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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Fiona Harper

© 2015 Harlequin Ibérica, S.A.

A noiva do lorde, n.º 1099 - Janeiro 2015

Título original: English Lord, Ordinary Lady

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2008

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Bianca e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-6002-5

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Epílogo

Volta

Capítulo 1

 

 

Will parou o carro no meio da estrada e saiu, sem desligar o motor. Deixou a porta aberta e avançou alguns passos.

Os telhados e as chaminés de Elmhurst Hall erguiam-se por cima das copas das árvores que rodeavam a mansão e, à luz do sol do entardecer, as suas paredes ganhavam um tom amarelo dourado.

Imaginara muitas vezes aquele momento, desde que abrira a carta daquele advogado, um mês antes.

Voltou a entrar no carro e olhou para a mansão. Elmhurst Hall parecia saída de um conto de fadas. E, agora, era sua.

Fechou a porta e continuou a avançar lentamente pela pequena estrada para a mansão. Era uma sorte que não houvesse trânsito, porque os outros carros estariam a apitar.

Parou o carro ao chegar à frente da vedação alta de ferro. As portas, de quase dois metros, estavam fechadas com uma corrente enorme, sem dúvida para manter os plebeus afastados.

Aquele pensamento fez com que sorrisse. A mansão agora era sua e o resto da família Radcliffe não podia fazer nada.

Visto de perto, o edifício perdia um pouco da sua grandeza. Estores estragados e outras imperfeições causadas pelo passar do tempo davam-lhe o aspecto de uma estrela de cinema velha e cansada, em cujo rosto se viam ainda ecos da beleza que antigamente tivera.

Era irónico que ele, neto do homem que virara as costas ao resto da família, transformando-se praticamente num renegado, fosse devolver à mansão o seu antigo esplendor.

Era óbvio que o falecido lorde Radcliffe não tivera nem o dinheiro necessário para o fazer, nem sequer a intenção.

Era uma verdadeira pena! Vira edifícios em muito pior estado e restaurara-os, deixando-os como novos. De facto, era a isso que se dedicava, era esse o negócio que geria.

A estrada tinha uma bifurcação à esquerda. Seguiu-a e chegou a um pequeno estacionamento para as visitas, onde só havia alguns carros.

Olhou para o seu relógio. Eram quatro e cinco da tarde e combinara com o senhor Barrett às quatro horas. Estacionou, saiu do carro e dirigiu-se para a porta por onde, presumivelmente, se acedia aos jardins que rodeavam a mansão. Imaginou que poderia entrar por ali.

A porta estava aberta, contudo, para sua surpresa, viu que, em vez de um espaço amplo de relva e árvores, os jardins estavam divididos em pequenos quadrantes e corredores, delimitados por arbustos. Era quase como um labirinto, disse para si, cinco minutos depois de andar às voltas. Parou ao chegar a um ponto onde o caminho de terra se bifurcava.

Precisamente naquele momento, apareceu uma criança com asas brilhantes e a correr, e atirou-se para o chão.

Will pestanejou, porém, antes sequer de esfregar os olhos ou beliscar-se, outra figura feminina mais alta saiu de entre os arbustos e atirou-se para cima da criança. O ambiente encheu-se de gargalhadas, que cessaram quando se aperceberam de que não estavam sozinhas. Os seus olhos repararam nele e foi a menina quem falou primeiro.

– Quem é você?

Will apercebeu-se então de que as asas eram falsas e de que estavam presas por umas tiras elásticas cruzadas sobre o casaco.

– Chamo-me Will – respondeu.

Levantaram-se do chão e a menina aproximou-se, estendendo-lhe a sua mãozinha coberta por uma luva de algodão cor-de-rosa.

– Eu sou Harriet.

Will, que ainda estava um pouco atordoado, inclinou-se e apertou-lha, sem ter consciência do que estava a fazer.

Nunca conseguira calcular a idade de uma criança, embora aquela menina devesse ter mais de três anos, porque a entendia perfeitamente ao falar e certamente menos de sete anos. Tinha a certeza disso.

