sab618.jpg

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2001 Helen Bianchin

© 2019 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Conveniência ou amor?, n.º 618 - fevereiro 2020

Título original: The Marriage Arrangement

Publicado originalmente por Harlequin Enterprises, Ltd

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-1348-241-5

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

 

 

 

 

Estavam a formar-se no céu nuvens escuras e ameaçadoras que anunciavam o aguaceiro que não ia tardar a rebentar.

Hannah Santanas acendeu os faróis do seu carro no momento exacto em que o ruído de um trovão ecoou nos seus ouvidos. O ar estava impregnado de electricidade e, alguns momentos depois, as primeiras gotas de chuva que molhavam o pára-brisas transformaram-se num dilúvio que parecia prestes a inundar a cidade.

Era só o que lhe faltava. «Mas que azar!» Um aguaceiro de Verão mesmo à hora de ponta só a ia atrasar ainda mais…

Miguel devia estar com vontade de a estrangular.

Quase no mesmo segundo, o seu telemóvel tocou, e Hannah premiu uma tecla.

– Estou?

– Posso saber onde é que te meteste? – disse uma voz masculina com um ligeiro sotaque estrangeiro.

Hannah encolheu os ombros.

– Até parece que te importas comigo, Miguel.

– Responde à minha pergunta, se faz favor.

O aguaceiro aumentou ainda mais, fazendo com que Hannah não conseguisse ver nem um palmo diante do nariz. Começou a ficar assustada.

– Estou presa no trânsito.

Houve um instante de silêncio, e ela pensou que o marido talvez estivesse a consultar o relógio.

– Onde, se podes ser mais exacta?

– O que é que isso importa? – Hannah esboçou um sorriso. – Não adianta, querido. Nem tu, com todo o teu poder e todos os teus milhões, me poderias tirar daqui agora.

Miguel Santanas, porém, não estava para brincadeiras.

– Podias ter fechado a loja mais cedo e ter escapado do tráfego intenso das seis da tarde. Dessa maneira, já terias chegado a casa a esta altura.

Hannah sentiu que o sangue lhe começava a ferver nas veias. A loja era sua, fruto de anos de estudos e de pesquisas sobre moda em cidades como Roma, Paris e Londres.

– Uma das minhas melhores clientes apareceu ao fim da tarde e levou quase a loja inteira. O que querias que eu fizesse? Que a mandasse embora?

Do outro lado da linha, o seu marido sorriu com ironia.

– E eu que pensava que ia ter uma mulher dócil e obediente…

– Se querias docilidade e obediência, querido, devias ter comprado um cãozinho. Sabias muito bem o que te esperava quando decidiste casar comigo.

Fora um casamento de conveniência. Ambos pertenciam às duas famílias mais ricas do país, com negócios e interesses nos quatro cantos do mundo. Que melhor maneira de juntar as duas fortunas do que promover a união da filha de um dos magnatas com o filho do outro?

Hannah, cansada de rejeitar uma verdadeira lista de pretendentes todos mais interessados pela sua imensa riqueza do que por ela mesma, acabara por se render à segurança que aquela união lhe traria, com a condição de que pudesse manter a sua independência.

O amor não entrara nas negociações, e o facto de escolher um marido com a cabeça e não com o coração parecera-lhe uma atitude extremamente sensata.

– Sim, tens toda a razão. Eu sabia o que me aguardava. E não tenho tido motivos para reclamar da nossa situação. Tu por acaso tens?

Hannah não pôde conter o riso.

– Não.

Estava a ser sincera. Se não existia amor entre eles, havia outra coisa de sobra: atracção física. Uma paixão louca e selvagem, que os levava até ao delírio.

Aos quarenta anos de idade, Miguel Santanas, espanhol de nascimento e cidadão do mundo, era um homem muitíssimo bem sucedido no que dizia respeito a negócios… e entre as quatro paredes de um quarto.

Hannah jamais conhecera amante igual. E nem queria conhecer, uma vez que o seu marido satisfazia necessidades que ela nem sabia que possuía. O simples facto de se lembrar das suas carícias fez disparar o seu coração.

– Bem, daqui a quanto tempo achas que estarás em casa?

