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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Susan Macias Redmond. Todos os direitos reservados.

NO FUNDO DO CORAÇÃO, N.º 1155 - maio 2013

Título original: Her Last First Date

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2008

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

™ ®, Harlequin, logotipo Harlequin e Julia são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-2977-0

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo 1

 

Crissy Phillips pensava que o chocolate era bom para os desgostos amorosos, que o exercício era bom para tudo o resto e que toda a gente tinha segundas oportunidades... menos ela.

Por isso estava há um quarto de hora à porta do Kumquat Diner. Não entrara porque isso significava perdoar-se e não queria fazê-lo ainda.

Sabia bem o que acontecera. Era demasiado jovem e, naquele momento, tomara a melhor decisão possível.

Se tivesse acontecido o mesmo a uma amiga sua, ter-lhe-ia dito muito alegremente para esquecer e seguir em frente com a sua vida. Era sempre muito mais fácil dar conselhos aos outros do que segui-los. A vida dos outros parecia muito mais fácil de resolver, enquanto a sua lhe parecia um verdadeiro caos.

O que fazia a falar sozinha no meio do parque de estacionamento? Crissy deu um passo em frente em direcção à porta do restaurante, porém, voltou a parar.

«Tenho de o fazer, tenho de o fazer, tenho de o fazer», disse para si.

Ao ver que aquilo não ajudava, abanou a cabeça e sentiu o cabelo na nuca. Gastara mais de duzentos dólares nas madeixas avermelhadas e douradas e num corte de cabelo moderno que lhe ficava maravilhosamente. Não queria mostrá-lo?

Não conseguia suportar a insegurança. Era uma mulher de negócios a quem tudo corria bem no terreno profissional, uma pessoa habituada às responsabilidades. Tomava decisões com facilidade e, à excepção do croché, que não lhe corria bem, tudo o resto que fazia lhe corria bem.

Crissy disse para si que era apenas uma conversa, que não devia assustar-se, que tinha de entrar...

Naquele momento, a porta do restaurante abriu-se e saiu um homem alto e bonito de cabelo castanho e olhos verdes.

Crissy não se considerava uma pessoa muito sentimental, contudo, disse para si que aqueles olhos bem mereciam uns poemas.

– Olá – o homem sorriu. – És tu a pessoa por quem estou à espera há muito tempo?

Crissy sorriu, enquanto pensava que semelhante frase era digna de um filme.

– Faltou-te dizer «toda a minha vida» – brincou.

– És Crissy?

Portanto, afinal, não tivera de entrar para conhecer o demónio, pois ele fora à sua procura.

A verdade era que Josh Daniels não parecia um demónio. Era um homem amável que se oferecera para a ajudar por indicação do seu irmão.

– Olá, Josh, prazer em conhecer-te – respondeu Crissy.

Josh arqueou o sobrolho.

– Não sei se estás assim tão contente, porque estavas há dez minutos a decidir se entravas ou não. Ficaste a dançar no estacionamento por minha causa ou por causa das circunstâncias?

– Não estava a dançar – respondeu Crissy.

Era óbvio que Josh a vira e que se apercebera de que não sabia muito bem o que fazer com aquele encontro.

– Estava a tentar falar com... com...

– Contigo mesma? – ajudou-a Josh.

– Exactamente.

– E conseguiste?

– Mais ou menos.

– Muito bem – disse Josh, abrindo-lhe a porta. – Temos mesa reservada com uma vista maravilhosa para o estacionamento. Vais gostar. Anda, entra.

Dado que fora ela quem propusera aquele encontro, Crissy não teve outro remédio senão seguir Josh para o interior do restaurante. Efectivamente, a sua mesa dava para o estacionamento.

– Então presenciaste a minha luta interior – comentou, enquanto se sentava. – A verdade é que eu gosto da ideia. Agora que já viste o pior de mim mesma, só falta mostrar-te o melhor.

