desj416.jpg

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2001 Maureen Child

© 2018 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Quase um príncipe encantado, n.º 416 - agosto 2018

Título original: Prince Charming in Dress Blues

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9188-778-2

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo Um

 

 

 

 

 

– Está certo – disse Annie Foster, falando sozinha, – talvez esta não tenha sido uma ideia assim tão boa, afinal.

O vento varreu-lhe as palavras, espalhando-as pela floresta ao redor. Cortante, carregava flocos de neve que caíam sobre o rosto dela, como se dedos gelados lhe tocassem a pele. Annie pestanejou e pendeu a cabeça para trás, olhando para o céu. Mas não havia estrelas. Havia apenas uma imensidão negra de onde a neve caía em profusão.

Uma onda de ansiedade causou-lhe um nó no estômago e, como numa reacção, o bebé no seu ventre deu um pontapé com força.

– Ei – disse, parando por um instante para tocar a barriga. – Estou do teu lado, lembras-te?

Uma rajada de vento gelado atingiu-a, empurrando-a na direcção do chalé, e Annie cambaleou para a frente, esforçando-se para não perder o equilíbrio. Era só o que lhe faltava, cair na neve. Volumoso como estava o seu ventre, teria ficado ali deitada como uma tartaruga virada de pernas para o ar, incapaz de se erguer. Quando a Primavera chegasse, algum montanhista perdido encontraria o seu corpo congelado e ela sairia em todas as manchetes. «Grávida Imensa Caiu e não Conseguiu Levantar-se».

Riu ligeiramente do pensamento e, então, continuou a caminhar até ao chalé. Tudo em que conseguia pensar agora era no calor que encontraria lá dentro. Um refúgio do vento cortante e da neve que começara a intensificar-se cada vez mais na hora anterior. Quem teria imaginado que nevaria tão fortemente no sul da Califórnia? Bem, estava certo, nas montanhas do sul da Califórnia. Mas ainda assim... Quem se preocuparia com tempestades de neve numa parte do país em que uma camisola leve era considerada um casaco de Inverno?

Junto aos degraus que levavam à varanda da frente, ela parou e inclinou um pouco a cabeça para o lado, atenta a algum ruído. Uma batida estável e ritmada ouvia-se no meio do uivo do vento. Como o pulsar do coração de algum monstro gigante da neve, parecia vir de todos os lugares e, ao mesmo tempo, de nenhum em específico. Era um som que parecia cercá-la e Annie girou devagar em torno de si mesma, correndo o olhar pela extremidade dos arvoredos, investigando. Mas não via nada. Apenas a neve copiosa e a floresta envolta em sombras mais adiante.

Estremecendo, afundou-se mais no grosso blusão e segurou o corrimão com uma mão, a mala que tirara do carro na outra. Sentiu um desconforto nas costas enquanto subia os degraus devagar, mas mal se importou. Afinal, já estava grávida há oito meses. Estava habituada a algum ocasional espasmo, pontada, dores nas ancas ou peso nas pernas.

– A gravidez não é para fracotas – murmurou.

Além de que o bebé parecia ter crescido muito numa questão de dias. A sua barriga estava enorme. Céus, era quase como se ela própria estivesse a gravitar em torno de um pequeno planeta. Fez uma pausa a meio dos degraus para recobrar o fôlego e arquear as costas, tentando aliviar a dor muscular. Em seguida, antes que pudesse fraquejar e montar acampamento ali mesmo nos degraus, subiu até à varanda, mantendo, sem se dar conta, o mesmo ritmo da batida assustadora que ainda reverberava no ar.

Atravessando a varanda, abriu a porta da frente e entrou num ambiente quente e acolhedor, que a teria feito saltar de alegria não fosse pela sua condição.

– Obrigada, Lisa – disse num sussurro de gratidão à amiga que lhe emprestara o chalé para o fim-de-semana. Lisa devia ter telefonado a alguém, pedindo que ligasse o aquecimento, para que o chalé estivesse quente no momento da sua chegada.

– Uma amiga a sério – disse, enquanto se adiantava pela sala de estar, ainda carregando a mala.

Poderia tê-la deixado ali mesmo, mas acreditava firmemente que «havia um lugar para tudo e que tudo devia ficar no seu lugar». Além do mais, teria que arrumá-la mais tarde. Portanto, era melhor resolver logo aquilo.

Quando chegava a meio do corredor, sentiu a pontada nas costas novamente, só que mais forte daquela vez. Contraiu o rosto, endireitou-se e, ao entrar no quarto, sentiu-se imediatamente tentada pela grande cama de casal coberta por um edredão estampado. Um colchão imenso fazia um convite, oferecendo-lhe silenciosamente um lugar confortável para uma soneca. Muitas almofadas fofas, de cores e formatos variados, enfeitavam a cabeceira e, de repente, tudo em que pôde pensar foi em afundar a cabeça numa delas.

