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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2008 Jennifer Lewis

© 2016 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Espiral de desejo, n.º 840 - Agosto 2016

Título original: Black Sheep Billionaire

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2008

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-8587-5

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Epílogo

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Capítulo Um

 

– Enlouqueceste? – disse uma profunda voz masculina ecoando nos altos muros de pedra da velha casa.

Lily Wharton voltou a cabeça e assim que viu aquele rosto atraente e severo, reconheceu Declan Gates.

Conteve o riso. Devia ter imaginado que Declan não faria cerimónia.

– Estou a podar as roseiras. Como podes ver, estão um pouco descuidadas – disse ela apontando para os arbustos à sua volta.

Estivera tão absorta enquanto tratava das roseiras que nem ouvira o carro chegar.

– Isso não explica o que estás aqui a fazer, no jardim da minha casa.

O seu olhar agressivo fê-la estremecer.

Os seus maxilares proeminentes, o seu nariz altivo e as suas maçãs do rosto elevadas pouco tinham mudado em dez anos, mas aquele novo Declan vestia fato e usava o cabelo penteado para trás. Sob aquela roupa, adivinhavam-se os seus ombros largos e o seu peito forte.

Uma intensa excitação cresceu no seu peito. Ele estava de volta.

– Há meses que estou a tentar entrar em contacto contigo. Lamento muito pela morte da tua mãe.

Ele arqueou uma sobrancelha escura.

Lily corou ao perceber que a apanhara numa mentira. A cidade de Blackrock, no Maine, ficara aliviada com a morte daquela bruxa.

– Nem sei quantas mensagens te deixei. No teu escritório disseram-me que estavas na Ásia, mas não me ligaste de volta. Não conseguia suportar ver a casa vazia e abandonada.

– Ah, sim. Já me esquecia que foi em tempos o solar da tua família.

Os olhos dele reluziram ao Sol, trazendo uma onda de recordações. Lily lutara durante todos aqueles anos para não cair no seu feitiço, quando o ódio entre as suas famílias transformara a amizade num crime.

Todos os seus sonhos e o futuro de Blackrock dependiam da boa vontade daquele homem. Confiava no seu inato sentido da honra e na sua capacidade de distinguir o bem do mal. Mas Declan Gates nunca fora uma pessoa bondosa.

Recordou o rugido do motor da sua mota quando passeava nela. O som ressoava por toda a cidade e ecoava nos penhascos, fazendo com que as pessoas o maldissessem a ele e à sua família.

Mas ele não se importava. Não se preocupava com coisas tão convencionais como a propriedade ou os sentimentos dos outros.

A última vez que o vira, dez anos antes, atravessara como um raio o caminho de entrada da sua casa para bater à sua porta. Ela tentara livrar-se dele rapidamente, antes que a sua mãe chegasse. Tinha ido lá para lhe dizer que se ia embora de Blackrock e que nunca mais voltaria. E durante dez anos cumprira a sua palavra.

Mas agora precisava de uma coisa dele.

Ele reparou na sua camisa comprida às riscas e nas calças sujas que levava.

– Não mudaste nada, Lily.

Pela forma como o dissera, Lily não estava certa se seria um elogio ou um insulto.

– Tu também não – disse ela engolindo em seco.

– Aí é que tu te enganas.

Lily apertou as tesouras de podar ao ouvir as suas palavras. Dez anos eram muito tempo.

Uma coisa não tinha mudado. Os seus olhos pareciam continuar a ser capazes de ler os seus pensamentos.

Respirou fundo.

– Esta casa foi construída sobre a rocha há mais de duzentos anos com ferramentas simples e muito suor. Como está no alto da escarpa, pode ser vista de qualquer lugar. É a imagem da cidade. Não está certo deixar que se transforme numa ruína.

Ele ficou a olhar para os largos muros de pedra.

– Esta casa estava negra. Como conseguiste limpá-la?

A sua voz transmitia uma curiosidade sincera.

