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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2006 Christine Rimmer

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Um casamento sem noivado, n.º 1106 - Fevereiro 2014

Título original: Married in Haste.

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2008

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Julia e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em queaparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5039-2

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo 1

 

Angie Dellazola cerrou os dentes e conteve um gemido de dor. A sua irmã Glory apertava-lhe a mão com tanta força que quase lhe partia os ossos.

– Calma, Glory – suplicou, tentando apaziguá-la. – Calma...

Glory não queria que a apaziguassem. Para além de triturar a mão de Angie, gritava. E praguejava, usando palavras que uma boa rapariga católica nem sequer devia conhecer e que faziam com que a tia Stella, no canto, junto da porta que dava para o corredor, ficasse boquiaberta, olhasse para o céu e brincasse nervosamente com o seu rosário.

Era o primeiro dia de Angie na clínica e também era o dia em que o bebé de Glory decidira nascer.

As águas tinham rebentado há quarenta e cinco minutos. Estava plenamente dilatada. O doutor Brett Bravo, o amigo de infância de Angie e, naquele momento, o seu chefe, decidira que o bebé chegava demasiado depressa para se arriscar a ir para o hospital, situado a setenta quilómetros de caminho tortuoso de montanha. Por isso optara por um parto em casa num dos quartos de cima da casa dos Dellazola.

– Estás a sair-te muito bem, querida – encorajou-a, quando ela parou de gritar o tempo suficiente para respirar. – Tenta não empurrar ainda. Simplesmente, respira, tal como te ensinaram nas aulas de preparação para o parto... inspirações curtas e ofegantes...

– Angela Marie – interrompeu-a Glory, com um gemido gutural. – Não me digas para respirar. Não consigo respirar. Dói demasiado... – apertou a mão da sua irmã com mais força e deu outro grito horripilante.

Rose, a mãe de Glory e de Angie, que estava do outro lado da cama, repreendeu-a.

– Vá lá, Glory, querida... Angie tem razão. Tens de te deixar levar. Não fiques tensa.

Glory resmungou.

– Suponho que não me ouviste. Disse que dói. Dói, muito, muito...

– Sei que dói – replicou a sua mãe. – Passei por isso e tu sabes – não exagerava. Dera à luz a nove filhos... sete raparigas e dois rapazes. – Portanto, quero que ouças, quero que...

– Ouvir? – soprou o cabelo molhado que tinha sobre os olhos. – Queres que ouça...

– Querida, deves parar de lutar contra isso.

– Oh, meu Deus... – abanou a cabeça com frenesim. – Oh, santo Céu, vem aí outra...

Da porta, Trista, a irmã mais velha, perguntou:

– Trago uns cubinhos de gelo? – deixara as suas três filhas com a segunda irmã, Clarice, para ir dar uma ajuda. – Olá? – não obteve resposta... à excepção de outro grito de Glory. – Uns cubinhos. Decididamente. Dani já os terá prontos.

Danielle, que estava na cozinha, era a quarta irmã da família... sendo Angie a terceira.

– Vou precisar dessa tigela – acrescentou Tris, como se alguém no quarto lhe prestasse atenção. Entrou para ir buscar a tigela de plástico vazia que estava na mesa-de-cabeceira. – Volto já... – virou-se e saiu.

Mais gritos. Angie deu-lhe a sua mão para que ela a apertasse. A mamã Rose limpava-lhe a testa enquanto a tia Stella dedicava mais orações à Virgem. No final, a contracção alcançou o seu ponto máximo e acabou.

Trista reapareceu com os cubinhos de gelo triturados e uma colher. Pôs-se entre Rose e a cabeceira da cama e ofereceu o gelo a Glory. Ela gemeu, abriu a boca e deixou que Trista os introduzisse.

– Hum... – ela gemeu. – Que bom...

Trista ofereceu-lhe outra colher.

Glory ia aceitá-la... quando pestanejou, abanou a cabeça para afastar o cabelo da cara e olhou em redor do quarto.

– Onde é que Brett está?

– Aqui – indicou Angie.

– Onde? Não o vejo.

– Querida, calma – acalmou-a a sua irmã. – Só foi à outra divisão para fazer umas chamadas.

– Preciso dele – Glory gemeu. – Preciso do meu médico. Preciso dele agora...

– Glory, voltará num minuto. Está com outra paciente. Tu estás bem, querida. Relaxa.

– Pára de me chamar querida... e não me digas que estou bem. Não estou. Estou a morrer!

– Não estás a morrer – asseverou a sua mãe. – Estás a sair-te muito bem. Se houvesse algum problema, Brett ter-te-ia levado para o hospital de helicóptero e tu sabes muito bem.

– Analgésicos! – gritou Glory. – Preciso deles! Preciso deles agora!

Exactamente naquele momento, o velho Tony, bisavô das irmãs Dellazola, espreitou pela porta. Praguejou em italiano, idioma que mal sabia falar. Ninguém na família o dominava. Afinal de contas, estavam há várias gerações longe do velho país. E Tony crescera numa época em que os homens escolhiam encaixar em vez de honrar as suas raízes.

