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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

© 2009 Susan Macias Redmond. Todos os direitos reservados.

A AMANTE CATIVA, N.º 1309 - Janeiro 2012

Título original: The Sheik and the Bought Bride

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em portugués em 2012

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® Harlequin, logotipo Harlequin e Bianca são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

I.S.B.N.: 978-84-9010-629-7

Editor responsável: Luis Pugni

ePub: Publidisa

Capítulo 1

Quando Victoria McCallan acordou e viu cinco guardas do palácio armados à volta da sua cama, teve a sensação de que aquele não ia ser o seu melhor dia.

Sentiu mais curiosidade do que preocupação com a intrusão, sobretudo, porque ela não fizera nada de mal.

Com cuidado para não baixar o lençol, sentou-se e acendeu o candeeiro que tinha na mesa-de-cabeceira. O resplendor fez com que pestanejasse.

Pigarreou e olhou para o guarda que tinha mais galões no casaco.

– Têm a certeza de que estão no quarto correto? – perguntou-lhe.

– Victoria McCallan?

Ena! Naquele momento, deixou de sentir curiosidade e sentiu-se preocupada.

Embora não permitisse que os guardas notassem. Sempre soubera fingir que tudo era perfeito embora não fosse assim.

Ergueu o queixo e tentou fazer com que a sua voz não tremesse.

– Sou eu. Como posso ajudar-vos?

– O príncipe Kateb quer vê-la imediatamente.

– O príncipe Kateb?

Conhecia-o, é óbvio. Era a secretária pessoal do príncipe Nadim, portanto conhecia todos os membros da família real. Kateb não costumava ir muito à cidade, já que preferia viver no deserto, embora isso incomodasse o seu pai.

– O que quer de mim?

– Não é um assunto meu. Quer acompanhar-nos?

O guarda fizera uma pergunta, mas ela sabia que não podia responder com um «não».

– É óbvio. Se me derem um momento e um pouco de privacidade para me vestir…

– Não será necessário – disse o guarda. Tirou o robe que havia aos pés da cama e fez um gesto para que os outros guardas se virassem.

Aquilo surpreendeu-a.

– Não vou ter com o príncipe de robe.

O chefe dos guardas estudou-a com o olhar, fazendo-a saber que estava enganada.

Victoria perguntou-se o que estaria a acontecer. Vestiu o robe de seda e levantou-se. Fechou-o e calçou os sapatos cor de lavanda.

– Isto é uma loucura – murmurou. – Não fiz nada.

Era uma boa secretária. Organizava as reuniões do príncipe Nadim e assegurava-se de que o seu escritório funcionava bem. Não fazia festas no seu quarto nem roubava a prata real. Tinha o passaporte em dia, dava-se bem com os outros empregados do palácio e pagava os seus impostos. Porque é que o príncipe Kateb, que quase não conhecia, a mandara chamar? Não havia nenhuma…

De repente, entendeu. O guarda fez-lhe um gesto para que continuasse a andar e fê-lo, mas sem prestar atenção ao caminho. Acabara de imaginar qual era o problema e era grande.

Há um mês, num momento de fraqueza, enviara uma mensagem de correio eletrónico ao seu pai. Soubera que era um erro e, quando se apercebera, já era muito tarde para mudar de ideias. O seu pai gostara de saber que estava a trabalhar no palácio real de El Deharia e não demorara a fazer uma visita.

O seu pai sempre fora uma fonte de complicações, pensou Victoria, enquanto apanhavam um elevador e o guarda carregava no botão da cave. Conhecia aquele país o suficiente para saber que nunca acontecia nada de bom nos calabouços.

As portas abriram-se à frente de um corredor comprido. As paredes eram de pedra e havia tochas nelas, embora a luz viesse do teto. Era um lugar frio, onde o ar era pesado e falava de séculos passados e de medo.

Victoria tremeu e desejou ter trazido uma manta para se tapar. Os seus sapatos de salto alto bateram ruidosamente no chão de pedra. Ela manteve o olhar fixo no guarda que tinha à sua frente. As suas costas pareceram-lhe muito mais seguras do que qualquer outra coisa. Tinha medo de que pudesse haver velhos aparelhos de tortura por trás das portas fechadas. Preparou-se para ouvir gritos e esperou que, se os ouvisse, não fossem os dela.

A ansiedade fez com que respirar fosse difícil. O seu pai fizera algo de mal. Tinha a certeza. A questão era o que fizera e como as consequências podiam afetá-la… outra vez.

O guarda conduziu-a para uma porta aberta e fez-lhe um gesto para que entrasse. Victoria endireitou os ombros, respirou fundo e entrou.

