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HarperCollins 200 anos. Desde 1817.

 

Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2013 Ally Blake

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Dilemas do amor, n.º 1719 - julho 2017

Título original: Faking It to Making It

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-9170-226-9

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Epílogo

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Saskia Bloom afastou a franja escura dos olhos e, através dos óculos, espiou o ecrã do computador, antes de rabiscar alguns apontamentos no bloco amarelo sob o rato.

– Como os meus sapatos se tu tiveres menos de quarenta anos – resmungou para a foto de um tipo que lhe lançava um sorriso amarelo na página do Dating By Numbers, o serviço de encontros pela internet.

O Bonitao33 continuou a sorrir-lhe, como se o perfil ameaçadoramente atlético fosse tão atraente a ponto de levar qualquer mulher a ignorar a patranha da idade.

Filme preferido: Velocidade Furiosa.

Coleciono: pranchas de surf.

Quem faria o meu papel num filme? Jason Statham.

Procuro: uma rapariga de mente aberta com um brilho no olhar.

Santo Deus.

Mexeu o rato e clicou.

A foto do tipo seguinte pregou-lhe um susto tão grande que chegou a encolher-se. Amantedepassaros28 tinha o cabelo aos tufos, exibia uma careta em vez de um sorriso e tinha uma galinha no ombro. Uma galinha viva, esperava ela.

Programa de TV preferido: Doctor Who (a série original).

Domingos são para: Lojas de velharias.

Celebridade por quem tenho um fraquinho: Tyra Banks.

Procuro: diversão em todos os lugares errados.

Diversão da qual Saskia não faria parte. Pois, embora já tivessem passado vários meses desde que voltara à roda-viva da busca de relações, não estava online à procura do homem da sua vida.

A sua conta no site de encontros era para uma pesquisa. Ela e a sócia, Lissy, juntas conhecidas como SassyStats, tinham sido contratadas pela empresa para compilar uma análise estatística divertida sobre encontros online. Para fazer outros bons trabalhos, ela já saltara de um avião por causa de um artigo sobre viciados em adrenalina e até mergulhara com tubarões para um estudo sobre fobias. Em comparação, a criação de um perfil de busca de parceiro era pera doce.

Saskia ergueu os pés para a cadeira e envolveu com o braço o joelho, mordendo a ponta de uma caneta. Abanou a cabeça face à dúzia de outras possibilidades na sua caixa de entrada.

Pesquisa ou não, era lisonjeiro.

Com o ondulado cabelo castanho, a pele azeitonada da mãe, olhos meio acastanhados e um corpo esbelto que a puberdade parecera ter ignorado, sob a iluminação certa, ela até poderia ser considerada bonita. A ideia de que tantos tipos a tinham considerado digna de um segundo e-mail era fascinante.

Se tivesse sabido que seria esta a resposta que obteria, ter-se-ia inscrito há muito tempo! Conhecera Stu num bar e essa relação não correra muito bem…

Lá estava ele, curvado no seu casaco velho, parecendo sombrio e misterioso, com manchas de tinta de caneta nos dedos. Parecia precisar de um bom abraço e de uma refeição quente. Afinal, precisava era do telemóvel dela, e da TV, do computador e de muito mais. Como recompensa, deixara-lhe um bilhete desagradável, dívidas enormes e o seu cão.

Saskia olhou para Ernest, o enorme terrier, que estava agora deitado de barriga para cima e roncava na antiga poltrona num canto do seu escritório. Com um suspiro, deslizou os pés novamente para o chão. Ela e Ernest tinham acabado por gostar um do outro.

Mas do que ela nunca iria gostar era dos terríveis envelopes vermelhos que apareciam semanalmente na sua caixa do correio. E a única maneira de fazê-los desaparecer era trabalhar. E trabalhar muito.

Moveu o rato e clicou.

Saskia ergueu a caneta, pronta para tomar notas sobre o próximo candidato, mas, ao avistá-lo, a mão hesitou no ar.

Lindo não chegava para classificá-lo. Era mais lindo de morrer do que qualquer estrela de cinema, era de tirar o fôlego. A foto tinha um ar de naturalidade, com o homem a fitar algo sobre o ombro do fotógrafo. Cabelo louro escuro e bem cortado. Mangas de camisa enroladas dos pulsos aos cotovelos. Uma solitária sobrancelha erguida, um ligeiro erguer da boca verdadeiramente sensual. Mas quem repararia sequer nisso, tendo em conta que o tipo tinha os olhos mais azuis que Saskia alguma vez vira.

Como é que um homem com esta aparência não tem já alguém na sua vida?, perguntou-se Saskia. Contudo, pensando nas mentiras contadas por outros homens nos perfis, não podia acreditar logo no que via.

