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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2003 Gina Wilkins

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Interesses em conflito, n.º 1175 - Novembro 2014

Título original: Conflict of Interest

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2009

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Julia e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5897-8

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Epílogo

Volta

Prólogo

 

Quando o telefone tocou pela décima quinta vez, Adrienne Corley desligou violentamente. Não costumava perder a paciência com muita frequência, mas Gideon McCloud era capaz de provocar um ataque de nervos a um santo.

Era a quinta vez em três dias que tentava entrar em contacto com ele. O seu atendedor de chamadas estragara-se há algumas semanas e ele não se incomodara em arranjá-lo ou em comprar um novo. Portanto, ela não pudera deixar nenhuma mensagem. Enviara-lhe e-mails, mas, aparentemente, ele passava dias sem ir à sua caixa de correio electrónico.

O pior era que ela suspeitava que ele estava lá sentado, ao lado do telefone, a ouvir como tocava, decidido a não atender.

– Não tenho de aguentar isto! – protestou, olhando para o telefone, como se o homem a quem telefonava conseguisse ouvi-la. – Podia ter um trabalho mais fácil… Trabalhar num banco… ou numa biblioteca. Até cavar diques deve ser melhor do que trabalhar com autores excêntricos…

– Estás a ameaçar despedir-te? – perguntou Jacqueline Peeples, a sua assistente administrativa, enquanto deixava uma pilha de correio na secretária de Adrienne.

– Algum dia cumprirei essa ameaça.

– Sim, claro… Vai dizê-lo ao teu pai…

– Não tenho medo do meu pai. Se quiser sair da sua agência literária, sou livre para o fazer.

– Claro… – murmurou Jacqueline.

Ouvira aquilo muitas vezes, é claro. Não acreditava e Adrienne também não.

– Pelo menos, terás férias em breve. Se há alguém que precisa de duas semanas fora deste escritório, és tu. Portanto, não deixes que o teu pai te convença a ficar.

– Não o farei – jurou Adrienne. – Conquistei estas férias. São as primeiras que tiro em três anos e tenciono desfrutar delas. Estou tão cansada de horários e de reuniões que nem sequer fiz planos para as próximas semanas. Vou agir totalmente por impulso, viver cada minuto…

– É exactamente disso que precisas. Mas enquanto isso, o que vais fazer com Gideon McCloud?

– Vou fazer com que fale comigo, mesmo que tenha de ir até Honesty, no Mississípi, e entrar na sua casa à força.

– Eu gostaria de o ver… – comentou.

– O quê? Gostarias de me ver a entrar na casa dele à força?

– Não. Gostaria de te ver no Mississípi.

Quanto mais pensava nisso, mais brilhante lhe parecia aquela solução, pensou Adrienne.

Gideon McCloud era um homem seco, brusco, solitário, mas era um escritor com muito talento, com um grande futuro e ela queria conseguir uma percentagem desse futuro.

– Reserva-me um voo – declarou Adrienne, sem querer pensar nisso. – No princípio da próxima semana, preferivelmente. Assim terei tempo para deixar o trabalho acabado.

– Não falas a sério, pois não? Queres ir ao Mississípi para te encontrares com um escritor durante as tuas férias?

Quanto mais pensava nisso, mais decidida estava, embora se sentisse enervada com o trabalho.

Adrienne assentiu lentamente, cada vez mais convencida.

– Só demorarei um ou dois dias e nunca estive no Mississípi, portanto pode fazer parte das minhas férias. Matarei dois coelhos de uma cajadada só. Então, veremos se Gideon McCloud é capaz de me ignorar quando estou à frente dos seus olhos!

 

 

Capítulo 1

 

O telefone de Gideon McCloud tocou várias vezes naquela segunda-feira, mas ele ignorou-o.

Num momento de fraqueza naquela manhã atendera o telefone. O pobre operador de marketing ainda devia ter dores de ouvidos devido à forma como desligara o telefone. Tinha uma aversão quase patológica aos operadores. Por isso, não gostava de atender o telefone.

Realmente devia pôr outro atendedor de chamadas, pensou, quando percebeu que o telefone estava a tocar. Talvez o fizesse um dia daquela semana, pensou. Concentrou-se no seu computador e esqueceu o resto.

Meia hora mais tarde, ouviu a campainha da entrada. Tocou meia dúzia de vezes e, depois, ouviu umas pancadas na porta, seguidas pela campainha outra vez.