– Podem acalmar-se um pouco? – perguntou. – Nem sequer consigo ouvir os meus próprios pensamentos... e Dani está na cozinha, histérica. Porque chora?

Nenhuma das cinco mulheres lhe respondeu. Mas todas se viraram em uníssono e cravaram o olhar no patriarca da família. Aquele olhar era demasiado para qualquer homem... até mesmo para o velho Tony, que, regra geral, nunca deixava que ninguém, em particular uma mulher, ganhasse vantagem sobre ele.

– Hum... – replicou, virando-se e indo para o seu quarto, abanando a cabeça.

Assim que se perdeu de vista, Rose olhou para Trista.

Ela revirou os olhos.

– Oh, mãe. Já sabes como Dani é. Deseja tanto ter um bebé... que dói, e muito, ver alguém que vai tê-lo quando ela ainda não conseguiu ficar grávida.

Danielle e o seu marido, Ike, estavam há cinco anos a tentar ter um filho... até ao momento, sem sucesso.

– Dói-lhe? – repetiu Glory, com os olhos esbugalhados. – Não sabe o que é a dor!

Trista, imprudente, defendeu Dani.

– Oh, sabe, sim. É uma mulher casada com um marido agradável que só quer ter um pequeno...

Glory gritou... mas daquela vez foi de indignação.

– Oh, claro! Como eu não sou casada, não mereço este bebé. É isso que insinuas, Tris?

De repente, Trista pareceu muito nobre.

– O que digo é que há dor e dor...

– Oh! A sério? Bom, sabes uma coisa? Podes levar a tua tigela de gelo triturado e pô-la onde...

– Chiu, já chega! – interveio Rose, batendo no ombro de Glory e dedicando um olhar de recriminação a Trista. – É suficiente.

Tris fechou a boca. Mas Glory não. Foi dominada por outra contracção que a fez gritar outra vez. A tia Stella rezou e Angie tranquilizou-a. Rose acariciou-lhe o ombro e Trista, profundamente ofendida, mas decidida a ser de ajuda de qualquer modo, permaneceu preparada com a tigela de gelo.

Quando aquela contracção finalmente remeteu, alguém falou da soleira, confuso:

– Glory. Bolas, mulher!

Angie olhou para a porta.

Bowie Bravo.

Dani, que devia tê-lo parado à entrada, vinha atrás dele. Com lágrimas nas faces, agarrou-o pelo braço.

– Bowie! Disse-te que agora não podes vir aqui.

Ele soltou-se, sem desviar o olhar de Glory.

– Escuta, Glory! Não faz mal. Perdoo-te por todas as vezes que disseste que não. Mas aceita agora. Aceita casar-te comigo.

Glory respondeu-lhe o que passara meses a responder.

– Não. Não me casarei contigo. E agora, vai-te embora.

Bowie não se mexeu.

– Oh, vá lá. Diz-me só que sim. Só tens de dizer um minúsculo «sim».

Glory não disse «sim». Emitiu um gemido baixo.

– Falo a sério, Bowie. Estou muito ocupada e não posso... – parou para gemer, – tratar de ti agora. Portanto, vai-te embora.

Dani limpou o nariz, secou as lágrimas... e voltou a agarrar no braço de Bowie.

– Vamos. Ouviste o que disse.

– Diabos, não! – Bowie soltou-se outra vez. – Não vou – entrou no quarto. – Glory, Glory, por favor...

Tal como os seus três irmãos, um dos quais continuava a falar ao telefone na outra divisão, Bowie tinha uma beleza agreste. Ou tivera, até começar a beber demasiado. No presente, para apreciar a sua beleza natural, era preciso evitar o seu andar furtivo, a forma de falar confusa, a tez macilenta e os olhos injectados de sangue. As pessoas da cidade afirmavam que começara a beber quando Glory o rejeitara. Quanto mais firme era a negativa que recebia, mais bebia.

Bowie deu outro passo hesitante para dentro do quarto.

– Glory, diz que sim...

– Vá lá, querida... – Rose deu uma palmadinha no ombro da sua filha. – É o pai do teu bebé. Talvez se...

– Mãe, não comeces – virou a cabeça para olhar para Angie, furiosa. – Leva-o... para fora... daqui... – ela ofegou enquanto falava, antes de a contracção seguinte a fazer ficar tensa. Deitou a cabeça para trás e gritou novamente.

Enquanto Glory gritava, o resto das mulheres começou finalmente a mexer-se. Rose e Tris situaram-se ao pé da cama, directamente no caminho de Bowie. Angie juntou-se a elas alguns segundos mais tarde... Assim que conseguiu soltar os dedos do aperto da sua irmã. A tia Stella passou por Bowie e pôs-se ao lado de Angie. Até Dani, ainda chorosa, conseguiu esquivar o futuro pai ébrio para ocupar um lugar na fileira de mulheres.

