{Portada}

Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

© 2008 Christine Rimmer. Todos os direitos reservados.

CASAMENTO À EXPERIÊNCIA, N.º 1283 - Julho 2011

Título original: Having Tanner Bravo’s Baby

Publicado originalmente por Silhouette® Books

Publicado em portugués em 2011

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® Harlequin, logotipo Harlequin e Bianca são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

I.S.B.N.: 978-84-9000-583-5

Editor responsável: Luis Pugni

ePub: Publidisa

Inhalt

Um

Dois

Três

Quatro

Cinco

Seis

Sete

Oito

Nove

Dez

Onze

Doze

Treze

Catorze

Quinze

Epílogo

Promo

Capítulo 1

Crystal Cerise estava de pé na pequena cozinha do seu apartamento de uma assoalhada, à frente do lava-loiça, vendo a panorâmica aborrecida do estacionamento pela janela. Estava grávida de dois meses. E, nessa noite, durante o jantar, ia dar a grande notícia ao pai do bebé.

A salada estava feita e no frigorífico. O prato principal, lasanha, estava no forno. O seu cheiro tentador flutuava no ar. Crystal olhou para o pão italiano que estava em cima da bancada. Aberto e pronto para barrar com manteiga de alho. Começou a pô-la no pão e deu uma olhadela ao relógio da cozinha, um tesouro vermelho com números brancos, enormes, estilo art déco, comprado numa feira de antiguidades. Normalmente, fazia-a sorrir, mas não naquele dia. Seria preciso muito mais do que um relógio caprichoso para fazer Crystal sorrir.

Eram seis e cinco. Faltavam vinte e cinco minutos para ele chegar. Não queria fazer o que tinha planeado, mas adiá-lo só faria com que fosse mais difícil depois. Pelo menos, era o que dizia a si mesma...

Meu Deus. Ia ter um bebé de Tanner Bravo. Questionou-se como permitira que acontecesse.

A resposta era fácil, foi a química. Tanner e ela sentiam-se atraídos um pelo outro. Nenhum deles queria deixar-se dominar pela luxúria. Tinham concordado que não voltariam a fazê-lo.

E depois faziam. Várias vezes.

Infelizmente, além da cama, não tinham nada em comum. E sabia que ele a considerava estranha, embora não lho dissesse. Às vezes, comentava que tinha hábitos «estranhos» e recriminava-a por ter enchido o carro com as suas coisas e por se ter mudado para Sacramento, levada pelo que ele considerava ser um capricho.

– É melhor ser estranha – balbuciou, – do que ser séria, pensativa e anti-social – polvilhou pimenta no pão já untado. – E controladora – Tanner Bravo era demasiado controlador.

Nunca devia ter tido sexo com ele. Nem na primeira vez. Nem na segunda. Nem na terceira e na quarta.

A luxúria fizera-a descuidar-se e agora vinha um bebé a caminho. Um bebé que teria, certamente. Crystal podia nunca ter sido prática, poupada ou ter agido com sabedoria na sua vida. Assustava-a mortalmente ser uma mãe terrível.

No entanto, não podia rejeitar esse presente enorme do universo. Sobretudo, tendo em conta o que acontecera quando tinha dezasseis anos.

Portanto, ficaria com o bebé.

Duas vezes, no último par de semanas, tentara dizer a Tanner que vinha um bebé a caminho e que ia ficar com ele. Tinham acabado por ir para a cama, como era habitual. E, depois do sexo, sentia-se tão incomodada consigo própria por ter cedido ao seu desejo por ele, que não conseguia dizer-lhe. Para dizer a verdade, continuava a sentir a necessidade de adiar a confissão. Mais de uma vez, ao longo do dia, estivera prestes a telefonar-lhe e a cancelar aquele encontro. O desejo alcançara maior intensidade às duas da tarde, mesmo depois de se demitir no emprego. Tinha lógica, ninguém desejaria ficar no desemprego e confessar a sua gravidez a um homem no mesmo dia.

Crystal franziu a testa e olhou pela janela. Pestanejou, surpreendida, ao ver uma cabeça de cabelo grisalho. Era Doris Krindel, que vivia no apartamento do lado.

– Nigel? Viste Nigel? – perguntou Doris, frenética.

– Ai, meu Deus! – exclamou Crystal, com simpatia. – Saiu?

Doris assentiu com vigor. Nigel, o seu enorme gato persa, era um animal caseiro em todos os sentidos.

Crystal chegou à porta em três passos. Abriu-a.

