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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Emma Darcy

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Desejos abscuros, n.º 1044 - abril 2017

Título original: The Billionaire’s Scandalous Marriage

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

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As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9654-3

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Faltavam apenas duas semanas para o casamento. Charlotte Ramsey sabia que devia estar contente. Mas não era assim. Tentara ser positiva durante a semana anterior ao pensar que se casaria com Mark, mas não lhe servira de nada. Por muito que tentasse convencer-se de que o seu pai não podia destruir os seus sentimentos, ele estava a conseguir. Portanto, tinha de resolver esse problema. Imediatamente. Antes daquela noite.

Tinha os nervos em franja e não parava de dar voltas ao dilema enquanto ia a conduzir desde o centro de Sidney até à mansão familiar de Palm Beach, uma viagem que durava uma hora.

Era impossível estar contente com o casamento se o seu pai insistia em manter uma atitude inaceitável em relação ao homem com quem ela ia casar-se. A forma como tratara Mark no dia de Natal… E se fizesse o mesmo naquela noite… Sentiu um aperto no coração ao pensar nisso. Era algo que lhe fazia muito mal. Tinha de falar com ele e fazê-lo mudar de opinião. Não aprovava que Mark fosse o seu marido e era inútil esperar que o fizesse no futuro. Mark não era o seu tipo. Mas era o homem adequado para ela, o melhor que conseguiria encontrar e tinha de convencer o seu pai a respeitar a sua escolha. Pelo menos, podia fazê-lo por ela.

O casamento estava já muito próximo. Daquela vez o seu pai teria de a ouvir. Sentiu-se sufocada ao recordar a discussão violenta que tinham tido quando anunciara o seu noivado. Desafiara claramente a desaprovação do seu pai e ameaçara não voltar a vê-lo.

– Gostes ou não, pai, vou casar-me com ele.

O seu pai sentira-se tremendamente frustrado com a sua decisão.

– Pelo teu próprio bem, não sejas teimosa, Charlotte. Casar-te com Mark Freedman. O que raios vês nesse homem? É um playboy, não um…

– Não um génio das finanças – interrompeu-o Charlotte. – É precisamente isso que adoro nele. Está ao meu lado sempre que preciso dele, pai, em vez de desaparecer constantemente para fazer negócios em países diferentes – como o seu pai multimilionário fizera durante toda a vida. – Quer estar comigo. Gosta de o fazer. Divertimo-nos juntos.

– Divertem-se? – gritara o seu pai. – Tens o meu sangue, minha filha. A diversão com Freedman aborrecer-te-á depois de algum tempo. Agora é uma novidade. Não há nada de mal em ter um brinquedo, desde que isso te proporcione prazer. Mas o casamento é um negócio muito sério.

– Para mim não é um negócio – replicara com ferocidade, indignada devido à forma desprezível de qualificar a sua relação com Mark. – É sentir-se amada. E estou completamente decidida a experimentar esse sentimento na minha vida.

– Não durará – concluíra o seu pai.

Mas Charlotte estava decidida a fazer com que durasse. Tinha trinta anos. Queria ter filhos. Mark, também. Juntos eram felizes e sentiam-se felizes a planear o futuro. Mark não era um playboy. Organizava eventos e fazia-o muito bem. Charlotte desejava ajudá-lo no negócio depois de se casar. Mas não queria afastar-se por completo do seu pai. Nos meses anteriores, embora contrariado, parecia ter aceitado Mark no círculo social da família, mas no dia de Natal… Tinha de resolver aquilo antes do casamento, antes da festa de Véspera de Ano Novo naquela noite no iate. Se o seu pai voltasse a desprezar Mark…

Respirou fundo para aliviar a tensão que sentia no peito. O relógio do tablier indicava que passara a hora do almoço: eram quase duas da tarde. Com um pouco de sorte conseguiria ter uma conversa em privado com o seu pai. Limitar-se-ia a cumprimentar a sua mãe ao chegar.

Dissera a Mark que passaria o dia no salão de beleza para se preparar para a festa daquela noite, por isso ele não sabia que ela ia visitar o pai. Teria de ser uma conversa breve. Mark esperava por ela ao fim da tarde no apartamento deles em Double Bay.

Durante o resto da viagem, ao longo das praias do norte de Sidney, Charlotte ensaiou mentalmente o que queria dizer, com a esperança de chegar a um acordo com o seu pai. Quando saiu do Mercedes na mansão familiar, estava decidida a ganhar. Precipitou-se para o hall, onde apanhou uma surpresa desagradável ao ver o mordomo que empurrava um carrinho com cafés para a sala.

