Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

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BELLA E O XEQUE, Nº 1382 - Maio 2012

Título original: Bella’s Disgrace

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

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I.S.B.N.: 978-84-687-0285-8

Editor responsável: Luis Pugni

Imagem de capa:

YUROK ALEKSANDROVICH/DREAMSTIME.COM

ePub: Publidisa

Árbol

A DINASTIA BALFOUR

As jovens Balfour são uma lenda britânica, as últimas herdeiras ricas. As filhas de Oscar cresceram no centro das atenções e o sobrenome Balfour raramente deixa de aparecer na imprensa sensacionalista. Ter oito filhas tão diferentes é um desafio.

Olivia e Bella: as filhas mais velhas de Oscar são gémeas não idênticas nascidas com dois minutos de diferença e não podem ser mais diferentes. Bella é vital e exuberante, enquanto Olivia é prática e sensata. A maturidade de Olivia só pode comparar-se com o sentido de humor de Bella. Ambas as gémeas são a personificação das virtudes mais importantes dos Balfour. A morte da mãe, quando eram pequenas, continua a afetá-las, embora expressem os seus sentimentos de maneiras muito diferentes.

Zoe: é a filha mais nova da primeira mulher de Oscar, Alexandra, que morreu tragicamente ao dar à luz. Tal como a sua irmã mais velha, Bella, gosta da vida mundana e costuma exceder-se. Está sempre à espera do próximo evento social. O seu aspeto físico é imponente e os seus olhos verdes diferenciam-na das suas irmãs, mas por detrás da fachada deslumbrante esconde-se um grande coração e o sentimento de culpa pela morte da sua mãe.

Annie: é a filha mais velha de Oscar e Tilly. Annie herdou uma boa capacidade para os negócios, um coração amável e uma visão prática da vida. Gosta de passar tempo com a mãe na mansão Balfour, foge do estilo de vida dos famosos e prefere concentrar-se nos seus estudos em Oxford do que pensar no seu aspeto.

Sophie: a filha do meio é habitualmente a mais tranquila e ela não é uma exceção. Em comparação com as suas irmãs deslumbrantes, a tímida Sophie sempre se sentiu ignorada e não se sente confortável no papel de «herdeira Balfour». Tem o dom das artes e as suas paixões manifestam-se no trabalho de decoração de interiores.

Kat: a mais nova das filhas de Tilly foi protegida durante toda a vida. Depois da morte trágica do padrasto foi mimada por todos. A sua atitude teimosa e mal-educada leva-a a fugir das situações difíceis e está convencida de que nunca se comprometerá com nada nem com ninguém.

Mia: o membro mais recente da família Balfour é a filha ilegítima e meio italiana de Oscar, Mia. Resultado da aventura de uma noite entre a sua mãe e o chefe do clã Balfour, Mia foi criada em Itália e é trabalhadora, humilde e bonita de um modo natural. Para ela, foi difícil descobrir a sua nova família e a desenvoltura social das suas irmãs é difícil de igualar.

Emily: é a mais nova das filhas de Oscar e a única que teve com o seu verdadeiro amor, Lillian. Como é a mais nova da família, as suas irmãs mais velhas adoram-na, ocupa o lugar predileto no coração do seu pai e sempre foi protegida. Ao contrário de Kat, Emily tem os pés bem assentes na terra e está decidida a alcançar o seu sonho de se tornar bailarina. A pressão combinada da morte da sua mãe e a descoberta de que Mia é sua irmã tiraram-lhe as forças, mas Emily tem coragem suficiente para sair de casa do seu pai e seguir o seu caminho sozinha.

PROPRIEDADES DOS BALFOUR

O leque de propriedades da família Balfour é muito extenso e inclui várias residências imponentes nas zonas mais exclusivas de Londres, um apartamento impressionante na parte alta de Nova Iorque, um chalé nos Alpes e uma ilha privada nas Caraíbas muito solicitada pelos famosos… apesar de Oscar ser demasiado seletivo no que diz respeito a quem pode arrendar o seu refúgio. Não está ao alcance de qualquer um.