Parecia resoluto, como se não estivesse habituado a ouvir a palavra não, portanto talvez fosse um ser desagradável. Ou depravado. Ou tivesse mau hálito. Ou dedos do pé feios. Ou talvez estivesse à procura de algo ainda mais ultrajante do que apenas «diversão em todos os lugares errados».

Com os níveis de curiosidade em alta, Saskia verificou o pequeno perfil que fora enviado com o contato inicial do homem.

Livro preferido: Artigo 22.

Bebida preferida: expresso duplo.

Coisas que digo mais? Seguinte.

Procuro: uma companhia para ir a um casamento, sem compromissos.

Combinava com a fotografia, que também era anómala. E Saskia adorava anomalias. Fora isso que, em primeiro lugar, a levara a trocar a estatística pura por investigações.

Endireitando-se na poltrona, vasculhou uma pilha de papéis até encontrar o comunicado que Marlee, do Dating By Numbers, lhe tinha enviado como parte da documentação original.

O número de pessoas registadas só naquele site era assustador. Todos tinham amargurado pelos caminhos tradicionais na sua busca por companheirismo, sexo e amor, incluindo ela própria. Mas, se um homem que amava café tanto quanto ela, tinha um tremendo bom gosto em literatura e lembrava o suficiente um jovem Paul Newman para provocar uma epidemia de baba crónica nas mulheres, alcançara os 30 anos de idade sem encontrar alguém, o que seria necessário?

Estivera à procura de um ângulo para o seu infográfico e talvez tivesse acabado de encontrar um.

Quando uma enorme caneca d’ A Teoria do Big Bang apareceu ao lado do cotovelo de Saskia, ela quase saltou.

– Deus! Quase me mataste de susto!

– Nada que me surpreenda. Estás com aquela expressão de cientista louco – disse Lissy. As pontas azuis e roxas do comprido cabelo louro baloiçaram quando ela se deixou cair na cadeira ao lado da mesa antiga que usavam como secretária. – Se fosse legal, casava-me com a tua máquina de café.

– Pois, podes meter-te na fila.

– No que estás a trabalhar? – perguntou Lissy.

– Naquela coisa do namoro via internet.

– Ah, que divertido.

– Brindo a isso. – As duas canecas encostaram-se uma à outra em pleno ar. – Acho que tive uma ideia. Estou a pensar acrescentar algo extra para a minha análise. Tipo uma equação para encontrar o amor.

Lissy interrompeu o seu gole de café e pestanejou.

– Tipo, chocolate mais flores multiplicado por muito sexo é igual a nunca ter de pedir desculpas?

Saskia riu.

– Não é bem isso. Matemática é natural. Amor é natural. Faz sentido que seja capaz de ser matematicamente quantificado.

Lissy olhou para a pilha de contas ao lado de Saskia na secretária, que, pela primeira vez na vida, incluía uma cobrança por atraso no pagamento da hipoteca.

– Não estaria a inventar mais trabalho para mim, visto que estou a fazer a pesquisa, de qualquer modo – explicou Saskia. – E acho que daria uma grande âncora para o final do infográfico.

Por outro lado, talvez Lissy tivesse razão. Se Saskia quisesse recuperar o controlo dos pagamentos da hipoteca, quanto mais retomar as renovações que estava a fazer quando Stu a abandonara, teria de se focar

Infelizmente, apesar de Lissy ser uma brilhante artista gráfica, foco era uma palavra desconhecida para ela.

– Nunca foi feito? A história da fórmula do amor?

– Acho que não. Talvez só precisassem da inspiração.

– Como quando Einstein foi atingido pela maçã?

– Newton.

– Que seja. Mas o que te atingiu a ti?

– Nada me atingiu.

Saskia cometeu o erro de olhar novamente para o seu laptop.

Os olhos de Lissy apertaram-se. Em seguida, rápida como uma cascavel, girou a cadeira de rodinhas em redor da secretária e olhou sobre o ombro de Saskia antes que ela tivesse a oportunidade de fechar o aparelho.

– Ah! – exclamou Lissy. – Isso é que é inspiração. Quem é esse?

O olhar de Saskia voltou-se novamente para os olhos mais azuis que já vira.

– O nome de utilizador dele é NJM.

– Utilizador? É um dos tipos do site? – Lissy assobiou. – Por que fui deixar que fosses a cobaia nesta coisa?

– Porque estavas a sair com Dave e quando este te viu sorrir para o dono da mercearia, partiu ao meio todas as cenouras.

Lissy estremeceu perante a recordação.