Quisera que aquele fim-de-semana fosse tranquilo. Dois dias para si mesma. Para pensar. Para trabalhar. Para se preparar mentalmente para o momento do parto.

Cada músculo do seu corpo protestava de fadiga. Passara os meses anteriores a trabalhar num ritmo frenético, tentando preparar-se para a chegada do bebé. Para ser uma mãe solteira. Tentando, disse a si mesma cansadamente, esquecer o pai do bebé e pensar nele apenas como um dador de esperma.

Pois, afinal, aquilo era tudo o que ele realmente fora. Mike Sinclair. Um homem de um milhão de promessas e um milhão e meio de pretextos para as quebrar. Mas ela não o vira pelo que era. Iludira-se, ficara cega para a realidade. Achara que ele era o homem certo. O amor da sua vida. O homem com quem se casaria. Assim, dormira com ele, entregando-lhe a sua virgindade de bandeja. Algumas semanas depois, descobrira que estava grávida. Quando contara a Mike... fora testemunha da rapidez com quem um homem realmente era capaz de correr.

– Bem, ele foi um erro – disse, afastando os pensamentos do homem bonito que a seduzira, enquanto conversava com o bebé no seu ventre. – Ao menos ele deu-me este bebé. E por isso ser-lhe-ei sempre grata.

– Mas – continuou com um suspiro, – deixas a mamã muito cansada, às vezes – colocando a mala ao lado de uma cómoda de mogno entalhada, adiantou-se até à cama. Sentando-se no colchão, inclinou-se desajeitadamente para a frente, para descalçar os sapatos. Conseguiu tirar o direito, mas acabou por desistir do outro. Deitando-se, esticou as pernas e prometeu a si mesma que lavaria o edredão de Lisa antes de se ir embora. Acomodou-se, então, nas almofadas, fechou os olhos e adormeceu, apesar da incómoda dor nas costas. Tinha apenas vinte e sete anos e sentia-se como se tivesse noventa.

 

 

O sargento John Paretti ergueu o machado e desfechou um golpe sobre o pedaço de lenha em cima de um largo tronco de árvore cortado. A lâmina partiu a madeira com precisão em duas partes e ele ajeitou-as sobre o tronco com as mãos enluvadas. Tornou a parti-las com o machado e, finalmente, atirou-as para a pilha de lenha que já cortara.

Pelo aspecto da tempestade que se aproximava, iria precisar de toda a lenha que conseguisse. Pendendo a cabeça para trás, olhou para a neve que caía copiosamente, impedindo-o de avistar o céu e cobrindo as árvores à volta, como um manto branco. Formara-se depressa, aquela tempestade. Avançara pelo topo da montanha, levada por um vento cortante que parecia gelá-lo até aos ossos.

Deveria ter previsto algum contratempo como aquele, disse a si mesmo, desgostoso, enquanto posicionava mais um pedaço grosso de madeira sobre o tronco cortado. Deveria ter ido para uma casa de praia para fazer as suas reflexões. Em algum lugar, montanha abaixo, o sol de Fevereiro brilhava, turistas e residentes caminhavam ao longo da praia de calções e sandálias. Em vez disso, ele estava vestido praticamente como um esquimó e a cortar lenha com quase desespero para se preparar para uma tempestade de neve, que o apanhara de surpresa.

– Só mesmo na Califórnia – resmungou antes de desfechar um novo golpe com o machado.

Estivera a cortar lenha durante uma hora, embora admitisse a si mesmo que provavelmente não iria ser necessária. O primeiro sargento Pete Jackson assegurara-lhe, quando lhe emprestara o seu chalé, que encontraria uma imensa pilha de lenha à espera de ser usada, quando chegasse. E encontrara, mas entre a iminente tempestade e a sua própria necessidade de tentar acabar com parte da frustração que quase o sufocara, decidira cortar mais lenha.

Fora o mais recente telefonema do seu pai que o fizera procurar um refúgio para pensar. Enquanto cortava a lenha com golpes firmes e certeiros, relembrou aquela conversa.

– Os teus irmãos estão casados – dissera-lhe Dominick Paretti num tom sério. – Estabilizaram-se. Eles não vão deixar o Corpo de Fuzileiros e, portanto, agora só depende de ti.

John sacudira a cabeça e segurara o auscultador com mais força. Tinham passado por aquilo dezenas de vezes. Desde que o pai deixara de ser fuzileiro para começar um pequeno negócio, que acabara por obter grande êxito, transformando-se na Empresa de Computadores Paretti, pressionava os filhos para trabalharem com ele. Mas, ao contrário do pai, eles eram fuzileiros até ao fim. E nenhum queria sair da Marinha para ficar confinado atrás de uma mesa num escritório, nem a participar do que consideravam reuniões entediantes.

– Pai – começara John, mas Dominick interrompera-o depressa.