– Hattie, já te disse para não falares com estranhos, sem a minha autorização – disse a outra rapariga.

Will, no entanto, não conseguia desviar os olhos da menina, que estava a analisá-lo com curiosidade. Tinha o olhar mais intenso que alguma vez vira.

Will sentia-se sempre tenso e desconfortável quando tinha algum miúdo por perto, contudo, aquela menina não parecia incomodá-lo.

A rapariga mais velha aproximou-se.

– A mansão está fechada ao público às quintas-feiras e às sextas-feiras, até Abril – disse.

– Tenho uma reunião com o senhor Barrett, o mordomo – explicou.

– Nesse caso, é melhor vir comigo. Esta parte dos jardins, como vê, é um labirinto e é difícil encontrar o caminho até à casa sem ajuda – disse a rapariga, antes de estender uma mão à menina.

Esta deu-lhe a mão e foi com ela. Will estava a começar a desconfiar que a rapariga talvez fosse sua ama e não uma irmã, como pensara de início. Tinha um gorro de lã com riscas às cores até às orelhas, do qual pendiam de cada lado, como um enfeite, duas tranças de lã fúchsia e vestia um casaco de ganga, calças da tropa e umas botas enormes. Que roupa estranha! Enfim, quem era ele para a julgar? Afinal de contas, era muito mais prática do que a roupa que ele usava. As calças do seu fato italiano e os seus sapatos estavam a ficar cheios de pó.

Seguiu a rapariga e a menina, e, pouco depois, chegaram a um jardim amplo à frente da casa, com canteiros cheios de flores e uma fonte no meio.

O edifício era uma mistura de estilos de diferentes períodos e as partes mais antigas datavam, provavelmente, do século XVI. Era óbvio que os donos anteriores tinham feito remodelações e restaurações, como se tivessem querido deixar a sua marca em Elmhurst Hall. Agora, era a sua vez.

Era uma peça de arquitectura verdadeiramente única. Estava ansioso por a ver por dentro.

Uma mão pequena segurou a sua. Era Hattie, que se afastara da sua ama ao ver que ele ficara para trás.

– Venha, Will, é por aqui.

Hattie conduziu-o até à parte da frente da mansão. Ali, em frente ao portão enorme de entrada, a ama estava à sua espera, com o sobrolho franzido e as mãos na cintura.

– Se hoje não há visitas… O que estão a fazer aqui? – perguntou Will à menina.

– Estávamos a brincar. Eu sou uma princesa e a mamã é um monstro que me persegue.

Will pestanejou, surpreendido, e olhou para a jovem. Era a sua mãe? Mas parecia uma adolescente… Talvez fosse por causa da sua estatura. Era baixa e de compleição delicada. Devia medir pouco mais de um metro e sessenta.

– A mamã é sempre o monstro – resmungou esta, mal-humorada, estendendo novamente a mão à menina.

Hattie largou a mão de Will e correu para ela. Will tinha a sensação de que a sua mãe tinha medo dele por algum motivo. Parecia estar à defesa.

Não entraram por aquela porta e deram a volta ao edifício, até chegarem a uma porta mais pequena que, Will imaginou, seria a entrada de serviço.

Aproveitando que Hattie entrou primeiro, deixando-os a sós, perguntou à sua mãe:

– O que estão a fazer aqui… A sério, quero dizer?

Ela encolheu os ombros.

– A brincar, como Hattie lhe disse.

– Mas… Têm autorização do proprietário para estarem aqui?

– Mais ou menos – respondeu a jovem. – Eu trabalho aqui e vivemos na propriedade.

Ena! Enfim, pediria ao senhor Barrett que o informasse de quantas pessoas trabalhavam ali e que tarefas desempenhavam, pensou Will.

– Bom, boa sorte! – comentou, com aspereza, abanando a cabeça em direcção à porta aberta. – Embora deva avisá-lo que não é o primeiro homem engravatado que aparece por aqui. Está a perder o seu tempo. Quando lorde Radcliffe morreu… – a sua voz falhou ligeiramente e teve de pigarrear antes de continuar: – Receio que se vá embora de mãos vazias. Mal deixou dinheiro para pagar as dívidas.