– Admito que o tipo era meio nervoso…

Saskia riu teatralmente, pois nervoso era pouco, tratando-se de Dave.

– Mas, caramba, como ele sabia beijar.

Dito isso, Lissy ficou a olhar para o infinito e Saskia fez uma anotação mental para não se esquecer de verificar o telemóvel de Lissy, para garantir que o nome de Dave, de facto, tivesse sido apagado.

Abanando a cabeça, Lissy voltou com a cadeira para o seu lado da secretária.

– Detalhes, por favor – disse, apontando com a caneca para o computador.

– Um metro e oitenta e cinco. Olhos azuis. Louro. Especialista em finanças. Não há interesses listados.

– Tem o meu voto!

Saskia riu.

– Para o inferno com a pesquisa. Deverias namorar com ele – sugeriu Lissy. – A sério.

– Ele não é o meu tipo.

– Querida, ele é o tipo de qualquer uma. E não me venhas tentar dizer que não serias o tipo dele. Tens aquele visual intelectual sexy que está tão na moda agora. E, se ele está neste site, é porque está à procura de amor.

– Primeiro, trata-se de um trabalho, não de uma oportunidade para engatar. Segundo, ele não está à procura de amor, está à procura de companhia para um casamento. Terceiro, pelo que sabemos, este é um dos vinte outros sites onde ele se inscreveu, e ele não é muito exigente.

– Ena. Tão estridente.

Saskia suspirou demoradamente.

– Lissy…

– Eu sei, eu sei. Fá-lo-ás quando estiveres pronta. Mas, querida, quanto tempo já passou desde que «qual é mesmo o nome dele» se foi embora?

Saskia olhou para Ernest e sussurrou:

– Sete meses.

Lissy sussurrou em resposta.

– O cão não percebe a nossa língua.

– Oreos – disse Saskia, desta vez num tom normal.

Ernest despertou tão sobressaltado que até caiu da cadeira. Três segundos depois, estava ao lado de Saskia, com as patas no colo dela, as unhas a arranhar-lhe as calças de algodão com a esperança de ganhar um biscoito.

– Mais tarde, querido – disse ela, esfregando-lhe as orelhas, e enviando-o de volta para a cadeira com uma festinha no lombo.

– Do meu ponto de vista, é a tua oportunidade de experimentares algo novo. – Lissy estendeu a mão e virou para si o monitor de Saskia, de forma a poder olhar melhor para o homem. – Não um fracassado qualquer, mas um tipo que seja sensual e brilhante. Um homem que saiba como cuidar de si mesmo, para variar. E que saiba cuidar de ti, se é que me entendes.

Lissy ergueu sugestivamente as sobrancelhas antes de beber mais café. Girando a sua cadeira, pôs-se a trabalhar.

Saskia tentou fazer o mesmo, escrevendo Dating By the Numbers no topo da primeira página de um novo bloco de notas e Fórmula do Amor por baixo. Ela rabiscou as palavras, a tentar pensar num título mais apropriado e, em parte, graças a Lissy, não conseguiu.

Também era culpa de Lissy que a conversa que ela e a amiga já tinham tido um milhão de vezes não lhe saísse da cabeça. A teoria de Lissy de que o fraquinho de Saskia por tipos carentes tinha as suas raízes na infância passada a tentar, sem muito sucesso, alegrar a vida do pai, professor de matemática, solteiro. Na ideia de Saskia, ela simplesmente gostava do que gostava. E, se isso acabava por ser homens que a faziam sentir-se indispensável, o que havia de errado nisso?

Além, é claro, do facto de os seus relacionamentos nunca durarem.

O seu olhar voltou-se novamente para o ecrã. NJM parecia o homem menos carente do mundo. Mas seria ele capaz de beijar tão bem a ponto de uma rapariga o perdoar por ter-lhe partido as cenouras ao meio? Sim, ela tinha a impressão de que sim.

Mas não foi por isso que clicou no colorido botão «E porque não?» no e-mail de NJM. Tinha um trabalho a fazer, um trabalho muito bem pago. NJM era uma anomalia na pesquisa e, sendo assim, valia a pena ser investigado.

E, apesar de ela ter mais trabalho do que teria aceitado em circunstâncias normais, uma rapariga precisava de comer.

 

 

Os casamentos eram sempre assim.

Foram necessários anos de intensa doutrinação, contudo Nate Mackenzie finalmente treinara as irmãs para deixá-lo em paz no que dizia respeito à sua solteirice convicta. Até um convite de casamento chegar pelo correio.

Acabara de desligar a chamada com a irmã mais velha, Jasmine, quando as gémeas, Faith e Hope, o atacaram em conferência.