No entanto, a casa familiar é a mansão Balfour, situada no coração de Buckinghamshire. É a casa que as jovens consideram o seu lar. Com uma vida familiar tão irregular, é o lugar que proporciona segurança a todas elas. É lá que festejam o Natal juntos e, é óbvio, é lá que se celebra o baile de beneficência dos Balfour, o acontecimento do ano, ao qual as pessoas mais importantes da sociedade comparecem e que tem lugar nos jardins paradisíacos da mansão Balfour.

CARTA DE OSCAR BALFOUR PARA AS SUAS FILHAS

Queridas meninas:

Não pode dizer-se que fui um pai muito atento. Foram necessários os acontecimentos recentes e trágicos para me aperceber dos problemas que semelhante descuido causou.

O antigo lema da nossa família era validus, superbus quod fidelis. Ou seja, poderosos, orgulhosos e leais. Baseando-me no cumprimento dos dez princípios seguintes começarei a emendar-me. Vou esforçar-me para encontrar essas qualidades dentro de mim e rezo para que vocês façam o mesmo. Durante os próximos meses espero que todas levem estas regras muito a sério. As tarefas que vou pedir-vos e as viagens que vos mandarei fazer têm por objetivo ajudar-vos a encontrar-se e descobrir como se podem transformar nas mulheres fortes que têm dentro de vocês.

Minhas lindas filhas, descubram como acaba cada uma das vossas histórias.

Oscar

REGRAS DA FAMÍLIA BALFOUR

Estas regras antigas dos Balfour foram transmitidas de geração em geração. Depois do escândalo que se revelou durante a comemoração dos cem anos do baile de beneficência dos Balfour, Oscar apercebeu-se de que as suas filhas careciam de orientação e de propósito nas suas vidas. As regras da família, que ele ignorara no passado, quando era jovem e insensato, voltam a ganhar vida, modernizadas e reinstituídas para oferecer a orientação de que as suas jovens filhas precisam.

1ª regra: Dignidade: Um Balfour deve esforçar-se para não desacreditar o apelido da família com condutas impróprias, atividades criminosas ou atitudes desrespeitosas para com os outros.

2ª regra: Caridade: Os Balfour não devem subestimar a vasta fortuna familiar. A verdadeira riqueza mede-se no que entregamos aos outros. A compaixão é a posse mais valiosa.

3ª regra: Lealdade: Devem lealdade às vossas irmãs. Tratem-nas com respeito e amabilidade.

4ª regra: Independência: Os membros da família Balfour devem esforçar-se para conseguir o seu desenvolvimento pessoal e não contar com o seu apelido ao longo de toda a vida.

5ª regra: Coragem: Um Balfour não deve ter medo de nada. Se enfrentarmos os nossos medos com coragem, conseguiremos descobrir coisas novas sobre nós próprios.

6ª regra: Compromisso: Se fugirmos uma vez dos nossos problemas, continuaremos a fugir eternamente.

7ª regra: Integridade: Não devemos ter medo de conservar os nossos princípios e devemos ter fé nas nossas próprias convicções.

8ª regra: Humildade: Há um grande valor em admitir as nossas fraquezas e trabalhar para as superar. Não podemos descartar os pontos de vista dos outros só porque não concordam com os nossos. Um autêntico Balfour é tão capaz de aceitar um conselho como de o dar.

9ª regra: Sabedoria: Não devemos julgar os outros pelas aparências. A verdadeira beleza está no coração. A sinceridade e a integridade são muito mais valiosas do que o simples encanto superficial.

10ª regra: O apelido Balfour: Ser membro desta família não é só um privilégio de berço. O apelido Balfour significa apoiar os outros, valorizar a família como nos valorizamos e usar o apelido com orgulho. Rejeitar o nosso legado é rejeitar a nossa própria essência.

CAPÍTULO 1

Areia, areia e mais areia.