Contrariado, levantou-se e caminhou para a porta da rua e abriu-a impacientemente.

– O que se passa?

Uma mulher alta e magra, de sessenta e poucos anos estava em frente dele, com um anjinho de caracóis loiros até aos ombros e olhos azuis enormes. Ao seu lado havia uma mala vermelha. E a pequena trazia uma mochila violeta às costas.

Gideon franziu o sobrolho ao ver a mala, antes de desviar o olhar para a sua mãe.

– O que se passa? – perguntou.

– Se atendesses o telefone, já saberias a resposta – sem esperar que a convidasse a entrar, Lenore McCloud entrou, com a mala na mão.

Gideon fechou a porta atrás deles, depois, virou-se para olhar para a sua mãe. Ainda estava irritado com a visão daquela mala.

– E?

– A tua tia Wanda caiu ontem à noite e partiu a anca. Passaram várias horas até a ajudarem e não se sente bem. A sua vizinha telefonou-me há algumas horas. Tenho de lá ir imediatamente.

A sua tia era a única sobrevivente da família da sua mãe, não era de estranhar que quisesse ajudá-la.

– Lamento ouvir isso… Espero que melhore… – replicou ele.

– Eu também – Lenore olhou para a pequena. – Isabelle, querida, o escritório é ali. Porque não vais ver desenhos animados enquanto eu falo alguns minutos com Gideon?

A menina assentiu obedientemente e desapareceu no escritório.

– Porque está a ver desenhos animados no meu escritório? – perguntou Gideon, com desconfiança.

– Isabelle vai ficar contigo até podermos organizar outra coisa. Espero que sejam só alguns dias, mas não posso garantir-to.

– Nem pensar, mãe. Esquece. Não podes deixá-la aqui.

– Não há outra opção. Nathan e Caitlin só voltarão da sua lua-de-mel dentro de duas semanas. Deborah voltou ontem para a Florida. E não posso levar uma menina de quatro anos para o hospital.

– E a governanta que cuida de Isabelle quando Nathan está a trabalhar? Não pode ficar com ela?

– A senhora Tuckerman aproveitou a lua-de-mel para ir de férias depois do casamento, já que eu me ofereci para cuidar de Isabelle. Ninguém podia prever o acidente de Wanda…

– De certeza que há outra pessoa… Eu tenho de trabalhar e sabes como fico quando me atraso… Deixar uma menor comigo deve constituir negligência ou algo do género…

– Não sejas ridículo! És perfeitamente capaz de cuidar de Isabelle durante alguns dias. A menina porta-se muito bem, não incomoda. Vai para o jardim-de-infância das oito às duas da tarde, portanto podes trabalhar em solidão durante essas horas – declarou Lenore.

– E depois das duas, o que tenho de fazer com ela?

– És um jovem inteligente. Conseguirás fazê-lo.

– Não quero fazê-lo. Não podes deixá-la aqui!

– Está bem! – Lenore olhou para ele, magoada. – Se não tenho outra opção, levarei Isabelle e telefonarei à minha pobre irmã para lhe dizer que não posso ir ter com ela quando precisa de mim, porque não dá jeito ao meu filho.

– Mãe…

– Está bem… Compreendo. És um escritor importante e o teu tempo é muito valioso.

Suspirou e disse:

– Vai ver a tua irmã. Eu cuidarei da menina.

Lenore tirou uma folha da sua mala. Estendeu-lha e comentou:

– Este é o horário que Nathan e Caitlin me deixaram, incluindo a escola e as suas aulas de dança.

– Aulas de dança?

– Também tem o número de telefone da escola e do pediatra e um número onde Nathan pode ser localizado em caso de emergência. Eu escrevi alguns números para conseguires localizar-me, se precisares. E tens o meu número de telemóvel, é claro.

– Durante quanto tempo achas que estarás fora?

– Não sei. Dir-to-ei assim que puder. Isabelle almoçou na escola hoje, é claro. E eu dei-lhe alguma coisa para comer quando fui buscá-la. Portanto, só terá fome à hora do jantar, por volta das seis. Devia deitar-se às oito. Tenta fazer com que coma coisas saudáveis. Não lhe dês demasiadas batatas fritas ou comida rápida. E agora tenho de ir, visto que tenho uma viagem de carro de duas horas pela frente. Irei despedir-me de Isabelle…

Gideon seguiu a sua mãe para o escritório. Isabelle estava sentada num extremo do seu sofá de pele, a ver televisão. Quando eles entraram, desviou o olhar do ecrã e perguntou:

– Fico aqui?