Para sua surpresa, não era um lugar tenebroso. Era maior do que esperara e havia tapeçarias nas paredes. No centro havia uma mesa de jogos e meia dúzia de cadeiras à volta…

Voltou a olhar para a mesa, coberta de cartas, e depois percorreu a sala com o olhar até encontrar o seu pai num canto, a tentar não parecer preocupado.

Bastou-lhe olhar para Dean McCallan por um instante para saber a verdade. O seu pai encantador e bonito quebrara a sua promessa de não voltar a jogar às cartas.

Estava pálido e assustado.

– O que fizeste? – perguntou-lhe ela, sem se importar com o facto de haver outras pessoas na sala. Queria saber se as coisas iam ficar feias.

– Nada, Vi. Tens de acreditar – respondeu ele, levantando ambas as mãos, para provar a sua inocência. – Foi só um jogo de póquer amistoso.

– Supostamente, não ias voltar a jogar às cartas. Disseste-me que estavas a recuperar, que não jogavas há três anos.

Dean esboçou o seu famoso sorriso, o que sempre fizera com que a sua mãe perdesse a força nos joelhos. Com Victoria, o efeito era o contrário. Soube que tinha de se preparar porque iam ter problemas.

– O príncipe convidou-me para jogar. Teria sido de má educação dizer que não.

«Claro, a culpa nunca é tua», pensou Victoria, com amargura.

Victoria tentou não pensar no passado. A sua mãe falecera há quase dez anos, com o coração partido por ter amado Dean McCallan. Ela não via o seu pai desde o funeral e, naquele momento, arrependia-se de não ter entrado em contacto com ele antes.

– Quanto? – perguntou, sabendo que ia ter de ficar sem poupanças e sem o seu plano de pensões se quisesse resolver aquilo.

Dean olhou para os guardas e depois sorriu.

– Não se trata exatamente de dinheiro, Vi.

Victoria sentiu um nó no estômago de medo.

– Diz-me que não fizeste batota – sussurrou.

Ouviram-se passos. Victoria virou-se e viu o príncipe Kateb.

Apesar dos seus saltos, continuava a ser muito mais alto do que ela. Os seus olhos eram escuros, tal como seu cabelo, e tinha uma cicatriz numa das faces que lhe chegava à comissura da boca, fazendo com que a sua expressão parecesse sempre desdenhosa. Embora talvez não fosse só por causa da cicatriz.

Vestia umas calças escuras e uma camisa branca. Era roupa informal, mas nele parecia a roupa de um rei. Sem a cicatriz, teria sido bonito. Com ela, era o pesadelo de uma criança tornado realidade. Victoria teve de fazer um esforço para não tremer na sua presença.

– Este é o teu pai? – perguntou Kateb a Victoria.

– Sim.

– Convidaste-o para vir?

Ela pensou em dizer que lamentava, que não o via há anos, que lhe jurara que mudara e que ela acreditara.

– Sim.

O olhar de Kateb pareceu atravessar-lhe a alma.

Victoria fechou ainda mais o robe, desejando que não fosse de seda, mas de um tecido mais grosso. Também desejou ter um pijama em condições e não uma camisa de dormir ligeira. Embora Kateb não se importasse com o que tinha vestido.

– Fez batota no jogo – anunciou Kateb.

Victoria nem sequer se surpreendeu com a notícia. Não se incomodou em olhar para o seu pai. Se o fizesse, ele diria ou faria algo para tentar resolver a situação.

– Lamento muito, senhor – disse ela, erguendo o queixo. – Presumo que vai ter de o deportar imediatamente. Posso devolver-lhe o dinheiro que tentou ganhar?

Kateb deu um passo para a frente.

– A deportação não é uma pena suficiente para este crime, menina McCallan. Desonrou-me e, ao fazê-lo, desonrou a família real de El Deharia.

– O que significa isso? – perguntou Dean, num tom trémulo. – Vi, não podes permitir que me magoem.

Victoria ignorou as palavras do seu pai. A sua mente não parava de funcionar. Contratar um advogado não seria a opção mais rápida. E não seria fácil, sendo um caso contra a família real. Sempre podiam recorrer à embaixada americana, mas não gostavam que os seus cidadãos violassem as leis locais.

– Quando se descobriu o engano – continuou Kateb, olhando para Victoria nos olhos, – não tinha dinheiro suficiente para cobrir as suas dívidas.

– Como já lhe disse, senhor, eu pagarei as suas dívidas.

O príncipe não pareceu impressionado.