– Mandei limpar a fuligem que a chaminé de carvão da fábrica emitiu durante décadas.

Ele voltou-se para olhar para ela.

– Talvez penses que é teu dever limpar os pecados do passado?

– Ter-te-ia pedido permissão se me tivesses atendido as chamadas. Blackrock está em ruínas, Declan. Pensei que se as pessoas vissem a casa limpa, perceberiam que é possível começar do zero – disse ela e, depois de hesitar uns segundos, respirou fundo e continuou: – Quero restaurar a casa e viver nela. Também quero comprar a velha fábrica.

– Não estão à venda.

– Porquê? Já não há nada para ti em Blackrock. A velha fábrica está fechada há mais de uma década, não tens família aqui, és bem sucedido e tens a tua própria vida...

Declan riu-se.

– O que sabes tu da minha vida?

Ela pestanejou, incapaz de responder. Certamente não conhecia aquele estranho que tão pouco se parecia com o Declan sério e atento que de que se lembrava.

– Agora que a minha mãe morreu, pretendes que a elegante e antiga saga dos Wharton retorne à sua casa para assim voltar a transformar-se na família mais importante de Blackrock?

Aquela acusação fê-la endireitar os ombros, mas não estava disposta a que velhos rancores arruinassem o futuro de Blackrock.

– Agora tenho a minha própria empresa de tecidos e papéis estampados. A fábrica é o lugar perfeito para fazer os tecidos artesanais. Quero dar emprego aos habitantes de Blackrock.

– Temo que isso não seja possível.

– Porquê? O que é que pretendes fazer com isto?

– Isso é assunto meu – disse, sem que o seu rosto transmitisse qualquer emoção.

A fúria e o desespero confundiram-se ao ver como rejeitava todos os seus sonhos e esperanças.

– Assunto teu? Pelo que tenho lido, és um abutre capitalista, compras as coisas para depois as destruíres. É isso que pretendes fazer à casa e a Blackrock?

Ele arqueou uma sobrancelha.

– Vejo que te informaste sobre mim, portanto saberás que a casa é minha e que posso fazer com ela o que bem entender. A minha família comprou-a à tua.

– Tirou-a à minha – corrigiu-o. – Depois do meu bisavô ter ficado arruinado na queda da Bolsa de 1929 e de se ter suicidado, a sua viúva estava desesperada.

Ouvira aquela história desde o berço.

– E tenho a certeza que lhe fez muito bem todo o dinheiro que recebeu por este casarão.

– Dinheiro que a tua família ganhou no mercado negro, a vender armas e álcool.

Declan nem se mexeu.

– E com o ferro-velho. Por algum motivo chamavam ao meu bisavô o sucateiro Gates. Costumava viajar pelo país a vender sucata antes de se estabelecer em Blackrock – disse com um olhar divertido. – Nós, os Gates, não nascemos em berço de ouro, mas sabemos ganhar a vida e isso é que importa – acrescentou, cruzando os braços.

– Não, as pessoas são o mais importante. A felicidade é que conta.

– Ah, sim? – disse, sorrindo. – Então, por que é que precisas da casa para seres feliz?

– Porque é uma belíssima casa antiga que vale a pena conservar.

– Como é que sabes? Nunca entraste, nem sequer quando éramos crianças.

Ela encolheu-se. Tinha razão.

– Nunca me convidaste.

O seu protesto soou a falso. Ambos sabiam que nunca teria entrado. A sua mãe teria ficado furiosa se soubesse que eram amigos.

– Estiveste lá dentro agora?

O seu olhar semicerrado parecia estar a acusá-la.

– Não – respondeu com sinceridade. – A porta está fechada e não tenho a chave.

Ele riu-se.

– Sempre foste muito sincera, Lily – disse ele e a sua expressão voltou a ficar dura.

– Amo esta cidade, Declan. Passei aqui a maior parte da minha vida e queria continuar a viver aqui. Desde que a tua mãe fechou a fábrica há dez anos, não tem havido trabalho e...