Josh sentou-se à frente dela.

– Se isso for o pior de ti mesma, és melhor do que a maioria das pessoas – disse, estudando-a. – Olha, esta situação é pouco convencional e, certamente, estranha, portanto vamos devagar. Para começar, eu gostava que começássemos a falar de coisas normais. O que te parece?

– Óptimo – respondeu Crissy sinceramente. – Estás a comportar-te como uma pessoa encantadora.

– A verdade é que sou um homem encantador, além de incrivelmente inteligente e talentoso, mas não viemos aqui para falar de mim.

Crissy sorriu.

– É maravilhoso conhecer um homem que saiba tão bem que lugar ocupa no universo.

Naquele momento, apareceu uma empregada e tanto Crissy como Josh pediram café.

– Obrigada por teres concordado com este encontro – disse Crissy quando ficaram novamente sozinhos. – Pete e Abbey sempre se mostraram abertos, mas nunca me pareceu bem... – calou-se, porém, decidiu que devia dizer a verdade. – A verdade é que Brandon existia mais na teoria do que na realidade para mim. Quando Abbey me mandava uma carta ou me telefonava, eu não sabia o que dizer. Era mais fácil manter-me afastada. Não quero complicar as coisas – disse. – Simplesmente, adoraria conhecê-lo.

Crissy perguntou-se se Josh teria noção de que estava quase a fazer trinta anos e de que o seu relógio biológico estava a fazer-se notar. Josh limitou-se a olhar para ela com aqueles lindos olhos verdes e não disse nada.

– Em que estás a pensar? – perguntou Crissy depois de alguns minutos em silêncio.

– Que estás a culpar-te há muitos anos por teres entregado o teu filho para adopção. Que idade tinhas? Dezassete anos?

Tinha dezassete anos quando engravidara e dezoito quando dera à luz.

– Tinha acabado a escola – respondeu Crissy.

A verdade era que Josh tinha razão. Culpava-se continuamente porque, segundo ela, escolhera o caminho fácil, escolhera ter a vida que planeara em vez de cuidar do seu filho. Por muito que se empenhasse em justificar-se, a verdade era que não lhe parecia que a sua decisão tivesse sido muito honrada.

– Abbey não pode ter filhos. Ela disse-te isso, não foi?

Crissy assentiu.

– Sim, quando nos conhecemos. Teve um acidente quando era jovem e ficou estéril. Pete e ela começaram a procurar um bebé que pudessem adoptar assim que se casaram. Os meus pais conheciam o seu advogado e, no seu primeiro aniversário de casamento, falámos sobre a adopção de Brandon.

Crissy não recordava muito daquela reunião, porém, lembrava-se que Pete e Abbey se tinham mostrado muito amáveis e compreensivos. Tinham feito com que se sentisse bem e Crissy decidira que queria entregar o seu bebé àqueles pais.

Mesmo assim, nunca quisera fazer parte da sua família, apesar de eles a terem convidado muitas vezes. Não se permitira. Fora o seu castigo.

– Pete e Abbey queriam ter muitos filhos e tu deste-lhes o primeiro. Eu acho que foi absolutamente fantástico.

– Absolutamente fantástico? – Crissy sorriu.

– Se não gostares dessa frase, podes escolher outra – respondeu Josh muito sorridente.

– Não, gosto dessa – respondeu Crissy, dobrando e desdobrando o guardanapo. – Bom, tenho outra pergunta. Porque são tão compreensivos com tudo isto? Passaram quase treze anos e, de repente, quero conhecer Brandon. Não têm medo de que faça alguma coisa horrível como tentar tirar-lhes Brandon ou transformar-me na pessoa mais importante da sua vida?

– São essas as tuas intenções?

– Não, mas eles não sabem.

– Sabem sim.

Crissy ficou em silêncio.

– Quero conhecer Brandon – disse.