– O teu pai ofereceu outra coisa.

Victoria não entendeu.

– O que é que o meu pai pode ter que possa interessar-lhe? Não sei o que lhe contou, mas não é um homem rico. Por favor, permita que eu pague o dinheiro que lhe deve. Tenho-o no Banco Central. Posso ir buscar o número de conta para confirmar e…

– Ofereceu-te.

Victoria teve a sensação de que a sala começava a girar à sua volta e apoiou-se na parede.

– Não entendo – sussurrou.

Kateb encolheu os ombros.

– Quando descobri o engano do teu pai, ele rogou que tivesse piedade. Ofereceu-me dinheiro, que eu já sabia que não tinha. Como não funcionou, disse-me que tinha uma filha muito bela que vivia no palácio e que faria qualquer coisa para o salvar. Disse que podia ter-te durante o tempo que quisesse.

Victoria endireitou-se. Depois, virou-se para Dean.

– Querida – começou ele, – não tinha escolha.

– Há sempre escolha – replicou ela, num tom frio. – Podias não ter jogado às cartas.

Sentiu-se traída e dececionada, como sempre que percebia que Dean não era como os outros pais. Nada importava senão a emoção de apostar. Por muito que prometesse que ia deixá-lo, no fim, as cartas ganhavam sempre.

Victoria obrigou-se a continuar erguida e olhou para o príncipe.

– E agora? O que vai acontecer?

– O teu pai vai para a prisão até o juiz determinar a sentença. Oito ou dez dias serão suficientes.

– Não, meu deus! – Dean gemeu, caindo ao chão de pedra e tapando a cara com as mãos.

Parecia devastado, vencido. Ela quis acreditar que, finalmente, entendera que as suas ações tinham consequências, que aprendera a lição, que ia mudar. Mas conhecia-o muito bem. Talvez fosse incapaz de mudar. Era o momento de lhe virar costas.

O único problema era que ela fizera uma promessa há dez anos. A sua mãe fizera-a jurar no leito de morte que protegeria Dean, a qualquer preço. E Victoria prometera. A sua mãe sempre a amara e apoiara. Dean fora a sua única fraqueza, o seu único erro.

– Castigue-me no seu lugar – sugeriu. – Permita que se vá embora e leve-me.

Dean levantou-se com muita dificuldade.

– Victoria – disse, havia esperança na sua voz, –farias isso por mim?

– Não. Fá-lo-ia pela mãe – olhou para o príncipe. – Eu irei para a prisão. Também sou uma McCallan.

– Não tenho nenhum desejo de te prender – respondeu Kateb.

Desejou estar no deserto, onde a vida era mais simples e as regras se respeitavam com facilidade. Se Dean McCallan tivesse sido apanhado a fazer batota lá, alguém ter-lhe-ia cortado a mão… ou a cabeça.

Mandar uma mulher para a prisão pelos crimes cometidos pelo seu pai? Impossível! Nem sequer a aquela mulher, que não servia para nada senão para ocupar espaço.

Conhecia Victoria McCallan, pelo menos, o necessário para entender o seu caráter. Era muito bonita, tinha umas curvas impressionantes e era loira. Era a secretária do príncipe Nadim e passara dois anos a tentar fazer com que reparasse nela. Queria casar-se com um príncipe. Não se importava com Nadim. Porém, não a culpava por isso. Nadim era tão profundo como um grão de areia e tinha a personalidade de uma pintura cinzenta.

O recente noivado de Nadim com uma mulher escolhida pelo rei destruíra os planos de Victoria. Kateb tinha a certeza de que não demoraria a sair do país para procurar um marido rico noutro lugar. Enquanto isso, tinham o problema do que fazer com o seu pai.

Olhou para o chefe dos guardas.

– Leva-o.

Victoria agarrou Kateb pelo braço. Ele ignorou a reação do seu corpo, era normal. Ela era uma mulher, ele era um homem… não significava mais nada.

– Não. Não pode – olhou para ele fixamente. – Por favor. Farei o que for necessário.

– Estás a esgotar a minha paciência – disse Kateb, escapando dela.

– É meu pai.

O príncipe olhou para ela e olhou para o seu pai. Teria jurado que ela só sentia desdém por ele. Porque a preocupava tanto que fosse para a prisão? A não ser que não estivesse a pensar em Dean ao oferecer-se, a não ser que tentasse conseguir outro príncipe.

Deu um passo para trás e observou a mulher que tinha à sua frente.