Declan levantou a mão.

– Espera um momento. Estás a dizer que lamentas que a minha mãe tivesse fechado a fábrica? Lembro-me bem que lideraste um protesto contra a fábrica porque contaminava o ar e a água, estragando a qualidade de vida da cidade.

Ela engoliu em seco.

– Deve ter sido difícil para ti quando as pessoas protestaram contra a fábrica que era da tua família.

Declan riu-se entre dentes. Foi um som frio e metálico, diferente dos risos sinceros de que se lembrava.

– Lembras-te de um cartaz que dizia que as emissões de sulfureto faziam com que a cidade cheirasse como o Inferno e aparecia uma foto minha como se eu fosse o Diabo – disse e, fazendo uma pausa para a olhar nos olhos, acrescentou: – Desde então, fiz o possível para estar à altura.

Lily sentiu a cara a arder. Não se lembrava do cartaz, mas naquele tempo era jovem e cruel, cheia de ideais e energia.

– Aprendi muito desde aquela época.

– E agora a bondosa rainha Lily vai salvar a cidade?

– Será algo bom para todos. Poderei viver aqui e dirigir o negócio a partir da cidade que tanto amo, ao mesmo tempo que crio postos de trabalho.

– Uma fábrica de papéis estampados não usa o mesmo equipamento que a velha fábrica tem.

– Formarei os trabalhadores. Penso manter o velho edifício de tijolo e reconstruir o interior, irei desfazer-me da caldeira de carvão que tanto suja a cidade.

– Que pena. A capa de fuligem que cobre a cidade é estupenda. A velha cidade de Blackrock não voltará a ser a mesma – disse indicando a parte traseira da casa, que dava para o roseiral.

A brilhante fachada de pedra resplandeceu debaixo da suave luz do Sol da tarde. A casa tinha três pisos e era um bom exemplar de arquitectura clássica georgiana. Simples e despretensiosa, encaixava perfeitamente no meio.

Foi invadida por uma forte emoção ao contemplar a casa restaurada.

– Está bonita, não está? Toda a cidade veio ajudar.

Sentiu um orgulho enorme ao recordar aquele dia tão incrível. Quando as pessoas viram o que estava a fazer, homens que não trabalhavam há anos aproximaram-se para a ajudar. As mulheres levaram sanduíches e limonada, e no final da tarde fizeram uma festa no enorme terraço, no qual brindaram com cervejas pelo futuro da cidade.

Naquela tarde todos partilharam um sonho, confiando num novo futuro para Blackrock.

– Devias ter visto, Declan. Foi muito importante para eles ver que a velha casa voltava a ganhar vida.

– Queres dizer: fazer desaparecer qualquer sinal da família Gates, que tanto odeias.

A sua voz pareceu calma, mas Lily viu algo estranho na sua expressão, um vislumbre de dor.

Um sentimento de culpa surgiu dentro dela. Culpa pela forma como traíra a sua amizade. Como o traíra a ele.

– Queres tanto voltar a ter esta casa que te esqueceste da sua maldição. Todas aquelas histórias de que fala o povo são verdadeiras.

– Oh, tolices – disse ela sustendo um arrepio.

A casa mantinha um aspecto imponente e intimidador. Era fácil imaginar uma princesa e um pirata de barba negra a vaguear por um daqueles quartos.

– Não acredito nessas superstições parvas, mas mesmo que a maldição seja verdade, só afecta a tua família, não a casa.

– Ah, claro. Essa antiga maldição faz com que os homens Gates se tornem malvados.

– Como se precisassem de ajuda para isso – disse Lily a brincar, mas ao ver que o seu rosto ficava sério, engoliu em seco antes de continuar. – Lamento o que aconteceu aos teus irmãos.

Subitamente, sentiu frio. Não sabia exactamente o que acontecera aos irmãos de Declan, mas tinham morrido antes dos vinte e cinco anos.

– Sim – disse ele olhando para o mar, com o perfil recortado contra o céu azul.