– Alguns dias – respondeu Lenore. – Ficarás bem, querida. O teu irmão mais velho cuidará de ti.

Como não estava habituado a pensar em si próprio como o irmão mais velho de Isabelle, afinal de contas só conhecia a menina há quatro meses, demorou um instante a perceber que a sua mãe esperava que ele dissesse alguma coisa.

– És bem-vinda aqui, Isabelle – afirmou Gideon, quando reagiu.

A menina não parecia entusiasmada com a ideia de ficar com ele e Gideon compreendia. Certamente, Isabelle sabia que ele não era a pessoa indicada para cuidar dela. Embora soubesse que a menina era sociável com outras pessoas, até mesmo com estranhos, com ele fora sempre bastante reservada. Tratara-o com timidez, o que lhe indicava que não formara uma opinião dele e, como ele também não formara uma ideia da sua maninha, sentira-se satisfeito por a menina agir assim.

Nunca lhe ocorrera que teria de tomar conta dela.

– Tenho de ir, querida. Sê boa com Gideon, está bem? E sê paciente com ele – pediu Lenore. – Custa-lhe aprender algumas coisas. Mas será muito amável contigo.

Isabelle rodeou o pescoço de Lenore e replicou:

– Adeus, avó. Espero que a tua irmã fique bem.

Gideon ainda se sentia chocado ao ouvir a sua meia-irmã a referir-se à sua mãe como avó. Até há pouco tempo, Lenore não quisera saber da existência da criança. E, no entanto, ali estava agora, a abraçar a menina carinhosamente como se realmente fosse a avó de Isabelle e a tornar-se responsável pela filha do seu ex-marido, enquanto o seu filho mais velho, o tutor legal da criança órfã, estava em lua-de-mel.

Dez minutos mais tarde, encontrou-se sozinho com uma menina de quatro anos, à espera que fizesse ou lhe dissesse alguma coisa. E ele não sabia o que fazer ou dizer.

Gideon olhou para o seu relógio. Ainda não eram quatro da tarde. Era demasiado cedo para jantar. Faltavam quatro horas para a menina ter de ir para a cama.

– Eh… Hum… Apetece-te beber ou comer alguma coisa? Tenho refrigerantes, acho.

– Não, obrigada.

– Oh, está bem… – olhou à sua volta.

O escritório estava decorado ao estilo do Sul, com pele. As paredes estavam cobertas de estantes cheias de livros. Era o escritório de um rapaz e não havia nada que pudesse entreter a menina, excepto a televisão.

– Tenho de acabar de fazer uma coisa – disse ele. – Ficarás bem aqui, a ver televisão?

– Sim, ficarei bem.

– Se precisares de alguma coisa, diz-me, está bem?

– Está bem.

O seu escritório sempre fora um refúgio para ele e naquele dia ainda era mais. Mas infelizmente sabia que não poderia passar o tempo todo ali, até a sua mãe voltar.

 

 

Gideon estava a trabalhar no computador à meia hora quando ouviu um ruído que chamou a sua atenção. Para sua frustração, só conseguira escrever algumas frases desde que se sentara, portanto franziu o sobrolho quando levantou o olhar.

Sentiu aborrecimento e, depois, consternação ao ver Isabelle à porta do seu escritório, agarrada a um peluche e com o lábio inferior a tremer. Parecia prestes a chorar.

– O que se passa? – perguntou Gideon, afastando-se do computador. – Magoaste-te?

– Ouvi um barulho lá fora. Tenho medo.

Gideon deixou escapar um suspiro de alívio e passou a mão pelo cabelo. Havia um vento típico de Março e ele suspeitava que a menina ouvira o barulho de um ramo a bater contra a janela.

– Não há nada lá fora, Isabelle. Só umas árvores plantadas demasiado perto das janelas. Nem sequer é de noite…

– Estou muito sozinha no escritório… – declarou, chorando.

Gideon pensava que era normal que a menina estivesse sensível. Tivera muitos traumas no ano passado. Perdera os seus pais num acidente, tinham-na arrancado da sua casa na Califórnia e tinham-na levado para o lar do seu meio-irmão no Mississípi e agora estava com outro meio-irmão que mal conhecia. Um irmão que não fazia ideia de como consolar uma menina assustada.

– Posso ficar aqui contigo? – perguntou Isabelle. – Prometo-te que ficarei quieta.

– Podes sentar-te à frente daquela secretária. Gostas de desenhar?

