-o informado sobre os sucessos de Anna: o curso numa boa universidade, o trabalho numa das imobiliárias mais importantes do estado...

Um marido.

– Tudo é relativo – disse ela. – No que diz respeito ao sucesso.

– Sim, claro.

– Disseram-me que agora vocês dedicam-se à venda de produtos artesanais – continuou Anna, pausadamente.

– Sim, fazemos sumos e molhos para saladas à base de citrinos. Vendem-se muito bem.

– Sim, claro, tenho certeza que o império León continuará a ser um sucesso durante mais cem anos.

 

 

Felizmente, tinha conseguido mudar de assunto. Anna começou a ficar assustada quando Reynaldo começou a falar de como a vida lhe corria bem. O fugaz sucesso que tinha tido na vida transformara-se em pó. Um pó muito semelhante ao que cobria os seus calções e sua t-shirt desbotada. Por que tinha que a ter visto com aquele aspecto? Tão cansada, tão magra. Nem a tinha reconhecido. Anna ficou com o coração apertado de vergonha.

– Ficámos todos muito tristes com a morte da tua mãe – disse, então, Reynaldo. E a compaixão que havia na sua voz de veludo quase a fez esquecer que não se tinha dado ao trabalho de aparecer no enterro.

Anna continuava sem acreditar que a sua mãe tivesse partido, que nunca voltaria a abraçá-la, que nunca voltaria a ter o seu carinho.

– Eu também – murmurou.

– O meu pai morreu esta manhã – disse Naldo.

– O quê?

Robert León era uma força da natureza, um homem alto, forte, quase indestrutível como as laranjeiras e os limoeiros que cultivava nos seus terrenos.

– Um enfarte do miocárdio. Durou três dias, mas os médicos disseram que não podiam fazer nada.

– Oh, Naldo, lamento imenso – Anna levou uma mão à boca, emocionada. O desejo de abraçá-lo era quase mais poderoso do que ela.

«Nem penses.»

Ela sempre desejara Naldo León. Desejara que ele lhe tocasse, desejara a sua admiração, o seu amor. Mas sabia que nunca os teria.

– Agora a propriedade é tua.

– Sim.

– Uma propriedade que tem quase quatrocentos anos. Tenho a certeza que o teu pai iria sentir-se bastante orgulhoso de ti.

Naldo não disse nada. Com a arrogância dos conquistadores de que ele próprio descendia, ficou, simplesmente, a olhar para ela.

Anna procurou algo para dizer, mas não sabia...

«Não chores.» «Não chores à frente dele.»

Tinha que sair dali. Tinha demorado dois dias a ganhar coragem para ir à casa, mas, aparentemente, continuava a ser uma cobarde.

– Calculo que agora entregarás a casa a outro empregado, portanto voltarei amanhã para terminar de guardar as coisas da minha mãe – disse, nervosa. – Bom, tenho de ir embora – Anna apercebeu-se de que tinha amachucado a folha de papel que tinha na mão.

Nunca lhe iria telefonar. A sua relação tinha sido sempre uma relação... casual: «Queres jogar à canasta?» «Que tal uma partida de ténis?». Nada de planos, nada de combinações para se encontrarem. Tinham sido colegas, mas nunca amigos.

Anna deixou o papel sobre a bancada e, depois de deitar o hambúrguer para o lixo, dirigiu-se para a porta.

A presença de Naldo ali deixava claro que a casa na qual a sua mãe tinha vivido durante quinze anos era propriedade sua.

– Amanhã podes demorar o tempo que quiseres.

– Está bem.

Anna parou por um momento. Para quê? Estaria à espera de um convite para jantar, para sair?

«Não sejas parva, miúda.»

O silêncio de Naldo sugeria que estava à espera que ela se fosse embora, pelo que se dirigiu para a velha carrinha que tinha sobrevivido, milagrosamente, à viagem desde Boston.

As lágrimas nublaram-lhe a visão enquanto se dirigia para a entrada da propriedade. Quantas vezes teria que fazer aquele mesmo caminho? Uma? Duas? Agora que a sua mãe tinha morrido, não tinha nem casa nem ninguém à sua espera nalgum lugar. Mas ela era dura, de modo que seguiria em frente e iria fazer com que a sua mãe se sentisse orgulhosa da sua filha.

 

 

Dois dias depois, o ar condicionado do escritório da família León fazia com que Anna tremesse de frio. Um velho relógio de nogueira marcava as quatro. Havia gente a falar em voz baixa, à espera que começasse a leitura do testamento. Também Anna tinha recebido um telefonema de um advogado, na residencial onde estava alojada, pedindo-lhe que comparecesse à leitura do testamento de Robert León. Os León mantinham o velho costume de deixar uma pequena quantia de dinheiro aos empregados, o que incluía a sua mãe.

Mas não a convidaram para o funeral, que se realizara nessa mesma manhã, na propriedade.

Havia uma grande diferença entre os empregados, reunidos para a ocasião com a sua roupa de trabalho, e os elegantes membros e amigos da família. Naldo estava entre eles, muito elegante com um fato preto e o cabelo escuro, ondulado, penteado para atrás, revelando as suas feições masculinas. Se reparou nela, não o mostrou. Anna estava só a um canto, olhando pela janela os mil acres dos melhores pomares de citrinos do país.

Naquele dia, estava vestida com um fato e saltos altos. Com colares, maquilhagem e o cabelo apanhado, esperava ter o aspecto da mulher sobre a qual a sua mãe falava com orgulho aos seus companheiros de trabalho.