Era a primeira vez que pronunciava aquelas palavras em voz alta. Escrevera-as a Abbey por correio electrónico, contudo, nunca as expressara verbalmente.

– Quero conhecê-lo, mas não em profundidade desde o primeiro momento, mas de forma simples e casual.

– Não há problema.

– Não quero dizer-lhe quem sou – continuou Crissy.

Brandon sabia que era adoptado e que tinha uma mãe biológica em algum lado, no entanto, uma coisa era sabê-lo e outra era conhecê-la. Ainda era uma criança. Primeiro tinham de se conhecer e, depois, se tudo corresse bem, iriam mais longe.

– Abbey disse-me o que lhe propuseste e todos concordam – continuou Josh. – Crissy, é lógico. Pete e Abbey quiseram que fizesses parte da vida de Brandon desde o começo porque estão convencidos de que manter uma relação com a sua mãe biológica vai fazer-lhe bem.

– Tenho a impressão de que vai castigar-me – comentou Crissy em voz alta. – Acho que devia ser castigada, que vai castigar-me.

– Por quereres conhecer o filho que deste para adopção?

– Mais ou menos. É como se não acreditasse que mereço uma segunda oportunidade.

– Não sou psicólogo...

– Ena, agora vem um conselho – Crissy sorriu.

– Achas que sabes tudo.

– Sei muitas coisas.

– Como estava a dizer, não sou psicólogo, mas...

– Vês?

Josh ignorou a interrupção.

– Mas parece-me que a única pessoa que está a julgar-se e que quer castigar-se és tu. Chegou o momento de seguir em frente.

Bom conselho. Um conselho que Crissy sabia que devia seguir.

– Qual é o teu papel nisto tudo? Sei que és irmão de Pete, mas o que fazes?

– Sou médico. Oncologista pediátrico.

– Trabalhas com meninos que têm cancro?

Josh assentiu.

– Sim, encarrego-me dos casos mais difíceis, os que já ninguém quer. Passo os dias à procura de uma forma de fazer milagres.

Crissy considerara Pete e Abbey duas pessoas maravilhosas. Pelos vistos, era de família.

– Deve ser um trabalho muito difícil.

Josh encolheu os ombros.

– A verdade é que não temos uma estatística de sucessos muito elevada, mas eu não desisto. Estou decidido a dar a esses meninos e às suas famílias a esperança de que precisam para seguir em frente.

Falou com compaixão e Crissy entendeu porque era tão fácil para ele não dar importância ao que ela fizera. No seu mundo, dar um bebé saudável para adopção a um casal encantador que queria começar uma família não era nada negativo.

Talvez devesse começar a olhar para a sua situação do ponto de vista de Josh.

 

 

Crissy não era o tipo de mulher que Josh esperara. Sabia que devia ter cerca de trinta anos, no entanto, esperava encontrar uma adolescente assustada. Claro que, tendo em conta que Brandon crescera e passara de um bebé a um menino de doze anos, feliz e atlético, fazia sentido que a sua mãe biológica também tivesse mudado.

Sabia muito pouco de Crissy, que vinha de uma boa família, que fora para a universidade, que não era casada e que depositava dinheiro no fundo universitário de Brandon todos os anos no seu aniversário. E, sobretudo, que apesar de Pete e Abbey a terem incentivado a fazer parte da sua família, nunca aceitara.

Até agora.

Josh sempre pensara nela em termos da «mãe biológica», nunca como numa pessoa. Até a conhecer, não parara para considerar que havia alguém no mundo que tinha os olhos e o sorriso de Brandon.

– És parecida com ele – comentou.

– Isso é bom ou é mau?

– É bom.

Crissy sorriu e, embora conseguisse ver rastos do seu sobrinho, também a via a ela, uma mulher bonita de cabelo curto e olhos enormes e brilhantes que se mexia de forma sensual e...

Josh parou. Sensual? Desde quando reparava em coisas assim?