– Há quanto tempo saiu? – perguntou a Doris.

– Ai, oxalá soubesse – respondeu Doris, levando as mãos ossudas ao peito. – Fui à loja e quando voltei... – abanou a cabeça e os caracóis grisalhos agitaram-se. – Tem medo de estar na rua. Normalmente, quando abro a porta corre para dentro. Mas procurei-o por todo o apartamento. Não está lá. Desapareceu.

– Calma – Crystal agarrou Doris pelos ombros magros. – Respira. Tenta pensar em alguma coisa positiva e cheia de paz. Não pode ter ido muito longe.

– Espero que tenhas razão.

– Vá lá – replicou Crystal, tentando animá-la. – Encontrá-lo-emos, vais ver. Começaremos por procurar no teu apartamento outra vez – fez Doris virar-se e empurrou-a suavemente para casa.

Tanner Bravo fechou a janela, desligou o motor do Mustang e, com uma mão sobre o volante, olhou para o complexo de apartamentos de estuque branco onde Crystal vivia.

Tinha-o convidado para jantar e perguntava-se porquê.

Dado que planeavam sempre não voltar a ter relações sexuais, nunca faziam coisas como sair juntos ou jantar a sós. Encontravam-se por acaso em celebrações familiares: as representações de dança da sua sobrinha DeDe, refeições dominicais em casa da sua irmã Kelly...

Pelo menos uma vez por semana acabavam na mesma divisão, rodeados de família. Só era preciso essa proximidade para os excitar, embora à frente dos outros fingissem não ter nenhum interesse um pelo outro.

Mesmo quando era hora de ir para casa, ambos faziam o possível para não dar a impressão de que tencionavam estar nus e um em cima do outro assim que ficassem sozinhos. Despediam-se da sua irmã, da sua família e afastavam-se, cada um no seu carro.

Depois, um deles debilitava-se e telefonava ao outro. O outro, com falta de ar, aceitava.

Depois, na sua casa ou na dela, era sempre igual: sexo ardente, selvagem e fantástico. Só de pensar nisso já sentia uma erecção.

Mas era estranho que o tivesse convidado para o apartamento dela. Eles não agiam assim. Passava-se alguma coisa.

Ouvia-se um estrondo horrível, um alarme ou algo parecido, no interior do edifício.

Tanner saiu do carro. Parecia um alarme contra incêndios e vinha do apartamento de Crystal.

Correu os cem metros que o separavam da porta. Quando chegou, levantou a mão e bateu.

– Crystal! – gritou.

Ela não respondeu, mas a porta abriu-se.

Saiu uma nuvem de fumo cinzento. Lá dentro, o alarme continuava a apitar.

– Crystal, Crystal! – gritou. Não houve resposta.

Questionou-se se estaria lá dentro, indefesa, inconsciente devido à inalação de fumo. Essa ideia fez com que o seu coração acelerasse no peito como uma bola de bilhar.

– Crystal!

Como não houve resposta, levantou a camisa para tapar o nariz e a boca, pôs-se de gatas para passar por baixo do fumo e atravessou a soleira da porta a gritar o nome dela.

Capítulo 2

Nigel não estava lá. Crystal e uma Doris cada vez mais frenética tinham revistado cada centímetro do apartamento, cerca de seis vezes. Tinham procurado no estacionamento, debaixo de todos os carros. Tinham examinado todos os buracos entre as sebes que ladeavam os caminhos. Tinham percorrido as calçadas que havia entre os edifícios do complexo e procurado no pátio central, com as suas zonas de relva esmeralda e salgueiros-chorões. Até tinham ido à sala de convívio, tinham aberto os armários e procurado debaixo dos móveis. Também tinham sacudido os arbustos que havia na zona da piscina.

Não havia rasto do gato de pêlo comprido e preto, e nariz achatado.

Finalmente, tinham regressado à sala de Doris, onde a mulher retorcia as mãos com desespero.

– Meu pobre, pobre gatinho. Onde foste? – e gemeu. Uma lágrima deslizou pela sua face enrugada e morena. – Oh, Crystal! Não durará um dia lá fora. Sei que tem mau feitio e pensa que é o rei do mundo. Mas, na verdade, é apenas um gato gordo e peludo, sem o mínimo instinto de sobrevivência, excepto um miado resmungão quando quer a sua comida ...

– Está bem, eu sei – disse Crystal, pela enésima vez.

– És muito querida por dizeres isso, mas...