A menina assentiu, entusiasmada.

– O meu frigorífico é o único da vila que não tem ímanes bonitos na porta. Talvez pudesses desenhar alguma coisa para pôr lá.

Isabelle pareceu gostar da ideia.

Gideon tirou a pilha de correio por abrir da secretária e deu-lhe um bloco, vários lápis e uma caixa de marcadores às cores. Não tinha brinquedos em casa, mas tinha muito material de papelaria.

Isabelle acomodou-se na cadeira grande atrás da secretária e Gideon voltou para o computador.

Como prometera, Isabelle ficou muito tranquila enquanto desenhava e coloria. No entanto, Gideon não conseguiu concentrar-se na escrita. Não costumava ter ninguém em casa quando trabalhava e muito menos na mesma divisão que ele.

Depois de escrever e apagar a mesma oração pela quarta vez, praguejou e desistiu.

– O que se passa, Gideon? – perguntou a menina.

– Nada. Não se passa nada.

– Estás a escrever outro livro?

– Estou a tentar.

– Nate disse que escreves bons livros, mas não são para crianças.

Nathan fora o único dos três irmãos mais velhos McCloud que mantivera uma relação com o seu pai depois do divórcio amargo, meses antes do nascimento de Isabelle.

– Não, não escrevo livros para crianças.

– Os teus livros são sobre o quê?

– A maioria das pessoas chama-lhe «thrillers». Têm elementos de ficção científica e fantasia e um pouco de humor negro.

– Eu gosto do Doutor Seuss.

– Eu também – replicou Gideon, sorrindo.

O sorriso de Gideon pareceu apanhá-la de surpresa. Isabelle estudou a sua cara, retribuiu o sorriso e, depois, regressou aos seus desenhos.

«Está bem», disse Gideon para si. Talvez não fosse assim tão difícil. Afinal de contas, porque havia de ser difícil cuidar de uma menina inteligente de quatro anos que se portava bem?

 

 

Às sete da tarde estava escuro naquela segunda-feira e começara a chover.

Adrienne ia a sofrer na estrada do Mississípi. Em primeiro lugar, não era uma condutora muito experiente, visto que na cidade quase não precisava do carro e, por outro, custava-lhe adaptar-se àquele carro alugado. Perdera-se duas vezes antes de encontrar a vila de Honesty e não fora fácil encontrar alguém que soubesse indicar-lhe onde Gideon McCloud vivia.

Devia ter imaginado, pensou, enquanto conduzia por uma estrada sinuosa, que Gideon viveria fora da cidade. Devia ser um ermitão, mais confortável com as personagens que tinha na cabeça do que com as pessoas do mundo real.

Não o conhecia pessoalmente, nem sequer vira uma fotografia dele, mas falara ao telefone com ele várias vezes nos últimos dois anos, visto que assinara um contrato com a agência literária do seu pai. A maioria da sua comunicação fora através de cartas e faxes. Gostava dos seus livros, mas não conseguira conhecê-lo muito bem através do seu contacto limitado.

Baseando-se no seu comportamento, ficara com uma ideia não muito lisonjeira. Supunha que devia ter cerca de trinta e tantos anos… Provavelmente, era um pouco excêntrico…

Não sabia porque o perseguia daquele modo. Pensara que a sua motivação era uma mistura de necessidade de impressionar o seu pai com uma ideia brilhante do ponto de vista profissional e o facto de adorar os livros de Gideon McCloud.

A sua casa tinha um aspecto normal, situada no meio da ladeira de uma colina cheia de árvores. Tinha bom aspecto, teve de admitir. Certamente, seria bonita na Primavera, quando as árvores e os arbustos florescessem e no Outono, quando as colinas estivessem cheias de cores ocres.

Sim, gostava da sua casa, mas isso não queria dizer que gostasse dele.

Estacionou na estrada de cascalho e saiu do carro. Estava muito frio e desejou ter-se agasalhado mais.

Havia uma só luz acesa na casa e, em vez de iluminar, parecia projectar mais sombras.

Adrienne aproximou-se da moradia por um caminho de pedra escorregadio que conduzia à escada do alpendre. O silêncio era tão absoluto, que metia medo.

Quem conseguiria dormir ali sem os sons tranquilizadores dos carros, das sirenes dos serviços de urgências, dos gritos apagados das pessoas e do barulho dos camiões do lixo?