Hannah olhou para as horas.

– Não sei ao certo. O trânsito ainda está muito mau e a chuva não vai parar tão cedo. Daqui a meia hora, talvez.

– Vou ligar para Graziella a avisar que chegaremos um pouco atrasados. Por favor, conduz com cuidado.

– Não te preocupes. Até já.

– Até já.

Hannah desligou o aparelho e concentrou-se no caminho à sua frente.

 

 

O Rolex de platina que Hannah usava no pulso marcava quinze para as sete quando, finalmente, o seu Porsche prateado atravessou os portões de ferro da mansão Santanas.

Percorreu as alamedas arborizadas a alta velocidade e, poucos momentos depois, estacionava à frente da imponente porta de carvalho, onde um mordomo fardado estava à espera dela.

– Boa noite, senhora Santanas.

Hannah desceu do automóvel e entregou-lhe a chave.

– Boa noite. Pode guardá-lo na garagem.

– Com certeza, minha senhora.

Ela entrou em casa e subiu à pressa a imponente escadaria de mármore de Carrara. Na verdade, a palavra «casa» não era o termo apropriado para designar o lar dos Santanas. Aquele lugar era mais parecido com um palácio repleto de obras de arte, onde reinava o luxo, a sofisticação e o requinte.

– Ah, chegaste! Graças a Deus.

Hannah virou-se e deparou com o marido. Teve de fazer um esforço para reprimir um grito de espanto. Mesmo depois de alguns meses de convivência diária, a beleza e o charme de Miguel Santanas ainda a comoviam, surpreendendo-a.

Como era possível que um ser humano conseguisse ser assim tão perfeito? Não se deixava enganar, porém, por tantas qualidades. Por trás daquela máscara de sofisticação havia um guerreiro implacável, um génio na área das finanças que só jogava para ganhar.

Olhos muito escuros, quase pretos, fixavam-na, fazendo com que a sua pulsação se acelerasse. Será que Miguel tinha consciência do quanto a afectava?

Era inacreditável. Tudo o que Miguel tinha que fazer era olhar para ela, e Hannah ficava logo prestes a subir pelas paredes. Respirou fundo, tentando controlar-se.

– Boa noite, Miguel. Estarei pronta daqui a vinte minutos.

Ele arqueou uma sobrancelha.

– Tanto tempo? Será que não conseguirias, com um pequeno esforço, despachares-te em quinze?

Hannah não respondeu e entrou na sua suite.

 

 

Exactamente dezanove minutos mais tarde, Hannah estava vestida, penteada e maquilhada.

Escolhera um longo vestido preto de tafetá que deixava os seus ombros à mostra e acentuava as curvas do seu corpo. Um autêntico Valentino, que valia cinco mil dólares.

Miguel observou-a enquanto ela pegava na mala, e fitou-a com visível malícia.

– Estás linda. Esse vestido é muito sensual.

Hannah tentou disfarçar o arrepio de prazer que aquelas palavras lhe causaram.

– Por acaso estás a tentar seduzir-me, querido?

Miguel exibiu um largo sorriso, mostrando os seus dentes muito brancos e perfeitos.

– E por acaso estou a ser bem sucedido?

Sim. Era claro que estava. Mas Hannah não lhe queria confessar isso.

– Não sei se te lembras, mas temos um jantar onde comparecer.

Miguel tocou de leve nos seus ombros nus.

– Mas depois do jantar voltaremos para cá, não é?

Quando Hannah se deu conta, estava envolvida no abraço do marido, com os lábios colados num beijo ávido. Quanto tempo durou aquilo tudo? Segundos? Minutos? Não o sabia dizer. A única coisa de que teve noção foi de uma grande sensação de desilusão quando, por fim, se afastaram.

Miguel pousou-lhe o dedo nos lábios e sorriu.

– O teu baton saiu todo, mi mujer.

Hannah sentia o seu coração a bater com violência.

– Em compensação, a tua boca está toda manchada de vermelho, mi hombre. Não me parece que possas chegar ao jantar nessa figura.

– Tens toda a razão – Miguel entrou na enorme casa de banho do aposento e agarrou num lencinho de papel. – Vou resolver isto agora mesmo.