Ambas ouviram um miar grave e irritado ao mesmo tempo. Viraram-se ao mesmo tempo para a porta. Nigel estava sentado na soleira, com uma expressão de indiferença, acariciando o chão com a cauda.

– Nigel! – gritou Doris. Correu e pegou nele ao colo, apertando-o contra o peito. – Onde estiveste? Pregaste-nos um susto de morte!

O gato deixou escapar outro miado resmungão e permitiu que o acariciasse sob o queixo minúsculo. Doris limpou as lágrimas de alívio com o dorso da mão. Olhou para Crystal com agradecimento.

– Oh, obrigada, obrigada.

– Porquê? – Crystal riu-se. – Eu não fiz nada. Nigel parece ter-se encontrado sozinho.

– Certo, certo – Doris riu-se com alívio e felicidade. – É verdade. Mas estiveste comigo enquanto morria de medo. Não sabes o que isso significa para mim.

– Bom, sei que farias o mesmo por mim, se precisasse.

– Claro que sim, juro. Sempre – afirmou Doris, com paixão. Acariciou o pêlo espesso do gato. – Onde foste, rapaz mau? – o gato começou a ronronar. Doris suspirou. – Suponho que nunca saberei.

Já superada a crise, Crystal olhou para o relógio de ouro e marfim que havia sobre a consola. Era um quarto para as sete.

– Oh, não – resmungou. – Tanner – supôs que estaria à espera à frente da sua porta, irritado e a perguntar onde diabos fora.

– Desculpa? – Doris franziu o sobrolho.

– Não é nada – Crystal sorriu. – Convidei alguém para jantar. Tenho de ir.

– Alguém? – os olhos ainda húmidos de Doris faiscaram de interesse. – Um homem? Um encontro?

– Sim, é um homem – Crystal voltou a rir. – Mas não exactamente um encontro...

– Hum... Ena! Estás aqui há mais de dois meses. Já é hora de haver um homem por aqui.

Em vez de responder, Crystal emitiu um gemido pouco comprometedor.

– Diverte-te, Crys. E obrigada mais uma vez.

– De nada – Crystal abriu a porta e cheirou...

– Fumo! – Doris cheirou o ar. – Cheira a...

– Ai! A lasanha – Crystal começou a correr.

– Se precisares de mim... – replicou Doris.

– Obrigada! – Crystal agitou a mão por cima das costas e correu para a porta. Estava aberta. E a janela da cozinha também. – Tanner? – atravessou a soleira da porta com cautela.

– Aqui – estava apoiado na bancada da cozinha, com os braços cruzados sobre o peito. A porta do forno estava aberta e a bandeja da lasanha, carbonizada, estava sobre o fogão.

– Oh, meu Deus – Crystal gemeu.

– Cheguei a tempo.

– Ai, lamento imenso...

– Ouvi o alarme, cheirei o fumo. Gritei o teu nome. Não respondeste e pensei que podias ter desmaiado devido ao fumo. Mas quando entrei e abri as janelas, vi que não havia rasto de ti.

Ela sabia como funcionava a sua mente. Fora detective privado durante demasiado tempo.

– Certamente, pensaste que me tinham raptado e metido num saco para me levarem para qualquer lado, enquanto a minha lasanha se queimava.

– Algo parecido.

– Sinceramente, Tanner, lamento imenso.

Não só estava grávida, desempregada e com quatrocentos e vinte e três dólares e dezasseis centavos na sua conta corrente, como também fizera com que Tanner se preocupasse com a sua segurança. E o seu apartamento cheirava a lasanha carbonizada. Era impossível que as coisas corressem pior. Encontrou os olhos escuros e atentos de Tanner. Decidiu que podia correr pior. Ainda tinha de lhe dar a grande notícia.

– O gato da vizinha fugiu. Fui ajudar a procurá-lo.

Ele descruzou os braços e apoiou as mãos na bancada que havia atrás dele.

– Da próxima vez, apaga o forno primeiro – sugeriu.

– Sim. Boa ideia!

– Encontraram gato?

– Sim. Mais ou menos, de facto, o gato encontrou-nos.

– Ah... – disse ele, como se não entendesse, mas também como se não tivesse o menor interesse.

Seguiu-se um silêncio. Entreolharam-se. Como sem pre, ela pensou em sexo: na sensação da sua pele sob as mãos, o calor dos seus lábios nos dela, a sua face áspera, o sabor intenso da sua boca, a forma deliciosa como a enchia e como se mexia quando estava dentro dela.