Ela alegrou-se por poder resguardar-se no alpendre da casa de Gideon. Deitou o cabelo para trás e respirou fundo antes de tocar à campainha. Havia luzes e ruídos que provinham de dentro da casa, portanto soube que havia alguém. Aparecer ali sem aviso prévio não era muito próprio de um assunto de negócios, mas não conseguira comunicar com ele para lhe anunciar a sua visita. Gideon McCloud não teria atendido o telefone se tivesse tentado.

Teve de tocar à campainha outra vez antes de a porta se abrir.

O seu primeiro pensamento foi que aquele não podia ser Gideon McCloud. Aquele homem era muito jovem. Não passava dos trinta anos e era incrivelmente atraente. Tinha o cabelo escuro despenteado, olhos verdes e um corpo atlético. Talvez se tivesse enganado na casa.

Mas, então, o homem falou, ou melhor dizendo, gritou, e ela soube que era quem procurava.

– O que quer?

– É Gideon McCloud? – perguntou ela, mais por formalidade do que outra coisa.

– Sim. Quem é a senhora? – perguntou, impacientemente.

– Sou Adrienne Corley. A sua agente literária – explicou.

– O que raios está a fazer aqui?

– Gideon, ainda não encontrei Hedwig! – gritou a menina.

– Entre. Pode ajudar-nos a procurar…

– Gideon!

– Já vou, Isabelle – replicou, passando a mão pelo cabelo.

Depois de Adrienne entrar, virou-se e afastou-se, fazendo-lhe um gesto para que o seguisse.

Confusa, ela seguiu-o, com as suas pastas por baixo do braço.

De repente, viu uma menina vestida com uma camisa de dormir branca com fitas cor-de-rosa. Tinha um ar angélico, caracóis loiros e olhos azuis.

– É a sua filha? – perguntou Adrienne.

– A minha irmã, Isabelle.

A sua irmã?, pensou Adrienne. A menina não podia ter mais de quatro anos.

– Gideon? – chamou a menina, com os lábios trémulos. – Procurei em todo o lado.

– Então, teremos de voltar a procurar – respondeu Gideon. – A minha casa não é assim tão grande e tu só estás aqui há algumas horas. O teu brinquedo não pode ter desaparecido… Voltarei a procurar no escritório e na cozinha. Vocês continuem a procurar aqui.

– Hum… O que procuramos? – gritou Adrienne, quando ele começou a afastar-se.

– Uma coruja de peluche – respondeu Gideon, por cima do ombro. – Branca.

– Onde procuraste? – Adrienne olhou à sua volta.

– Em todo o lado.

– Está bem, vamos procurar outra vez.

Procuraram atrás das almofadas e por baixo do sofá. Não teve resultado positivo. Nem havia pó por baixo dos móveis. Olhou novamente para Isabelle. A menina estivera à procura por baixo das mesas e atrás do móvel da televisão e também não encontrara nada. Adrienne ouviu Gideon praguejar noutra parte da casa. Aparentemente, não tivera mais sorte do que elas.

– Só estás aqui há algumas horas? – perguntou Adrienne a Isabelle.

– A avó trouxe-me.

– E não foste a nenhum outro sítio desde que vieste?

– Só estive aqui.

– E tinhas a tua coruja quando vieste?

A menina voltou a assentir.

Harry Potter

Isabelle sorriu e assentiu. Depois, afastou-se com a sua coruja. Adrienne observou-a a afastar-se, depois virou-se e encontrou Gideon a olhar para ela com uma pergunta nos olhos.

– Trabalho numa editora – explicou Adrienne. – Conheço bem o Harry Potter.

– Quer um café? Apetece-me beber um. Na verdade, um copo de conhaque seria melhor, mas como estou a cuidar de uma menina, suponho que será melhor continuar com o café…

– Um café seria óptimo, obrigada – agradeceu Adrienne.

– Sente-se – convidou. – Quer comer alguma coisa? Tenho bolo de limão, que comprei na padaria ontem.

– Parece óptimo – respondeu ela.

Ela acabava de perceber que tinha muita fome. Não jantara durante a sua aventura na estrada.

Um momento mais tarde estava sentada em frente de Gideon, com um café e um pedaço de bolo. Era um pouco estranho ver-se assim, depois do caos da sua chegada e a procura de Hedwig. Custava-lhe um pouco concentrar a sua mente novamente nos negócios.

Não conseguia parar de pensar em como Gideon era atraente. Mas só como uma observadora objectiva, disse para si. De resto, ainda não sabia se gostava daquele homem.