– Senhoras e senhores, façam o favor de se sentar – um jovem de fato indicou as quatro filas de cadeiras antigas que, lembrou-se Anna, costumavam estar na sala de jantar. Ela conhecia bem a casa, pelo menos as zonas sociais, apesar de ter passado a maioria do tempo na cozinha enquanto a sua mãe preparava as refeições para os León.

O advogado começou a ler, mas Anna não lhe deu muita atenção. A família León era famosa por não vender nem um pedaço de terra, por isso a propriedade tinha permanecido intacta durante séculos. A quinta, O Paraíso, era para o filho mais velho, Reynaldo, e também as acções noutras empresas. A sua irmã receberia uma renda anual mais do que generosa. Como tinha mais dez anos que ela e vivia na Europa, Anna não a conhecia e nem sequer saberia dizer quem era.

Anna mexeu-se na cadeira, incomodada. Dois mil e dez mil dólares pareciam ser as quantias atribuídas aos empregados, dependendo do tempo que ali tivessem trabalhado. Imaginava que à sua mãe lhe teria deixado dez mil, já que trabalhara ali durante quinze anos. E que falta lhe fazia esse dinheiro! A sua mãe havia deixado as suas economias a uma associação de apoio a mães solteiras... A pobre não iria imaginar que, depois de pagar o hotel onde estava alojada, não lhe sobrariam mais do que uma meia dúzia de dólares.

– A Letícia Marcus, estimada empregada e queridíssima amiga... – Anna levantou-se, nervosa – deixo-lhe a casa onde reside e a parcela de terreno na qual está situada, como marcado na planta. E a ela deixo também o livro de receitas que fizemos juntos.

O advogado continuou a falar e Anna olhou para ele, perplexa.

Não lhe tinha deixado dez mil dólares?

– Como é que disse?

Anna olhou para o homem que acabava de se levantar. Era Naldo. E parecia furioso.

– Senhor León, posso falar com o senhor um momento? – um dos advogados, um homem alto, indicou-lhe que o seguisse até ao corredor. Naldo acompanhou-o com uma expressão irada, deixando um murmúrio de comentários atrás de si.

Depois todos se voltaram para Anna. «A filha» ouviu alguém dizer. Ela engoliu em seco, tentando manter a cabeça erguida.

Por que Robert León teria deixado à sua mãe uma herança diferente da do resto dos empregados?

 

 

– Não pode ser verdade – Naldo andava de um lado para o outro no corredor, furioso. – O meu pai jamais aprovaria isto.

– Foi o seu expresso desejo, senhor León. Eu tentei convencê-lo para que não o fizesse. Tentei explicar-lhe que a integridade da fazenda...

– A integridade da fazenda? Este testamento é uma anedota. A propriedade dos León não alterou as suas fronteiras desde que os meus antepassados aqui chegaram em 1583. E agora está a dizer-me que o meu pai queria que se abdicasse de um acre no meio da propriedade? Porque não lhe deixou também um dos meus rins? É inacreditável – Naldo mostrou a sua revolta com um murro na maçaneta da porta. O pobre advogado quase deixou cair os óculos.

– Lamento imenso, senhor León, mas temo que esta tenha sido a decisão do seu pai. Calculo que compreenderá as exigências de confidencialidade, mas talvez o senhor conheça as circunstâncias...

– Sim, conheço bem as circunstâncias.

«A aventura do meu pai com Letícia Marcus.» Uma aventura que durara dez anos, uma afronta à memória da sua mãe.

Naldo passou uma mão pelo cabelo.

– Não é possível fazer nada? Os nossos antepassados não quereriam que isto acontecesse.

– Imagino que estejam a dar voltas no jazigo familiar, senhor León – o sorriso do advogado só conseguiu aumentar a sua irritação. – Sugiro que fale com a filha. Suspeito que se lhe oferecer uma quantia interessante em dinheiro...

– Venderá.

 

 

Enquanto os advogados reuniam os seus papéis e as pessoas que tinham sido convocadas se levantavam, Naldo observava o elegante perfil de Anna, que naquele dia estava mais em evidência por ter o cabelo apanhado. Uma maquilhagem bem aplicada realçava a simetria das suas feições. A menina de cabelo ruivo e sardas no nariz tinha-se transformado numa mulher vistosa.

Uma mulher com a qual não se importaria nada de passar uns bons momentos.

– Queres jantar comigo?

– Desculpa? – exclamou Anna, perplexa.

– A cozinheira prometeu que iria fazer linguados com xerez, exactamente como eu gosto.

Como gostava dos seus lábios.

– Já têm uma nova cozinheira?

– Sim. Não é tão boa como a tua mãe, claro... – mencionar a cozinheira talvez tivesse sido um erro. – Mas fazia-nos muita falta.

– Imagino que sim.

Ter-lhe-ia incomodado o facto de mencionar a cozinheira?

Naldo pegou-lhe na mão. Pálida e suave, com as unhas curtas, mas muito feminina. Com os seus longos e finos dedos escondidos dentro da sua mão, voltou a experimentar aquela sensação que tinha tido na casa.

Depois levou-a aos lábios. A ausência de um perfume caro e sofisticado, como tinha esperado, só conseguiu aumentar o seu interesse.

– Janta comigo, Anna. O meu pai partiu e eu...

Precisava que dissesse que sim. E não só porque a ideia de jantar sozinho o angustiava. Tinha um problema para resolver e, de repente, imaginava umas quantas formas deliciosas de o fazer.