O seu pai não poderia tê-la enviado para um lugar mais remoto, mesmo que a tivesse atirado num foguete rumo à lua. E se isso tivesse sido possível, sem dúvida, ela teria assinado o cheque, pensou Bella com amargura, enquanto curvava os dedos nus dos pés sobre a areia áspera do deserto e olhava para a paisagem inóspita.

Pensando bem, talvez estivesse na lua. Ou talvez em Marte, o planeta vermelho.

Porque havia um retiro no meio do deserto? Porque não a enviara para um spa agradável na Quinta Avenida?

– Bella?

Ela gemeu, desesperada, ao ouvir o seu nome.

Já? Mas mal amanhecera…

Virou-se, contrariada. Nada daquilo era culpa de quem a chamava, recordou-se. Não seria justo descarregar a sua raiva e a sua frustração contra ele.

– Tão cedo, Atif?

Atif estava vestido com uma túnica branca cujo tecido brilhava sob o despertar do sol da Arábia.

– Eu medito antes do amanhecer.

Bella conteve um bocejo.

– Eu prefiro começar o dia com um café bem forte.

– Podes começar melhor o dia a desfrutar do que te rodeia – murmurou o idoso. – Não há nada mais tranquilizador do que ver amanhecer no deserto. Esta paz não te tranquiliza?

– Sinceramente? Está a enlouquecer-me.

Sem pensar no que fazia, Bella procurou o seu telemóvel e, então, recordou que lho tinham confiscado, tal como todos os outros aparelhos de que precisava para se comunicar com o mundo exterior. Olhou para as unhas com desagrado. Se lhe dessem a escolher entre um café e uma manicura, provavelmente, optaria pela manicura.

– És o dono deste lugar?

– Só estou de passagem. Quando estiver pronto, seguirei o meu caminho.

– Eu teria seguido em frente dois minutos depois se pudesse. Estou aqui há duas semanas e sinto que é uma prisão perpétua.

Como é que o seu pai podia ter-lhe feito algo parecido? Por a sua causa, perdera o contacto com todos. E para cúmulo, num momento em que precisava desesperadamente consolo.

A descoberta assombrosa que fizera há duas semanas deixara-a emocionalmente cansada. A pessoa que era antes daquela noite desaparecera para sempre. Tal como tudo o que presumira ingenuamente durante toda a sua vida.

Sentiu remorsos. Não devia ter procurado. Tal como Pandora, levantara a tampa da caixa e agora estava a pagar por isso.

– Permite que as tuas emoções se apoderem de ti como o falcão agarra a sua presa – Atif observou-a com a mesma expressão tranquila que adquiria durante as sessões que faziam juntos. – Estás zangada, mas o teu pai enviou-te para aqui para teu bem.

– Enviou-me para aqui como castigo por o ter envergonhado – Bella abraçou-se, perguntando-se como podia sentir frio num lugar tão quente e opressivo.

– Envergonhei toda a família. Desprestigiei o apelido Balfour. Mais uma vez.

Mas ninguém pensara no que todo aquele incidente sórdido significara para ela. E o facto de ninguém ter tido os seus sentimentos em consideração aumentava a sua sensação de abandono.

Bella sentiu um nó na garganta ao recordar tudo o que acontecera na noite do baile dos Balfour. Queria saber como a sua irmã Olivia se sentia a respeito daquilo. Queria resolver as coisas.

Portara-se mal e sabia. Mas estava incomodada. Ferida. E Olivia também lhe dissera coisas…

– Posso recuperar o meu telefone para enviar uma mensagem de texto? – de repente, pareceu-lhe extremamente importante entrar em contacto com a sua gémea. – Ou podia usar o meu computador? Há duas semanas que não revejo o meu correio eletrónico.

– Isso não é possível, Bella.