– Os meus pais têm visitas, Charles?

– Boa tarde, menina Charlotte! – cumprimentou-a, recordando-lhe que não devia esquecer as boas maneiras. Era um homem alto e imponente de cinquenta anos, a autoridade máxima no governo daquela casa imensa e conhecido pela sua insistência nas boas maneiras.

– Lamento muito. Tenho pressa. Tenho de falar com o meu pai.

– O senhor Ramsey – replicou, enquanto apontava para as portas da sala, – está acompanhado pelo seu filho e um amigo de Londres, o senhor Damien Wynter. A senhora Ramsey tinha hora marcada no cabeleireiro.

Charlotte franziu o sobrolho. Era um alívio que a sua mãe não estivesse, mas tinha de conhecer o amigo de Peter e dar-lhe um pouco de conversa antes de dizer ao seu pai que tinha de falar com ele em privado. Ele não quereria sair e deixar aquela nova relação com o filho e herdeiro de outro multimilionário. A rede de grandes negócios já teria começado a funcionar. Mas ela estava ali. Tinha de tentar.

– Vai beber café com os senhores, menina Charlotte? – perguntou-lhe Charles.

– Não, obrigada. Não vou ficar assim tanto tempo.

Charles deixou o carrinho para a acompanhar à porta da sala e anunciar a sua chegada. Charlotte tentou adoptar uma expressão amável e esconder a ansiedade que a situação lhe produzia. Os três homens levantaram-se quando entrou. Peter e o seu amigo estavam de costas e o seu pai estava em frente deles, sentado no sofá. O olhar de Charlotte dirigiu-se directamente para ele quando lhe sorriu, surpreendido, para lhe dar as boas vindas.

– Charlotte… – estendeu os braços para a abraçar.

– É a minha irmã – ouviu Peter murmurar para o seu amigo, mas não olhou para eles.

Dirigiu-se directamente para o seu pai para o abraçar, aliviada por o facto de não gostar de Mark não influenciar o seu amor por ela. Apesar de todos os seus defeitos como pai, ela também o amava. Era o seu pai. E esperava conseguir a sua compreensão naquela tarde.

 

 

«A menina Charlotte, a irmã de Peter.» Damien Wynter sentiu-se imediatamente interessado. Era uma mulher espectacular, ao contrário de Peter que, evidentemente, se parecia com o seu pai: olhos azuis, cabelo loiro avermelhado, pele branca e sardenta num rosto de ossos proeminentes, físico corpulento…

O cabelo de Charlotte era da cor do açúcar torrado. Tinha um cabelo brilhante, comprido e espesso. A pele era da cor do mel e tinha os olhos castanhos como a sua mãe, embora não fossem tão escuros. Brilhavam com inteligência, o que conferia uma vitalidade natural a um rosto que possuía um grande fascínio individual. Não era, certamente, o de um patrão de beleza tradicional, mas forte e com carácter. A isso juntava-se a sensualidade da curva suave do queixo e da boca grande de lábios grossos. Tinha uma figura muito feminina. O vestido atrevido que usava realçava as curvas voluptuosas do seu corpo. Não era uma roupa descaradamente sexy, mas muito modesta: um vestido sem mangas, de gola rectangular, sem decote, que lhe chegava à altura do joelho. O desenho era simples, mas a combinação de cores era espantosa. Era basicamente de cor violeta escura. No lado inferior esquerdo da saia havia uma grande flor branca com o centro vermelho brilhante e as pontas das pétalas também vermelhas. Uma flor parecida, mas muito mais pequena, aparecia sobre o seio direito. A cintura escassa estava rodeada por um cinto preto e largo e umas sandálias brancas e pretas conferiam uma grande beleza aos seus pés nus. Só uma mulher com uma grande segurança em si própria escolheria um vestido assim, uma mulher que soubesse do que gostava e que não tivesse medo de expressar a sua individualidade. E uma mulher que não se preocupasse em estar tão magra como uma modelo. Damien pensou que era atrevida, segura e muito atraente, ao mesmo tempo que aumentava o seu interesse por ela.