– Abbey diz que gosta de desporto – comentou Crissy. – O seu pai jogava futebol americano na escola e fazia atletismo. Eu também sempre gostei de desporto. De facto, fui para a universidade com uma bolsa de basebol. Era muito boa.

– De certeza que sim – Josh sorriu.

– Não te sentes intimidado?

– Estou a tremer da cabeça aos pés, não se nota?

– Não, mas obrigada por fingires.

– Abbey disse-me que és empresária, mas não sei o que fazes exactamente.

– Tenho ginásios para mulheres. Actualmente, tenho seis, todos nesta zona.

– Impressionante.

Aquilo explicava o corpo que lhe chamara tanto a atenção. Era verdade que não era uma mulher alta, contudo, estava em forma e tinha umas curvas maravilhosas. De repente, Josh teve uma vontade enorme de a ver em roupa de desporto.

O que queria aquilo dizer? Seria possível que, depois de quatro anos completamente sozinho, estivesse a ressuscitar?

Há dois anos que Pete lhe dizia para sair com mulheres, porém, Josh desculpava-se sempre, alegando que tinha muito trabalho. A ideia de manter uma relação parecia-lhe distante, contudo, ter alguma coisa informal era uma ideia tentadora.

– Estás preparada para dar um passo em frente na tua relação com Brandon?

Crissy tremeu.

– Não, mas não me parece que alguma vez esteja, portanto vou atirar-me de cabeça e ver o que acontece.

– Na verdade, Pete e Abbey acabam de saber que lhes concederam finalmente a adopção de Hope, a última menina que acolheram. Vão dar uma grande festa para os amigos e familiares. Pensei que podias juntar-te a eles.

Crissy engoliu em seco.

– Não me parece má ideia. Quando é a festa?

– No sábado às três da tarde.

Crissy levou a mão ao peito.

– Não sei se vou entrar em pânico. Devo levar um presente para uma festa de adopção?

– Não é um requisito indispensável.

– E se quiser fazê-lo?

– Abbey pôs uma lista de presentes nesta loja – respondeu Josh, dando-lhe o nome do estabelecimento em questão.

– Adoro coisinhas de bebé – Crissy sorriu. – Aquela roupinha pequenina e... Suponho que não será um assunto que te divirta muito, pois não?

– Não especialmente.

– E o que gostas de fazer para te divertires?

Boa pergunta. Há quatro anos que não fazia nada para se divertir. Quando vivia com Stacey, a sua mulher, adoravam fazer coisas ao ar livre. Gostava de cozinhar e de cuidar das plantas. Para além disso, tinham aulas de italiano juntos porque queriam ir a Veneza.

Nunca tinham chegado a ir.

– A verdade é que só tenho tempo para trabalhar – respondeu Josh. – E tu?

– Eu também tenho muito trabalho – respondeu Crissy. – Ter a tua própria empresa é muito cansativo, mas eu gosto. Viver aqui, em Riverside, dá-me acesso a imensas actividades ao ar livre. Adoro fazer caminhadas pelas montanhas e fazer esqui no Inverno. Além disso, tento fazer croché. Não tenho jeito, mas insisto porque as minhas amigas adoram. Sou tão má, que tive de oferecer um ano de ginásio grátis à professora, que é a proprietária da loja, para que me deixasse continuar a ir às aulas.

Aquilo fez com que Josh se risse.

– Não é brincadeira – protestou Crissy. – Devo ter um gene «anticroché». A lã odeia-me. Parece-me que estão a recolher assinaturas para me expulsarem da aula – brincou.

Gostava daquela mulher e Josh tinha consciência de que era precisamente a primeira coisa que a sua cunhada ia perguntar-lhe.

– Bom, então vou à festa no sábado – Crissy suspirou. – Tens a certeza de que ninguém vai importar-se?

Josh estendeu o braço e pegou-lhe na mão. Fizera-o para a consolar e ficou surpreendido ao sentir uma descarga eléctrica.