– Vou enlouquecer, Atif! A areia e o silêncio formam uma combinação nefasta – olhou à sua volta, desesperada, e concentrou a sua atenção num grupo de casinhas baixas e brancas que vira ao princípio da semana. – E aqueles estábulos que há ali? Não posso ir dar um passeio a cavalo? Só durante uma hora.

– Não têm nada a ver com O Retiro. Esses estábulos são propriedade privada.

– Que lugar tão estranho para ter cavalos – Bella observou os guardas na entrada. – Por que é preciso ter guardas num estábulo? Bom, se não posso pedir um cavalo emprestado, pelo menos, podias dar-me o meu iPod. Relaxo mais facilmente com música.

– O silêncio é de ouro.

– Por aqui tudo é de ouro – murmurou Bella, frustrada, olhando para a areia.

Uma ideia começou a formar-se na sua mente. Uma ideia perigosa e atrevida.

– Fala-me da cidade pela qual passámos quando vínhamos para aqui.

– É o feudo do xeque Al-Rafid, famoso pela sua herança cultural rica.

– Tem petróleo? – forçou-se a iniciar uma conversa banal, mas o que realmente queria perguntar era quanto tempo demoraria a chegar lá e se teriam banda larga de internet.

– Grandes reservas de petróleo, mas o xeque governante é um homem de negócios ardiloso. Transformou o que antes era uma antiga cidade do deserto num centro de comércio. Os edifícios são tão modernos como os que encontrarias em Manhattan, mas umas ruas mais à frente é a cidade velha com os seus exemplos maravilhosos de arquitetura persa. O palácio de Al-Rafid é o mais impressionante de todos, mas não costuma abrir-se ao público porque é o lar do xeque Zafiq e da sua família.

– Tem sorte por viver numa cidade. Está claro que ele também odeia a areia.

– Pelo contrário, o xeque Zafiq ama o deserto, mas é um homem educado e brilhante que conseguiu incorporar o progresso num país muito tradicional. Nunca esqueceu as suas raízes. Uma vez por ano, passa uma semana a sós no deserto. Tempo para pensar. Trata-se de um homem poderoso, alguns dirão que é desumano, mas também é plenamente consciente das suas responsabilidades.

Responsabilidade…

Não fora a última palavra que o seu pai lhe dissera antes de a enviar para o exílio? Bella remexeu-se, incomodada, e tentou apaziguar a sua consciência.

– E este xeque é casado e tem oito esposas e cem filhos?

– Sua alteza ainda não escolheu esposa. A sua história familiar é complicada.

– Aposto que não é nada comparada com a minha.

– A mãe do xeque Zafiq era uma princesa muito amada por todos. Infelizmente, morreu quando ele era um bebé.

– Morreu? – Bella sentiu-se como se lhe tivessem golpeado o peito.

Portanto, perdera a sua mãe quando era pequeno, como ela. Sentia-se inclinada a descobrir mais coisas sobre aquele xeque poderoso e desumano e esqueceu que o seu primeiro objetivo fora simplesmente descobrir qual era a distância até à civilização.

– O seu pai voltou a casar-se?

– Sim, mas ele e a sua madrasta morreram num acidente de viação quando sua alteza era um adolescente.

Portanto, perdera duas mães.

Bella observou como o sol se elevava em forma de bola de fogo sobre as dunas, transformando o tom avermelhado num dourado brilhante. Sentia uma estranha afinidade com aquele xeque misterioso. Estava ali, em algum ponto entre aquelas montanhas de areia. Pensaria na mãe que nunca conhecera? Teria descoberto coisas sobre ela que seria melhor ter deixado em segredo? Estaria tão confuso como ela?

Bella deslizou as mãos nos bolsos das suas calças de algodão e recordou-se que os remorsos não serviam para nada. O passado não podia desfazer-se. Em todas as suas horas de meditação forçada, havia um assunto em que se recusava a pensar.

A sua mãe.

Mais adiante teria de pensar nela, mas por enquanto era tudo muito recente.

– Então, este xeque devia ser muito jovem quando começou a governar o país.