– Ela é linda – exclamou uma delas, antes mesmo de trocarem um olá.

Ele recostou-se na cadeira, admirando a vista de Melbourne através da parede de janelas.

– Estou ótimo, obrigado. E vocês?

Ignorando-lhe o sarcasmo, as gémeas investiram em força.

– A amiga da Jasmine é ótima na cozinha.

– Eu vi as fotos. Ela é mesmo o teu tipo.

Ele abriu a boca para perguntar qual seria exatamente o seu tipo, mas mudou de ideias no último segundo.

Elas eram boas em encontrar pontos fracos. Ele era melhor.

Afinal de contas, ensinara-lhes tudo o que sabiam. Resultado de se ter tornado o homem da casa aos 15 anos.

Levou a mão à têmpora, que começara a latejar.

– Que bom que vocês estejam tão satisfeitas com as vossas próprias vidas que tenham tempo para meterem os narizes na minha. Mas talvez devessem dirigir tamanha energia para outras causas. Quem sabe para pôr fim à fome no terceiro mundo?

– Mas…

– Chega de encontros às escuras. É uma ordem.

A gargalhada com que responderam fez as suas têmporas latejarem ainda mais.

Depois, voltaram à melodia familiar de como o charme e os olhos azuis de Nate não resolveriam a sua vida para sempre. Procurou uma desculpa para fazer com que parassem de insistir na mesma tecla. Trabalho? Não era novidade. Ele nem sequer sabia o significado de fins de semanas ou férias. Alegar que só gostava de mulheres que não prestavam para ele também fora uma péssima ideia. Só fizera com que ampliassem o leque de opções.

– Ando com uma pessoa!

As palavras pronunciadas por Nate ecoaram no silêncio que se seguiu. Talvez já devesse ter inventado uma alma gémea há anos. Alguém que viajasse frequentemente, que tivesse aversão patológica a telefones e que tivesse perdido toda a família num trágico acidente, para que ele não tivesse de submeter a amada ao sofrimento de conhecer a dele.

Distraído com os seus sonhos de liberdade, Nate deu-se conta tarde demais de que perdera a oportunidade de desligar.

– Será alguém capaz de formular uma frase completa sem um «hã…»?

– E que diferença faz? – rugiu ele. – Desde que seja bonita, perfumada e que vá para casa feliz?

– Nate! – exclamaram elas.

– O pior é que não me parece que estejas a brincar – disse uma delas.

– Essa é a namorada perfeita para Nate. Não quer saber de compromissos, nem de felizes para sempre.

– Encontra-a para mim e poderemos conversar – retorquiu ele quando a porta do seu escritório se abriu e Gabe esticou a cabeça para dentro da sala.

Nate acenou com a mão para o sócio recém-chegado.

Fechando a porta atrás de si, Gabe acomodou-se numa poltrona que, para qualquer outro homem, teria sido grande, mas que para o seu sócio dava a impressão de que precisaria da ajuda de um pé de cabra para sair dela.

– Tenho de ir – avisou Nate. – O meu compromisso das dez da manhã chegou.

– Diz a Gabe que lhe mando cumprimentos.

– Diz-lhe que, se não der certo com Paige, ele poderá sempre…

Nate desligou antes que tal imagem pudesse formar-se na sua imaginação.

– As raparigas estão em pé de guerra? – perguntou Gabe, quando Nate massajou as têmporas mais uma vez.

– Desta vez, a culpa é tua.

– Como minha?

– Se não estivesses com a Paige, não teria conhecido a Mae e o Clint, que, portanto, nunca me teriam convidado para o seu casamento. E as bruxas Mackenzie não teriam tornado sua razão de viver encontrarem-me uma mulher.

Antes que Gabe pudesse responder, o seu telemóvel tocou.

– Hamilton – atendeu ele.

Parecia ter sido ontem que Nate e o tipo grandalhão tinham feito um esboço completo do seu sonho radical de um inovador negócio de investimentos de capital no verso de uma base de copos, no bar, perto da universidade. E agora, o sonho louco transformara-se num reluzente símbolo de confiança, responsabilidade fiscal e inovação capaz de abalar o mundo das finanças.

Nate ultrapassara todos os limites do que imaginara naquela noite. Tinha propriedades por todo o mundo, participação em alguns dos mais bem-sucedidos negócios do país, e mais dinheiro do que era capaz de contar. No entanto, ainda mantinha o controlo cerrado de todas as áreas do seu negócio, como se tivesse medo de perder tudo, caso se relaxasse. E, não lhe passara despercebido que estava a chegar à idade quando o próprio pai saíra para trabalhar um dia e nunca mais voltara a casa.