– Vai correr tudo bem – disse, ignorando as sensações e afastando a mão.

– Não sabes isso. O facto de seres médico e de estares habituado a dizer coisas assim, não te dá a certeza de que vá ser assim.

Josh sorriu.

– Respira profundamente.

– Não vai servir de nada – respondeu Crissy, levantando-se. – Lá estarei. Às três horas. Bom, se calhar às três e dez. Para dar tempo para os outros chegarem.

Depois de pagar, Josh tirou um cartão-de-visita do bolso e escreveu qualquer coisa no verso.

– O meu número de telemóvel. Telefona-me quando estiveres a cinco minutos da festa e vou buscar-te à porta. Não quero que entres sozinha.

Crissy olhou para ele com gratidão.

– Muito obrigada. Assim, se não conseguir controlar os nervos e começar a vomitar sem parar, poderás receitar-me alguma coisa, não é?

– Se for necessário, sim – Josh riu-se.

– Muito obrigada, Josh. Agradeço-te imenso o que estás a fazer.

Olharam um para o outro durante um segundo e depois Crissy virou-se e afastou-se. Josh ficou onde estava, a observar o movimento das suas ancas e o balanço do seu cabelo.

De repente, desejou muito sentir-se vivo novamente.

 

 

– Gostaste dela? – perguntou Abbey assim que Josh entrou em casa. – Sempre gostei dela. Parece-me uma mulher maravilhosa, e tu?

Josh inclinou-se sobre a sua cunhada e beijou-a na face.

– Gostei dela – respondeu.

– A sério?

– Juro.

– Óptimo – Abbey sorriu, olhando para o seu marido. – Ele gostou dela.

– Eu ouvi.

Abbey apanhara o cabelo e algumas madeixas tinham saído do rabo-de-cavalo enquanto corria para a cozinha, indicando a Josh que a seguisse.

– Tenho algumas amigas que não gostam da ideia de Crissy conhecer Brandon. Têm medo de que cause algum problema – explicou, abrindo o forno e tirando os pães que estava a fazer.

Josh sentiu água na boca. Abbey tinha muitas qualidades, porém, sempre lhe parecera que cozinhar era a melhor delas.

– Só quer conhecê-lo – respondeu Josh.

– Foi o que eu lhes disse. Convidámo-la muitas vezes para que fizesse parte da família, mas ela nunca quis – comentou Crissy, enquanto punha o pão dentro de umas cestas para que arrefecesse. – Ela tem família, mas não vivem por aqui, e pergunto-me se não se sentirá sozinha.

Pete suspirou e passou o braço pelos ombros da sua mulher.

– Pára de tentar resolver a vida a toda a gente, querida. Crissy é uma empresária a quem tudo corre muito bem e não precisa que te metas na sua vida.

– Não estou a meter-me na vida dela. A única coisa que digo é que precisa de nós.

Pete olhou para Josh e revirou os olhos.

– Crissy está bem – insistiu.

– Talvez pudéssemos arranjar-lhe um namorado.

– Crissy é perfeitamente capaz de encontrar um homem sozinha. Não te parece que já tens muitas coisas em que pensar?

Enquanto o seu irmão e a sua cunhada tinham aquela conversa, Josh aproximou-se do frasco de biscoitos de chocolate que Abbey fizera no dia anterior e comeu dois.

Pete e Abbey tinham nascido um para o outro. Desde que se tinham conhecido, tinham sabido que estariam sempre juntos. Nunca tinham feito joguinhos de sedução, nem se tinham questionado, nem tinham discutido. Tinham começado a namorar na escola e, desde aquela primeira noite, tinham sabido que o seu futuro estaria unido.

– Vem à festa? – perguntou Abbey.

– Disse que sim – respondeu Josh. – Quer conhecer Brandon.