– Tinha dezoito anos. Mas tinha sido educado para desempenhar essa tarefa.

– Pobrezinho! Deve ter tido uma infância muito triste. Mas todo esse petróleo significa que é rico. Então, porque não se casou? Suponho que é velho e feio e não consegue comprar uma esposa.

– Sua alteza tem trinta e poucos anos e é considerado um homem extremamente atraente.

– Então, qual é o problema? – Bella olhou para a lagartixa que deslizava pela areia à frente dela.

– Em algum momento, vai casar-se com a pessoa adequada, não tem pressa.

– E quem poderia culpá-lo? O casamento pode ser um pesadelo. O meu pai casou-se três vezes. A sua perseverança é digna de admiração.

– O teu pai casou-se três vezes?

– Podia pensar-se que já devia saber o que fazer, não é? – Bella sacudiu a areia dos braços nus. – Praticou o suficiente.

– Tens de largar a raiva, Bella. És demasiado apaixonada.

– Sim – ela manteve um tom neutro. – Demasiado apaixonada. Demasiado… tudo. Se tivesses irmãs, meias-irmãs, três mães e um pai como o meu, entenderias porque não tenho a tua calma. Nada perturba tanto como a família. Exceto talvez se nos tirarem o computador, o telemóvel e o iPod ao mesmo tempo.

– É quando a vida se mostra mais exigente que devemos procurar a paz interior. A tua própria habilidade para a reflexão pausada pode ser um oásis no meio da tempestade da vida.

– Não diria que não a alguns dias num oásis – assegurou Bella, com ar ausente, inquieta com o efeito que as palavras de Atif tinham nela.

A verdade era que invejava a sua calma. Ela desejava-a, mas não sabia como consegui-la.

– Palmeiras, água para nadar. Não tenho problemas com a areia, desde que possa vê-la de uma rede com um coquetel na mão.

Ele inclinou a cabeça.

– Deixar-te-ei para meditares, Bella, e ver-te-ei às nove para a sessão de ioga.

– Ioga. Talvez a emoção me mate – Bella tinha uma expressão neutra enquanto o via a dirigir-se para as tendas, mas por dentro estava a bulir de emoção.

Já estava farta.

Não haveria mais meditação, não haveria mais deserto. Ia procurar as chaves do Jipe e sair dali, mesmo que tivesse de magoar alguém.

Ia voltar para O Retiro e iniciar a busca de um meio de transporte quando se apercebeu de que os guardas tinham desaparecido da porta do estábulo. Bella semicerrou os olhos e a sua mente funcionou a toda pressa enquanto reajustava os seus planos. Ninguém a conhecia nos estábulos. Se entrasse com a segurança suficiente em si própria, talvez acreditassem que trabalhava lá.

Deixando-se levar durante um instante pela fantasia de atravessar o deserto a cavalo, passou à frente de um cartaz que dizia «Entrada Proibida» e dirigiu-se para os estábulos. No centro do pátio vazio borbulhava uma fonte e Bella apercebeu-se agora de que os estábulos eram sofisticados e muito grandes.

– O dono deste sítio deve ser rico – olhou de esguelha para trás para ver se alguém se apercebera da sua presença, mas os estábulos pareciam vazios.

Não havia guardas. Não havia ninguém. Bella olhou à sua volta com estranheza. Onde estavam todos?

Sabia por experiência que os estábulos eram lugares muito concorridos. Uma égua espreitou pela porta da sua quadra e relinchou.

Bella aproximou-se dela e acariciou-lhe o focinho. O aroma do feno e do cavalo tranquilizou-a como a meditação nunca fizera.

– És um puro-sangue árabe – murmurou, observando-a com mais cuidado. – Porque é que alguém guardaria um cavalo tão especial neste lugar tão afastado?

A égua empurrou-a com o focinho e Bella quase perdeu o equilíbrio.

– Estás farta de estar presa neste estábulo, não estás? Conheço essa sensação. Onde estão todos? Porque estás aqui sozinha?