– Escuta, estou a ficar cada vez mais velho, sabes? – declarara, severo. – Quero que a minha família administre este negócio. É Empresa Paretti, e um Paretti deverá ficar na direcção, quando eu morrer.

– Não vais morrer amanhã e...

– Pensa sobre o assunto – ordenara o pai, interrompendo uma possível recusa. – É tudo o que te peço.

Mas, pensou John agora, enquanto começava a recolher a lenha para a empilhar na varanda dos fundos do chalé, aquilo não fora tudo o que o seu pai pedira. Nunca era. Queria que ao menos um dos três filhos deixasse de ser fuzileiro e assumisse os negócios da família. E não sentia o menor remorso em usar a culpa como subterfúgio para conseguir que as coisas fossem feitas à sua maneira. Dominick, apesar das suas palavras em contrário, estava firme como uma rocha. Aquilo nada tinha a ver com a sua idade ou saúde debilitada... o homem era tão saudável como duas mulas... e igualmente teimoso. Aquilo resumia-se apenas a uma coisa.

A família em primeiro lugar.

Era o lema dos Paretti. John e os irmãos tinham sido criados para acreditarem que nada era mais importante do que a família. E agora Dominick Paretti contava com o filho mais novo para fazer o que lhe fora ensinado.

Fora por aquele motivo que John pedira emprestado o chalé a Pete, para passar o fim-de-semana. Precisava de um lugar tranquilo para pensar. Algum tempo de quietude para si mesmo, para decidir que rumo a sua vida deveria tomar. Deveria seguir o seu coração e continuar a ser fuzileiro? Ou dar ouvidos à razão e tornar-se o filho que o seu pai precisava?

Uma forte rajada de vento atingiu a clareira e atirou-o de encontro à parede atrás dele. Baixando a cabeça para evitar a maior parte na neve, olhou para a fúria dos elementos à sua volta e perguntou-se como é que os meteorologistas não tinham previsto aquela tempestade. Já enfrentara tempestades de neve antes e conhecia os sinais. Na hora anterior, caíra neve suficiente para bloquear a entrada de veículos e, provavelmente, também a estrada que descia a montanha. E as coisas só iriam piorar. As árvores curvavam-se, enquanto sucumbiam à intensidade do vento. Os vidros nas janelas do chalé estremeciam e a luz que deixara acesa na varanda pestanejou. Não demoraria a ficar sem energia eléctrica, pensou ele e pegou numa braçada de lenha antes de se virar na direcção da porta dos fundos.

Limpou os pés ao capacho, sacudindo a maior parte da neve das botas de couro antes de entrar na cozinha. Atravessou, então, o chalé directamente até à sala de estar e colocou a braçada de lenha na lareira de pedra.

– Quem está aí? – perguntou uma voz feminina.

John girou nos calcanhares e lançou um olhar na direcção do corredor escuro que levava aos quartos. Quem, afinal... Erguendo-se, atravessou a sala, abrindo o fecho do blusão. O aquecimento do pequeno chalé ainda estava no máximo e sentiu-se como se tivesse saído do Pólo Norte directamente para uma fornalha.

– Quem está aí? – gritou a mesma voz e, daquela vez, pareceu soar com um toque de pânico.

Bem, a mulher tinha o direito de estar preocupada, instalando-se daquela maneira no chalé de outra pessoa. Céus, ela pensava que ele geria uma pousada?

Obviamente, avisou-o uma voz cheia de cinismo na sua mente, poderia ser uma armadilha. Uma mulher assustada para o atrair, de maneira a que o namorado pudesse atacá-lo e roubá-lo. Quando aquilo lhe ocorreu, disse a si mesmo que andava a ver filmes a mais. Ainda assim, valia a pena ser cauteloso.

Adiantando-se em silêncio pelo corredor, parou junto à porta aberta do primeiro quarto e espreitou para dentro cuidadosamente. Teve apenas tempo para se baixar, enquanto um abajur voava na sua direcção.

– Ei! – gritou ele no meio do som de vidro a espatifar-se de encontro à parede do corredor.

– Não se aproxime! – ordenou uma mulher. – Tenho uma arma!

– Então, por que motivo atiraria o abajur?

– Não quero feri-lo, se não for necessário.

Muito reconfortante, pensou John, irónico, lançando um olhar ao abajur partido no chão. Mantendo a voz baixa, calma, disse:

– Ouça, não sei o que faz aqui, mas é melhor ir-se embora agora.

Eu devo ir-me embora? – retorquiu ela, com a perplexidade evidente no seu tom de voz. – Você é o intruso aqui e...

A mulher interrompeu-se abruptamente com um gemido de dor e John arriscou-se a colocar outra vez a cabeça na zona de perigo para ver qual era o problema. Um olhar foi quanto bastou.

– Oh, bolas – murmurou, sombrio.