Os olhos escuros dele tornaram-se negros como a noite. Soube que pensava no mesmo que ela. O seu corpo desejava-o.

Estavam separados por três passos. Teria sido muito fácil dá-los, rodear o seu pescoço forte com os braços e oferecer-lhe a sua boca.

Pigarreou e desviou o olhar.

– Crystal... – disse o nome dela num tom grave e brusco, mas ao mesmo tempo gentil.

– O que foi? – a frase parecia a de uma menina zangada. Continuou sem olhar para ele.

– Olha para mim.

– Está bem – engoliu em seco e obrigou-se a fazê-lo.

– O que se passa?

«Estou grávida. De ti.», pensou.

– Eu, eh... – foi o que conseguiu dizer.

Ele esperou que continuasse. Quando não o fez, encolheu os ombros. O gesto fez com que ela desejasse passar os dedos pelo seu cabelo quase preto e atrair aqueles lábios incríveis para os seus.

Crystal respirou fundo e recordou-se em silêncio que, por mais que o desejasse, naquela noite não haveria sexo.

– Liguei o exaustor – disse ele. – E abri todas as janelas – apontou por cima da bancada que separava a cozinha da zona de estar, para a ampla janela que dava para o jardim e para os salgueiros. – O resto do fumo sairá depressa – uma comissura da sua boca pecaminosa e sensual arqueou-se para cima. – A vista dessa janela é muito bonita.

Sentiu-se ainda pior ao ver que ele falava por falar. Percebia que alguma coisa a inquietava, mas não sabia o que era, portanto, tentava tranquilizá-la. Tanner, que olhara para ela com desconfiança desde que se tinham conhecido, que protegera o seu coração com tanta ferocidade como ela protegia o dela. Tanner, que nunca falava por falar.

Estava a fazê-lo porque intuía que o problema era grave. E como a sua mente seguia sempre caminhos de escuridão e destruição, devia imaginar o pior: que cometera um assassinato ou tinha uma doença incurável.

Desejou dizer-lhe que não se preocupasse, que não era tão grave como isso. Mas, então, exigiria saber o que era. E teria de lhe dizer «É só um bebé. O teu bebé. Mais nada.»

Isso seria perfeito. Exactamente a razão por que o convidara para jantar nessa noite.

Mesmo assim, não lho disse.

Ele endireitou-se e aproximou-se lentamente, como se receasse que qualquer movimento brusco o fizesse fugir. Quando chegou ao seu lado, levantou as mãos e pousou-as nos seus ombros.

– Oh, Tanner... – Crystal derreteu-se sob o contacto e ordenou ao seu corpo traiçoeiro que não se apoiasse nele.

– Alguma coisa está mal, não está? Muito mal – olhou para ela nos olhos.

– Eh, bom, eu...

– Não é próprio de ti convidar-me para jantar. Não é uma coisa que... Façamos.

– Eu sei – Crystal pensou que não era justo. Além de ser incrivelmente sexy, estava a ser amável. Compreensivo.

– Vá lá. Diz-me. Se houver alguma coisa em que possa ajudar, fá-lo-ei. Podes contar comigo.

Ela acreditou. Tanner era assim. Pensativo e sério, desconfiado por natureza e profissão, era um ombro em que se podia chorar em momentos de necessidade. O tipo de pessoa que nunca evitaria as suas responsabilidades.

«Devo dizer-lhe.» Não sabia porque não podia fazê-lo, sem mais nem menos. Abriu a boca.

– Hoje demiti-me do meu emprego – a frase escapou-lhe, era o segredo incorrecto, não o que Tanner precisava de conhecer.

– Esse é o problema? – soltou-lhe os ombros e recuou. – Deixaste o teu trabalho?

– Bom – desviou o olhar e depois obrigou-se a enfrentar os seus olhos novamente. – Preocupa-me.

– Precisas de um empréstimo, é isso? – olhou para ela, intrigado.

– Eu? Nem pensar – endireitou-se. – Não é a primeira vez que deixo um emprego. Arranjar-me-ei até encontrar outro. Faço-o sempre.

– Mas é por isso que estou aqui, não é? Convidaste-me para jantar, para me dizer que tinhas deixado o trabalho.

– Eh... Não exactamente. Mas deixei-o. Hoje. Esta tarde.

Ele passou uma mão pelo cabelo. Ela viu como os seus músculos ficavam tensos com o movimento e imaginou-se a cravar os dentes naquela pele sedosa, com suavidade, a brincar.

– Está bem – disse ele, com paciência. – Então, vais contar-me tudo?