O seu encanto diabólico exaltava a perigosa reputação que tivera desde adolescente e os anos não tinham feito nada por o atenuar. Talvez estivesse mesmo mais belo que nunca.

– Não te esqueças do meu pai, morto num estranho acidente de caça – disse observando-a com o seu olhar gélido. – Devo ser a ovelha negra da família, porque quebrei a tradição pelo simples facto de estar aqui. Sou um sobrevivente – e com a tensão reflectida no rosto, acrescentou: – Não te livrarás de mim. Ninguém consegue, nem sequer a encantadora Lily Wharton.

A encantadora Lily. Sentiu um beliscão de nostalgia ao ouvir a expressão com a qual costumava referir-se a ela. «Minha encantadora Lily».

Isso era quando estavam juntos, sozinhos no alto da escarpa, estendidos na erva a olhar para as nuvens. Ou a correr na floresta, a rir e a perseguirem-se um ou outro.

Lily mordeu o lábio perante aquela estranha mistura de emoções. Tinham sido tão unidos...

– És tudo para mim, Lily – dissera-lhe várias vezes, com uma expressão demasiado séria para um rapaz tão jovem.

Engoliu em seco e apanhou as luvas de podar por entre os espinhos. Ao fazê-lo, arranhou o braço e formou-se uma gota de sangue.

– Magoaste-te? – perguntou Declan franzindo a testa.

Estendeu a mão para Lily, mas ela deu um salto como se fosse mordê-la.

– Ainda tens medo de mim? – perguntou ele suavizando a sua expressão.

Ela ficou em silêncio, esfregando o pulso.

– Ou tens medo do que sentes por mim? Parecem-te sentimentos demasiado primitivos para uma Wharton? – acrescentou, observando-a com os olhos semicerrados.

Lily evitou dar um passo atrás para os arbustos.

Declan marcara-a muito. Graças a ele, a sua juventude transformara-se numa aventura que ainda estava viva nas suas recordações.

Ele vivera sempre a vida com mais intensidade do que os outros. Fizera sempre coisas diferentes como procurar coiotes nas florestas, nadar em águas proibidas, escalar paredes rochosas... Mas a infância não era eterna.

– É disto que tens medo, Lily? – perguntou apontando para os ameaçadores espinhos dos ramos que cobriam as paredes. – Tens medo que, se não cortares os teus sentimentos pela raiz, acabes por perder o controlo?

Lily mordeu a língua para evitar que os seus pensamentos entrassem em terrenos proibidos.

– Estas rosas precisam de uma boa poda – acrescentou Declan acariciando um espinho. – Se não, irão transformar-se num emaranhado e não florescerão. Mas as rosas selvagens são diferentes. Dão-se bem em condições que a maioria das plantas não suportariam. Não lhes incomoda o frio, o vento ou a maresia. Estão aí a crescer, independentemente de alguém cuidar delas ou não.

Declan deu um passo em direcção a ela, encurralando-a. A brisa marinha levou até ela a sua essência masculina.

– Talvez tu sejas uma rosa selvagem, Lily – disse inclinando a cabeça e olhando-a nos olhos. – Talvez fosse melhor não esconderes os teus sentimentos – acrescentou, estendendo uma mão como se se tratasse de uma oferta, um desafio.

 

 

Declan não esperava que ela lhe pegasse na mão, por isso foi invadido por uma estranha sensação de esperança ao vê-la baixar aqueles grandes e profundos olhos para a sua palma da mão estendida. Passara muito tempo desde que perdera o interesse por ele. Então, era apenas uma criança seguindo as ordens dos seus pais. Agora era uma mulher, forte e intrigante.

Continuava a ter a mesma pele suave, os mesmos traços aristocráticos e um olhar quente e ao mesmo tempo agressivo.

– Agradecia-te que guardasses as tuas opiniões para ti, Declan Gates – disse, voltando a olhá-lo nos olhos. – Os meus sentimentos não são da tua conta – acrescentou corando.