Teve uma ideia repentina: talvez aquela fosse a companheira eterna que procurava. Ambos procediam de famílias imensamente ricas, por isso não se preocuparia com esse aspecto. Queria casar-se e constituir uma família. Podia ser uma rapariga malcriada, como muitas outras das herdeiras que conhecera. Contudo, naquele momento, sentia a excitação correr-lhe pelas veias. Se Charlotte Ramsey se parecesse com Peter no carácter, a visita a Sidney poderia ser o começo do tipo de vida que desejava desde que era uma criança. Algo real, sólido e duradouro.

 

 

Charlotte pôs-se em bicos de pés para falar com o seu pai ao ouvido.

– Tenho de falar contigo. É importante, pai – pediu.

O seu pai franziu o sobrolho quando ela se afastou. Olhou para ele com um olhar implorante.

– Antes vou apresentar-te um amigo de Peter – replicou, num tom de recriminação.

– Com certeza – acedeu imediatamente ao mesmo tempo que se virava para ver o visitante, sem estar preparada para o que ia encontrar.

Damien Wynter não parecia inglês. Não se parecia com ninguém que conhecesse. Era tremendamente bonito, como um amante latino, um aristocrata espanhol de pele morena, cabelo preto e olhos tão escuros que também pareciam pretos e que brilhavam inquisitivos ao olharem directamente para os dela, o que fez com que sentisse um aperto no coração. Aquele homem era pura dinamite sexual. Era tão alto como Peter, mas o seu corpo, perfeitamente proporcionado, possuía muito mais elegância, que se manifestava de modo informal numa camisa branca sem gola e umas calças de ganga pretas. O seu corpo tinha uma qualidade ágil e animal que a fez pensar que estava prestes a precipitar-se sobre algo e que ela era a presa. Sentiu um calafrio de excitação. O susto devido à sua resposta ao magnetismo sexual daquele homem fazia com que a sua mente tentasse recuperar o bom-senso. Damien Wynter era do tipo de homens que fariam qualquer mulher sentir-se assim. Não é que ela fosse especial. Mas por um instante, desejou que Mark tivesse o mesmo poder.

A grande mão do seu pai nas costas, que a empurrava para que avançasse para o convidado, fez com que recuperasse do seu estado de atordoamento. Sorriu com a esperança de que o sorriso escondesse como se sentia ao ver-se presa por aquele impacto físico inicial. O aspecto não era tudo. De maneira nenhuma.

– Damien, é um prazer apresentar-te à minha filha, Charlotte – redarguiu o pai dela, com muito mais entusiasmo do que alguma vez demonstrara com Mark.

O que deixou Charlotte furiosa.

– É um prazer conhecer-te, Charlotte – replicou o homem, ao mesmo tempo que dava um passo para a frente e lhe estendia a mão.

Ela aceitou-a automaticamente por cortesia e voltou a tremer devido ao contacto eléctrico daqueles dedos fortes que se entrelaçaram com os dela.

– Peter falou-me de ti. Tenho a certeza de que se encarregará de fazer com que te divirtas enquanto estiveres na Austrália.

Os olhos escuros do homem olharam para ela com tal intensidade que ela sentiu falta de ar.

– Estou contente por ter vindo.

«Por ti». Não disse as palavras, mas ela ouviu-as. E a pressão da sua mão reforçou a relação, não desejada por Charlotte, que estava a impor entre eles.

– Lamento não poder ficar, mas tenho muito pouco tempo e tenho de resolver um assunto urgente com o meu pai – desculpou-se muito depressa, enquanto lhe soltava a mão e se virava para o pai. – Vamos para a biblioteca?

– Não podes esperar até bebermos café?

– Por favor, pai. Fiz a viagem até aqui e tenho de voltar…

– Está bem – resmungou o seu pai. – Já volto – disse para Peter e Damien.

– Desculpem-nos, por favor – rogou Charlotte com um olhar rápido para os dois homens, sem parar nos olhos escuros de Damien, que sentiu cravados nas costas enquanto fugia dali. Disse para si que Damien Wynter era, sem lugar para dúvidas, um mulherengo com muita experiência. Não valia a pena voltar a pensar nele.

 

 

Damien viu-a afastar-se enquanto analisava febrilmente as diversas possibilidades.

– Não está disponível – indicou Peter, com secura.

– O que queres dizer?

– Que vai casar-se dentro de duas semanas.

Depois da surpresa veio a incredulidade. Não imaginara. Charlotte estabelecera uma ligação com ele. Nenhum outro homem devia ficar com ela. Tentou sondar Peter.