– Tudo?

– Porque te demitiste?

– É uma longa história.

– Estou a ouvir.

– Apetece-te uma cerveja? – Crystal precisava de um momento para reunir coragem.

– Uma cerveja? – olhou para ela como se pensasse que tinha um problema mental.

– Vai-te sentar – apontou para a sala. – Eu levo-a. Além disso, tenho de pôr o pão de alho no forno – olhou para a lasanha queimada e resmungou. – Penso que vamos precisar de muito pão.

– Está bem, traz-me uma cerveja – resmungou, depois de a estudar com os seus olhos agudos. Foi à sala e sentou-se no pufe azul que servia de sofá.

Ela foi ter com ele alguns minutos depois.

– Muito bem. Conta-me – aceitou a cerveja e pousou-a na mesinha de café, sem beber. – O que se passa e porque deixaste o trabalho?

– Umas nozes? – ofereceu-lhe a tigela que trouxera da cozinha.

– Não, obrigado – olhou para ela fixamente, sem pestanejar.

– Bom – pousou a tigela, – talvez Kelly te tenha dito. Odeio o meu chefe, quer dizer, o meu ex-chefe.

– Trabalhavas num escritório de advogados, não era? Bandley e Schiker, advogados de família, correcto?

– É verdade.

– Têm muito boa reputação.

– Eram bons, como advogados. Mas odiava o meu chefe. Aceitei o emprego quando cheguei à cidade.

– Sim, eu recordo-me.

– Odiei-o desde o começo. Não penso que tenha sido feita para trabalhar num escritório de advogados, embora tenha boa reputação. Mas continuei lá, pensando que podia aguentar até encontrar alguma coisa melhor.

– Estou a ver. Fala-me mais desse chefe que odeias.

– O meu antigo chefe é alto, loiro e tem queixo quadrado. Bonito, se não se tiver a sua personalidade em conta. Casado. E um verdadeiro nojento. Estava sempre a insinuar-se, de uma forma que devia parecer-lhe subtil. Até hoje. Hoje abusou e tentou beijar-me. Depois de sentir vómitos, disse-lhe que me demitia. Foi só isso – forçou um sorriso alegre. – Não é uma história muito original, eh?

– Como se chama? – Tanner não sorria. O seu tom neutro e o olhar ininterpretável dos seus olhos inquietaram Crystal.

– Oh, oh! Nem pensar. Sei como és, Tanner. E agradeço que tenhamos chegado ao ponto de te sentires responsável por mim. Mas, neste caso, não és.

– Dizes que tentou beijar-te. Isso é assédio. O mínimo que podes fazer é denunciar esse porco.

– Tanner. Escuta.

– O que foi?

– Só te contei isto porque... Bom, não sei exactamente porquê. Mas sei que não preciso de ajuda com este assunto. Fiz o que tinha de fazer, demiti-me. Acabou-se. Fim da história, hora de passar para outra coisa. Ficou claro?

– Sim – disse Tanner, com voz e olhos sérios.

Ela questionou-se por que lhe falara do seu ex-chefe. Não devia tê-lo feito. Era incrível o que as pessoas acabavam por contar para evitar dizer outras coisas.

– Quero que me dês a tua palavra – exigiu. – Não quero que investigues quem era o meu chefe. Não quero que o sigas. Não quero que faças absolutamente nada. Só que ouças, como acabaste de fazer. É só isso. A sério.

– Isso é uma paspalhice.

– Não é uma paspalhice. É... Uma coisa feminina. As mulheres gostam de ter um amigo que as ouça. Às vezes, é a única coisa de que uma mulher precisa, alguém que a ouça.

Ele levantou a cerveja e esvaziou metade da garrafa com um gole. Ela observou como a sua maçã-de-adão se mexia ao engolir. Depois, recostou-se no pufe e estudou-a. Crystal pensou que parecia uma pantera a observar o seu almoço.

– Não te faças de Clint Eastwood, está bem? – pediu, quando ele deixou passar um minuto em silêncio. – Isto é um assunto meu que partilhei contigo. Meu. Entendes? Meu. Assente se estás a ouvir-me.

Contou até dez. Finalmente, com desinteresse, ele inclinou a cabeça.

– Digo-o a sério, Tanner. Promete que não te meterás nisto. Esquece o meu ex-chefe.

– Eu não gosto. Não está bem. Esse canalha abusou. Alguém tem de lhe mostrar que isso não se faz.