Hannah também retocou a maquilhagem e, logo depois, deixavam os dois a mansão e entravam no reluzente Jaguar preto de Miguel, que estava estacionado junto à entrada principal.

 

 

A borrasca do fim da tarde já tinha passado, e o calor da noite era suavizado pelo ar condicionado perfeito do veículo.

– Sabes quem são os outros convidados? – perguntou Hannah, ao ajeitar o colar de brilhantes no seu pescoço.

Miguel virou à esquerda e apanhou a avenida da praia.

– Parece-me que Graziella falou em Angelina e Roberto Moro, Suzanne e Peter Trenton. Ah, se não me engano, também disse qualquer coisa a respeito de Esteban.

Esteban Santanas era o pai de Miguel. Era viúvo há poucos anos e esbanjava charme, um belo senhor, e tão inteligente como o filho. Ou quase.

Hannah tentou adivinhar se Graziella, a anfitriã, teria convidado alguém para fazer companhia ao seu sogro durante a recepção. Era provável. Mas quem? Nem sequer fazia ideia.

 

 

Dez minutos depois, Miguel estacionava o Jaguar à frente da linda mansão de Graziella e Enrico del Santo, situada no imponente bairro de Kew. O anfitrião, um simpático cinquentão de cabelos grisalhos e sorriso franco, já estava à porta para os receber.

– Hannah! Miguel! Ainda bem que vieram!

Após calorosos beijos e abraços, o casal entrou nos salões da mansão, onde circulavam dezenas de pessoas. Os cavalheiros iam vestidos com smokings italianos, e as damas pareciam modelos saídas das páginas da revista Vogue francesa, ostentando vestidos e jóias de meter inveja a uma princesa.

Hannah observou os rostos conhecidos à sua volta. Dinheiro e poder foram as duas palavras que lhe vieram à mente. Nascera e fora criada naquele meio, num mundo dourado de conforto e de privilégios ao qual só tinham acesso uns poucos afortunados. O seu casamento com Miguel Santanas fora uma consequência natural do seu estilo de vida sofisticado.

Graziella del Santo, a anfitriã, aproximou-se para os cumprimentar e conduziu-os a um canto do salão.

– Meus queridos, é uma delícia revê-los. Conhecem aqui toda a gente, excepto duas amigas minhas que eu gostaria muito de vos apresentar. Elas moram na Europa e estão a passar o Verão na Austrália.

Graziella parou perto de duas mulheres e fez as apresentações:

– Aimée Dalfour e a sua sobrinha Camille. Hannah e Miguel Santanas.

Camille era uma rapariga alta, magra, com cabelos castanhos lisos e lustrosos que lhe passavam dos ombros. O corpo e o rosto eram esplêndidos, maravilhosos.

– Olá, Miguel – Camille estendeu a mão na sua direcção, com um lindo sorriso nos lábios. – Prazer em conhecê-lo…

Hannah compreendeu tudo numa fracção de segundo. Aquela mulher representava um problema sério. Ficara fascinada pelo seu marido. O que, aliás, não era novidade nenhuma. Não havia uma única representante do sexo feminino neste planeta que não se rendesse ao charme de Miguel Santanas.

Viu-o cumprimentar a jovem. Camille virou-se então para ela, acenou brevemente a cabeça e voltou a fitar Miguel. Parecia hipnotizada.

Um copeiro trajado apareceu, trazendo cocktails e sumos. Hannah teve vontade de aceitar um uísque, mas não comia nada desde o meio-dia, portanto resolveu optar por um sumo de tomate. Álcool e estômago vazio não costumavam combinar bem, sobretudo quando a situação exigia que se tivesse a cabeça fria.

chérie

– Eu vi. E senti vontade de a esganar. Tomara que Graziella a coloque numa mesa bem longe da minha!

Naquele momento, o mordomo apareceu para anunciar que o jantar ia ser servido. Para desagrado de Hannah, o seu desejo não foi ouvido.

– Coloquei Camille convosco – comentou a anfitriã, Graziella, ao aproximar-se dela. – Como moraste algum tempo em França, imagino que têm muita coisa em comum.

Hannah Santanas respirou fundo. A noite prometia ser muito longa.