– Ainda bem – Abbey sorriu. – Vamos ser uma grande família. Quero que Crissy conheça Brandon e, quando chegar o momento adequado, quando estiver mais à vontade, digo-lhe que é a sua mãe biológica – acrescentou, virando-se para Pete. – E Zeke? Continua solteiro, não é?

– Foge enquanto podes – aconselhou Pete ao seu irmão. – Quando fica assim, não há quem a pare.

 

Crissy adorava o conceito de fim-de-semana, porém, daquela vez, pareceu-lhe que sábado chegara demasiado cedo.

Passara toda a manhã a tentar escolher que roupa usar numa festa de «olá, adoptámos um menino». Queria causar boa impressão, porém, não chamar demasiado a atenção. Queria ir de forma casual, mas não demasiado. Queria estar bonita, mas não sexy.

Disse para si várias vezes que Brandon era um rapaz de doze anos e que nem sequer ia reparar nela, porém, mesmo assim, cada vez que pensava que ia conhecê-lo, sentia um aperto no estômago.

Por fim, vestiu umas calças de ganga justas, uma camisola fina e um casaco de pele e decidiu calçar umas botas para parecer mais alta. Depois, penteou-se, maquilhou-se um pouco e viu-se ao espelho mais vezes do que quando ia sair com um homem.

A verdade era que há muito tempo que não saía com um. Odiava encontros. Sair com homens era uma chatice e o primeiro encontro era o pior de todos.

Depois de mudar de brincos pela vigésima vez, dirigiu-se para a sala, onde Rei Eduardo, o seu gato, descansava ao sol.

– Que tal estou? – perguntou, dando uma volta. – Se fosses um rapaz de doze anos, gostarias que a tua mãe biológica fosse assim vestida?

O gato levantou a cabeça, pestanejou duas vezes e bocejou.

– Pois – murmurou Crissy, agarrando nas chaves e saindo de casa.

Em menos tempo do que teria gostado, chegou à frente de uma casa, estilo rancho, situada num bairro de Riverside. Aquele era um daqueles bairros onde as crianças andavam de bicicleta na rua e os vizinhos ajudavam a levar as compras uns dos outros.

Havia muitos carros. Certamente, Josh tivera razão quando lhe dissera que se tratava de uma grande festa. Crissy disse para si que não ia ser difícil perder-se entre os convidados.

Tal como lhe dissera, telefonara-lhe antes de chegar e ali estava Josh, à espera dela no alpendre. Crissy achou-o mais alto e mais bonito do que quando o conhecera. Adorava o seu sorriso e tentou concentrar-se nele e não na razão pela qual estava ali.

– Estás nervosa? – perguntou, ao aproximar-se dela.

– Paralisada. Acho que vou começar a babar.

– Se começares a babar, toda a gente vai reparar em ti – brincou Josh, pondo as mãos nos bolsos. – Anda, está tudo bem. Respira fundo. Vai correr bem.

– Tenho uma imaginação incrível e ocorrem-me trezentas cenas desastrosas nas quais poderia colocar-me em menos de um minuto.

– Impressionante.

– Podias mostrar-te um pouco mais solidário – disse Crissy. – É a minha vida que está em jogo.

– Não sejas exagerada. É só...

No entanto, Josh não teve tempo de a convencer do impossível porque, naquele momento, a porta principal da casa abriu-se e apareceu um rapaz de doze anos.

– Tio Josh, anda! Vamos jogar futebol e quero que jogues na minha equipa.

Crissy sentiu que não conseguia respirar. Olhou para o rosto que apenas vira em fotografias. Vira aquele rapaz uma\ vez há quase treze anos, numa manhã de quinta-feira, quando a enfermeira lho mostrara envolto numa toalha.

Crissy recusara-se a tê-lo nos braços e apontara para Abbey, que observara a cena com lágrimas nos olhos.

– A mãe dele é ela – dissera sinceramente.

Continuaria a pensar assim?