Vestia-se de seda e renda e com uns sapatos ridículos de salto. O seu cabelo comprido e encaracolado, os seus olhos azuis grandes e os seus lábios vermelhos eram feitos para seduzir. Por baixo do robe viam-se uns seios generosos que tremiam com a sua respiração.

Aquela mulher faria o que fosse necessário para conseguir o que queria. Pensaria mesmo que era suficientemente parvo para se deixar convencer por aquela beleza superficial? Até onde seria capaz de chegar para se casar com um príncipe?

Olhou para o seu pai, que esperava, nervoso, que alguém tomasse uma decisão. Devia ter defendido a sua filha, mas não o fez. Ia permitir que se sacrificasse em seu nome? Ou faria parte da mesma conspiração?

No fundo, Kateb sabia que não era assim, mas até ter a certeza absoluta, preferia continuar a pensar o pior.

– Levem-no para o corredor – disse aos guardas.

Os guardas agarraram-no e Dean chorou e suplicou. A porta fechou-se atrás dele.

– O que estarias disposta a fazer para salvar o teu pai? – perguntou o príncipe a Victoria.

– O que me pedir – respondeu ela.

Brilhavam-lhe os olhos. Se Kateb fosse um homem mais compassivo, teria assumido que tinha medo, mas já há muitos anos que não sentia piedade de ninguém.

– Deve ser difícil para ti, uma mulher sozinha, a abrir caminho num mundo de homens – comentou, ignorando como ia crescendo o desejo no seu corpo. – A igualdade que se presume nos Estados Unidos é mais difícil de alcançar aqui. Mesmo assim, tiveste sucesso. Já és a secretária de Nadim há algum tempo.

– Há dois anos.

– É uma pena que tenha ficado noivo.

– Parece muito feliz.

– Mas tu não. Todos os teus planos… estragados.

Ela ficou tensa. Olhou para ele nos olhos.

– Isso não tem nada a ver com o meu pai.

– Não? Talvez queiras tentar conquistar-me. Apareces aqui vestida dessa maneira? Para me suplicar?

Ela cruzou os braços.

– Se estou assim vestida é porque os seus guardas não permitiram que mudasse de roupa.

– E é assim que dormes todas as noites? Não acredito.

– Nesse caso, terá de dar uma vista de olhos ao meu armário – respondeu. Estava a começar a zangar-se. – Pensa que estou a tentar seduzi-lo? Que quando acordei e vi cinco guardas à volta da minha cama pensei que era o meu dia de sorte? Por favor…

Deixou cair os braços ao lado do corpo.

– Não, espere. A verdade é que me visto assim todas as noites com a esperança de que o meu pai, que não vejo há anos, apareça aqui, jogue às cartas consigo e faça batota. Por sorte, os meus planos funcionaram finalmente.

O príncipe Kateb pensou que tinha uma certa razão. Embora não tencionasse dizer-lhe. E tinha coragem, coisa que o atraía quase tanto como o seu corpo.

– Negas que gostarias de te casar com Nadim? –perguntou-lhe.

– Não diria que não – admitiu, olhando para o chão, – mas não pelo motivo que pensa. Apenas por segurança. Os príncipes não se divorciam. Pelo menos, não aqui.

– Mas não sente nada por ele.

– O que quer de mim? Vão castigar-me por ter sonhado casar-me com um príncipe? Está bem. Faça o que quiser. Tem o poder aqui. Neste momento, o que mais me preocupa é o meu pai.

– Porquê?

– Porque é meu pai.

– Isso não é um motivo. Vi como olhas para ele. Estás zangada com ele por te ter posto nesta situação.

– Mas continua a ser meu pai.

Kateb ficou em silêncio durante alguns segundos, olhou para ela nos olhos sem falar. Havia mais alguma coisa, mas Victoria não queria contar-lhe. Interessante.

– Ocuparias o seu lugar? – perguntou-lhe, finalmente.

– Sim.

– Na prisão?

Ela engoliu em seco. Era evidente que tinha medo.

– Sim.

– A vida lá é difícil. Desagradável.

– Fiz uma promessa.

Uma promessa. O que é que uma mulher como ela sabia de promessas?

Olhou para ela fixamente nos olhos e viu cansaço neles. A sua alma era muito mais velha do que ela.

Desejou que Cantara estivesse ali, com ele. Ela teria sabido a verdade. Contudo, se ela estivesse ali, ele não estaria naquela situação. Não teria precisado de jogar às cartas para passar o tempo. Não teria tido de enfrentar a escuridão que o rodeava, o vazio.

– O teu pai tentou roubar-me – disse, num tom frio. – Se não o tivesse apanhado a fazer batota, ter-se-ia ido embora daqui com várias centenas de milhares de dólares.