– Gostas do noivo dela?

– É um adulador que só procura dinheiro, mas ninguém conseguiu fazer com que Charlotte perceba – explicou, com um olhar de desprezo.

Damien sentiu que ficava agressivo. Ele encarregar-se-ia de a fazer perceber de uma forma ou de outra.

– Estarão na festa no iate esta noite?

Peter dirigiu-lhe um olhar inquisitivo e abanou a cabeça.

– Estarão, mas não conheces Charlotte. Empenhou-se em casar-se com Mark Freedman e, acredita em mim, a minha irmã é muito, muito teimosa. Não tens nenhuma possibilidade, meu amigo.

A reacção de Damien foi pensar que tinha, mas encolheu os ombros e mudou de assunto, para não demonstrar claramente o seu interesse pela irmã de Peter. Naquela noite, tinha a intenção de saber muito mais coisas sobre Charlotte Ramsey e, se gostasse dela, nada ia impedi-lo de agir no seu próprio interesse.

 

 

– O que é esse assunto tão urgente? – resmungou o seu pai, enquanto Charlotte fechava a porta da biblioteca. – Foste muito grosseira com Damien Wynter ao saíres dessa maneira.

A crítica magoou-a, sobretudo quando a aprovação que o seu pai negava a Mark fora dada a Damien com tanta rapidez. Esqueceu o discurso que ensaiara com tanto cuidado. Virou-se para ele para o acusar.

– Não tão grosseira como tu foste com Mark no dia de Natal, sem lhe prestares atenção quando só tentava…

– Estava a dar-me graxa – interrompeu-a o seu pai, zangado. – Detesto as pessoas que o fazem. Bolas, Charlotte! Será que não percebes? – levantou as mãos, contrariado. – Quando vais ser razoável? Damien Wynter é o homem com quem devias casar-te e nem sequer lhe concedes um minuto do teu tempo.

Charlotte sentiu uma onda de ressentimento. Damien Wynter usara aquele minuto e seduzira-a de tal maneira que ainda se sentia alterada.

– Vou casar-me com Mark, pai! – exclamou, num tom de voz irritado. – E não quero que o desprezes esta noite.

– Então, espero que não se aproxime – declarou o seu pai, cortando o ar com a mão num gesto de desprezo.

– Queres que eu também não o faça? – ergueu o queixo, desafiante. – É isso o que queres?

O seu pai ficou vermelho de fúria. Apontou para ela com o dedo.

– Já te disse e não voltarei a repetir, quero que Freedman assine um contrato pré-nupcial. Se conseguires que o faça, prometo-te que tolerarei esse homem só por ti, Charlotte. É o máximo que posso fazer. Não me faças perder a paciência – virou-se e saiu da biblioteca, batendo com a porta.

Charlotte tremia devido à intensidade da cólera que a embargava. Pensara que convenceria o seu pai a ser razoavelmente amável com Mark. Era só uma questão de tempo assim que visse como ela era feliz com ele. Mas receava que isso nunca acontecesse. Mesmo que pressionasse Mark para assinar um acordo pré-nupcial, coisa que ela não queria fazer, será que isso significaria uma mudança real na atitude do seu pai para ele? Detestava aquela situação. E detestava Damien Wynter por ter ido a sua casa e servir de elemento de comparação para o seu pai. Claro que conseguira a sua aprovação imediata! Era um deles, nascido na riqueza e com o único objectivo na vida de acumular mais. Não queria ser a esposa consciente dos seus deveres sociais, razão pela qual escolhera Mark.

Mas sentia-se infeliz ao sair da mansão de Palm Beach. Sentia uma multidão de necessidades, algumas das quais não podia satisfazer.

Capítulo 2

 

Damien Wynter… Charlotte ergueu uma barreira mental de rejeição ao homem que saia da limusina com o seu irmão, cuja imponente altura superava por alguns centímetros. Ainda era mais atraente com um smoking. Não havia dúvida alguma de que todas as mulheres da festa o comeriam com os olhos naquela noite, o que seria muito bom, desde que se concentrasse nelas e a deixasse em paz. De onde estava, na coberta superior do iate do seu pai, viu os dois homens a descerem pelo molhe e a conversarem amigavelmente. Outro pormenor que aumentava a sua irritação era que Peter gostasse tanto de Damien Wynter, enquanto não se incomodara em tornar-se amigo de Mark. Será que ia perder tanto o seu pai como o seu irmão ao casar-se?