Will, que estivera a estudá-la enquanto a ouvia, disse para si que não era de estranhar que a tivesse confundido com uma adolescente, com aqueles grandes olhos amendoados e os traços um pouco infantis do seu rosto oval.

– Enfim, obrigado pelo conselho, menina…

– Josie. O meu nome é Josie.

– Bom, Josie, agradeço o seu conselho – recomeçou, enquanto a jovem levava uma mão ao gorro, – mas não vim para…

Esqueceu-se completamente do que ia dizer quando Josie tirou o gorro da cabeça. O que antes pensara serem umas tranças de lã, não eram um enfeite do gorro, mas o seu próprio cabelo. Tinha o cabelo pintado de fúchsia!

Um sorriso brincalhão apareceu nos lábios de Josie. Parecia que o seu espanto a divertia. No entanto, ela teria uma surpresa quando soubesse quem ele era.

 

 

Depois de deixar Will com o senhor Barrett, Josie fechou a porta da sala que o velho mordomo usava como escritório e suspirou.

Não tinha a mínima vontade de ouvir a sua conversa. Tudo aquilo era demasiado deprimente.

Harry fora um homem bom e carinhoso, porém, também fora um desastre com o dinheiro. Josie desconfiara desde o dia em que, seis anos antes, começara a trabalhar para ele, contudo, só depois da sua morte, ela e os outros empregados de Elmhurst Hall tinham descoberto até que ponto estava endividado.

De facto, estavam todos numa espécie de limbo, do qual não sairiam enquanto as finanças da propriedade não se resolvessem. Harry dissera-lhe uma vez que, quando morresse, lhe deixaria a casinha onde Hattie e ela viviam, no entanto, ninguém conseguira encontrar nada parecido com um testamento entre a desordem de Harry.

Aquilo deixava-as à mercê do novo proprietário. O seu querido padrinho deixara-as viver ali por uma renda meramente simbólica, contudo, duvidava que o novo proprietário fosse igualmente generoso.

Não só herdara a propriedade, que estava uma ruína, mas também as dívidas de Harry, portanto, mesmo que sentisse pena delas, não poderia permitir-se um acto de caridade.

O que ganhava com a pequena sala de chá que tinham aberto para os visitantes mal cobria as despesas mais básicas que Hattie e ela tinham. Se tivesse de pagar mais pela renda da casa, não teria outro remédio senão cortar as actividades extra-escolares de Hattie e, mesmo assim, seria difícil.

Franziu o sobrolho e dirigiu-se para a cozinha, onde certamente estaria a sua filha. Hattie adorava as suas aulas de ballet e teria um desgosto enorme se lhe dissesse que tinha de as deixar.

A verdade é que ela não conseguia entender o que via num tutu, em contorcer-se em posições antinaturais e em ter de aprender passos repetitivos, porém, se ela gostava… Isso era o que os bons pais faziam: apoiavam as escolhas dos seus filhos e deixavam-nos florescer, e que se transformassem nos seres únicos que estavam destinados a ser.

Precisamente como imaginara, encontrou Hattie sentada na cozinha.

– O que lhe apetece beber, menina Hattie? – estava a senhora Barrett a perguntar, cozinheira e esposa do velho senhor Barrett.

Josie sorriu. Aquele era um jogo ao qual a cozinheira e a sua filha costumavam jogar. Provavelmente, a mulher idosa recordava os bons tempos, os tempos em que a mansão vivera a sua época de esplendor, de festas elegantes e na qual ela comandara meia dúzia de empregadas que a ajudavam na cozinha.

No que dizia respeito a Hattie… Não era difícil adivinhar porque gostava daquele jogo. Afinal de contas, ser uma princesa e viver num lugar saído de um conto de fadas, como Elmhurst Hall, era o sonho de qualquer menina.

Hattie entrelaçou as mãos sobre o colo.

– Acho que vou beber uma chávena de chá.

– E também quer uma bolacha para acompanhar?