– Fora do meu caminho! – ordenou Bowie, semicerrando os olhos mais do que nunca.

Mas as mulheres mantiveram-se firmes.

– Vá lá, Bowie, esquece – Angie teve de gritar para se fazer ouvir por cima dos gritos de Glory.

Bowie murmurou algo desagradável. Deu outro passo para elas, respirou fundo e gritou:

– Afastem-se todas, mulheres! Afastem-se já ou não me considerarei responsável...

– Bowie – chamou alguém da soleira, num tom de voz profundo e seguro.

Brett. Angie sentiu uma onda de alívio. O seu novo chefe desligara finalmente o maldito telefone.

Ele saberia o que fazer. Falaria com o seu irmão...

– Eh? – cambaleando, Bowie virou-se. – Brett?

– Agora tens de te ir embora, Bowie.

Falou com gentileza, mas mesmo por cima dos gritos de dor de Glory, cada palavra soou com clareza. Brett raramente levantava o tom de voz. Podia ser um Bravo, mas não era como Bowie. Era sensato. Um homem realmente racional.

Bowie abanou a cabeça loira.

– Não posso ir, Brett. Simplesmente, não posso...

– Tens de o fazer. Pelo bem do bebé. E de Glory.

– Não... – percorreu-o um tremor.

Apesar de todos os problemas que aquele idiota estava a causar, o coração de Angie teve piedade dele.

Brett avançou e segurou nos ombros do seu irmão.

– Estás bêbado! Aqui só estás a estorvar. É hora de te ires embora e acho que tu sabes.

Foi um daqueles momentos que tinham lugar cada vez que dois homens Bravo estavam frente a frente. As mulheres, ao pé da cama, sustiveram a respiração. Até Glory parou de gritar.

Bowie ficou rígido.

Todos sabiam que Bowie ia fazer o que costumava fazer ultimamente... pôr o seu grande punho para trás e lançá-lo para o queixo quadrado de Brett. Decorreu um segundo. Dois. O tempo prolongou-se e pendeu da indecisão fina e ébria de Bowie.

E então, da cama, Glory gemeu.

O som de dor pareceu cair sobre Bowie como um golpe. O corpo grande sacudiu-se como o de uma marioneta... e, então, deixou-se cair nos braços do seu irmão. Brett recebeu-o e sussurrou-lhe algo ao ouvido.

Bowie recuperou-se e oscilou até obter um equilíbrio precário sobre os seus pés inseguros.

– Está bem, vou-me embora – murmurou.

Brett deu-lhe uma palmadinha no ombro. Sem dizer mais uma palavra e com a cabeça baixa, Bowie passou pelo seu irmão e saiu para o corredor.

Ninguém no quarto se mexeu ou emitiu um som... à excepção de Glory, que apoiava as mãos na sua barriga gigante e gemia baixinho para si. Os outros esperaram, ouvindo os passos de Bowie enquanto descia as escadas e avançava pelo hall. Ouviram a porta a abrir-se. Bowie fechou-a atrás de si.

Houve um momento de silêncio, depois Dani soluçou.

– Foi-se embora. Graças a Deus!

– Pelo menos, por enquanto – corroborou Brett, encolhendo os ombros com cansaço. Disse a Dani: – Desce e tranca a porta... todas as portas. E fecha as janelas que possam estar abertas. Não acho que volte, mas não há motivo para lhe facilitar a entrada se o fizer.

Dani assentiu e saiu do quarto.

O gemido de Glory transformou-se num grito.

Brett olhou para Angie nos olhos. Esboçou o sorriso que ela conhecia desde a infância. Ela retribuiu-o, pensando que, apesar do drama familiar interminável, se sentia contente por estar em casa outra vez.

– Acho que já é altura de esta rapariga começar a empurrar.

 

 

Vinte minutos mais tarde, aparecia a cabeça do bebé. Não foi um momento tranquilo.

Glory alternava-se entre o esforço de empurrar e de gritar. A tia Stella rezava em voz alta. Dani olhava pela janela e soluçava de forma incontrolável devido ao bebé que ainda não concebera.

A situação piorou. O avô Tony bateu na parede do seu quarto com o punho e gritou: «Calem-se!» e Rose replicou «Cala-te tu!» com outro grito. Bowie regressara, esmurrava a porta da entrada e gritava: «Deixem-me entrar! Também é meu filho! Não me importa o que digam. Tenho o direito de estar aí!»

E, então, no meio de toda aquela loucura, Brett levantou a cabeça de entre as pernas de Glory e olhou para Angie.

Os seus olhares encontraram-se e ela sentiu...

Paz. Um momento bonito de quietude resplandecente e de compreensão perfeita.

Não havia dúvida a respeito disso. Brett e ela eram as únicas pessoas sensatas naquela casa de loucos onde imperavam os gritos, as pancadas, as súplicas, as orações e os idiotas.