– Eu sei. Entendo. Tu não és essa pessoa, porque isto não te diz respeito. Dá-me a tua palavra de que não tentarás descobrir nada sobre ele, não te aproximarás dele, não lhe farás nada.

– Está bem. Se é o que queres – aceitou finalmente, quando ela já perdia a esperança.

– É o que quero.

– Está bem então – resmungou ele, com cara de querer partir alguma coisa. – Tens a minha palavra.

Tocou a campainha do forno.

– O pão de alho – disse ela, corajosa. – Vamos comer.

A lasanha não tinha salvação, mas pelo menos havia salada e pão de sobra.

Crystal ofereceu vinho ou outra cerveja a Tanner. Escolheu cerveja. Ela deixou a garrafa de vinho na bancada.

– Tu não vais beber? – perguntou ele.

Era a oportunidade ideal. Podia explicar-lhe que não ia beber vinho porque estava grávida.

– Não – disse. Ele não a olhou com estranheza, nem lhe perguntou se tinha mais alguma coisa para lhe contar. Afastou uma cadeira e pôs o guardanapo na coxa.

Comeram. Não demoraram muito.

Depois, ajudou-a a arrumar a mesa. Ela estava a pôr o último prato na máquina de lavar loiça quando ele se aproximou por trás. Sentiu um formigueiro quente na pele. Fechou a máquina.

– Café? – perguntou, erguendo-se.

– Não, obrigado – pôs as suas mãos grandes e quentes na cintura dela.

– Tenho uns biscoitos fantásticos. De chocolate amargo, com pedacinhos de chocolate branco... – disse ela, controlando um suspiro desejoso.

Ele aproximou-se mais. Adorava o calor do seu corpo. Sentiu que já estava excitado, a sua erecção tocou-lhe na parte de baixo das costas, causando-lhe desejo, derretendo-a.

– Nada de biscoitos – afastou o cabelo dela para um lado e beijou-lhe o pescoço.

Ela suspirou, embora tentasse não o fazer. Ele deslizou as mãos para as ancas dela. Crystal transformou-se em fogo líquido. Não sabia o que tinham aquelas mãos, aqueles lábios, aquele corpo, para a fazer reagir assim.

Química. Era pura química. Maravilhosa.

– Tanner – suspirou. Levantou a mão e pô-la na nuca, aproximando-o quando devia tê-lo afastado. O seu cabelo era espesso e sedoso. Passou os dedos por ele. – Tanner...

– Hum... – ele deitou a língua de fora e lambeu-lhe o pescoço. Depois, tocou com os dentes no lugar que lambera.

Ela não conseguiu parar. Esfregou-se contra ele, que resmungou e a apertou contra si, fazendo-a sentir o que tinha intenção de lhe dar.

Crystal soube que estava a perder o jogo. Outra vez. Gemeu de desejo e frustração.

Era a terceira vez que Crystal decidira dar-lhe a notícia e à terceira era de vez. Jurara que lho diria. No entanto, ali estava, com os dedos no cabelo dele, arqueando o corpo e inclinando o pescoço para que continuasse a beijá-la.

Ele traçou um caminho ascendente de beijos até chegar ao lóbulo da sua orelha. Lambeu-o.

– Oh, meu Deus – murmurou ela.

– A tua pele – disse ele, com um gemido grave e viril. – O teu cheiro. Deixas-me louco, sabias?

– Oh, Tanner! Eu sei. Lamento.

– Lamentas? – deixou escapar um som que poderia ter sido uma gargalhada ou um gemido. – Acontece-me o mesmo.

Então, as mãos espantosas pousaram nos ombros dela e viraram-na para ele. O corpo curvou-se para o dele e levantou a boca, procurando os seus lábios, incapaz de fazer outra coisa.

Ele ainda cheirava levemente a fumo. Mas também cheirava... Muito bem. Tentador de uma forma que era incapaz de definir. Um cheiro viril e limpo. Um cheiro que a atraía, que a fazia desejá-lo e esquecer que não era o homem adequado para ela.

Desejava mais, apesar de se sentir envergonhada de si própria. Jurara que aquela noite seria diferente de todas as outras e ali estava, nos braços dele. Fora uma tola ao pensar que conseguiria evitá-lo.

Depois, ele beijou-a. A sua boca fê-la esquecer os últimos vestígios do mundo real. A sua obrigação de lhe dizer que ia ser pai desapareceu. Só restou o seu toque, o seu sabor, a força dos braços que a rodeavam, a suavidade da bela boca que a beijava.