Josie teve de fazer um esforço para não se rir ao ver a menina a considerar a oferta, muito séria, com a cabeça inclinada e a olhar para o tecto. Para não falar de como estava direita na cadeira, com as costas muito direitas e as pernas cruzadas.

– Hum… Sim, penso que também aceitarei uma bolacha.

A senhora Barrett assentiu e serviu-lhe sumo de laranja numa delicada chávena de porcelana e pires, que reservara para uso exclusivo de Hattie.

– Olá, senhora Barrett! – cumprimentou Josie, aproximando-se.

Despenteou o cabelo da sua filha e esta olhou para ela, zangada, antes de tirar a tiara que tinha na cabeça e pentear-se com a mão.

– Olá, Josie! – respondeu a cozinheira. – Cansaram-se muito por andarem a correr por aí? – perguntou, enquanto a jovem se sentava.

– Encontrámos um homem nos jardins – apressou-se a dizer Hattie, com a boca cheia, antes de a sua mãe conseguir responder. – Veio ver o senhor Barrett.

– E eu avisei-o que não vai conseguir nada – acrescentou Josie. – Pelo menos, enquanto não localizarem o tal herdeiro, do qual até agora ninguém sabe nada.

A senhora Barrett serviu-lhe uma chávena de chá e sentou-se com ela.

– O sobrinho-neto do falecido lorde Radcliffe? O meu marido disse-me que já o encontraram. Parece que estava fora do país a tratar de negócios. Parece que regressa esta semana. Ah! E às quatro e meia há uma reunião com o pessoal todo da propriedade. Se quiseres, posso tomar conta de Hattie para que possas ir. Depois, o meu marido conta-me tudo.

Josie bebeu um gole de chá.

– Eu pensava que Edward Radcliffe não tinha tido nenhum filho varão. Não me disseste que a sua mulher e ele tinham deixado de tentar, depois de terem tido quatro filhas?

– Sim, mas Edward era o irmão mais jovem de lorde Radcliffe. O avô do novo proprietário era o irmão do meio dos três Radcliffe.

– Não sabia que havia outro irmão – disse Josie, franzindo o sobrolho.

– O pai de lorde Radcliffe e o irmão do meio tiveram uma discussão grave, e foi praticamente repudiado. O detective que os advogados contrataram descobriu que mudou de apelido, o que explica porque foi tão difícil encontrar os seus descendentes.

Josie esboçou um sorriso malicioso.

– Ena, então era uma ovelha negra, como eu!

– Tens de te despachar ou vais chegar tarde à reunião – recordou a senhora Barrett, mudando de assunto.

Josie recostou-se na sua cadeira e pôs as botas em cima da mesa, ignorando os olhares desaprovadores da cozinheira e da sua filha.

– Ainda faltam alguns minutos. Tenho tempo para acabar o chá.

Então, o neto da ovelha negra da família herdara Elmhurst Hall… Agora, compreendia porque o resto da família Radcliffe não estava precisamente contente.

 

 

Na segunda-feira de manhã, enquanto ajudava a senhora Barrett a cortar os bolos que esta preparara, como faziam todos os dias para a sala de chá, Josie mal conseguia conter a sua irritação. O motivo da reunião de sexta-feira fora apresentar o novo dono da propriedade aos empregados e era o tal Will que ela pensara ser um credor.

– Que descaramento não me dizer quem era! – resmungou. – Além disso, sabemos o que faz? E para onde foi? Não voltei a vê-lo durante o fim-de-semana todo.

A cozinheira suspirou e começou a cortar um bolo de cenoura às fatias.

– O meu marido disse-me que é um homem de negócios.

– Sim, mas o que eu quero saber é que tipo de negócios – respondeu Josie.

– Penso que é qualquer coisa relacionada com edifícios antigos – respondeu a cozinheira.

Josie sabia que não fazia sentido continuar a perguntar. Para a leal senhora Barrett, era o novo lorde da propriedade e seria incapaz de o criticar, mesmo que fosse por pura especulação.

Edifícios antigos… Isso podia significar qualquer coisa. Podia ser um construtor e talvez estivesse a planear demolir a mansão, e construir outra coisa.