A égua remexeu-se, inquieta, na quadra e Bella murmurou umas palavras tranquilizadoras. Desejava desesperadamente subir para o seu lombo e cavalgar até deixar os seus pensamentos para trás.

E porque não? Porque havia de procurar um Jipe quando podia ir a cavalo para a cidade? Não podia ser muito longe. Recordava o caminho. Vagamente. Uma vez lá, podia fazer com que devolvessem o cavalo.

Com um pouco de sorte, Atif estaria tão zangado que se recusaria a voltar a vê-la.

– Depois disto, vai ter de aprofundar muito para descobrir a sua paz interior – murmurou Bella, enquanto desatava a égua.

– Se queres passar uma semana sozinho no deserto, pelo menos, permite que os guardas te acompanhem, Zafiq.

– Se permitir que me acompanhem, então, não estarei sozinho – indicou Zafiq, com ironia. – Esta é a única semana da minha vida em que posso ser um homem e não um governante. Deixo-te responsável, Rachid.

O seu irmão mais novo empalideceu, claramente incomodado com a responsabilidade.

– Não achas que devias adiar a tua viagem? As negociações sobre o petróleo chegaram a um ponto crucial. Esperam que baixes a tua oferta.

– Então, terão uma desilusão.

– Vais-te mesmo embora no momento mais importante da negociação? E se forem a outro lado?

– Não o farão.

– Mas como podes ter sempre tanta certeza do que tens de fazer? – enquanto se dirigiam para os estábulos, o seu irmão lançou-lhe um olhar invejoso. – Oxalá eu fosse tão ininterpretável como tu.

Nunca revelas as tuas emoções.

Ao ouvir o relinchar furioso de um garanhão, Zafiq aproximou-se do estábulo com decisão.

– Não pode dizer-se o mesmo do meu cavalo. Parece que está a revelar as suas emoções.

– Todos nas quadras têm medo dele.

Zafiq observou como o encarregado das cavalariças levava o garanhão furioso para o pátio. Ao ver que o animal agitava furiosamente as orelhas, suspirou.

– Parece que Batal precisa tanto de um descanso como eu – dirigiu-se para o cavalo sem hesitar, com o seu irmão atrás dele a escassa distância.

– Alguma vez te preocupas com alguma coisa? – Rachid disse as palavras como se tivessem bulido dentro dele durante dias. – Alguma vez te sentiste como eu?

Zafiq pensou naquela pergunta com um sorriso nos lábios. Podia ter dito ao seu irmão que a sua infância fora apenas um campo de treino rigoroso para lhe inculcar o sentido de dever e de responsabilidade.

– A segurança chega com a experiência. E eu tive experiência de sobra – observou como Batal chutava o chão e dilatava as fossas nasais. – Deixem-nos.

Os moços de quadra afastaram-se. Zafiq pôs a mão no pescoço do animal e o garanhão tremeu e acalmou-se.

– Cavalos e mulheres – Rachid sorriu, admirado. – Como o fazes?

Zafiq ignorou a pergunta e montou o animal com um salto atlético.

– Voltarei dentro de cinco dias – agarrou as rédeas do garanhão inquieto. – Rachid, esta é a tua oportunidade de adquirir experiência. Não a desperdices. E tenta não começar uma guerra.

Sem dar ao seu irmão a oportunidade de fazer mais objeções, Zafiq permitiu que o animal inquieto e expectante corresse para a frente para atravessar as portas abertas que levavam diretamente do palácio ao deserto.

– Estás tão impaciente como eu por sair da cidade – murmurou Zafiq, desfrutando da sensação de adrenalina que a velocidade lhe proporcionava.

O deserto abria-se à frente dele. Aquele espaço oferecia-lhe refúgio face aos pedidos opressivos do governo e à pressão de cuidar dos seus irmãos mais novos, cujas necessidades pareciam complicar-se à medida que cresciam. Como tutor, sentia-se tão responsável por eles como pelo seu país.