«Mas tenho de viver a minha vida», pensava, angustiada. Ser filha e irmã não era suficiente. Queria um companheiro que desejasse partilhar a sua vida e, quando conhecera Mark, já estava desesperada. Não estava a ser nada fácil. Só Mark lhe facilitava as coisas. Mas, naquele momento, não se sentia bem com nada.

– Ah! Ali estão os últimos – comentou Mark, com satisfação. Notara que estava distraída. Tinham subido a bordo há um instante e viam os convidados chegar. O iate navegaria até ao centro do porto de Sidney e situar-se-ia numa boa posição para verem o fogo-de-artifício da Véspera de Ano Novo. Era a primeira vez que a família Ramsey convidara Mark para o Sea Lion e ele estava entusiasmado com a experiência.

– Não estão atrasados – replicou Charlotte, olhando para o novo Cartier que os seus pais lhe tinham oferecido no Natal. – Chegam a horas. São oito em ponto. Peter sabe que o pai não espera nem um minuto.

– O teu pai é um homem que inspira respeito – observou Mark, com ironia.

Charlotte sorriu forçadamente. Queria eliminar a ansiedade que albergava sobre a atitude do seu pai em relação a Mark.

– Não te preocupes com o meu pai. Vai ser uma noite óptima e eu adoro que estejas aqui comigo.

Mark retribuiu o sorriso. A sua cara iluminou-se com o encanto quente e atrevido que a atraíra desde o primeiro momento. Mark não era um exemplo de macho tradicional, mas era muito masculino na altura de fazer amor. A sua altura condizia com a dela, muito acima da média, o que lhes permitia um ajuste físico perfeito. O seu cabelo espesso e ondulado convidava a acariciá-lo, ao contrário do estilo de cabelo muito curto de que o seu pai gostava. Os seus olhos cor de avelã convidavam à diversão, em vez de olharem para ela, desafiantes. As sobrancelhas arqueadas mexiam-se com malícia. Charlotte nunca o vira franzir o sobrolho, aborrecido ou impaciente. Tinha o nariz afiado e o queixo estreito e bem desenhado, mas a boca era suave, o seu sorriso era suave e o seu calor fazia com que Charlotte se sentisse segura com ele. Segura num sentido agradável e confortável. Nunca se sentiria segura com Damien Wynter.

– Sou o homem mais sortudo dos que estão aqui presentes – murmurou Mark. – Tenho a mulher mais bonita.

Ela desatou a rir-se, contente por ele pensar assim. O elogio fazia com que valessem a pena todas as horas de esforço. As madeixas que pintara no cabelo, o vestido deslumbrante que comprara e o cuidado extremo com que se maquilhara. Não era bonita. Simplesmente, dedicava tempo e esforço a si própria e empregava todos os truques que lhe tinham ensinado na escola de modelos, como realçar as partes boas e minimizar as que não gostava.

– Surpreende-me que o teu irmão não tenha vindo com uma mulher – comentou Mark.

– Não terá querido gastar tempo à procura de uma – replicou Charlotte, com ironia. – O meu pai jogará póquer, como é habitual, na sala do fundo e é indubitável que Peter quer que o seu novo amigo de Londres participe. Não há nada que aumente a adrenalina como um jogo de apostas altas.

– Alguma vez jogaste? – perguntou Mark, com curiosidade.

– Desde que era uma criança, mas só em casa. Era a única coisa a que o meu pai jogava connosco.

– Que infância estranha, Charlotte!

– Quero que seja diferente com os nossos filhos, Mark – afirmou, com ardor.

– E será, meu amor – passou-lhe o braço pelos ombros para lhe transmitir segurança enquanto lhe sussurrava as mesmas palavras ao ouvido. – E será.

Recostou-se contra ele para que o carinho com que a tratava e a sua proximidade física acalmassem a sua agitação. Os Ramsey não demonstravam o seu afecto, embora a família sempre tivesse formado uma barreira pelo facto de a sua enorme fortuna os diferenciar das pessoas comuns. Charlotte tentara saltar essa barreira muitas vezes, mas vira-se rejeitada com comentários como: «Tu não tens problemas. És uma Ramsey», no sentido de conseguir tudo o que desejasse ou fazer o que quisesse sem ter de lidar com as consequências. Isso não era verdade, mas era o modo como os outros a viam e nada do que dissesse os faria mudar de opinião.