– Vou às compras – disse à cozinheira, enquanto tirava o avental. – Volto antes do meio-dia.

A senhora Barrett limitou-se a assentir e voltou para a bandeja de madalenas com bocadinhos de chocolate.

Josie vestiu o casaco, pôs o seu gorro colorido e saiu.

Atravessou a vila de Elmhurst com a sua pequena carrinha e entrou na estrada que levava a Groombridge, a cidade mais próxima. Era uma localidade pequena, uma localidade de província, contudo, ali ficava Morris Minor, uma mercearia onde se abasteciam do que precisavam para a sala de chá.

Depois de carregar a parte traseira da carrinha com tudo o que comprara, Josie não entrou novamente na carrinha. Havia outro motivo pelo qual fora à cidade. Tinha de ir a um lugar que ficava a apenas alguns minutos a pé dali.

Ia à biblioteca municipal. Quando chegou, ignorou as estantes cheias de livros e foi direita a um dos computadores com acesso à Internet. Entrou num motor de busca e depois escreveu: «William Roberts». Fora assim que se apresentara na reunião de sexta-feira.

Poucos segundos depois, apareceu uma longa lista de entradas com aquele nome no ecrã. Bom, afinal de contas, o apelido Roberts era muito comum. Descartou todas as entradas da primeira página, da segunda… até encontrar uma que, embora não fosse exactamente o que queria encontrar, a levou a outra página que era precisamente o que procurava.

Era um artigo de uma publicação online, onde dizia que William Roberts recebera um prémio por um dos projectos que levara a cabo. O breve texto, acompanhado de uma fotografia dele, descrevia a sua empresa como «uma construtora líder no mercado».

Josie apoiou a cabeça nas mãos e massajou as têmporas com os dedos. E se decidisse que Elmhurst Hall tinha mais valor como outro edifício e demolisse a mansão? Se perdesse o seu emprego, a única opção que teria seria voltar para casa dos seus pais e prometera a si mesma que nunca o faria.

Continuou, com esperança de encontrar mais informação sobre o misterioso senhor Roberts. Apenas encontrou uma base de dados muito pequena, porém, era óbvio que as coisas lhe corriam muito bem e também que alcançara o sucesso, partindo praticamente do zero.

Naquele momento, de repente, imaginou a voz da sua mãe na sua mente a dizer-lhe: «Talvez seja rico, mas não é um dos nossos».

Naquele sentido, a sua mãe era uma verdadeira snobe.

– É bonito, não é?

Josie virou-se e deparou-se com Marianne, uma das supervisoras da biblioteca, atrás dela e a olhar para o ecrã. Devia haver silêncio nas bibliotecas, no entanto, Marianne era a primeira a desrespeitar essa regra. Adorava mexericar e encontrava sempre alguém com quem fazê-lo.

– Na verdade, não tinha reparado – respondeu Josie.

Marianne bateu-lhe no ombro, com o livro que tinha na mão.

– Não me enganas, Josie. Meu Deus, olha para esse cabelo escuro e esse olhar tão sério…! Tenho a certeza de que o que há por debaixo desse fato também não é nada mau.

– Marianne, parece-me que andas a ler demasiados romances cor-de-rosa. Nem todas as mulheres reparam nos músculos ou no rabo de um homem. Há coisas mais importantes.

Marianne riu-se.

– Sim, claro! Vá, não babes muito sobre o teclado!

Josie fechou a página, levantou-se e pendurou a mala ao ombro.

– Ao contrário de ti, Marianne, as hormonas não controlam o meu cérebro.

– Sim, Josie – respondeu a bibliotecária, com um sorriso brincalhão, antes de se afastar.

Josie suspirou, irritada. Por favor! Que cabeça oca! Como podia ser superficial ao ponto de pensar que qualquer mulher tinha de enlouquecer por causa de um homem bonito ou de um bom físico? Um homem bom e compreensivo era muito mais valioso e também mais difícil de encontrar.

Além disso, por muito bonito que William Roberts fosse, também poderia fazer com que perdesse o seu emprego e, para sua frustração, pouco podia fazer para o evitar.