Gabe desligou e perguntou:

– Estás livre para almoçar? O tipo do jogo vai encontrar-se comigo no Zuma às 13 horas, e estou certo de que a presença de ambos fará com que seja mais tentador para ele assinar na linha pontilhada.

– Posso lá estar às 13h15.

– Ótimo. – Gabe levantou-se e, ao chegar à porta, virou-se. – Já arranjaste companhia para o casamento da Mae e do Clint? – perguntou.

Nate lançou o agrafador na direção da porta, que foi bater na parede ao lado de Gabe.

– Queres dizer que a resposta é não?

Gabe saiu da sala, deixando Nate sozinho para lidar com outra onda de latejos nas têmporas.

Era não. No entanto, dissera a Faith e Hope que andava com alguém.

Arranjaria uma, nem que fosse para elas pararem de chateá-lo durante as semanas que faltavam até ao grande dia. Mas não seria ninguém que elas conhecessem. Ninguém que ele conhecesse, na verdade.

Convidar uma mulher para sair era uma coisa. Convidar uma mulher para um casamento era algo semelhante a tomar um banho de erva-gato e mergulhar no meio de um bando de leoas. Era impossível dizer a alguém com arroz no cabelo que o enlace nunca iria acontecer.

Porém, nunca iria acontecer.

Durante seis anos, entre o dia do enfarte do pai e o dia em que tivera acesso aos fundos da herança, dedicara-se a ser o homem na vida das irmãs. Como sinal de gratidão, usavam a sua escova de dente e as suas t-shirts para dormir. Pedira para pararem com isso, e, como resposta, elas começaram a sair com os amigos dele. E, independentemente do quanto aguentara, e de como deixara que fizessem o que tinham de fazer, elas choravam sempre até adormecerem. Ele ouvira-as, noite após noite, o som a dilacerá-lo por dentro, até se tornar imune às lágrimas, mudanças de humor e variações hormonais. Era o único modo de sobreviver para batalhar outro dia.

Duas horas depois de Mae lhe pedir para reservar a data, ele destacara uma equipa de pesquisa para lhe encontrar um serviço de encontros online. Tudo que pedira é que fosse discreto e bem-sucedido.

Desde então, conhecera seis mulheres perfeitamente agradáveis, atraentes, elegantes e inteligentes, e todas, sem exceção, assim que bateram os olhos nele, começaram a pensar na casa, com a carrinha na garagem, dois filhos e um cão.

Mas o seu tempo estava a esgotar-se.

Verificou o e-mail e descobriu que uma das suas «talvez» respondera com um «E porque não?».

Ele abriu a mensagem e leu a introdução.

Cobertura de pizza preferida: presunto e pimentão vermelho.

Música preferida: retro grunge.

Se pudesse estar em qualquer lugar do mundo eu estaria: exatamente onde estou.

Procuro: alguém com quem conversar.

Retro grunge? Que diabos era retro grunge? Não era um bom sinal. No entanto, abriu a fotografia para dar uma segunda olhadela. E lembrou-se.

Após uma exaustiva hora a examinar o site naquela primeira noite, chegara ao ponto onde já não conseguia diferenciar uma mulher de biquíni, a sorrir sugestivamente para a câmara, da seguinte. Estava prestes a arrancar os próprios olhos. Mas o retrato que aparecia agora no seu ecrã era tão inesperado que ele conteve-se.

Uma mulher de vinte e tantos anos, sentada numa pastelaria, com cabelo escuro à altura dos ombros, cachecol e um velho chapéu na cabeça.

Nate apoiou o cotovelo na mesa e descansou o queixo entre o polegar e o indicador. Com a outra mão, aproximou a imagem, até os olhos dela ocuparem todo o ecrã. Era atraente de um modo exótico, com o nariz fino, o queixo delicado e os lábios rosados curvados num sorriso tranquilo. Mas aqueles olhos eram sensacionais. Grandes, uma cor que lembrava o castanho, as pestanas compridas. E a expressão que Nate identificou neles era algo que há tanto lhe escapava. Alegria.

Nem sequer tinha a certeza de que ainda sabia o que era isso. E, ali, na ponta dos seus dedos, estava uma mulher que alegava ser feliz exatamente onde estava.

Sem hesitar, clicou em «Responder», escolheu uma hora, e pediu para que ela escolhesse um lugar. Mesmo conhecendo pessoalmente os melhores chefs da cidade, neste caso, seria melhor um lugar atípico, para que as irmãs não descobrissem.

Elas descobriam sempre.

E um homem precisava de ter as suas prioridades definidas.