As suas palavras secas incomodaram-no, mas mostrou-se indiferente ao afastar a mão.

– Não, calculo que não são. E agradecia-te que deixasses em paz a minha propriedade.

Era fácil mostrar-se frio quando todo o sentimento fora apagado pelas pessoas que amava. Incluindo a princesa do gelo que tinha frente a ele.

Lily engoliu em seco e colocou uma madeixa de cabelo atrás da orelha. Ele não sentiu qualquer remorso ao vê-la envergonhada. Sabia das suas repetidas chamadas para o escritório, mas sabia que ela não queria vê-lo. Queria algo e só o podia conseguir dele.

– Posso pagar-te um preço justo pela casa – disse ela com determinação nos seus olhos cor de avelã. – O meu negócio está a correr bem.

Declan sabia-o. Sabia tudo sobre Home Designs, Inc, a empresa de têxteis e papéis estampados de Lily.

– Nem a casa nem a fábrica estão à venda – disse ele sustendo o seu olhar.

Ela pestanejou sem saber o que dizer.

– Claro que sempre quiseste mostrar-te como a ofendida e fazer-me parecer o malvado – acrescentou enquanto Lily olhava em volta, atordoada pela sua hostilidade aberta. – Estás com medo que alguém nos veja? Não me interessa quem nos possa ouvir. Já me conheces, Lily, nunca me interessou o que outros pensam. Este foi sempre o teu problema.

– Declan, isso não é justo – respondeu ela, corando.

– O que é que não é justo? Que te acuse de querer proteger a tua reputação a qualquer preço ou que não te dê o que queres?

Declan odiava aquele desejo que crescia dentro de si ao olhar para aqueles olhos cor de avelã. Pelo seu cabelo claro e a sua pele pálida, devia ter uns olhos azuis como o gelo. No entanto, eram quentes como o mel e perigosamente sedutores.

– Pensa nas pessoas de Blackrock – disse ela, levantando o queixo. – A cidade voltará à vida, Declan.

Ele ficou pensativo, sentindo-se atordoado ao perceber que a paixão que Lily punha naquilo em que acreditava ainda o afectava. Fora sempre uma lutadora, disposta a defender causas perdidas ou a lutar contra as injustiças, sem se importar com quem se cruzasse no seu caminho. A encantadora Lily, tão inocente, doce e amável com todos, excepto com ele.

– Blackrock e os Wharton. Um reino de sonho no litoral do Maine que tinha a sua própria monarquia até ter aparecido a família Gates e destruído tudo – disse, semicerrando os olhos. – Bem, pois não te livrarás de nós tão facilmente. Fico com a casa e a fábrica.

– E o que vais fazer com elas? – perguntou Lily atravessando-o com o olhar.

Declan fixou os olhos naquele rosto que um dia amara com toda a paixão da sua alma.

– Vou deixar que venham abaixo e caiam ao mar, juntamente com todas as recordações que tenho deste odioso lugar.

Lily ficou a olhar para ele, sem saber o que dizer. Depois deu meia volta e afastou-se, tal como Declan esperava que fizesse. Seguiu-a com o olhar e observou como atravessava o terraço e descia as escadas para o caminho de entrada.

Depois, voltou-se e olhou para a reluzente fachada de pedra da casa, tão diferente e limpa daquela que se lembrava da sua infância. A força daquele lugar ainda o comovia. O oceano escuro estendia-se sob o céu cinzento e as grandes escarpas.

Há quanto tempo não ia ali? Dez anos?

Ouviu o motor do carro de Lily a afastar-se. Ela fizera-o voltar, tivera sempre aquele poder sobre ele.

Tinha sido avisado das melhorias que Lily levara a cabo quando um agente imobiliário lhe telefonara para lhe perguntar se queria pôr a casa à venda.

Há algum tempo atrás, ter-lhe-ia dado tudo o que ela quisesse, mas desta vez a encantadora Lily Wharton não levaria a sua avante.