Victoria ficou com falta de ar.

– Fez batota no palácio real, rodeado de guardas. E agora que há consequências, não se importa que tu ocupes o seu lugar na prisão.

– Eu sei.

Que tipo de pai fazia algo parecido? Porque não se responsabilizava pelos seus atos? Porque é que ela permitia que fosse tão covarde?

Kateb decidiu dar uma lição a ambos. A solução mais óbvia consistia em pôr Dean McCallan na prisão.

– Volta para o teu quarto! – ordenou a Victoria. – Dir-te-ão qual é a sua sentença. Poderás visitá-lo antes de começar a cumprir a pena, mas não depois.

– Não! – gritou ela, agarrando-se ao seu braço com ambas as mãos. – A minha mãe fez-me prometer que cuidaria dele, que não permitiria que lhe acontecesse nada de mal. Morreu a amá-lo. Por favor, imploro-lhe. Não o prenda. Leve-me no seu lugar. Ele ofereceu-me. Sua Alteza aceitou? Eu estava em jogo? Ganhou-me?

Kateb franziu o sobrolho.

– Não falava a sério.

– Já falou com ele, sabe que me ofereceu a sério. Leve-me no seu lugar.

– Para quê?

Victoria endireitou-se.

– Para o que quiser.

Capítulo 2

Victoria apercebeu-se de que o príncipe estava impaciente, tanto com ela como com a situação. E ela sabia que estava a ficar sem recursos. Desesperada, tirou o robe.

Caiu ao chão de pedra e ficou aos seus pés. Kateb não parou de olhar para ela na cara.

– Talvez não sejas tão tentadora como pensas –disse, com frieza.

– Talvez não, mas tinha de tentar.

– Estás a oferecer-te a mim? Por uma noite? Achas mesmo que com isso vais pagar pelo que o teu pai fez?

– É a única coisa que posso oferecer – disse. Tinha frio e vontade de vomitar. – Não quer o meu dinheiro e não tenho mais nada. Duvido que a minha capacidade como secretária possa servir de ajuda no deserto – sentiu um nó na garganta, tinha medo. – Não tem de ser só uma noite.

Ele arqueou uma sobrancelha.

– Mais? Para quê? Não foste feita para o casamento.

Victoria desejou dar-lhe uma boa bofetada, para que soubesse que o seu comentário a magoara.

– Serei a sua amante durante todo o tempo que desejar. Irei com Sua Alteza para o deserto e farei o que me pedir. Tudo. Em troca de deixar o meu pai em liberdade.

O olhar escuro de Kateb continuou a estudá-la. Por fim, passou a mão por cima de uma das alças da camisa de dormir. Baixou-a. Depois, fez o mesmo com a outra e a camisa caiu ao chão.

Victoria ficou à frente dele apenas com umas cuecas minúsculas, nua. Desejou desesperadamente tapar-se, virar-se. Sentiu que a vergonha fazia com que lhe ardessem as faces, mas ficou onde estava. Era a sua última opção.

Kateb olhou para ela de cima a baixo, mas ela não soube o que estava a pensar, se a queria ou não. Então, viu que se virava.

– Tapa-te.

E soube que perdera.

Victoria pensou que não lhe restava nada, mas recusou-se a chorar à frente dele.

Kateb saiu para o corredor. Ela seguiu-o e viu que parava à frente de Dean.

– A tua filha acedeu a ser minha amante durante seis meses. Vou levá-la para o deserto durante esse tempo. Depois, poderá voltar. Tu sairás de El Deharia no primeiro voo de amanhã. E não voltarás a este país. Se o fizeres, matar-te-ão. Ficou claro?

Pela segunda vez naquela noite, Victoria quase não conseguiu manter o equilíbrio. Aceitara? O seu pai não ia para a prisão?

O alívio momentâneo depressa se viu convertido em medo ao percebera que se vendera a um homem que não conhecia e que também não a conhecia a ela.

O guarda soltou o seu pai. Dean apertou a mão de Kateb.

– É óbvio. É óbvio. Ainda bem que percebeu que foi tudo um mal-entendido – virou-se para Victoria e sorriu. – Suponho que devo ir. Ainda bem, porque tenho coisas para fazer em casa. Lugares onde ir. Pessoas para ver.

Victoria nem sequer se surpreendeu com as suas palavras. Na verdade, era como se só tivesse ouvido que podia ir-se embora. O resto não importava.

Kateb olhou para ele.

– Não me ouviste? Vou levar a tua filha.

Dean encolheu os ombros.